Texto extraído do livro "Operação Cavalo de Tróia I" de J.J.Benitez.
Benítez, mesmo dando todos os créditos a "Jasão", um militar da USAF (Força Aérea Americana), cujo o verdadeiro nome não é revelado, lhe entregou toda documentação sobre um projeto ultra-secreto realizado em 1973, que teve como sua principal meta nos transmitir, tudo que lhe fora passado mostrando-nos uma realidade muito ampla sobre a vida de Jesus. Os transcritos desvelam uma viagem no tempo até a Palestina para reviver os últimos dias de Jesus e como o próprio Benítez escreveu na contra-capa do livro, ele mesmo não teria capacidade de inventar diálogos tão profundos, colocando palavras na boca do Mestre.
Ao verificar que Jesus de Nazaré se oferecia com gosto para o diálogo, aproveitei o momento e perguntei qual era a sua opinião sobre aquela tarde.
-
Estive no meio das pessoas e a elas Me revelei na carne. A todos encontrei
ébrios. Não encontrei um sedento. A Minha alma sofre pelos filhos dos homens,
porque estão cegos no seu coração: não veem que vieram vazios ao mundo e que
tentam sair vazios do mundo. Agora estão ébrios. Quando vomitarem o vinho se
arrependerão...
-
São palavras muito duras - disse-lhe. - Tão duras como as que pronunciaste no
monte das Oliveiras, à vista de Jerusalém...
-
Talvez os homens pensem que vim trazer a paz ao mundo. Não sabem que estou aqui
para lançar na terra divisão, fogo, espada e guerra... Pois haverá cinco numa
casa, três contra dois e dois contra três; o pai contra o filho e o filho
contra o pai. E eles estarão sós.
-
Muitos no meu mundo - acrescentei fazendo que as minhas palavras não fossem
excessivamente estranhas para Lázaro poderiam associar essas Tuas frases sobre
o fim de Jerusalém com o fim dos tempos. Que dizes a isso?
-
As gerações futuras compreenderão que a volta do Filho do Homem não se
dará pela mão do guerreiro. Esse dia será inesquecível: depois da grande
tribulação - como não houve desde o princípio do mundo - o Meu estandarte será
visto nos céus por todas as tribos da Terra. Será essa a Minha verdadeira
e definitiva volta: sobre as nuvens do céu, como o relâmpago que sai pelo
Oriente e brilha até ao Ocidente...
-
O que será a grande tribulação?
-
Podereis chamar-lhe um parto de toda a Humanidade...
Jesus
não parecia muito disposto a revelar-me pormenores.
-
Pelo menos, diz-nos quando acontecerá.
-
Desse dia e dessa hora, ninguém sabe. Nem os anjos nem o Filho. Só o Pai.
Unicamente posso dizer-te que será tão inesperado que muitos serão apanhados no
meio da sua cegueira e iniquidade.
-
O meu mundo, aquele de onde venho - tentei pressioná-lo distingue-se
precisamente pela confusão e pela justiça...
- O teu mundo não é melhor nem pior que este. Só falta a ambos o princípio que rege o Universo: o Amor.
- O teu mundo não é melhor nem pior que este. Só falta a ambos o princípio que rege o Universo: o Amor.
-
Dá-me, ao menos, um sinal para que saibamos quando Te revelarás aos homens pela
segunda vez...
-
Quando vos desnudardes sem ter vergonha, quando pegardes nas vossas roupas e as
pisardes com os pés como as crianças, então vereis o filho do Vivente e não o
temereis.
Felizmente,
Lázaro continuava a identificar o meu mundo com a Grécia. Isso me permitia
continuar a fazer perguntas ao Mestre, com certa margem de amplitude.
-
Então - continuei -, o meu mundo está muito longe desse dia. Por lá os homens
são inimigos dos homens e até do próprio Deus...
Jesus
não me deixou continuar.
-
Estais então enganados. Deus não tem inimigos.
Aquela
incisiva frase do Nazareno trouxe-me à memória muitas das crenças sobre um Deus
justiceiro, que condena ao fogo do inferno os que morrem em pecado. E assim lho
expus. Cristo sorriu, movendo a cabeça negativamente.
-
Os homens são hábeis manipuladores da Verdade. Um pai pode sentir-se aflito
perante as loucuras de um filho, mas nunca condenaria os seus a um mal
permanente. O inferno - tal como acreditam no teu mundo - significaria que uma
parte da Criação tinha fugido das mãos do Pai... E posso garantir-te que isso é
não conhecer o Pai.
-
Porque falaste então em certa altura do fogo eterno e do ranger de dentes?
-
Se falando por parábolas não me entendeis, como posso então ensinar-vos os
mistérios do Reino? Em verdade, em verdade vos digo que aquele que aposta
forte, e se engane, sentirá como rangem os seus dentes.
-
Será que a vida é uma aposta?
-
Tu o disseste, Jasão. Uma aposta pelo Amor. É o único bem em jogo desde que se
nasce.
Fiquei
pensativo. Aquelas palavras eram novas para mim.
-
Que te preocupa? - perguntou Jesus.
-
Sendo assim, que podemos pensar dos que nunca amaram?
-
Não existe tal gente.
-
Que me dizes dos sanguinários, dos tiranos?...
-
Também eles, amam à sua maneira. Quando passarem para o outro lado apanharão um
bom susto...
-
Não compreendo.
-
Verão que - ao deixarem este mundo - ninguém lhes perguntará pelos seus crimes,
riquezas, poder ou beleza. Eles próprios e só eles se perceberão de que a única
medida válida no outro lado é a do Amor. Se não amaste aqui, no teu tempo, só
tu te sentirás responsável.
-
E que acontecerá com os que não souberam amar?
-
Queres dizer, com os que não quiseram amar.
Novamente
me senti confuso.
.
Esses, amigo - prosseguiu o Rabi captando as minhas dúvidas -, serão os grandes
enganados e, consequentemente, os últimos no Reino de meu Pai.
-
Então, o Teu Deus é um Deus de amor...
Jesus
pareceu aborrecer-se:
-
Tu és Deus!
-
Eu, Senhor?
-
Em verdade te digo que todos os nascidos levam o sinete da Divindade.
-
Mas não respondeste à minha pergunta. É Deus um Deus de amor?
-
Se não fosse assim, não seria Deus.
-
Nesse caso, devemos excluir da Sua mente qualquer tipo de castigo ou prêmio?
-
E a nossa própria injustiça que se manifesta contra nós próprios.
-
Começo a ter a intuição, Mestre, de que a tua missão é muito simples. Engano-me
se Te disser que todo o Teu trabalho consiste em deixar uma mensagem?
O
Nazareno sorriu, satisfeito. Pôs-me a mão no ombro e replicou:
-
Não o podias resumir melhor...
Lázaro,
sem fazer o menor comentário, teve um aceno afirmativo de cabeça.
-
Tu sabes que o meu coração é duro - acrescentei. Poderias repetir-me essa
mensagem?
-
Diz ao teu mundo que o Filho do Homem veio apenas para transmitir a vontade do
Pai: que são Seus filhos!
-
Isso Já sabemos...
-
Tens a certeza? Diz-me, que significa para ti ser filho de Deus?
Senti-me
outra vez confuso. Sinceramente, não tinha uma resposta válida. Nem sequer
estava convicto da existência daquele Deus.
-
Eu te direi - interveio o Mestre com grande doçura. - Ter sido criado pelo Pai
pressupõe a máxima manifestação de amor. A vós se deu por inteiro, sem nada
pedir em troca. Eu recebi o encargo de vos vir recordar isso. É essa a minha
mensagem.
-
Deixa-me pensar... Então, façamos o que fizermos, estamos condenados a ser
felizes?
-
É questão de tempo. O necessário para que o mundo entenda e ponha em prática
que o único meio para isso é o Amor.
Tive
de meditar muito bem a minha pergunta seguinte. Naqueles instantes a presença
do ressuscitado podia representar certo problema.
-
Se a tua presença no mundo obedece a uma razão tão elementar, como a de deixar
uma mensagem para toda a humanidade, não achas que a tua igreja está a mais?
-
A minha igreja? - perguntou por sua vez Jesus que, em minha opinião,
compreendera perfeitamente. - Eu não tive nem tenho a menor intenção de fundar
uma igreja, tal como pareces entendê-la.
Aquela
resposta deixou-me estupefato.
-
Mas tu disseste que a palavra do Pai deveria ser espalhada até aos confins da
Terra...
-
E em verdade te digo que assim será. Porém, isso não implica condicionar ou
submeter a Minha mensagem à vontade do poder ou das leis humanas. Um homem não
pode montar dois cavalos nem disparar dois arcos ao mesmo tempo. E não pode um
criado servir dois amos. Porque honrar um e ofender o outro.
Ninguém que beba um vinho velho deseja naquele momento beber um vinho novo. Não
se trasfega vinho novo para odres velhos, para que não se rasguem, nem se
trasfega vinho velho para odres novos para que não se estrague. Nem se cose um
remendo velho num vestido novo porque se faria um rasgão. Do mesmo modo te
digo: a minha mensagem só necessita de corações sinceros que a transmitam: não
de palácios ou falsas dignidades e púrpuras que a cubram.
-
Tu sabes que não será assim...
-
Ai dos que interponham a sua permanência à Minha vontade!
-
E qual é a tua vontade?
-
Que os homens se amem como Eu os amei. Mais nada.
-
Tens razão - insinuei -, para isso não é preciso montar novas regras nem códigos
nem chefias... No entanto, muitos dos homens do meu mundo desejariam fazer-te
uma pergunta...
-
Vamos - animou-se o Galileu.
-
Poderíamos chegar a Deus sem passar pela igreja?
O
Rabi suspirou.
-
Será que precisas dessa igreja para entrares no teu coração?
Uma
confusão extrema me apertou a garganta. E Jesus percebeu.
-
Muito antes de existir a tribo de Levi, irmão Jasão, muito antes de o homem ser
capaz de se erguer sobre si mesmo, o meu Pai tinha semeado a beleza e a
sabedoria na Terra. Quem está primeiro, portanto, Deus ou essa igreja?
-
Muitos sacerdotes do meu mundo - repliquei -, consideram essa igreja como
santa.
-
Santo é o meu Pai. Santos sereis vós no dia em que me ameis.
-
Então - e peço-Te que me perdoes pelo que vou dizer-te -, essa igreja está a
mais...
-
O Amor não precisa de templos ou de religiões. Um homem retira o bem ou o mal
do seu próprio coração. Um só mandamento vos dei e tu sabes qual é... No dia em
que os meus discípulos deem, a saber, a toda a humanidade que o Pai existe, a
sua missão estará concluída.
-
É curioso, esse Pai parece não ter pressa.
O
Gigante fitou-me, condoído.
-
Em verdade te digo que Ele sabe que acabará triunfando. O homem sofre de
cegueira, mas Eu vim abrir-lhe os olhos. Outros seres descobriram Já que vive
mais quem vive no Amor.
-
Que acontece então conosco? Porque não acabamos por encontrar essa paz?
-
Eu disse que vomitarei os lábios da minha boca, mas não procures aborrecer os
teus irmãos pela moleza ou pela pressa. Deixa que cada espírito encontre o seu
caminho. Ele próprio, no final, será seu juiz e defensor.
-
Então, tudo isso do juízo final...
-
Porque vos preocupa tanto o final, se nem sequer conheceis o princípio? Já te disse que no outro lado vos espera a
surpresa...
-
Tenho a impressão de que Tu serias excessivamente liberal para as igrejas do
meu mundo.
-
Deus como dizes, é tão liberal, que permite mesmo que te enganes. Ai daqueles
que se arrogam o papel de salvadores, respondendo ao erro com o erro e à
maldade com a maldade. Ai daqueles que monopolizem Deus!
-
Deus... Estás sempre a falar de Deus. Poderias explicar-me Quem ou O que é?
O
fogo daquele olhar voltou a trespassar-me. Duvido que exista parede, coração ou
distância que não pudesse ser atingido por semelhante força.
-
Podes tu explicar a estes homens de hoje de onde vens e como? Pode o homem
prender as cores entre as mãos? Pode uma criança guardar o oceano entre as
pregas da sua túnica? Podem alterar os doutores da Lei o curso das estrelas?
Quem tem o poder para devolver a fragrância à flor que foi pisada pelo boi? Não
me peças que te fale de Deus, sente-o. Isso basta...
-
Vou bem se te disser que o sinto como uma... Energia? Não me dava por vencido e
Jesus sabia-o.
-
Vais por bom caminho.
-
E que existe por baixo dessa energia?
-
É que não há por cima nem por baixo - atalhou o Nazareno, indo ao encontro dos
meus embrulhados pensamentos. - O Amor, quer dizer, o Pai. É Tudo.
-
Porque é tão importante o Amor?
-
É a vela do navio.
-
Permite-me que insista: que é o Amor?
-
Dar.
-
Dar? Mas o quê?
-
Dar. Desde um olhar até à tua vida.
-
Que podemos nós dar, os angustiados?
-
A angústia.
-
A quem?
-
À pessoa que te queira...
-
E se não tiver ninguém?
O
Mestre fez um gesto negativo.
-
Isso é impossível... Mesmo os que não te conhecem podem amar-te.
-
E que me dizes dos teus inimigos? Também deves amá-los?
-
Esses principalmente... Aquele que ama os que o amam, Já recebeu a sua
recompensa.
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