O Espelho Quebrado
Ela
não sabia mais o que fazer. Ele não era mais o mesmo, parecia estar distante,
introspectivo e recluso em seu interior. Entretanto, ela também não percebia
nem tão pouco se interessava em saber o que realmente estava acontecendo com
ele. Por sua vez, aos olhos dele nada havia mudado em relação aos sentimentos
por ela.
Às
vezes acho que a vida os perdeu ao mesmo tempo em que ambos procuravam apenas
se encontrar.
Cada
um procurou por caminhos diferentes. Ele por dentro e ela por fora, então, os
objetivos deixaram de ser comuns. Deixaram de estar lado a lado.
Mais
havia amor, havia a cumplicidade, a amizade, o apego e um longo tempo juntos,
mas que não foi o suficiente para evitar a ruptura de tão bonita jornada.
Dois
meses se passaram depois que ela foi embora e ele ainda não pode acreditar que
isso esteja acontecendo, mas é real. Ela partiu sem deixar o seu novo endereço
e não retorna mais as poucas mensagens que ele ainda lhe envia.
Apesar
da tristeza por sua partida, ele não a procura com veemência, porque sabe que
ela não vai voltar atrás em sua decisão. Ele a conhece bem e sabe que ela fez
tudo o que pode para manter este relacionamento em alta, mas que pela
contingência dos últimos anos, ele não correspondia mais as suas expectativas.
Ele
não carrega culpa, nem se trata como vítima, apenas tem o profundo sentimento de
saudades e o firme propósito de seguir em frente, mesmo que agora não vislumbre
horizontes à vista.
Seu
status de protetor e mantenedor de um chefe de família foi reduzido ao silêncio
dentro de uma casa que em outra ocasião ele a chamava de Lar.
Mas
ele diz que não a perdeu, porque sabe que ninguém pertence a ninguém e as
voltas que a vida dá, apenas retiram ou inserem pessoas para aonde e com quem
devam estar.
Ela
fez o melhor, ele fez o melhor e o que é isso se não um profundo sentimento de
bem querer e amor?
Decisão
tomada, decisão feita. Mas as alegrias vividas e as lágrimas sentidas jamais
poderão ser esquecidas.
Antonio Bencardino
