Viagens Pelos Mundos - Yron
Por Antonio Bencardino
Prólogo
Yron estava em alvoroço com a promessa da aparição no
descampado e grande era a movimentação de pessoas transitando e montando
acampamento. A notícia de suas investidas tornara-se o assunto mais comentado e
debatido em todos os tempos daquele Planeta. Muitos vinham de lugares
longínquos e até largaram seus afazeres e o trabalho com a intenção de
presenciar não só as aparições como também as palestras. Havia também a
presença daqueles que ainda não haviam participado das reuniões, que eram
incrédulos e estavam em bom número reunidos a fim de testemunhar a veracidade
dos boatos que escutavam. Comerciantes transferiram suas barracas do Movimento
Popular para o descampado e para não perderem seus lugares no dia seguinte,
mantiveram-se por lá virando a noite se aproveitando da situação para lucrar
com o evento. À medida que a hora avançava, a expectativa aumentava e um mar de
yronianos se faziam presentes contando um número de aproximadamente 700 mil,
que com grande alarde aguardavam pelo anoitecer a espera da suposta
deusa. A quarta aparição...
Introdução
O Universo está
repleto de vida e não obstante, muito parecidas com a que aqui conhecemos. De
certo, ainda não possuímos essa certeza, pelo simples fato de não termos a
nossa disposição equipamentos que possam comprovar a veracidade de tal
informação. Entretanto, ao olharmos o firmamento, não podemos crer que tudo se
configure apenas para nos recriar as vistas e deslumbrarmos de forma
apaixonada, tão belo espetáculo da criação. Apesar de não termos
tecnologia que venha nos elucidar sobre tão fabuloso acontecimento podemos
intuir que, dia menos dia, obteremos essas certezas, não só em relação às
buscas que fazemos, mas também a mesma busca feita por parte de outros seres em
condições similares as nossas. Este prazo tem data certa para seu
vencimento e não tardará a proximidade de tais contatos, momento este em que
nossa civilização deixará de pensar como sendo única, integrando-se de forma
iniciativa, a vastidão de mundos completamente habitados por seres de
inteligência de igual, superior e inferior a nossa.
Podemos começar
a compreender tal afirmação, se vasculharmos desde o passado remoto, os relatos
que nos são trazidos até os dias atuais, sobre contatos de Deuses e seres de
natureza desconhecidas, muitas vezes relatadas como sendo divindades, por
ocasião do desconhecimento que nossos ancestrais possuíam.
Por outro lado,
também podemos concluir que esses seres por algum motivo, deixaram de se
comunicar de forma expressiva como faziam, por entenderem que ainda estávamos
muito distantes de suas expectativas, não compensando assim suas
interferências.
Hoje, nos
encontramos em patamares de compreensão bem acima do que tínhamos outrora,
mostrando com que desta forma, suas intervenções possam ser mais coerentes e
quiçá justificadas em outras esferas.
Partindo deste princípio, podemos até mesmo supor não
estarmos aptos a tais encontros, mas de mentes abertas e alertas a estas
questões, certamente conseguiremos nos transportar a novos mundos realizando
assim o descobrimento de muitos mistérios que cercam nossa existência.
Sinopse
De acordo com a
própria evolução humana, no Século XXVII, Isabele Constantine se propôs a uma
saga no mínimo surpreendente e inusitada.
Os homens já se
comunicavam telepaticamente e ao se entregar a estudos e pesquisas desenvolveu
um equipamento capaz de transportá-la a qualquer parte do incomensurável
Universo.
Descobriu
inicialmente que este mesmo Universo está repleto de vida e não obstante,
habitados por seres humanos, pessoas como nós vivendo experiências que se
diferenciam apenas no estado evolutivo comprometidas apenas com épocas
diferentes em relação há seu tempo.
A oportunidade
de poder estar presente entre estes seres, obviamente permitiu o equívoco de a
considerarem como Deusa. Relutante, ela tenta mostrar e provar que seus feitos não
são divinos, mas oriundos dos efeitos causados por esta mesma evolução em
curso, o que no futuro, também serão alcançados por eles.
As questões de religiosidade e fé transformaram-se em
dilemas obrigando a protagonista a tomar decisões espetaculares interferindo
significativamente no adiantamento desses povos.
Yron está situado na constelação de Meyjan, na galáxia
elíptica M49, NGC 4472, a cerca de 260 anos luz de distância da Terra tem dois
Sóis e duas Luas. A correlação temporal corresponde ao período entre 1600 e
1900 em relação a Terra. Tem nuvens cor de rosa e montanhas gigantescas com
mares de água potável e é regido pelo Deus Pory.
Capítulo 1
Ano 2.600
O dia amanheceu
quente e a temperatura já marcava 39º na Cidade do Rio de Janeiro.
Como era de
costume, Isabele Constantine acabara de levantar-se de sua cama e já pensava
nos afazeres a cerca do trabalho que vinha realizando. Em dois tempos, tomou um
rápido café e já estava prontamente elegante para começar mais um dia de
pesquisas na Cia Sudeste Luz do Brasil, Empresa onde era responsável pela
expansão das diretrizes não só do tempo, como também das viagens
intergalácticas utilizando-se a velocidade da luz.
Aos 30 anos de
idade, Isabele tinha longos cabelos castanhos claros, olhos negros penetrantes
e sorriso largo, com silhueta bem torneada e pele morena, que mostravam um
conjunto atraente unido a sua jovialidade e altivez. De temperamento calmo e
clara reflexão, trazia consigo um espírito romântico que transmitia paz e
cordialidade aqueles que lhe conheciam.
Já no trabalho,
comandava uma equipe de recém-formados, que colaboravam com sua pesquisa, onde
há meses tentavam descobrir um elemento cerebral que pudesse contribuir para
aumentar o deslocamento da luz para a velocidade do pensamento.
Desde os anos
2513, o ser humano já havia conseguido a comunicação telepática uns com os
outros, possibilitando assim, grande avanço na história evolutiva do homem,
fator determinante para as pesquisas em que Isabele vinha se
aprofundando.
Seu
surpreendente histórico escolar contribuiu para um vasto “currículo”, onde a
supremacia de seus conhecimentos estaria bem acima da média dos meios
conhecidos. Sua capacidade de entendimento e reflexão dos fatos lhe concedeu
méritos nas academias por onde transitou conquistando dessa forma o posto em
que agora se encontrava. A tese emblemática esboçada por Isabele em seu
mestrado consistia num determinante chip implantado em uma região específica do
cérebro humano, que ao ser acionado poderia levar qualquer indivíduo a qualquer
parte do incomensurável Universo, através da velocidade desse mesmo pensamento.
Assim, acreditando nessa possível realidade, Isabele colocaria em prática seus
conhecimentos, agora estruturalmente financiado pela Empresa onde era
funcionária.
A CSLB era uma
Empresa reconhecida mundialmente, principalmente pela tecnologia empregada nos
mais variados tipos de atribuições relacionados ao desenvolvimento expansivo da
mente humana. Todavia, muito questionada pelos meios utilizados para o emprego
de suas atribuições, tinha em seu comando o ardiloso Dr. Joshua Marjo Lopes,
homem de muito poder, que apesar dos seus 78 anos e devido aos grandes avanços
da medicina possuía a aparência e o porte daqueles que ainda estavam na casa
dos 40 anos. Sua espessa sobrancelha negra marcava a expressão de um rosto
anguloso e delineado, que não demonstrava sinais de envelhecimento ou
fraqueza.
À medida que a
pesquisa de Isabele avançava, teve então a oportunidade de conhecer melhor um
de seus colaboradores, o atraente, sensível e impulsivo Gabriel Honde Segoe:
Jovem, 28 anos, surfista, porte atlético e definido, cabelos e olhos castanhos,
que se harmonizava com a voz rouca e suave, mostrando um homem feliz e
capacitado.
Logo, essa
amizade se tornaria paixão e juntos alternavam amor e trabalho onde o bem
querer era mútuo e a dinâmica de suas pesquisas avançava e progredia em ritmo
acelerado de encontro ao que se propuseram.
Certa noite juntos saíram para comemorar uma
descoberta incrível, que elevaria a chance em mais de 90% de conseguir o
inédito feito da viajem através da velocidade do pensamento. Brindaram,
divertiram-se e chegando ao apartamento de Isabele, Gabriel sugeriu que o chip
fosse testado naquela mesma noite por um dos dois para que pudessem comprovar a
autenticidade daquela realidade, mesmo não estando 100% pronto. A princípio,
Isabele retrucou por temer que algo pudesse dar errado, mas logo aceitou uma
vez que as explanações de Gabriel eram contundentes e encorajadoras
oferecendo-se para ser a cobaia do implante do referido chip. O implante era
simples e não requeria sacrifícios ou cirurgia, o que bastava apenas ser
encaixado no ouvido, como um aparelho auricular. O chip produziria sons de
baixa frequência que transportariam seu usuário para onde seu pensamento o
levasse bastando apenas concentrar-se. Decisão tomada, decisão feita.
Assim, Isabele
agachou-se e posicionou o aparelho no ouvido esquerdo, cerrou os olhos e...
Desapareceu como num passe de mágica.
Gabriel estupefato, ao mesmo tempo em que não
acreditava no que seus olhos presenciaram, sentia-se orgulhoso por fazer parte
de tão inovadora pesquisa, mas também se perguntava por onde andaria Isabele,
para onde se tele transportou? – Pulou de alegria, gritou e chamou por Isabele,
não tendo resposta nem sua reaparição, Gabriel esbravejou e chorou, mas isso
não a trouxe de volta. Sentou-se no sofá e mudo, olhava os quatro cantos da
sala sem que nada diferente acontecesse. Por último e num esforço derradeiro
tentou a telepatia e mais uma vez o resultado foi em vão. Duas horas se
passaram e agora quatro e Gabriel esparramou-se no sofá sendo vencido pelo
cansaço e o sono após um dia fatídico e espetacular.
Ao amanhecer,
Gabriel acordou sobressaltado ao dar-se conta do que tinha acontecido na noite
anterior, intrigado se perguntava: O que teria acontecido a Isabele, onde
estaria, porque não se comunicava?
Abatido por
pensamentos que agora já fervilhavam em sua alma, se perdeu relembrando os
momentos de carinho e amor que juntos passaram. Tomou uma ducha gelada, se
aprontou e partiu para o trabalho.
Lá chegando,
dirigiu-se a sala de Joshua, explanando o que havia acontecido. Joshua lhe
ouviu atentamente até o fim da última palavra e após um profundo silêncio
indagou:
- O que vocês
pretendiam tomando essa decisão por conta própria? Como se arriscaram sem o
objeto da pesquisa estar totalmente pronto? Isto vai totalmente contra as
regras da Empresa e nenhuma justificativa poderá ser levada em consideração
junto ao Conselho.
Cabisbaixo,
Gabriel tentou se desculpar dizendo estar preocupado com a integridade de
Isabele, mas foi interrompido por Joshua que disparou relembrando todas as
normas de segurança da Empresa dizendo por fim que “agora não adiantava mais
chorar pelo leite derramado”. Pediu silêncio e entrou em sintonia telepática
com os membros do Conselho. Longos minutos se passaram e por fim, Joshua acenou
negativamente a cabeça e replicou:
- Você já falou
sobre isto com mais alguém?
- Não, ninguém
sabe.
- Não comente
com ninguém o que fizeram. Isto poderá acarretar vários problemas nos trazendo
grandes prejuízos financeiros. Se perguntarem e logicamente vão perguntar sobre
Isabele, limite-se a dizer apenas que saiu em férias assim determinada pelo
Conselho.
Gabriel não
perguntou nada, apenas acatou as determinações e saiu cabisbaixo dirigindo-se a
sua sala. Alguns dias se passaram e vez por outra, alguém perguntava sobre
Isabele, Gabriel limitava-se a responder que estava bem e que logo estaria de
volta. Mas em seu âmago, profunda tristeza com um misto de saudade era visível
em seu semblante.
Duas semanas se
passaram e toda a noite Gabriel dormia no apartamento de Isabele na expectativa
de seu retorno, mas por mais que tentasse, um silêncio ensurdecedor era a única
resposta que obtinha até se deixar vencer pelo cansaço e dormir profundamente.
Essa rotina vinha lhe esmagando o peito e decidido, ao chegar a seu trabalho
reportou-se novamente a sala de Joshua.
- Bom dia
Dr.Joshua! Você tem alguns minutos?
- Sim, claro eu
estava mesmo precisando falar com você.
- Estou muito
preocupado com Isabele, além de sentir muito sua falta.
- O Conselho
autorizou sua ida ao encontro de Isabele, mesmo sem o chip estar regularmente
pronto, entretanto você assinará um termo de responsabilidade isentando a CLSB
de quaisquer problemas que possam advir da sua decisão. Então, o que me
diz?
- Eu
assino!
- Você está
ciente que também pode não voltar?
- Sim, estou.
Mas o que importa é rever Isabele esteja onde estiver.
A papelada já estava pronta e Gabriel assinou,
agradeceu e saiu indo diretamente a sala de pesquisa. Tomou um dos vários chips
em sua mão, colocou no bolso e sem falar com mais ninguém adentrou em sua sala
trancando a porta. Por alguns momentos, ficou perdido imaginando o que poderia
lhe acontecer, mas sem titubear colocou o chip no ouvido cerrou os olhos e...
Desapareceu.
Capítulo 2
O Planeta Yron
O Planeta Yron
se encontra na constelação de Meyjan, na galáxia elíptica M49, NGC 4472, a
cerca de 260 anos luz de distância da Terra. Yron é similar ao nosso Planeta e suas
dimensões correspondem ao dobro do nosso. Yron é iluminado por dois Sois e duas
Luas, seu dia tem aproximadamente 32h. Também é habitado por seres humanos que
estão em estado evolutivo correspondentes ao que aqui vivemos nos idos dos anos
1700. Com apenas 6h noturnas, esse período é utilizado para o descanso restando
as demais às suas atribuições de estudo, trabalho e laser. A diferença mais
acentuada entre nós e eles é que os povos vivem sem divisões territoriais e a
língua empregada é universal.
Desde os
primórdios e a partir de um pequeno nicho de indivíduos foi formada a grande
legião de yronianos, que hoje se aproxima dos 10 milhões de habitantes. A
partir dos desbravamentos pelos ímpetos dos seus guerreiros e a implantação de
novos nichos, este povo vive centralizado numa pequena fração do seu extenso
espaço territorial, onde tem sua cultura e a crença no Deus chamado por eles de
Pory. Para os yronianos, Pory é o Criador Universal, Onisciente e Regente,
estando acima de tudo e de todos. As lendas sobre Pory remontam a séculos,
sendo a mais intrigante aquela que conta seu espetacular aparecimento de dentro
de uma gigantesca “serpente voadora”, que surgiu das nuvens rosadas de Yron. A
principal mensagem de Pory é a fraternidade entre seus filhos e a maior parte
dos yronianos é subserviente e crente a essa regra.
O espetáculo
proporcionado pelas Luas de Yron é singular e lhes mostram não só um belo
visual, mas harmonia e equilíbrio, junto à constituição do Planeta.
Yron possui
montanhas que fazem o Everest parecer um simples monte.
Os mares são
limpos e cristalinos, repletos de vida submarina com águas de composição
idênticas aos dos nossos rios e, portanto, totalmente potável, própria para
consumo.
Os animais são
esplendidos e também similares aos nossos, porém de maior estatura com pele,
pelos e plumagem bem diferentes. Um gato parece um tigre de pele azulada com
olhos amarelados e são tratados como animais de estimação. No céu de Yron,
transitam aves multicoloridas de várias espécies, que colaboram com essa
harmonia, tendo em seus limites nuvens cor de rosa, transpassadas pelos raios
solares ou lunares.
A maior fonte de
riqueza de Yron vem do comércio de troca. Muito popular e abrangente, o
artesanato se faz presente e admirado, sendo amplamente reconhecido e
dependendo da sua utilidade, muito valioso e procurado pelos cidadãos.
Em termos de tecnologia e informação, podemos dizer
que Yron, ainda está aquém, mas algumas pesquisas são feitas objetivando esse
progresso.
Capítulo 3
Isabele chega a Yron
Em seus
pensamentos, Isabele não sabia exatamente para onde se tele transportaria.
Idealizou apenas um Planeta habitado e semelhante ao nosso e, Yron a acolheu.
Tão logo chegou, percebeu que estava desnorteada em meio a centenas de pessoas
que gritavam e gesticulavam umas com as outras, numa espécie de feira, onde
tudo podia se encontrar. Também, logo soube que ali não havia comunicação
telepática, muito menos algum tipo de frequência com os seres da Terra e por
esta razão não pode se comunicar com Gabriel. Isabele tinha ciência que
deixaria Gabriel preocupado, mas ficou fascinada com aquela nova realidade e
decidiu ficar, pelo menos por algum tempo, vivenciando novas
circunstâncias.
Caminhando por
entre a multidão, olhava, ouvia e tentava algum modo de se comunicar, mas não
compreendia o que falavam, até que num tremendo esforço, ouviu em seus
pensamentos uma voz masculina que pedia ajuda e parecia estar bem próxima.
Afastando-se da multidão e concentrada perguntou:
Onde você está?
- Qual o seu nome? - Você está na feira?
- Me chamo Alex,
estou a duas quadras ao Sul do Movimento Popular, em casa. Como você me ouve e
fala nos meus pensamentos?
- Aqui, ainda
não sei como isto é possível, mas fico feliz em poder me comunicar contigo,
onde é sua casa?
- Continue
andando em frente, pelas suas vestes, já consigo te ver. Estou a 100 metros te
acenando. Isabele acelerou os passos e chegou ao encontro daquele que seria o
primeiro contato alienígena de sua vida.
Alex, como todos
em Yron, não possui sobrenome. Era um sujeito simples que aparentava ter de 30
a 35 anos. Cabelos e olhos castanhos, barba negra, cerrada e curta, que
escondiam um rosto redondo em cima de um corpo aparentemente fora de forma. De
certas limitações e aparência comum, apesar disso, ele possuía algumas
habilidades e peculiaridades, acima da média do pessoal daquele tempo. De
certo, não compreendia muitas coisas e por mais que se esforçasse não obtinha
respostas em suas súplicas no Deus em que acreditava. Essa concentração fora a
chave para a sintonia obtida com Isabele.
Tão logo Alex
balbuciou uma frase, Isabele percebeu que não entendia aquele dialeto, mas
compreendia o significado do que expressava e telepaticamente lhe respondia,
conseguindo desta forma manter o diálogo em nível de compreensão bastante
satisfatório.
Alex pensou que
Isabele fosse uma deusa e lhe questionou a esse respeito, uma vez que os dons
dela eram extremamente superiores aos seus, mas logo foi contestado, ouvindo
atentamente as explanações de sua interlocutora.
Isabele lhe
disse toda a verdade e com muita simplicidade falou sobre a Terra e como era a
vida em seu Planeta. Ao terminar, Alex retrucou dizendo que de qualquer forma,
para ele, Isabele era verdadeiramente uma deusa e que jamais seu povo poderia
saber de sua estada naquele território, pois correria o sério risco de ser
tomada como prisioneira, para fins de pesquisa e observação comportamental,
podendo assim comprometer sua integridade física e intelectual.
Ao dar-se conta
do perigo que corria, Isabele pensou em voltar, mas confiando em Alex, elaborou
um plano para ficar mais algum tempo em Yron, sem que pudesse ser descoberta
conseguindo assim desbravar o novo mundo dando em troca a ajuda que estivesse
ao seu alcance para Alex. Era um plano simples, onde Isabele se passaria por
muda durante o período de sua adaptação a fim de evitar seu reconhecimento
perante as pessoas que cruzassem seu caminho. De comum acordo com Alex, que
achou a ideia muito boa firmaram uma espécie de pacto mental, que deveria ser
cumprido à risca e determinação. O único problema seria explicar para a irmã de
Alex, que estava prestes a chegar do trabalho, de que forma e porque Isabele
estaria ali. Então, elaboraram vários planos recheados de mentiras, sendo todos
rejeitados por ambos. Não restando mais alternativas decidiram lhe contar a
verdade.
Perto das 22 h
daquele lugar, Velma irmã de Alex chegou a sua casa e deparou-se com aquela
estranha sentada na poltrona da sala, pronunciou algumas palavras entrou num
cômodo e em menos de 2 minutos voltou e sentou-se junto a seu irmão.
Alex foi o
primeiro a falar e a depois ela retrucou, assim aquele dialeto parecia
interminável e repleto de lacunas, uma vez que Isabele só compreendia o que
Alex pensava. Mesmo assim, a seu ver parecia que Velma estava entendendo o que
estava acontecendo e vez por outra, as duas trocavam olhares. Quando finalmente
o diálogo chegou ao fim, Velma se levantou e Alex pediu que Isabele se
levantasse também. Ambas trocaram um olhar mais intenso e Velma a abraçou
pedindo a seu irmão que lhe falasse que havia compreendido tudo e que poderia
contar com ela, sendo aquele abraço parte do pacto que fora firmado com seu
querido irmão.
Velma era uma
mulher madura prestes há completar 50 anos. Apesar de ter os olhos e cabelos
muito negros, havia uma mecha branca que circundava a testa numa espécie de
franja natural que lhe caía muito bem ajudando a realçar um olhar firme e
penetrante, que transmitia sinceridade e amabilidade. Seus pais morreram num
acidente e por ser mais velha dedicou parte da sua vida a seu irmão e a outra
em seu trabalho como professora da língua yroniana. Devido à tenra idade de
Alex, quando do acidente envolvendo seus pais, Velma decidiu não se separar
dele vivendo dessa forma como tutora e mãe aconselhando-o e lhe suprindo com
muita ternura e dedicação tornando o elo entre os dois, uma relação bastante
franca e essencial para os caminhos que juntos trilharam.
Alex se tornou
um artesão habilidoso e conceituado em sua região conseguindo desta forma
trocar seus objetos com facilidade contribuindo para subsistência de
ambos.
Dois dias se
passaram e atentamente Isabele ouvia e tentava praticar aquele dialeto. De
posse de algumas roupas que Velma lhe emprestara passou boa parte desse tempo
caminhando por entre a multidão buscando entender e decifrar a língua que
expressavam. Alex, sempre se fazia presente por onde quer que Isabele fosse e
muito contribuía para seu aprendizado. Assim como combinado, quando alguém lhe
dirigia a palavra, Alex respondia que ela possuía deficiência temporária na
fala e prosseguiam em frente, não causando nenhum tipo de desconfiança a
respeito de quem realmente se tratava.
Já no terceiro
dia, Isabele pronunciou sua primeira frase completa daquele vasto
dialeto:
- Bom dia! O que
temos para o café da manhã?
Velma arregalou
os olhos e mostrou-se surpresa, não pela frase, mas pela exatidão da pronúncia
e a naturalidade como se expressou. A partir daí começaram a trocar palavras e
expressões cada vez mais intensas e congruentes. Quando algum termo não era
compreendido, Isabele obtinha a ajuda telepática de Alex e assim, rapidamente
ganhava conhecimento fazendo daquele aprendizado uma ótima oportunidade para se
conhecerem mais a fundo, proporcionando momentos de intensa troca de
informações e boas gargalhadas pelos erros cometidos. Surpreendentemente, em
poucos dias Isabele já dominava o idioma yroniano e no décimo dia resolveu por
em prática tudo que havia aprendido indo até o Movimento Popular, obviamente
ainda acompanhada por Alex e Velma, a fim de testar seus conhecimentos. Levaram
alguns objetos e Isabele fez suas primeiras compras utilizando-se do verbo
avalizada por seus amigos. Quando voltaram para casa, Isabele externou um
profundo agradecimento pela ajuda que tivera e em troca disse-lhes que tinha um
presente para lhes dar. Sentaram-se próximos uns dos outros e Isabele colocou
as mãos sobre as suas cabeças pedindo-lhes que fechassem os olhos e se
concentrassem naquela cena, naquele momento e deixassem o pensamento fluir. Aos
poucos, as palavras de Isabele (em yroniano) foram se dissipando até o momento
em que Alex e Velma puderam ouvir em seus pensamentos o que Isabele lhes
transmitia telepaticamente. A partir de então e sob seu comando, Isabele lhes
presenteou com o dom da telepatia. Extasiados, ambos ficaram muito felizes e se
abraçaram ficando sem palavras que pudessem mensurar tamanha gratidão.
Algum tempo
depois em novo diálogo, Alex pergunta a Isabele se na Terra, Porí é o Deus dos
povos:
- Não, na Terra
Deus é chamado de Deus e por sermos um Planeta dividido em vários territórios,
línguas e culturas diferentes umas das outras, as crenças foram muito
diversificadas durante longo período de tempo. O homem da Terra passou por
vários processos religiosos e não obstante, até guerras foram travadas no
intuito de se estabelecer quem era o verdadeiro Deus. Em toda a nossa história
tivemos vários Deuses, personagens singularmente providos de muita sapiência e
dons sobrenaturais, mais o de maior destaque foi Jesus. Este, sem desprezar
outros de nomes significativos produziu muitas mudanças religiosas e a partir
do seu nascimento fora criado o calendário que seguimos até os dias
atuais.
- Então esse
Jesus é o Deus da Terra?
- Não, Ele é o
Filho de Deus, o único que viveu entre nós, sendo crucificado e morto por
questões político-religiosas contraditórias as castas sacerdotais do seu tempo.
Segundo os Livros Sagrados, Jesus possuía o dom de curar e fazer milagres,
ressuscitar os mortos e como prescreveu, também ressuscitou após o terceiro dia
do seu sepultamento, sendo este o maior feito dentre os homens da Terra.
- Estou confuso,
se era Filho de Deus, porque permitiu que o matassem e porque Deus não
interviu?
- Esta era sua
missão e, seu sacrifício o maior legado religioso de todos os tempos.
- Os povos da
Terra ainda seguem seus ensinamentos ou tem algum tipo de contato com
Ele?
- Sim e não.
Nossa condição de moralidade, muito se deve a este legado, mas por outro lado,
em função da própria evolução e desenvolvimento tecnológicos, os homens da
Terra, hoje compreendem a Deus de uma forma menos religiosa e muito mais
abrangente, uma vez não necessitarmos de curas miraculosas em razão da
erradicação de todas as moléstias que nos afligiam no passado.
- Velma
retrucou: Vocês não morrem?
- Claro que
morremos! Temos o esgotamento dos órgãos, mas que são perfeitamente repostos e
nos dão condições de sobrevida, até quando julgarmos não ser mais precisa.
Nossa evolução nos permitiu compreender que após um longo período de vida, a
morte se faz necessária por encerrar um ciclo e obviamente começar outro.
- Vocês não
temem a morte?
- Não como vocês, pois que adquirimos através dos
tempos total compreensão do seu significado. Alex e Velma estavam fascinados
pelas respostas de Isabele, que além de transmitir muita sabedoria, externava
simplicidade e franqueza em suas palavras. Por esse motivo, Alex voltou a
repetir: “Ela é uma deusa”, em muito poderia nos adiantar, mas se sua
verdadeira identidade for revelada, não creio que será compreendida e bem interpretada
assim como nós a interpretamos. Isabele agradece pela compreensão dos irmãos e
se diz cansada, precisando repousar, Velma a acompanha até seu quarto e antes
que Isabele pudesse dar boa noite, ela lhe faz um pedido: Por favor, Isabele
fique conosco e não nos abandone repentinamente, pois precisamos de Você.
Isabele acenou com a cabeça afirmativamente e recolheu-se.
Capítulo 4
Gabriel Chega Yron
Era madrugada em
Yron e Gabriel atônito apareceu nas ruas desertas da feira, no mesmo lugar onde
Isabele havia aparecido. Ele viu algumas luzes de lamparinas acesas e
perambulou por alguns minutos por aquelas ruelas até chegar a um descampado.
Olhou para o céu e viu a magnitude e a beleza das Luas de Yron, uma ao norte e
outra mais ao sul, que reluziam ao esplendor das imensas montanhas aparentes ao
longe. De pronto e maravilhado, falava consigo mesmo: Que lugar incrível,
Isabele soube escolher, mas onde estará e como farei para encontrá-la?
Sentou-se numa pedra e tentou comunicar-se telepaticamente com ela: “Isabele,
Isabele... onde você está?”.
- Isabele
acordou sobressaltada e nos pensamentos de Gabriel soou aquela voz linda
respondendo: Estou aqui meu amor, eu estava dormindo, mas em 10 minutos vou ao
seu encontro.
Enquanto Isabele
se aprontava, puderam trocar várias informações, inclusive as coordenadas de
onde se encontrariam e saiu bem de mansinho para não acordar os irmãos. O dia
já estava clareando e uma intensa movimentação de pessoas se ocupava em montar
suas barracas para o começo de mais uma jornada de trabalho. No rastro de suas
comunicações, logo se avistaram e correram um em direção ao outro, culminando
num encontro de muitos abraços e beijos, até Gabriel proferir as primeiras
palavras.
- Que saudades
meu amor, fiquei tão feliz e ao mesmo tempo, tão preocupado, mas deu tudo certo
e o que importa é que agora estamos juntos novamente.
- Sim amor!
Também senti sua falta e sabia que ficaria preocupado, mas não consegui voltar
sem antes experimentar essa nova e incrível realidade, ademais, sabia que apesar
de você ter que dar mil explicações a Joshua poderia me encontrar
facilmente.
- Não tão
facilmente, acho que perdemos nossos empregos, pois para vir atrás de você,
precisei assinar vários termos de isenção e responsabilidade, mas não estou nem
um pouco preocupado com isso. Quero saber de você e claro tudo o que vivenciou
nesses quinze dias.
- Bom, aqui é
Yron, um Planeta que fica... Assim, fiz meu primeiro contato com Alex, irmão
de...
Ao se
aproximarem da casa dos irmãos, Isabele fez contato telepático com eles
informando a chegada de Gabriel e rapidamente lhes passou algumas informações e
perguntou se haveria algum tipo de problema se o levasse para conhecê-los. Não
tendo nada em desacordo eles adentraram na casa e Isabele falando em yroniano
lhe apresentou e pediu concentração para saber se poderiam se comunicar
telepaticamente. No primeiro instante não conseguiram e sentados na sala já
tomando o café da manhã, Gabriel se sentiu como um peixe fora d’água sem
entender uma única palavra daquela conversa. O mais interessante era verificar
que essa conversa se dava da forma mais incomum já realizada, onde um
perguntava em yroniano e Isabele respondia da mesma forma para os irmãos e
explicava em português (brasileiro) para Gabriel, fato este, que deixava os
irmãos também se sentirem como Gabriel estava se sentindo.
O fato de Alex e
Velma terem que sair para trabalhar, também foi à deixa para que os pombinhos
ficassem a sós e pudessem matar as saudades, acontecendo ali o primeiro ato
sexual fora das jurisdições terráqueas. Após longo tempo de amor e carícias, já
em estado exaustivo e em comum acordo, decidiram passear e explorar um pouco de
Yron.
A frente de
Gabriel nos conhecimentos daquele Planeta, Isabele sugeriu que viajassem até as
montanhas usando o chip de transporte, assim, poderiam vislumbrar lá de cima as
formações daqui de baixo. Gabriel topou, mas com algumas ressalvas.
- Vamos decidir
para onde iremos.
- Certo!
- No caso de
qualquer circunstância adversa, retornamos imediatamente para cá sem
pestanejar.
- O que você
teme Gabriel?
- O frio, a
mata, animais selvagens, sei lá. Nós somos os intrusos.
- Concordo, por
esta razão, só partiremos depois do aval de Alex e Velma.
Assim, aquela
aventura foi adiada e passaram o resto do dia caminhando pelos arredores do
Movimento Popular, observando principalmente, tudo o que lhes parecia diferente
ou novo. Os Sois já estavam bem baixos, quando aquele tom de rosa das nuvens
começou a ser invadido pela vermelhidão da noite que se aproximava, tornando o
final do dia num glamoroso anoitecer, acompanhado das duas Luas que surgiam por
detrás das montanhas. Isabele já havia presenciado tal espetáculo, mas não se
dera conta do quão era fantástico e incrível. Sendo envolvida pelos braços do
seu amor e tomada pela paixão entregou-se a um longo beijo.
Os dias se
passavam e entre novos aprendizados e vários questionamentos, tanto os
terráqueos quanto os yronianos discutiam de forma plena e basicamente sobre as
diferenças estabelecidas em ambos os Planetas. Os irmãos abordavam sobre
religião, Isabele sobre os avanços tecnológicos enquanto Gabriel se aprofundava
na comunicação. Gabriel já havia se familiarizado com aquele dialeto e vez por
outra arriscava algumas palavras, até que em meio a uma dessas conversas pronunciou
corretamente sua primeira frase em yroniano:
- Podemos tentar
conversar mais uma vez telepaticamente?
Todos se
concentraram e Gabriel pode ouvir em seus pensamentos com bastante clareza as
vozes dos outros. Velma saiu na frente e respondeu sua pergunta propondo um
brinde, seguido por Alex que abriu a porta de um armário e pegou uma bebida e
por último Isabele, que se levantou e o abraçou parabenizando-o.
- A propósito,
indagou Gabriel: Alguém já escalou as montanhas?
- Os que
tentaram, nunca voltaram, respondeu Alex. Acreditamos que lá seja a morada de
Porí, que não quer ser incomodado. - Com todo respeito à Porí, eu e Isabele
estamos pensando em ir lá.
- Deuses não se
incomodam com outros Deuses, mas de qualquer forma vocês devem tomar algumas precauções.
- Não somos
Deuses, só estamos há alguns degraus acima na escala da evolução.
- Mas o que
realmente significa esta evolução?
- Sim, completou
Velma, como conseguiram?
Gabriel olhou
para Isabele como se estivesse pedindo consentimento para falar e obtendo um
sinal afirmativo, replicou: De acordo com nossa própria história, passamos por
diversas fases até atingir o grau em que hoje nos encontramos. O fato de
estarmos aqui, também é um novo marco e certamente entraremos para história,
como desbravadores de novos Planetas, neste caso, Yron. Velma se interpõe, e
pergunta:
- Em relação a
este estado evolutivo, onde nos situamos e como vocês dividem essas
fases?
- Isabele toma a
palavra, e lhe diz: Entre os séculos XVI e XIX e nós estamos no século XXVII.
Nossas “fases” são classificadas de “Eras”: geológicas e astrológicas. A
primeira diz respeito ao tempo e a formação do Planeta, já a segunda
relacionada com os astros e suas transições.
- Mas o que
realmente nos separa e ainda nos confundem?
- O tempo e o
conhecimento.
Yron se adiantou
religiosamente, porém ainda não se permite tecnologicamente em desbravar o
futuro.
- No que
consiste basicamente esta tecnologia?
- Luz!
- Mas já temos
lamparinas.
- Me refiro a
“energia, informação e expansão”.
Os irmãos não
compreenderam o que Isabele tentou lhes mostrar e ficaram momentaneamente no
vácuo daquelas expressões. Assim, aquela conversa se deu por hora terminada e
Gabriel e Isabele saíram para assistir a mais um final do dia daquele
exuberante Planeta.
Ao saírem em
direção ao descampado, Gabriel foi o primeiro a se pronunciar:
- Eles ainda não
estão preparados para estas informações.
- Sinto que
devemos lhes auxiliar, mas não sei bem como começar, você tem alguma ideia
Gabriel? - Não podemos nos expor e o mais sensato seria lhes transmitir as
informações necessárias, para o começo dessa revolução.
- O que
você acha de implantarmos uma moeda e logo a seguir a eletricidade?
- Acho que
é por aí, Isabele. Depois virão os jornais e os transportes.
- Então aqui
será nossa nova morada?
- Talvez, eu não
sei, mas se não tomarmos essas providências, a estagnação de Yron é
iminente.
- Vamos elaborar
um plano para Yron, mas agora só quero curtir esse momento, depois pensaremos
nisto.
- Concordo e é por isso e por outras coisas que te amo
tanto.
Capítulo 5
Os planos de Isabele
1) “A moeda”. No dia seguinte, terráqueos e yronianos voltaram a se
reunir como de costume para o café da manha. Em meio a já tradicional
confabulação, Isabele propôs um plano, mas não sem antes ter a irrestrita
colaboração dos irmãos e a garantia de que eles poderiam continuar contando com
o total sigilo por parte dos mesmos. De que todos os méritos advindos de suas
contribuições para aquele Planeta deveriam ser levados em conta de estudos e
ideias advindos dos próprios irmãos, assim isentando-se de qualquer mérito que
pudesse colocar em risco, tanto sua estada quanto a de Gabriel em Yron.
Curiosa em saber
do que se tratava, Velma tomou a palavra respondendo que havia feito um pacto e
que tanto para ela como para seu irmão, jamais os colocariam em riscos, podendo
realmente confiar em suas palavras, pois já lhes consideravam como membros de
sua própria família. Por fim, exclamou: Fala logo mulher! Que plano é
esse?
Isabele tirou do
bolso um papel e lhes mostrou um desenho:
- O que é isto,
pergunta Alex.
- Gabriel se
antecipa: Este é o primeiro protótipo da nova moeda de Yron.
- Como
assim?
- Ao invés de
trocar mercadoria por mercadoria, o povo de Yron passará a trocar mercadorias
por moedas. Assim, cada moeda terá seu valor absoluto e valerá quantas forem
necessárias para a troca de um bem qualquer.
Isabele: -
Outro dia vi você trocar uma calça por um quadro que você havia pintado. Tanto
você, quanto o dono da calça, julgaram os produtos ter o mesmo valor e a troca
foi feita, mas se, por exemplo, você julgasse sua pintura valer o dobro da
calça, vocês não teriam feito nenhum acordo. Assim, tendo cada produto
determinado valor, muito mais negócios serão realizados, uma vez que neste caso
ele lhe daria a calça e mais uma moeda como troco equilibrando melhor esta
negociação. Assim, cada produto terá seu preço e valerá quantas moedas for
preciso para ser adquirido.
- Entendi, mas
como produziremos essas moedas?
- Cunharemos as
moedas a princípio no metal aqui chamado de “bluma” equivalente a “prata” em
nosso Planeta e muito abundante em Yron. Teremos um trabalho árduo pela frente,
precisaremos extrair a bluma, tratá-la e por último cunhar.
Precisaremos de
espaço físico e poderíamos chama-lo de Casa Da Moeda. Também precisaremos de
trabalhadores, que poderão se beneficiar recebendo uma parcela da produção de
acordo com a função designada. O que vocês acham?
- Eu estou
achando ótimo, respondeu Alex completando que possui um galpão e conhece várias
pessoas que poderiam contribuir e se empenhar na nova empreitada.
Velma por sua
vez, pergunta se é desta forma que os humanos da Terra fazem suas trocas e
Gabriel lhe responde dizendo que foi desta forma no início, mas com o passar do
tempo houve muitas modificações que não caberia lhe ser explicado por
agora.
- Sim, entendo e
analisando o desenho agora em suas mãos pronunciou uma espécie de reza em seu
dialeto em louvor a Pory.
Após alguns dias
de trabalho na restauração, o Galpão ficou pronto para receber os interessados
e logo foram recrutados dezenas de yronianos, alocados conforme suas
habilidades em diversos setores para o exercício e desempenho de suas funções.
Era um processo lento e rudimentar, mas aos poucos adquiriu forma e logo a
novidade se espalhou num boca a boca sem precedentes, onde a moeda começaria a
circular, sendo desta forma considerada a princípio como objeto de desejo e
posteriormente como valor de troca, atingindo assim o objetivo dos terráqueos
em sua primeira intervenção.
Nota-se dizer
que com o advento da moeda em Yron, a expansão do comércio teve um crescimento
fabuloso e muitos estavam enriquecendo por conta de tal proeza, inclusive Alex
e Velma que agora se tornaram donos de várias terras e membros do alto escalão
daquela sociedade.
Enquanto o tempo passava, Isabele se diz surpresa com
o afinco e a lealdade daquele povo. Ali não havia mesquinharia, inveja ou dolo,
muito pelo contrário, conhecera pessoas de ótima índole, felizes e não raro
sensíveis e havidas por conhecimento. Os encontros com yronianos passaram a ser
mais frequentes e a cada conversa os terráqueos viam a necessidade de produzir
mais informações e cultura a serem levadas adiante. Assim, em nova reunião
somente com os irmãos, eles propõe um segundo plano.
2) “O Jornal”. Ricos, os irmãos agora
moravam numa bela casa próxima ao litoral com vista para o mar. A riqueza não
mudou seus antigos hábitos e sempre juntos continuavam se reunindo pela manhã,
onde vários temas eram abordados, com clara intenção de Isabele em lhes ajudar
no desenvolvimento de suas vidas e consequentemente, também ao Planeta. Os
yronianos já produziam os papiros e por serem exímios artesãos, Isabele e
Gabriel lhes falam sobre a técnica da xilogravura, que iria exatamente ao encontro
de uma necessidade primordial na expansão e divulgação da informação. O
processo de xilogravura consiste basicamente em entalhar na madeira informações
escritas ou desenhadas, que posteriormente servirão de matriz para várias
réplicas, esboçou Gabriel.
Alex: - Explique
melhor, Gabriel.
- Usaremos tinta
na matriz, onde só as informações de relevo do entalhe serão gravadas no
papiro, podendo desta forma se fazer várias copias da mesma imagem.
- Genial,
exclamou Alex.
- Contrataremos
os melhores artesões e assim como na Casa Da Moeda, teremos um novo alvo que
será amplamente difundido em Yron.
- A Ideia é
criar um jornal informativo, acrescentou Isabele.
- Velma em tom
bastante entusiasmado fala: Livros, Livros!
- Que bom que
gostaram mãos a obra.
Sem perda de
tempo, Isabele esboçou as diretrizes do projeto determinando atribuições
específicas à Velma e Alex que prontamente ficam apostos no cumprimento de suas
tarefas. Ela e Gabriel, inicialmente iriam redigir os textos e desenhos a serem
xilogravados passando pela revisão de Velma e postos em produção por Alex.
Assim, em comum acordo esboçam o nome do jornal, que se chamaria por fim de “A
Informação”. Alex não teve dificuldades para encontrar e comprar um novo
galpão, nem tão pouco para recrutar e arregimentar novos comandados para as
atribuições do jornal. Os artesões contratados para o entalhe das matrizes eram
mestres e poucas dificuldades teriam em entalhar de forma retroversa os textos
e desenhos nas tábuas. O primeiro exemplar seria um rolo e o tema escolhido por
Isabele se referia a saúde e asseio, onde “lavar as mãos” foi foco da matéria.
Esta edição teve 3.000 exemplares e foi distribuído na região
gratuitamente. (Jornal “A Informação”, primeiro exemplar).
Isabele e Gabriel tinham muitas coisas em mente, pois
sabiam que em muito poderiam auxiliar aquele povo em seu progresso, mas não
deviam ser precipitados, para que tudo pudesse transcorrer de forma natural não
levantando nenhuma suspeita de seus atos. Por centenas de vezes sentiram-se incomodados
diante a problemas causados por falta de tecnologia e mesmo sabendo que havia
condições de implantar projetos mais ousados, resignavam-se para não extrapolar
os limites de compreensão daquelas pessoas. Com esse pensamento em mente
decidiram utilizar o jornal passando informações que levassem conhecimento e
estratégias de crescimento, para que o próprio povo idealizasse e mutuamente
progredissem em sua caminhada de evolução. A partir da quarta publicação o
jornal já tinha cinco rolos com matérias que ensinavam, instruíam e agregavam
conceitos de avanço dando dicas de “como se faz”, coisas simples que iriam
desde ferramentas ao mais intricado sistema de águas e esgoto. Os leitores se
deliciavam com as publicações sendo os mais espertos e abastados os que
colocavam as ideias em prática. Em pouco tempo já se via no Movimento Popular
produtos inéditos. Novos galpões eram erguidos, dando surgimento a fábricas e
até mesmo de um jornal concorrente que apresentava notícias e dizia sobre o
tempo.
3) “O Teatro”. Tudo transcorria de acordo
em Yron, mas faltava diversão. Isabele propôs então, a criação de um
teatro.
- Teatro, o que
é teatro? - Questiona Alex.
- É uma casa
onde pessoas apresentam uma peça, encenam histórias que podem ser engraçadas,
comoventes, românticas e de vários outros gêneros. Atores e atrizes ensaiam o
texto e depois é exibido para o público.
- Mas quem serão
os atores e atrizes, indaga Velma.
- Fiquem certos,
todos somos atores e atrizes num grande palco chamado de vida e candidatos não
faltarão. Precisaremos de outro galpão, candidatos e uma estrutura que possa
receber o público, onde sintam que estão bem acomodados. No começo produziremos
peças que façam o público dar boas gargalhadas, para tanto, será preciso que
você Alex, nos traga pessoas que realmente possam fazer os outros rirem. A esse
tipo de espetáculo chamaremos de “comédia”, mesmo nome empregado na Terra.
Depois virá o drama, o romance e assim por diante, cada qual há seu tempo em
conformidade com os atores e atrizes que dispusermos. Autores serão bem vindos
e seus trabalhos serão analisados. Chamaremos esta casa de Teatro Dois Irmãos
em homenagem a vocês.
Os irmãos se
sentiram lisonjeados e agradeceram.
Empenhado, Alex
foi ao encontro de alguns amigos e tão logo expõe a novidade, quatro deles
aceitaram a proposta e indicaram duas moças para integrar o grupo. Alguns
testes foram feitos e os seis passaram. Eram jovens de riso largo e solto,
vindo exatamente ao encontro das expectativas de Isabele. Enquanto Alex
procurava por um novo galpão, os outros se reuniam e assistiam aos ensaios do
grupo, que já causavam risos aquela pequena plateia. Agora já familiarizados
com o texto, aguardavam pela chegada de Alex, que havia saído para fechar
negócio com os donos de uma casa bem conhecida na região, por ser grande e bem
localizada permitindo assim que mais uma etapa fosse cumprida. Ao retornar,
Alex interrompeu o ensaio e chacoalhando as chaves em uma das mãos diz: “Temos
um Teatro”. Ainda esta semana estará tudo pronto para a grande estreia.
Assim como prometera, próximo ao fim de semana estava
tudo pronto e arranjado, onde a primeira apresentação aconteceria em dois dias
e gratuitamente para uma plateia de 200 convidados. No dia da estreia, todos
estavam apreensivos e ao mesmo tempo confiantes na boa apresentação da peça,
afinal era a primeira vez que yronianos subiriam ao palco. Sentados na primeira
fila, os irmãos e o casal aguardavam as cortinas se abrirem e volta e meia
contorciam o pescoço observando a chegada do público, que lotou a casa. As
cortinas se abriram, aplausos e assovios ecoaram na plateia, depois um rápido
silêncio e logo na primeira frase uma gigantesca gargalhada e assim transcorreu
até o final. O sucesso da peça fora absoluto e outras tantas também o seriam,
dignificando e enaltecendo o trabalho daqueles irmãos.
Capítulo 6
Um ano em Yron
Um ano em Yron,
tem 122 dias e parecia ter sido ontem, mas realmente um ano se passou desde que
Isabele e Gabriel ali chegaram, nesse período, muitas mudanças aconteceram e
todos prosperaram. Agora ambos dominavam completamente os costumes e estavam
aptos a passar facilmente por cidadãos de Yron. Velma sugeriu um brinde pela
passagem de um ano da estada do casal e também em agradecimento a tudo que
fizeram não só por eles, mas para seu povo, que agora desfrutava de mais
alegria, bonança e informações. Após o brinde, Isabele se diz insatisfeita por
entender que o número de mortes por doenças simples é muito acentuado entre as
pessoas de Yron e que não pode intervir nestas questões, uma vez que certamente
teria problemas e tudo que vinha fazendo iria por água abaixo.
- Espere um
momento, você pode curar? - Questiona Velma!
- Enternecida,
Isabele olha nos seus olhos e lhe diz: Posso, mas não devo. Em nosso Planeta,
estamos livres de doenças a mais de três séculos e como isso se deveu a
tecnologia avançada, dependeríamos de equipamentos que não dispomos aqui em
Yron, porém doenças simples e pequenos males, estas certamente as
extinguiríamos.
- E porque não o
fazem?
- Isto
envolveria questões religiosas e comprometeria a fé que possuem em Pory.
- Alex:
Mas por quê?
- Muitas coisas
ainda estão acima das suas compreensões. Não podemos sair por aí curando as
pessoas de seus males, estes atos seriam considerados milagres e nós, Deuses sem
o sermos. Como ficaria Pory?
Um silêncio
profundo tomou conta da conversa.
Pensativos, os
irmãos trocavam olhares sem saber o que mais falar.
- Quando lhe
conheci Alex, em seus pensamentos você pedia ajuda a Pory, sua fé era tão
grande naquele momento que entrou em sintonia com minha concentração
considerando-me uma deusa causando-lhe confusão. Imagine pessoas sendo curadas.
Ademais, precisamos passar por estágios evolutivos, ter nossos próprios
méritos. Sempre me questiono se o pouco que fiz, não irá interferir
negativamente de alguma forma ao estado evolutivo natural aqui do seu
Planeta.
- De maneira
nenhuma, você só nos ajudou e muito lhe devemos.
Gabriel que até
então só ouvia, explanou outra hipótese:
- Imagine que
fizéssemos uma centena de curas, logo essa proeza se espalharia aos quatro
cantos de Yron.
- Estaria na
primeira página do jornal no dia seguinte, replicou Alex.
- Multidões
viriam ao nosso encontro. Alguns diriam que éramos filhos de Pory, que descemos
das montanhas para lhes ajudar. Digamos que depois de várias curas,
precisássemos ir embora. A lenda do Planeta certamente mudaria de Pory para
filhos de Pory.
- Velma: Você
acha que Pory é uma lenda?
- Você já esteve
com Ele?
- Não, mas
nossos antepassados garantem que sim.
- Dificilmente
desvendaremos estes mistérios, mais quem lhe garante que Pory não era um ser
que assim como nós, veio de outro Planeta, talvez até mais evoluído que a Terra
e que ao chegar foi considerado como Deus, naquele tempo? - Sim, devemos
questionar: há muitas coisas entre o céu e Yron, que estão além de nossa vã
filosofia.
Velma abaixou a
cabeça, refletiu sobre aquelas palavras e disse-lhe:
- Você
pode estar certo, mais isto vai completamente contra tudo que me ensinaram e
tudo em que sempre acreditei. E a minha fé? – Você acha que podemos viver
distantes da crença em Pory, nosso Deus?
Percebendo que
as palavras de Gabriel estariam acima da compreensão de Velma, Isabele se
interpõe: - Não é nossa intenção lhes confundir e por este motivo estamos
relutantes em vos auxiliar em causas mais significativas, como a cura de certas
doenças. Melhor deixar tudo como está e o curso da história ser o responsável
pelo natural crescimento.
Por hora, não
havia mais o que se falar e dessa forma se recolheram sem pronunciar nenhuma
palavra.
Tão logo
entraram em seu quarto, Isabele comentou com Gabriel que se diz arrependida de
ter levantado tais questionamentos, pois sentiu que havia tocado num ponto
extremamente delicado, que de algum modo magoou seus amigos.
- Eles precisam
refletir!
- E nós não
devemos nos meter. Acho que é chegada a hora de partirmos.
- Se assim o
fizermos, nossa proposta teria sido em vão. Além de não termos nenhuma garantia
de que possam falar sobre quem éramos e serem mal interpretados pelos outros. Não,
não podemos partir Isabele. Não agora.
No dia seguinte,
em suas reuniões matutinas, agiram como se aquela conversa da noite anterior
não tivesse acontecido. Fraternais e bem dispostos, os irmãos se apressavam
para mais uma jornada. Velma a princípio passaria no jornal e depois na casa da
moeda, enquanto Alex resolveu tirar a manhã de folga deixando para passar no
teatro lá pelo fim da tarde. Tão logo Velma se despediu, Alex convidou seus
amigos para um banho de mar e desfrutar um pouco das águas cristalinas de Yron.
O casal aceitou o convite e logo se colocaram em marcha dirigindo-se ao
destino. Ao chegarem à praia, sentaram-se na areia e ficaram por algum tempo
contemplando aquele belo horizonte, mas não tardou e todos correram para água,
cada um mergulhando a sua maneira, se iniciando uma pequena batalha onde as
armas eram água e areia até ficarem exaustos e voltarem para a beirada. Alguns
minutos se passaram entre contemplação e pensamentos, até que Alex
pergunta:
- O que eu posso
saber?
- Até onde vai
sua vontade e o que espera de nós?
Alex sabia que
estava pisando em terreno acidentado, mas diferentemente de sua irmã, possuía a
mente mais aberta e sem pestanejar respondeu a Isabele:
- Anseio por
conhecimento e como tive a sorte de conhecê-los, espero muito de vocês.
Isabele pegou um pequeno pedaço de madeira que estava
ao seu lado e começou a escrever na areia: Paciência,
Critério e Compreensão.
- O primeiro
passo é a paciência. Entender que nada se dá repentinamente ou a revelia. Em
tudo existe um plano, uma correspondência. Não nos foi dada a sapiência
integral, apenas a interação para fazer parte daquilo que vivemos de acordo com
o estágio em que nos encontramos. Estes estágios são muito diversos e
obviamente não cabem em uma única existência, portanto o retorno à vida em seu
Planeta de origem acontece sucessivamente de acordo com o aprendizado adquirido
e as experiências acumuladas. Para não haver interferência e confusão entre uma
existência e outra, a cada vida interpretamos como se fosse a primeira e tudo
se dá como novo até que todos os estágios se completem. Ao fim deste primeiro
ciclo, estamos aptos a frequentar o segundo, agora chamado de nível Dois, mas
vivido em outro Planeta de similaridade ao primeiro com nuances diferentes, próprias
aos seres daqueles estágios para melhor procedimento as suas novas
incumbências. Isabele fez uma pequena pausa propositadamente esperando por
perguntas de Alex, que percebendo esta brecha indagou:
- Quantas vidas
são necessárias para cada estágio e quantos estágios para terminar um
ciclo?
- Quantas forem
necessárias para cada estágio, assim como para o fechamento de cada
ciclo.
- Então,
voltarei para Yron, vivendo várias vidas diferentes aqui neste primeiro
ciclo?
- Sim, voltará
para a Yron por diversas vezes, entretanto, eu não lhe disse que aqui é o
primeiro ciclo!
- Então, este é
o segundo? - Em que ciclo vocês estão?
- Sim, este é o
segundo, mas já passou por período em que recebeu seres do primeiro. Assim como
estamos no terceiro, porém já recebemos seres do segundo e pregressamente do
primeiro.
- E como vocês
sabem exatamente esta divisão de “níveis”, ou seja, como sabem que são do
terceiro, eu do segundo e quem eram os do primeiro?
- Descobrimos
que somos do terceiro, quando chegamos a Yron e lhes encontramos vivendo fases
que nossos ancestrais já viveram na Terra, assim como temos ciência de como
viviam os ancestrais de nossos ancestrais. Portanto, seus ancestrais eram os
primeiros. Concluímos então, que isto se dá em vários Planetas similares aos
nossos e que são relativamente próprios aos nossos ciclos evolutivos, não nos
cabendo ciência momentânea dos ciclos imediatamente superiores.
O segundo é o
critério, que sem estudo e disciplina não pode ser alcançado. De acordo com o
acúmulo dessas vivencias, a cada vida refinamos e administramos melhor nossos
critérios. Percebemos que os estudos nos conduzem a disciplina e que desta
forma atingimos mais rapidamente nossos objetivos tanto pessoais como
coletivos. À medida que os homens avançam, os critérios são alocados não só
moralmente, como cientificamente e se coadunam com as respostas procuradas, mas
dependem da comunhão e integração dessa coletividade. Isto se dá muito
lentamente por acontecer exatamente no segundo ciclo, estágio em que Yron se
encontra agora. Um estágio basicamente religioso, onde tudo se concentra numa
vontade superior, que por falta de conhecimentos, se consagra divino e
maravilhoso, fazendo com que as pessoas entreguem o sequenciar de suas vidas
aos desígnios de divindades, muitas vezes criadas por elas mesmas.
- Quer dizer que
nós mesmos somos criadores de Deuses imaginários?
- O
desconhecimento da nossa própria natureza muitas vezes nos leva a crer que
somos fruto de uma criação mágica, porém tudo se deve a um plano elaborado
muito além da compreensão e capacidade que nos foi dada, que talvez só
consigamos entender quando estivermos em níveis bem acima do que agora nos
encontramos.
Por fim a
compreensão, que só acontece precedida das duas primeiras. Ao compreendermos
pelo menos uma parte da magnitude do tempo e espaço, começamos a intuir de
forma mais abrangente a relação de nossas existências nesse espaço temporal.
Orgulho, egoísmo e sentimentos como preguiça e desânimo, medos e receios deixam
de nos acompanhar, nos tornando mais ativos e capazes, onde a entrega e
aceitação desta compreensão, passam a ser integrantes de nossas
existências.
- Como podemos
compreender a magnitude do espaço temporal?
- Algumas
gerações aqui em Yron ainda passarão, para que esta compreensão se dê como
forma iniciativa no Planeta e outras tantas para que estudos complementares
atinjam alguns objetivos, mas a compreensão total deve pertencer apenas aos
níveis próximos dos mais elevados. Faça a si mesmo perguntas que sugiram
medidas e distâncias então, podereis verificar o quão distantes estais de
respostas conclusivas. Em tudo há seu próprio tempo.
Com fome, resolveram voltar para casa e fazer um
lanche. No caminho de volta, Alex agradeceu a Isabele pelas explicações e
rindo, lhe pediu “paciência” para com ele e sua total ignorância diante a
conversa que tiveram.
Capítulo 7
Dr. Joshua chega a Yron acompanhado
Muitas coisas
aconteceram na Terra desde a partida de Isabele e Gabriel. A pesquisa sobre o
chip de transporte à velocidade do pensamento culminou em êxito, após o
ingresso de novos participantes na pesquisa iniciada por Isabele. A frente do
projeto, Joshua identificou a promissora jovem Naomi Nadine Shannon, como
substituta e sucessora de Isabele.
Naomi tinha um
porte esguio, era alta, loira e extremamente inteligente, entretanto, não
deixava escapar um ar arrogante que denotava superioridade diante aos colegas
de trabalho. Ao concluir o trabalho começado por Isabele, Naomi ganhou
notoriedade internacional e elevado prestígio junto a CSLB, motivo pelo qual
adquiriu voz ativa junto ao Conselho Deliberativo da empresa.
Diante tal
prestígio, Joshua passou a bajular e de certa forma se encantar com os dotes de
Naomi, convidando-a para jantar e propondo encontros, cada vez mais frequentes
até que numa ocasião propícia, num encontro da cúpula da sociedade brasileira,
ela aceitou o convite. As intenções de Naomi não eram amorosas, mas usou este
artifício, como parte de um plano para convencer Joshua a irem ao encontro do
casal, mesmo não sabendo onde estavam. Ela tinha em sua mente, que para ter
viajado há determinado lugar sem regresso, eles teriam encontrado algum tipo de
paraíso e por lá decidiram ficar. O fato de não ter sido a mentora do projeto,
também lhe incomodava, pois o nome de Isabele Constantine sempre era mencionado
nas honrarias do projeto. Os encontros se tornaram mais frequentes e aos poucos
Joshua mostrava o quanto era interessado pelo poder e luxúria, fatores que
serviriam a Noemi como argumentos para lhe convencer a partirem.
Certa noite, em
seu apartamento, após se entregarem a momentos prazerosos Naomi investe em seu
plano e arrisca um palpite que certamente aguçaria a curiosidade de Joshua e
entre afagos e beijos deixa escapar:
- Você não tem
curiosidade em saber onde Isabele e Gabriel estão?
- Não!
- Mesmo sabendo
que possam estar ricos e vivendo outra realidade, melhor que a nossa?
- Nunca pensei
nesta possibilidade, acredito que não puderam voltar em virtude do chip não
estar 100% completo, talvez estejam mortos.
- Negativo, com
90% das propriedades concluídas, nada lhes impediria.
- Então, eles
poderiam ter voltado e não o fizeram... Algo realmente extraordinário deve ter
acontecido.
- Só temos uma
maneira de saber, querido! - E se não julgarmos interessante, voltamos.
Esta abordagem
soou como uma caixa registradora e seus olhos brilharam após levantar uma das
sobrancelhas. Disposto a investigar pessoalmente e com a ajuda da amante,
Joshua se antecipa e diz que precisam partir imediatamente. Assim, Naomi pega dois
chips em sua bolsa, os dois se olham, se concentram para onde o casal estaria
e... Desaparecem.
Ao chegarem a
Yron, a primeira coisa que avistaram foi um enorme galpão com uma inscrição
indecifrável pendurada no alto da entrada como uma tabuleta, parecendo ser um
letreiro com o nome de uma Empresa. Era hora do almoço e logo, intensa
movimentação de trabalhadores que saía aos borbotões acontecia misturada com a
confusão daquele estranho linguajar. Confusos e descrentes se afastaram e
começaram uma comunicação telepática entre si, questionando o que presenciaram.
Olharam ao redor e não viram nada além de casebres espremidos numa ruela, que
ao longe, para o norte mostrava grande concentração de pessoas e para o sul, o
que parecia ser o final da civilização.
Que calor
infernal, resmungou Joshua e ao olhar para o céu segurou a mão de Naomi, que
vendo sua cabeça erguida fez o mesmo. São dois Sois e as nuvens cor de rosa,
que lugar é este e o que teria prendido meus funcionários por aqui, indagou
Joshua. Usando a palavra, Naomi responde que ali não podia ser um paraíso e que
talvez tivessem tido problemas com o chip impedindo-os de voltar.
- Nunca
saberemos se não estivermos com eles, se não tivermos as respostas de suas
próprias bocas. - Porque não se comunica telepaticamente com ela?
- Acha que ainda
não pensei nisto? - Ainda não o fiz, porque primeiro quero saber onde estou
pisando, saber se realmente vale a pena investir neste lugar. Vamos para o
norte tentar nos comunicar com essa gente.
Assim o fizeram e
ao chegar ao movimento popular, dirigiram-se a primeira barraca e Joshua se
expressa: Do you speak english? - Usted habla español? - Parlez-vous français?
- Yrensid irrich ev apaplow! - Myrtaw frik
nees ystrom inast gremum.
- Não vai dar
certo Joshua, melhor irmos embora.
Concordando com
Naomi, viraram as costas ao seu interlocutor e usando o chip, desapareceram
como num passe de mágica reaparecendo no descampado, sozinhos e cercados apenas
pelas imensas montanhas de Yron, lugar bem conhecido e frequentado por Isabele
e Gabriel. Desanimado, Joshua sugere a Naomi irem embora, dizendo-se
insatisfeito e que esta aventura em nada estava lhe agradando. Naomi concorda,
mas quando estavam perto de fazer a concentração para voltar foram
surpreendidos por Gabriel e Isabele, que foram até o descampado passear depois
do almoço como já era de costume.
- Joshua! O que
o que você faz por aqui?
- Isabele,
Gabriel, que surpresa!
- Esta é
Naomi... Minha noiva.
- Veio a nossa
procura, porque não se comunicou telepaticamente, quando chegaram?
- A cerca de
meia hora e estamos um pouco confusos.
- É um
prazer lhe conhecer Isabele, principalmente por ser sua substituta na CLSB e
concluir a programação do chip.
- Acreditamos ser esta aventura um marco da
nossa história e com isto progredir e auxiliar aqueles em condições de
inferioridade a nossa como Yron, este Planeta.
Isabele esboçou
as características de Yron, como vivem, fala das questões religiosas e do Deus
Pory, enquanto Gabriel, desconcertado e sob o intenso olhar interessado de
Naomi resume o que fizeram e o quanto ainda pretendem acrescentar. Dizem-se
saudosos da Terra e da falta que sentem das tecnologias, mas que decidiram
ficar até concluírem seus objetivos.
Desinteressados
por constatarem realidades adversas a seus verdadeiros propósitos, Joshua e
Naomi atribuíram sua vinda como uma tentativa de resgate e salvamento do casal,
mas diante as explanações obtidas declinaram em suas intenções.
- Precisamos
voltar para Terra e agora que sabemos que estão bem, nada mais temos a fazer
aqui, concluiu Joshua.
Naomi retirou
dois novos chips de sua bolsa e pondo-os nas mãos de Isabele, se diz agradecida
por suas iniciativas e lhe dá um abraço.
Por fim, Joshua e Naomi se concentraram e
desapareceram daquele lugar, tendo como testemunhas os olhos arregalados de
Isabele e Gabriel.
Capítulo 8
Confusão no movimento popular
No caminho de
volta ao passarem pelo Movimento Popular, Isabele e Gabriel perceberam que algo
diferente estava acontecendo: Um homem conhecido como Sammy, exaltado espalhava
aos quatro cantos ter visto os filhos de Pory, que se comunicou com ele e
teriam desaparecido diante seus olhos. A notícia se espalhou rapidamente na
feira, principalmente pela credibilidade e conceito daquele sujeito. Ao tomarem
ciência do fato, o casal imediatamente associou aquela aparição a seus
conterrâneos, como não estavam preparados para tal situação, não interferiram
nem nada puderam fazer e retornaram a Casa da Moeda, onde a notícia já havia
chegado. Também cientes dos fatos, os irmãos a princípio atribuíram ao casal a
responsabilidade por aquele acontecimento e de pronto, Velma sai na
frente:
- Porque fizeram
isto?
- Não fomos
nós!
- Então, Pory
realmente enviou seus Filhos, qual seria a mensagem?
- Também não foi
Pory e nenhuma outra divindade, nem tão pouco houve alguma mensagem, por favor,
Velma tente compreender que não participamos de nenhuma vontade divina e nem
somos questionados ou indagados, merecedores ou julgados, simplesmente vivemos
e apreciamos cumprindo papéis morais estabelecidos pela própria sociedade em
que nos encontramos. Seria muito fácil pedir e ter, clamar e ser ouvido,
suplicar e ser atendido, mas isso não acontece exatamente por ir contra as leis
imutáveis da natureza.
- Então, como
você explica tal aparição?
- Recebemos a
visita de membros da empresa onde trabalhávamos que vieram a nossa procura,
apenas com a intenção de nos resgatar pensando que estivéssemos em apuros por
não termos retornado. Satisfeita?
- E aparecem e
desaparecem assim, sem se preocupar com as consequências e a confusão que podem
causar nas cabeças das pessoas, como fica?
- Não deveria
ser assim, mas nem todos agem ou tem sensibilidade para discernir entre o certo
e o errado, o que pode ou o que deve ser feito e por isso te peço desculpas
pelo mal entendido.
- Não me deve
desculpas, mas ao nosso povo uma explicação Isabele.
- Como poço dar
explicações a cerca de coisas acima das suas compreensões?
- Fale a verdade
e eles entenderão!
- Você está
certa disto, e Pory onde entre na história?
- Eu não sei,
mas você saberá como resolver.
Velma colocou
Isabele em cheque, que não vendo melhor alternativa disparou:
Somente os
Deuses têm o poder de modificar ou adiantar o estado evolutivo de uma
civilização, pois bem se nos consideram como Deuses, então que assim seja e a
sorte do seu Planeta está lançada. Você sabe que podemos simplesmente ir embora
e deixarmos tudo para trás, se disserem sobre nós, acreditarão que estão
loucos, pois nada poderão provar.
- É verdade
Velma, interpôs Alex.
- Ainda assim,
prefiro a verdade, a ver as pessoas julgarem-se loucas.
Naquela tarde
Isabele e Gabriel pela primeira vez desaparecem na frente dos irmãos, que
estupefatos entreolharam-se sem nada entender.
- Depois de
alguns minutos, Alex pergunta: Será que foram embora?
- Eu não sei Alex, mas acredito que isso não acaba
aqui, respondeu Velma. Independente do que façam, nunca falarei sobre eles e
espero que você também não meu irmão.
Capítulo 9
Yron recebe os “Filhos de Pory”
Alguns dias se
passaram desde que Isabele e Gabriel desapareceram. Eles voltaram a Terra e
buscaram alguns instrumentos, entre eles um pequeno equipamento conhecido como
“Magno” no século XXVII e considerado o computador dos computadores, capaz de
realizar as façanhas mais incríveis já imaginadas pelo homem. Ao chegarem a
Yron perceberam que a notícia sobre o aparecimento dos Filhos de Pory havia se
alastrado de forma descabida e confusa, gerando pânico e principalmente
incompreensão, motivo pelo qual lhes fez agir mais brevemente. Após
providenciarem um disfarce, alugaram uma pequena casa que usariam como base
para seus propósitos. Aguardaram a chegada da noite e implantaram em pontos
estratégicos diversos dispositivos ligados remotamente que lhes auxiliariam
durante aquela empreitada. Tais dispositivos eram chamados de feijão, por sua
aparência e similaridade com este grão. Retornaram a base e fizeram os testes
necessários, com maior relevância para som e imagem. Usaram trajes brancos e
totalmente desconhecidos por aqueles habitantes. Assim, tudo estava certo e
pronto para os acontecimentos que haviam planejado.
E assim foi realizada a primeira aparição: Por intermédio de “Magno” usaram a holografia de seus próprios corpos
vestindo os trajes próprios e por volta das 18h daquele dia fizeram sua
primeira aparição entre os yronianos no movimento popular. Aturdidos e confusos
instantaneamente aquelas pessoas foram tomadas de pânico e medo ao verem aquela
materialização espetacular. Eles mantiveram-se calados por alguns minutos e
vendo que o burburinho se abrandava, Gabriel falou em yroniano de forma que os
presentes pudessem ouvir com bastante nitidez:
Não tenham medo,
estamos aqui para lhes ajudar e Isabele completa:
Trazemos boas
novas e esperança para Yron.
Som e imagem
eram perfeitos e ao escutarem a mensagem, se aquietaram num silêncio profundo a
espera do que os supostos filhos de Pory tinham para dizer.
Assim, Gabriel
começou o discurso:
-Há alguns dias,
outros mensageiros estiveram em Yron e fizeram o primeiro contato com vocês,
com a intenção de prepará-los para nossa chegada. Pois bem aqui estamos e vamos
lhes explicar da melhor forma, as dúvidas que desde sempre lhes perseguem.
Neste momento e, sabedores dos últimos acontecimentos, Velma e Alex chegaram ao
movimento popular trazendo um misto de saudade e curiosidade sobre o que o
casal tinha a dizer.
Isabele assume o
comando e começa com uma pergunta:
- Vocês já
imaginaram se Yron tivesse apenas um Sol e uma Lua? E se as nuvens fossem
brancas como o algodão? Sabemos que não conseguem imaginar e por isso eu lhes
peço que nos ouçam com muita atenção, pois viemos lhes mostrar a verdade, uma
verdade que conhecemos.
- Vocês são os
Filhos de Pory? – Indagou um cidadão no meio dos ali presentes.
- Não, não somos
Filhos de Pory. Somos todos filhos do Grandioso Ser, inclusive Pory. Enquanto
todos prestavam atenção nas palavras de Isabele, Gabriel projeta a imagem do
esquema planetário do sistema solar. - De onde viemos, o céu é azul e temos
apenas um Sol e uma Lua, como vocês podem ver se olharem para cima. A seguir,
imagens da Terra à noite e de dia, mostrando o Sol e a Lua. Como já era de se
esperar, aquele intenso burburinho voltou a frequentar o ambiente e em silêncio
o casal permaneceu até que findasse aquele frenesi. A verdade que lhes trago,
está muito acima das suas compreensões, mas já vivemos em circunstâncias
parecidas com a que hoje vocês vivem aqui em Yron e por esse motivo somos
considerados Deuses,... Mas não somos.
Neste ínterim,
um cidadão tenta tocar em Gabriel, que ao perceber a investida, ele desapareceu
instantaneamente fazendo com que a multidão voltasse a sentir medo e logo a
seguir sua voz foi ouvida por todos sem seu corpo estar presente:
-“Para o bem
estar de todos, pedimos que não nos toquem”.
Então, Isabele
prosseguiu:
- Não estamos
aqui para tomar o lugar de Pory de vossos corações, mas acrescentar sabedoria e
vos auxiliar na senda do processo evolutivo de Yron. Yron não é o centro do
Universo, também não é melhor nem pior que mundos similares a este.
Enquanto Isabele
dava sua resumida “aula” de astronomia, diversos hologramas eram exibidos de
forma sistemática e simples mostrando aquelas pessoas outra realidade jamais
imaginada.
Os yronianos
mostravam-se bem receptíveis as informações e aos poucos o medo e o temor abria
espaço ao deslumbramento, que lhes preenchiam de coragem para perguntas
pertinentes aquele assunto. Alex e Velma, agora faziam parte daquele grupo de
“alunos”, mas no fundo sabiam da importância que tiveram para que tais acontecimentos
viessem à tona e tudo o que mais queriam era o retorno de seus amigos ao seio
do seu convívio.
Prosseguindo,
Isabele explica que Yron não é o único Planeta habitado na vastidão do
Universo:
- O Universo é
repleto de vida e muitos Planetas similares a Yron se escondem na escuridão do
desconhecimento. A jornada para obtenção do conhecimento é longa e não raro
muito sofrida, mas quando conseguido se apressa e se avoluma mostrando novos
horizontes, novas certezas e infinitas possibilidades.
Em meio a breve
pausa de seu pronunciamento, um ancião pergunta:
- De que
conhecimento está falando?
- Refiro-me ao
aprendizado, a sabedoria e a compreensão. Entender que por maior que seja a
crença numa divindade, nada se consegue sem esforço próprio e uma vida apenas
não basta para se atingir um nível significativo na obtenção destes quesitos.
Os avanços são morosos e muitas vezes dados como intangíveis, mas com paciência
e perseverança conseguidos. A perfeição é nossa meta e devemos lutar por ela,
mas não sem antes compreender que temos nossas limitações e por isso
aceitá-las, mas usando a sabedoria, retocando-as para que trabalhem em nosso
favor.
- Como nossas
limitações podem ser vencidas por esta suposta sabedoria?
- Usando
ferramentas, não se pode pregar uma taboa sem um martelo! - A necessidade
contribui para com o avanço.
- Mas Pory nos
presenteou com Yron e aqui temos fartura, o que ganharemos adquirindo
sabedoria? –
- Precisam
avançar, pois teus filhos morrem precocemente e a evolução do Planeta seriamente
comprometida.
- Rogamos a Pory
e entregamos em suas mãos o destino de nossos filhos. Quando somos atendidos
agradecemos pelos milagres e quando não, nos consolamos com a partida, pois
sabemos que nossos filhos estarão sob a proteção de Pory.
- Aceitam, mas
sofrem por que nada podem fazer. Podemos lhes auxiliar ensinando-os a erradicar
algumas moléstias, mas para tanto, precisaremos que compreendam que não somos
Deuses, mas seres dispostos em vos ajudar e que assim como vocês, apesar de
mais evoluídos, também temos nossas limitações.
- Diga-nos mais
sobre esta evolução, como adquiriram poderes?
- Esta era a
pergunta que mais esperávamos e se tiverem paciência muito poderemos
esclarecer. Devem estar cientes de que não é colocando todas as suas expectativas
em Pory, que conseguirão alcançar algum tipo de supremacia, pois que o livre
arbítrio vos foi concedido com a clara intenção de discernimento para atingirem
e galgarem de postos mais avançados na senda a que me refiro. Pory é o Deus
regente de Yron, assim como outros Planetas possuem Deuses regentes em estado
evolutivo equitativo a Pory. Entendam, Pory é o Deus de Yron, mas não é o Deus
de onde viemos, mas isto não lhe tira os méritos que tem, portanto é o Deus
regente, governador deste Planeta.
O Grandioso Ser
está para os Deuses, assim como os Deuses estão para nós. Não temos como medir,
avaliar ou compreender, nem tão pouco inserir palavras que possam expressar a
magnitude do Grandioso Ser, a sua obra e muito menos seus desígnios, mas
sabemos que com esforço, estudo e dedicação, mais próximos dos Deuses, nossos
criadores estaremos.
Isabele é
interrompida por uma pergunta feita por Velma:
- Então, você
afirma que devemos crer em vários Deuses, não seria Pory o Grandioso Ser?
- Não devem
acreditar em vários Deuses, apenas em Pory, teu Deus, mas não é Pory o
Grandioso Ser, Este não tem como ser mensurado. Todos os Deuses estão
qualificados e comprometidos com os desígnios do Grandioso Ser, o verdadeiro
mentor e criador do Universo, magnânimo para os Deuses, assim como Pory e todos
os outros Deuses regentes de cada Planeta habitado, também o é para cada um de
nós.
Neste momento,
Gabriel expõe através da holografia, a imagem dos Planetas Yron, Terra e também
dos Sois que iluminam os respectivos Planetas, lado a lado, com seus tamanhos e
medidas de acordo com o raio equatorial dos mesmos, mostrando que o primeiro
tem o dobro do tamanho do segundo e que em relação aos Astros os Planetas quase
desaparecem. Posteriormente, pede aos presentes que façam uma rápida avaliação
e que mensurem suas próprias dimensões em relação às dimensões dos Planetas e
dos Astros. Todos ficam estarrecidos e de certa forma decepcionados, com o
ínfimo e módico tamanho a que foram reduzidos.
Isabele volta a
se pronunciar:
O que acabaram
de presenciar é apenas um pálido reflexo do que temos no Universo, existem
Astros de tamanhos incomensuráveis, que nos submetem ao estado de infinitas
frações de um pequeno grão de areia. Esta realidade nos dá uma pequena prova da
extraordinária magnitude do Grandioso Ser, que tem sob seu comando os Deuses
que lhes prestam serviços, a fim de atender as demandas para o qual foram
designados.
A noite já estava alta e diversas perguntas e
questionamentos dos assuntos ali abordados, foram suspensos com a promessa de
um breve retorno pelo casal, para dar sequência ao árduo trabalho pelo qual se
comprometeram. Assim a primeira sessão é dada por encerrada, com o
desaparecimento de Isabele que teve a imagem de seu corpo a princípio muito
reluzente e posteriormente o esmaecimento até sumir.
Capítulo 10
As controvérsias
Mais um dia
acontecia no Planeta Yron, mas agora aquele povo havia muito a discutir e
avaliar, afinal não era todos os dias que recebiam a visita de seres com a
supremacia dos terráqueos. Apesar de enfatizarem que não eram Deuses, os
yronianos assim os consideravam, principalmente pelo espetáculo presenciado na
noite anterior, inclusive Alex e Velma, que agora distribuíam o jornal “A
Informação”, tendo estampado na primeira página os seguintes dizeres: “Eles não
são Filhos, mas enviados de Pory”.
Muitos yronianos
dirigiram-se ao Movimento Popular na expectativa da aparição do casal logo pela
manha, motivo pelo qual, estava extremamente congestionado, vários deles até
montaram acampamento aguardando nova aparição, mas não aconteceu.
Infiltrados na
multidão, lá estavam os terráqueos usando os disfarces, que lhes tornavam
totalmente irreconhecíveis. Ambos pareciam mais velhos e seus cabelos estavam
grisalhos, além de estarem mais gordos com suas vestes maltrapilhas que
denotavam a simplicidade e humildade própria do povo yroniano. Obviamente o
assunto no Movimento Popular não poderia ser outro senão o que tivera sido
abordado pelo casal. Alguns entenderam a mensagem, enquanto outros mantiveram a
velha opinião formada, onde o debate sobre o tema trazia consigo controvérsias
quando religião e fé vinham à tona naquele intenso repertório. Isabele e
Gabriel, puderam assim recolher informações de extremo valor, obtidas pelos
pronunciamentos dos próprios yronianos a respeito do que compreenderam,
interpretaram e que agora serviam de opiniões as controvérsias destacadas
durante os debates que participavam, sem mesmo terem investido em nenhum
momento, algum tipo de troca de informações. Ficaram surpresos em ouvir um
ancião dizer que os terráqueos eram enviados de Pory e que toda aquela
encenação era uma prova para testar suas crenças naquele Deus e que obviamente
se tivessem sua fé abalada, poderiam sofrer vários castigos. Outro, afirmou que
recebeu a visita do Deus Pory em seus sonhos, pedindo para que não caísse na
tentação em acreditar nas palavras e ilusões dos malfeitores. A melhor
avaliação ouvida partiu de uma senhora que dizia ter compreendido a mensagem,
simplesmente afirmando nunca ter testemunhado algum tipo de milagre, não só em
sua vida como na de seus entes queridos. Assim, recheados de argumentos e
opiniões, o casal retorna a “casa base” e se preparam para a segunda
investida.
A segunda aparição ocorreu com base no que
testemunharam. Os terráqueos ofereceram aos yronianos um espetáculo não menos
surpreendente que na sua primeira aparição ao anoitecer daquele mesmo dia:
Por intermédio de “Magno”, se produziu uma sinfonia em
som quadra estéreo nunca dantes ouvida por aquele povo. Com riquíssima melodia,
tão apurada em seus mínimos detalhes, que lhes soava como sons celestiais. Ao
final da canção, a aparição do casal foi realizada com feixes de luzes
iridescentes em meio à névoa artificial lançada propositadamente, que ao se
dissipar vagarosamente mostravam a silhueta dos terráqueos. Foi como se tivesse
sido a primeira vez, porquanto, causou arrepios e convulsões entre os
yronianos. Tão logo o silêncio foi restabelecido e os ânimos acalmados, a voz
de Isabele foi ouvida aos quatro cantos por se ter utilizado o mesmo
instrumento que produziu a melodia:
- Meu nome é
Isabele.
- E o meu,
Gabriel.
- Somos
terráqueos e vivemos no século XXVII.
- Uma diferença
de aproximadamente 867 anos a frente deste tempo.
- Podem avaliar
esta diferença de tempo numa pequena escala da evolução?
- Sabemos que
não e por isso, voltamos a enfatizar que não somos Deuses e nem tão pouco
enviados por Pory ou qualquer outro Deus.
Estamos aqui
para vos auxiliar, sem nada pedir em troca, por nossa livre e espontânea vontade.
Não pedimos que abdiquem de Pory e compartilhem nosso Deus, lhes mostramos
apenas uma nova forma de pensar e agir, onde os maiores beneficiados serão seus
filhos, os filhos de Yron. Se não o quiserem, estamos prontos para partir e não
mais retornaremos a Yron. O que vocês querem?
- Fiquem,
queremos que fiquem!
- Fiquem!
- Fiquem!
A resposta não
poderia ser outra e Isabele prossegue:
- O que tens
presenciado e a admiração a que chamam de “espetáculo”, quando de nossas
aparições, em nosso Planeta é difundido como “tecnologia” e não representa
praticamente nada daquilo podemos fazer. Para vocês, tudo é interpretado como
divino, um equívoco justificado pelo desconhecimento e incompreensão dos fatos.
Há cerca de 900 anos, também estávamos em patamares parelhos ao que hoje
vivenciam em Yron, onde tudo era divino e não raros interpretados e
justificados por fontes religiosas. Nossos horizontes não ultrapassavam aos
pálidos reflexos de uma constituição humana centralizada no poder divino, onde
a sorte dos acontecimentos era atribuída aos Deuses. De uma forma ou de outra,
a evolução é constante e não cabe em si. Alguns gênios se entrelaçaram em
períodos distintos unindo religiosidade e ciência, determinantes ao nosso
crescimento. Estes gênios não eram divindades ou seres sobrenaturais, mas
estudiosos que em muito contribuíram, para que chegássemos aos patamares onde
hoje nos encontramos. É um processo vagaroso e requer persistência e dedicação.
Atos conclusivos, não acontecem da noite para o dia, por isso os filhos e os
filhos dos filhos de Yron serão os beneficiados. A partir do momento que
compreenderem que o Seu Criador já fez a sua parte tendo lhes criado e que seus
desígnios são imutáveis, não interferindo, beneficiando ou castigando a quem querem
que seja deixando o livre arbítrio direcionar as suas caminhadas na senda a que
foram incumbidos.
Diferentemente
da noite anterior, a plateia ouvia em silêncio as palavras de Isabele, sem
questionar ou interrompe-la com perguntas, parecendo assimilar aquelas palavras,
como se ouvissem música, hipnotizados por ela.
E mais uma vez,
Isabele prossegue:
Na Terra, nossos
estágios evolutivos foram divididos por Eras Astrológicas, sendo levados em
consideração os períodos que atravessamos de acordo com a posição dos astros
celestes. Neste momento, Gabriel expõe a grande roda astrológica com os signos
do Zodíaco e Isabele fala sobre a Era de Peixes. Esta é uma Era fundamental
para Yron, assim como foi para nosso Planeta por várias gerações. Hoje, Yron
vive essa mesma Era que se compreende num estágio evolutivo relacionado ao
aprimoramento religioso, ao conceito de moralidade e fé atribuído a um Deus,
neste caso a Pory, vosso Deus. Durante este período, os povos vivem alienados e
presos a condições divinas e religiosas, por assim entender que o inexplicável
é sobrenatural. Desta forma, os povos atribuem toda a sorte dos acontecimentos
a uma vontade superior, sejam elas boas ou ruins, porém, também está
condicionada a fé, que nutre o intercâmbio entre divindades e os homens. Mesmo
sem provas ou embasamento científico, milagres acontecem e pedidos são
atendidos fazendo-se crer reais e estimulando a fé interior de cada um, com a
convicção de proteção e merecimento. Por outro lado, o amor e a compaixão,
também são difundidos e esta é uma razão nobre entre os povos, onde o respeito
mútuo e a moral culminam com o entendimento, que é a base inicial para o
desenvolvimento da tecnologia.
Uma seta
deslocou-se da Era de Peixes e passa para a de Aquário.
Aquário, é a Era
da tecnologia, Era vivida atualmente em nosso Planeta, a Terra. A mudança da
Era de Peixes para a de Aquário, não aconteceu de um momento para outro, como
visto na passagem da seta, na verdade o período de uma Era é de aproximadamente
2600 anos terrestre, o equivalente a 766 anos de Yron. A transição, também é
morosa e precisamos de mais 400 anos para perceber a verdadeira mudança. Nesta
escala, Yron precisará de aproximadamente 255 anos.
Somente
constatamos que havíamos saído da Era de Peixes para Aquário quando realmente
conquistamos avanços tecnológicos significativos que nos conduziram a
descobertas que nos possibilitaram desvendar os mistérios considerados como
divinatórios por várias gerações. Não podemos mudar estes ciclos, porque
obedecem a uma lei natural, mas vos adiantar para que as gerações futuras
tenham melhor compreensão minimizando pelo menos o período de transição, que
certamente é eminente.
Depois do
silêncio, uma pergunta:
- Como podemos
acreditar que não seja uma Deusa, uma enviada de Pory?
- Estou tão
distante dos Deuses, que assim como todos vocês, não posso nem ao menos intuir
ou decifrar seus mistérios. Mas posso garantir que os nossos Deuses não
interferem de forma alguma em nossas vontades. A prova disto é que se Pory não
está interferindo em nossas aparições, das duas uma: Ou está satisfeito com o
que temos realizado ou verdadeiramente não pode ir contra suas próprias
leis.
Nós somos os
juízes dos nossos atos e atitudes, portanto nos cabe apenas o discernimento das
nossas ações.
Por hoje e só povo
de Yron. Retornem as suas casas e reflitam, estaremos ausentes por alguns dias,
mas em breve voltaremos a nos comunicar e simplesmente desaparecem.
A sós com
Gabriel, Isabele expôs novos argumentos que a primeira vista lhe pareciam
convincentes, pois seus pensamentos transbordavam em novas ideias, mas Gabriel
se diz cansado postergando a conversa para outro momento. Tomou uma ducha
gelada e foi repousar. Sozinha e pensativa, Isabele fez o mesmo encerrando
assim, mais um dia efetivo em Yron. Quando o dia amanheceu, Gabriel levantou-se
primeiro. Preparou um café e serviu a sua companheira uma deliciosa refeição
matutina na cama. Já dispostos e revigorados, iniciaram uma conversa que
resultaria em briga do casal, aparentemente por motivos fúteis:
- Porque só você
fala Isabele.
- Como assim,
precisei começar e concluir meu raciocínio. A hora passou rapidamente e dei a
palestra como encerrada.
- Mas eu nem
abri a boca, apenas me apresentei, mais nada.
- Se você
precisa de méritos para se sentir melhor, tudo bem, faça a próxima palestra, vá
em frente.
- A questão não
é precisar de méritos, mas me sentir participativo.
- Você está
participando, só que ontem, comecei e não tive como parar.
- Mas poderia
ter me dado uma brecha.
- Mas não dei e
não tenho como mudar isto.
- Seja mais
humilde e pelo menos me peça desculpas.
- Me desculpar
de que Gabriel? - Não acho que lhe devo desculpas, mas se for melhorar seu
humor, tudo bem, desculpe-me!
Chateado,
Gabriel bateu a porta e foi para a varanda sentar-se no murinho da sacada e
escondido em seu disfarce assistia as pessoas que caminhavam para o trabalho. O
dia não começou bem. Ficou ali por aproximadamente uma hora e até viu e foi
cumprimentado por Alex e Velma, que não desconfiaram de nada e sentiu saudades de
um ombro amigo com quem pudesse dividir a amargura que sentia naquele momento.
Sentindo-se deslocado, escreveu um bilhete avisando que voltaria para a Terra
por algum tempo, afixou na porta de entrada e desapareceu.
Ao ler o bilhete, Isabele sentiu-se só e desprotegida,
mas não deu o braço a torcer e mergulhou nos ensinamentos de “Magno”, fazendo
pesquisas para o preparo das novas reuniões que estavam por vir.
Capítulo 11
Gabriel reencontra Naomi
Gabriel voltou a
Terra e foi direto para o seu apartamento no Rio de Janeiro, abriu a janela e
deu de cara com a praia de Copacabana. Ficou por alguns momentos vislumbrando o
visual, até que se voltou para o interior do apartamento e percebeu o quanto
aquele lugar estava sujo e abandonado. Faz rápida comunicação telepática e
contratou uma equipe especializada em conservação e limpeza. Enquanto aguardava
a chegada dos profissionais, ele tirou o seu disfarce e colocou seu traje de
surfista e pegando a sua prancha foi para a portaria do prédio. Deixou dinheiro
e instruções ao porteiro, que fez um rápido comentário sobre sua ausência e
Gabriel lhe respondeu que estava fora do País a negócios. Virou as costas e foi
direto para praia. Entrou no mar, pulou sobre a prancha e com vigorosas
braçadas atingiu o ponto desejado. Sentou na prancha e pacientemente aguardou
por sua onda, enquanto respirou fundo e se deliciou com o Sol, o balanço das
águas e o vento. Saudoso e extasiado com aquele momento, não quis pensar em
Isabele e nem se preocupar com o povo de Yron, apenas aproveitar as sensações
daqueles instantes. Ficou naquela posição por aproximadamente 30 minutos até
que sua esperada onda chegou e de pronto sem titubear não a deixou escapar. Seu
coração batia forte e como uma flecha projetada num imenso tubo, flutuou naquele
vão até o final do percurso. Foi à onda perfeita e para não estragar tal
sensação, preferiu não pegar outras. Enterrou a prancha na areia e ficou por
longo tempo observando as pessoas em seu entorno.
Considerando os
dois mundos, disse a si mesmo: Aqui é meu lugar. Vai ser difícil sem Isabele,
mais aqui é meu lugar.
Ao retornar a
seu apartamento, sentiu o cheiro típico de limpeza e notou a grande diferença
entre o antes e o depois. Tomou um banho, se aprontou e saiu para fazer uma
refeição. No restaurante, pediu um suculento bife com fritas, matando a saudade
da típica comida que há muito não comia. De sobremesa, sorvete de pistache com
cobertura de chocolate. Ao terminar a refeição que admitiu ser um pequeno
banquete, pagou a conta e saiu caminhando pelas ruas de Copacabana. Atravessou
por uma passarela e chegou ao outro lado numa pequena praça, onde pode sentar e
contemplar de um lado os colossais prédios e do outro o mar iluminado pelas
luzes artificiais e a Lua cheia, que já estava alta e escondia as estrelas. Seu
pensamento agora estava com Isabele e tomado por um leve impulso levou a mão ao
chip, mas foi interrompido por uma voz conhecida:
- Gabriel?
- Naomi, que
surpresa.
- Eu moro aqui
em frente e todos os dias quando chego do trabalho venho caminhar para manter a
forma, e Você?
- Também moro
aqui perto.
- Vocês
desistiram de Yron? - Isabele também está aqui?
- Vai ser
difícil desistir de Yron, eu vim sozinho. Como vai Joshua e as coisas na
CSLB?
- Tivemos um
desentendimento e sai da Companhia, mas já estou trabalhando em outra empresa
no mesmo ramo. Que bom te reencontrar Gabriel, todos os dias venho aqui fazer
alongamentos, então, já sabes onde me encontrar. Agora preciso ir.
- Certo, foi um
prazer te rever também, até mais.
- Até.
Naomi se
distanciou cerca de dez metros e começou sua série de alongamentos, enquanto
Gabriel observava suas curvas, admirando seu belo corpo enquanto se lembra dos
olhares que trocaram no descampado em Yron. Passados alguns minutos, ele se
levantou e acenando para ela partiu.
Ao chegar a seu
apartamento foi deitar-se na cama e confuso entre dois mundos e agora duas
mulheres, se deixou vencer pelo sono dormindo profundamente.
A madrugada
chegou trazendo uma surpresa inesperada, Isabele em carne e osso aparece no
apartamento e a julgar pela conservação do recinto, entende que Gabriel não
estava disposto a retornar a Yron tão cedo. Decidida, adentrou no quarto e o
acordou com uma pergunta:
- Você não
pretende voltar?
Gabriel pensou
estar sonhando e ainda sonolento respondeu:
- Eu não
sei!
- Nós fizemos um
acordo e por motivo fútil, me deixa sem dar explicações?
- Estou confuso
Isabele, sinto falta da Terra, da minha vida aqui. Por outro lado, eu te amo,
mas preciso refletir para dar o passo certo.
- Mas eu pensei
que esse passo já havia sido dado, por isso não tive dúvidas em me estabelecer
em Yron. Você é muito importante e o projeto é nosso e não só meu.
- Eu sei, mas ao
retornar, percebi o quanto sou dependente daqui, da minha vida na Terra.
- Então, fique
no conforto da sua vida medíocre e não me procure mais, eu vou acabar o que
comecei. Adeus.
Decepcionada,
Isabele se agacha, põe as mãos nos ouvidos cerra os olhos e desaparece sem
deixar vestígios e oportunidade para contra argumentos.
- Isabele, espere!
- Isabele.
Neste instante,
Gabriel se dá conta que seu romance havia chegado ao fim, então, sentou-se na
cama e pôs as mãos no rosto chorando o lamento do seu coração. Dois dias se
passaram e Gabriel chegou à conclusão que precisava recomeçar: Esquecer Isabele
e sua jornada no Planeta Yron, para isto, deveria voltar às antigas rotinas,
rever amigos, praticar o surf e conseguir novo trabalho.
Naquele mesmo
dia começou pelo surf e reencontrou velhos amigos. A noite dirigiu-se a praça
com a intenção de encontrar Naomi e lhe pedir emprego pois, sabia que estava
bem conceituada no mercado de trabalho, além de não negar-se a atração que
havia sentido. Quando chegou, ela já estava lá. Aguardou até que terminasse
seus alongamentos, se aproximou e apenas disse:
- Oi!
Ao lhe ver,
Naomi abriu um largo sorriso, trocaram dois beijos e respondeu:
- Oi, estou
suada e você tão cheiroso.
- Vim conversar
contigo. Tem um tempo livre?
- Claro! – Só
preciso de uma ducha. Que tal no meu apartamento, assim podemos pedir algo e
jantarmos juntos.
- Topo!
- Então
vamos.
- Estou curiosa,
você não vai voltar para Yron?
- Não, eu e
Isabele terminamos.
- Sinto
muito.
Naomi na verdade, estava muito interessada em Gabriel,
tanto que havia feito várias pesquisas, procurando se informar e se inteirar a
respeito de sua vida. Obteve algumas informações, através dos antigos colegas
da CSLB e no fundo sabia que aquela noite estava apenas começando.
Capítulo 12
Isabele revoluciona ao falar de inventos
Machucada,
Isabele voltou para Yron e conhecendo-se, tinha plena convicção que poderia dar
continuidade a seu projeto mesmo que sozinha, por saber que sua determinação
sempre fora a mola propulsora que alavancava suas vontades. Estava muito
chateada, pois o homem em quem confiou para juntos fazerem história havia
desistido, mas que não seria este o motivo que a faria desistir também. “Magno”
agora seu braço direito receberia novas programações e mesmo sem poder contar
com ajuda humana desempenharia funções que antes eram ministradas por Gabriel.
Desde que voltou, ela trabalhou incansavelmente na preparação da terceira
aparição aos yronianos. Segundo seus estudos e cálculos, aquele povo estaria
apto a receber informações sobre uma possível revolução industrial, fator que
contribuiria na expansão mais apropriada ao momento de sua história.
A terceira aparição aconteceu
no terceiro dia por volta das 18h, quando surgiu da mesma maneira que na
segunda aparição modificando apenas a música de fundo, que foi ouvida e
ovacionada na comunidade. Diferentemente das duas primeiras aparições, Isabele
desta vez não tocou em assuntos religiosos e se pronunciou falando sobre
expansão e inventos que facilitaria a experimentação e estudos que pudessem
culminar na aplicação do desenvolvimento de novas técnicas de diferentes
máquinas e equipamentos, úteis a realização de significativas transformações em
várias áreas.
Classificando as
áreas de Agricultura, Astronomia, Eletricidade, Física, Indústria, Medicina,
Minas, Navegação, Química e Transportes, como sendo as de maior relevância e
primordial para seu desenvolvimento, ela deu exemplos de inventos passíveis de
serem realizados, tais como:
- Máquina de
semear e máquina a vapor para Agricultura.
- Luneta
astronômica e telescópio de espelhos para Astronomia.
- Para-raios e
eletricidade por meio de fio isolado para Eletricidade.
- Pêndulo para
Física.
- Máquina de
fiar automática.
- Fundição de
Ferro.
- Tear a vapor
para Indústria.
- Vacinas para
Medicina
- Máquinas a
vapor para Minas.
- Barômetro de
mercúrio para Navegação.
- Análise do ar
e da água para Química.
- Bicicleta para
Transporte.
Enquanto Isabele
explicava detalhadamente os possíveis inventos, muitos foram aqueles que
fizeram anotações e perguntas específicas. Certamente de alguns, bons seriam os
frutos colhidos. Despediu-se dando por encerrada aquela reunião convencida de
que havia atingido mais um objetivo e desapareceu instantaneamente sem deixar
vestígios.
Vale ressaltar
que tais aparições estabeleceram um marco no Planeta Yron e a cada uma delas,
maior contingente de yronianos participavam dos eventos fazendo com que o
Movimento Popular passasse a ser chamado de “Terra das aparições”. Não
obstante, devido à expressiva frequência de yronianos vindos de todas as
partes, aquele lugar tornar-se-ia inviável às reuniões obrigando Isabele a
providenciar meios que pudessem atender tal demanda.
No dia seguinte
já com seu habitual disfarce, foi até o descampado com a intenção de averiguar
as condições do lugar, para que ali pudesse se tornar o novo lugar das
aparições. Após terminar as análises e medições concluiu ser perfeitamente
acessível a um público de aproximadamente Um milhão de pessoas. Voltou para
“casa base” e contou os “feijões dispositivos remotos” de que dispunha. Contou
1.900, número que atenderia aproximadamente um grupo de 526 pessoas para cada
dispositivo. Colocou-os numa sacola e usando o chip desapareceu indo
diretamente ao ponto mais alto do descampado. Lá chegando, atestou ser uma
pedra inacessível para os que tentassem escalá-la, por ser muito íngreme e
estar cercada por densa vegetação. Era o ponto ideal para suas próximas
aparições. Desapareceu e apareceu no solo, observou que a pedra, tinha
aproximadamente dez metros de altura e começou a distribuir estrategicamente os
feijões em pontos furtivos, como pedras e pequenos arbustos por toda região,
que mesmo se utilizando do chip despendeu praticamente do dia inteiro no árduo
trabalho. Exausta, ela voltou para “casa base” e tomou uma ducha, ao terminar
fez uma rápida refeição e deixou os testes para o dia seguinte indo para a cama
repousar. Apesar do cansaço, seus pensamentos agora estavam com Gabriel, mas
sabia que não poderia mais contar com ele e que tal sentimento teria de ser
excluído se quisesse obter êxito.
Ao despertar, se
virou e olhou para o travesseiro a seu lado e antes que os pensamentos tomassem
conta da sua nova realidade pulou da cama, agora pensando em tudo que precisava
fazer. Depois de um frugal café, iniciou os testes junto a “Magno” indo e
voltando ao descampado, se certificando de que tudo estava de acordo. Por volta
das 13 h, foi ao Movimento Popular e asseverou o que já havia previsto: Um
número sem fim de pessoas que se estabeleciam a espera de uma nova epifania.
Mais uma vez se infiltra entre alguns grupos e tem a satisfação de ouvir
discussões a respeito dos inventos e os assuntos abordados na noite anterior.
Ficou surpresa ao notar que em nenhuma conversa o nome de Pory tenha sido
mencionado, fato este que lhe serviu de embasamento para a próxima aparição.
Comprou o jornal “A Informação” e outra perplexidade: Os papiros agora eram
amarrados e o jornal circulava em folhas e não mais enrolados como de início.
Contou doze páginas, onde todo conteúdo se baseava no detalhamento dos inventos
que havia explanado. Orgulhosa dos irmãos fez comunicação telepática com ambos
elogiando-os pelos serviços prestados. Obviamente, Alex e Velma agradeceram e
perguntaram quando o casal voltaria a reencontrá-los, mas Isabele limitou-se
respondendo somente que voltaria assim que concluísse alguns objetivos e saiu
da sintonia.
Retornou a “casa
base” e preparou sua última palestra no Movimento Popular para aquele mesmo
dia, como de costume sempre ao anoitecer.
As 18 h mais uma
bela melodia estava sendo entoada, o que revelava o presságio de outra
aparição. Após o costumeiro alvoroço seguido de profundo silêncio, Isabele se
materializou desta vez como ondas sonoras projetadas por feixes de laser que
circundavam seu corpo em tons de verde e azul ultra claro causando espanto e admiração
aos presentes. Isabele hoje trajava uma túnica branca com detalhes florais
dourados que reluziam quando atingidos pelos feixes projetados.
- Povo de Yron!
- Para aqueles que ainda não me conhecem, me chamo Isabele e devo informar que
meu companheiro foi designado para outro projeto. Desta forma, restou para mim
à incumbência em lhes transmitir esta reunião doravante sozinha.
Estou muito
feliz em ter constatado que entenderam e aprovaram tudo que foi abordado na
noite anterior. Destaco o jornal “A Informação”, que detalhou os pormenores das
invenções que certamente vos elevarão a outros patamares.
- Como sabes que
aprovamos e também o que foi escrito no jornal? - É por não compreender estes
poderes que te endeusamos.
- Esta é uma
prova de que não sou deusa, pois estou entre vocês.
- Fale-nos de
seus poderes.
- Já lhes falei
de onde vim, quem sou e qual meu objetivo em Yron, de certo aqueles que não
estiveram presentes nas outras palestras precisam ouvi-las da minha própria
boca, mas sei que muitos compreenderam e podem transmitir a mensagem, de outra
forma estas reuniões seriam cansativas e redundantes. Faço aparições
espetaculares, por assim entender que estes objetivos serão alcançados mais
rapidamente. Se me apresentasse de maneira comum, hoje a maioria não estaria
aqui presente. Aproveito para lhes informar, que devido ao crescente número do
contingente de participantes, minhas aparições passarão a acontecer no
descampado, vos dando assim melhor visibilidade e também acomodação, portanto,
a partir da próxima aparição em diante dirijam-se para lá. Centenas de
perguntas foram feitas e pacientemente, Isabele as respondia uma a uma
esclarecendo dúvidas, dirimindo equívocos, conquistando e fazendo com que
compreendessem os verdadeiros motivos de sua estada em Yron. Até que uma
pergunta lhe chamou a atenção:
- Se não és uma
deusa, como podemos crer que nos conduza ao caminho certo?
- Não posso
intervir sobre o certo ou errado, mas lhes conduzir por caminhos já trilhados,
vivenciados e conclusivos adiantando-os por experiência e, encurtando desta
forma a trilha que devam seguir.
- E se não
estiverem de acordo com os desígnios de Pory?
- Caberá a vocês
o recurso do livre arbítrio. Suas escrituras relatam acontecimentos em tempos
remotos idos de um povo não mais presente nos dias atuais, portanto passíveis
de transcrições obliteradas ou alteradas. Isabele aos poucos tentava mostrar
aquela gente simples, que acreditar em tudo que lhes fora passado sem
questionamentos, daria margem à atribuição de hipóteses além da compreensão que
tinham e dessa forma prossegue:
- Como irão explicar minhas aparições a seus filhos? -
Dependendo da forma como estejam interpretando, eles poderão entender
equivocadamente o que hoje presenciam. Pensem mais adiante, nos filhos dos
filhos e assim por mais mil anos, de que forma essa história será contada?
Pensem e reflitam! Estarei ausente por dois dias, vos aguardo no descampado e
subitamente desaparece.
Capítulo 13
O reencontro com os Irmãos yronianos
Terminada a
palestra, Isabele fez comunicação telepática com Alex e perguntou se estaria
muito tarde para uma visita. Cordial como sempre, Alex respondeu que nunca é
tarde para receber a visita de uma deusa, e muito feliz pede que se apresse
para estarem juntos novamente. Em poucos minutos Isabele se aprontou e mais uma
vez usa o chip para não ser vista nas ruas. Ao aparecer literalmente na sala de
estar da casa dos irmãos foi recebida com muita alegria e assim iniciam um
longo diálogo.
- Isabele que
saudades, me dê um abraço, assim pediu Velma.
- Eu também
senti saudades de vocês.
- Alex como vai
esta força?
- Tudo certo,
mas devo admitir que depois da sua partida e as últimas aparições lá no
mercado, estou um tanto quanto confuso.
- Como eu posso
estar causando confusão? (sorrindo ironicamente).
- Nem eu e mais
ninguém, conseguimos imaginar como fazes para aparecer e desaparecer, assim do
nada!
- Por favor,
Isabele me explica isso.
- Caro Alex,
querida Velma, muitas coisas estão em questão: A princípio o povo de Yron, pensaria
ser mágica ou bruxaria e meus objetivos não seriam alcançados. Por outro lado,
se lhes revelasse meus segredos, sem desmerecer ou duvidar das suas
capacidades, ainda não possuem este nível de compreensão. Entretanto, posso
adiantar que tudo se deve a tecnologia, por isto tenho me empenhado em lhes
passar valiosas informações.
- Se entendi
pelo que tenho presenciado, no futuro poderemos fazer o que você faz?
- Exatamente. O
futuro do povo de Yron é tão promissor, quanto foi para nossos antepassados na
Terra.
- Que pena ser
um futuro tão longínquo! - Não viverei o bastante para ver e também realizar
tais proezas.
- Nunca se sabe
meu amigo, nunca se sabe!
- Velma, o que
está achando da forma com que tenho conduzido às palestras? - Estão de acordo
ao esclarecimento das aparições, que causaram nossas divergências?
- Sem dúvidas
Isabele, por isso acredito que está fazendo o melhor e não só eu, mas todos os
yronianos só têm a te agradecer.
- Depois de
algumas ponderações creio que este imbróglio trouxe resultados positivos, pois
me sinto livre para agir e auxiliar de forma mais célere e persuasiva. Na
verdade, nunca pensei estar no ponto em que nos encontramos. Quando vim à Yron,
minha vontade era apenas constatar aquilo que eu já sabia, ou seja, provar a
existência de mundos correlatos em estados evolutivos diferentes.
Velma pergunta
se Isabele está com fome e obtendo resposta afirmativa sai da sala e vai
preparar alguns petiscos, enquanto Alex providencia uma bebida, chama sua irmã
e propõe um brinde:
Ao seu retorno
Isabele!
- Obrigado
amigos
- Veio para
ficar estou certo?
- Não Alex, não
posso mais ficar aqui, isto também poria o projeto em risco.
- Compreendo. -
E Gabriel quando volta?
- Não sei se
voltará meu amigo.
- Ele foi
afastado do projeto?
- Houve um
pequeno desentendimento e ele se afastou voltando à Terra.
- Não posso
acreditar que Gabriel desistiu de você, como pode? - Me desculpe Isabele, mas
estou em choque. Você está bem?
- Sim, estou! -
Em meu Planeta, laços amorosos são de curta duração, ademais, estou mais
preocupada com o projeto do que com minhas relações afetivas.
- Entendo. - Não
posso nem intuir no quanto tem se empenhado, mas sei que você não está medindo
esforços e te admiro muito por isso.
- Obrigado,
Alex.
- A propósito,
com relação às próximas aparições, você disse que aparecerá no descampado,
calculo que milhares de pessoas estarão presentes, como pretende falar a essa
multidão?
- Espere e verás
Alex, aguarde por uma surpresa.
Velma voltou à
sala trazendo os petiscos e Alex lhe colocou a par do que perdeu enquanto
cozinhava, da mesma forma que Alex, Velma também ficou chocada, mas preferiu
não entrar em detalhes resumindo a conversa num tradicional “sinto
muito”.
- Ouvi você
falar a palavra surpresa Isabele, então, pode apresentar mais surpresas do que
já têm mostrado?
Assim como para
Alex, ela tornou a dizer:
- Espere e
verás!
Os irmãos
cercaram-na de perguntas e uma a uma Isabele se desvencilhava não dando a
mínima chance que pudesse intervir em seus planos.
Percebendo que
não conseguiriam extrair informações privilegiadas acabaram por desistir e
mudaram o rumo da prosa.
- Preciso que me
façam um favor amigos.
- Claro, sabe
que pode contar conosco.
- Preciso que
repitam a edição do jornal com os detalhes sobre os inventos e reduzam o preço
para metade do custo de venda, para que o maior número possível de pessoas
tenha acesso a estas informações.
- Mas se
reduzirmos o custo de venda pela metade teremos prejuízo replicou Velma.
- Não terão
prejuízos, pois que venderão mais de 200 mil exemplares, onde o lucro estará
embutido na quantidade, multiplicando em muitas vezes os seus ganhos.
- Trabalharemos
arduamente, mas assim o faremos completou Alex.
Isabele se
levantou e disse que adorou estar com os irmãos assim, abraçou-os
calorosamente, despediu-se e desapareceu.
No dia seguinte, Alex se empenhou em recrutar um
pelotão de artesões e novos funcionários para que pudessem dar conta ao pedido
de Isabele. Assim, aquela edição especial estaria pronta para o dia da próxima
aparição de sua amiga. Com tudo acertado e um plano elaborado, ele colocou o
trabalho em prática a fim de conseguir atingir tal objetivo.
Capítulo 14
Nas Montanhas de Yron
Por sua vez,
Isabele decidiu ir ao cume da montanha mais alta de Yron com a intenção de
provar a si mesma, de que apesar de ser gigantesca, não poderia ser impérvia ou
inexplorada. Considerando a altitude, se vestiu adequadamente, utilizando-se de
outros equipamentos que trouxera quando do seu retorna a Terra. Era um dia muito
quente, olhou para o cume e fixou seu pensamento partindo a seguir. Lá
chegando, constatou não sentir frio, onde a temperatura estava bastante amena e
olhou em seu redor. Não viu nada que pudesse interferir na sua estada naquela
imensa montanha, então, dirigiu-se ao topo e teve a visão dos deuses: Pode
vislumbrar as planícies do Planeta, com os dois Sois refletindo intensa luz,
arrazoados por extensas sombras de outras montanhas menores, que mostravam ao
fundo um céu rosa acinzentado, num complexo quadro, onde se dispunha de uma
visão geral daquela paisagem. Retirou “Magno” do bolso e começou a filmar:
primeiro este incrível visual e depois os arredores, por fim a vegetação
daquele mundo. Guardou seu amigo inseparável e instintivamente começou a caminhar.
Apesar da quietude e monotonia da montanha, vez por outra, deparava-se com
fatos estranhos e belos relativos aquela natureza, não só pela temperatura
agradável, mas também com a vegetação que era rasteira como a grama e possuía
coloração que escapava de um verde muito claro tendendo ao branco quase
incolor, que se estendia por vários trechos. Todavia, dos pequenos arbustos
brotavam flores de tom violeta e rosa, que exalavam um cheiro próximo ao da
alfazema.
Usando a
mobilidade através do chip, Isabele fez vários percursos de um ponto a outro
onde julgasse próprio de se estar, quando numa dessas investidas deparou-se com
imenso animal que se alimentava daquele misterioso arbusto. Escondida em outro
arbusto, entre pedras e outras plantas distintas, lentamente voltou a retirar
“Magno” do bolso, para filmar e solicitar uma análise minuciosa daquela
criatura. Os resultados mostraram um organismo heterotrófico e diante as suas
proporções, Isabele não pensava em ser sobremesa naquele cardápio e por
precaução desapareceu dali. Continuando sua peregrinação, por várias vezes
esteve em situação de encontros repentinos com animais nunca dantes vistos e
por esse motivo voltou ao cume e deu uma última olhadela nas planícies
retornando em segurança a “casa base”.
Isabele permaneceu por aproximadamente três horas na
montanha, afora os encontros com animais dantescos e o belo visual, agora
registrado em seu equipamento, não julgou necessário despender tempo em um
lugar que não acrescentaria algo de maior relevância em seus planos e
objetivos.
Capítulo 15
A surreal Isabele
Yron estava em alvoroço com a promessa da aparição no
descampado e grande era a movimentação de pessoas transitando e montando
acampamento. A notícia de suas investidas tornara-se o assunto mais comentado e
debatido em todos os tempos daquele Planeta. Muitos vinham de lugares
longínquos e até largaram seus afazeres e o trabalho com a intenção de
presenciar não só as aparições como também as palestras. Havia também a
presença daqueles que ainda não haviam participado das reuniões, que eram
incrédulos e estavam em bom número reunidos a fim de testemunhar a veracidade
dos boatos que escutavam. Comerciantes transferiram suas barracas do Movimento
Popular para o descampado e para não perderem seus lugares no dia seguinte,
mantiveram-se por lá virando a noite se aproveitando da situação para lucrar
com o evento. À medida que a hora avançava, a expectativa aumentava e um mar de
yronianos se faziam presentes, contando um número de aproximadamente 700 mil,
que com grande alarde aguardavam pelo anoitecer a espera da suposta
deusa.
A quarta aparição se fez
pontualmente às 18h, quando Isabele se fez presente de forma surpreendente e ao
mesmo tempo aterradora: Primeiro, a pedra se iluminou num tom de azul neon, em
seguida a densa vegetação no entorno ficou verde fluorescente, depois uma
fumaça no pico que enevoava toda a pedra tornando o lugar um palco perfeito e
apropriado para sua aparição.
Assovios e
gritos ecoavam por todo descampado até que a batida de um bordão de contrabaixo
abriu espaço para entrada triunfal de um solo de guitarra, que veio acompanhado
de sua aparição holográfica, mas para surpresa geral daquele povo, agora
Isabele tinha cinco metros de altura, ou seja, ela é verdadeiramente um
gigante. Estarrecidos e inertes os yronianos silenciaram e Isabele se
pronunciou:
Acalmai-vos! O
que presenciaram não é magia, nem tão pouco divino. Apresentei-me nesta forma
para que possam me ver e ouvir com nitidez, pois de outra maneira,
principalmente os mais afastados teriam dificuldades em constatar a realidade
que vos apresento. Notem! Neste momento, ela reduziu suas dimensões ao tamanho
normal, ficou assim por quase 30 segundos e voltou ao tamanho descomunal.
Surpresos e
atônitos, os yronianos se questionavam como poderia se utilizar de tais poderes
sem dispor de magia ou ser uma deusa.
Isto é
tecnologia! Palavra ainda desconhecida em Yron, mas que no futuro será
amplamente difundida e utilizada.
Durante as duas
horas seguintes a sua aparição, Isabele faz um resumo de tudo o que falou nas
duas primeiras reuniões. Mais calmos e receptivos aquele povo agora insistia
para que falasse sobre Pory e não tendo como fugir de alguns questionamentos,
Isabele projeta o filme que fez nas montanhas e prossegue com suas dissertações:
- Eu estive nas
montanhas de Yron, gostaria de ter me encontrado com Pory e lhes trazer algumas
mensagens, mas tudo que encontrei foi um lugar de rara beleza e repleto de
animais desconhecidos. Confesso que fiquei deslumbrada com a visão que pude assistir
lá de cima e um tanto quanto receosa com os animais, mas nada, além disto,
portanto reafirmo o que vos tenho dito: Pory não mora nas montanhas de Yron. O
Deus Pory, só pode vos ouvir em suas preces e creiam-me, se não lutarem ou não
se empenharem, vocês sempre estarão distantes da compreensão e consequentemente
da evolução em curso.
O sentimento de
fé foi implantado com o objetivo de proteção, o que faz o homem atravessar as
experiências da vida com mais confiança e altivez. A fé é o único sentimento
que nos mantém em sintonia com os deuses e isto nos faz crer que todas as
circunstâncias estão previamente ligadas a seus propósitos. Este é um
sentimento singular e portanto, podemos
nos adiantar significativamente se usarmos a inteligência que nos foi concedida
em nosso favor. Isto é o que tento vos mostrar.
O que hoje lhes
apresento, são manifestações pueris de onde venho, todavia atribuem como sendo
atos divinatórios, mas não devem interpretar desta forma, uma vez que amanhã ao
realizarem tais proezas, vocês mesmos é que serão considerados como
deuses.
Por fim, Isabele
falou dos inventos apresentando um filme que mostra todas as possibilidades
apresentadas em sua última aparição, com destaque para agricultura, indústria e
medicina. Ao fim do filme, toda luminosidade se esvaiu lentamente, enquanto
suas dimensões também foram reduzindo até ficar em seu tamanho real. Sem se
despedir ou acrescentar mais comentários desapareceu instantaneamente e logo a
seguir a pedra tornou-se incandescente e uma luz intensa emitiu claridade
suficiente para iluminar todo descampado contribuindo assim para a retirada dos
yronianos daquele lugar sem enfrentar a escuridão, que mesmo com os luares, não
eram suficientes a boa locomoção.
Várias pessoas
permaneceram ali esperando por seu retorno, uma, duas horas e como ela não
reapareceu tomaram cada qual o seu rumo voltando as suas casas. Outros,
entretanto permaneceram até o dia raiar, momento este em que a luminosidade
automaticamente também foi desligada.
Contentes
estavam principalmente os comerciantes que lucraram como nunca com a quantidade
de pessoas que gastaram milhares de moedas durante aquele grandioso evento. O
jornal “A informação” vendeu todas as 500 mil cópias que foram impressas,
fazendo com que os irmãos rodassem nova tiragem para atender a demanda.
Durante alguns dias, milhares de pessoas se
concentraram no descampado esperando por outra aparição, mas nada acontecia e
aos poucos tal movimento foi rareando até se dissipar.
Capítulo 16
Missão cumprida em Yron
Yron não era
mais o mesmo Planeta depois de conhecer Isabele. Um ano se passou depois da sua
última aparição e o assunto entre os yronianos agora eram debatidos de forma
diferente, a palavra “tecnologia” se fazia presente por todos os lugares e em
toda parte se ouviam rumores de novas invenções, novos talentos. De Isabele,
nem os irmãos sabem do seu paradeiro, entretanto, não deixaram de tentar a
comunicação telepática com intuito de terem uma resposta positiva. Alex
absorveu tudo que podia a respeito das invenções e tornou-se conhecido com as
invenções do papel e do telescópio. O Jornal ia de vento em popa, o Teatro em
plena expansão e a Casa da Moeda, sob o controle de Velma, agora trabalhava
secretamente no desenvolvimento do cunho de moedas de ouro, chamado em Yron de
“Prush”. Um jovem conhecido como Tordelin, filho de Sammy, aquele comerciante
do Mercado Popular estudou e trabalhou duro para se tornar o mestre da borracha
e vem fazendo grandes avanços com o beneficiamento dos materiais emborrachados.
Seu projeto atual é o envolvimento da mesma em torno das rodas. Jader, rico
agricultor descobre a combustão a vapor e todos os esforços estão canalizados
na obtenção de máquinas que possam contribuir e aumentar a produtividade no
campo. Na medicina, estudos e projetos avançam na descoberta de vacinas para se
conseguir a cura de algumas doenças, porém, nesta área ainda não são
significativos.
Os Yronianos não deixaram de adorar ao Deus Pory, mas
passaram a compreender a vida de maneira menos exultada e subserviente
colocando em prática o que aprenderam em prol do próprio povo, tendo como
objetivo principal o estado evolutivo iniciado em Yron pela terráquea, seguido
agora por centenas de milhares dos seus cidadãos.
Fim.
Obrigado leitor
(a) amigo (a) por viajar junto comigo para mundos fictícios e entrar em plena
imaginação de possibilidades infinitas de outras realidades.
Eu me chamo
Antonio Bencardino e também sou conhecido como Toni ou Toninho. Agora que me
apresentei a você gostaria de te dizer que levei quatro anos escrevendo toda a
história, portanto, ela não acaba em Yron. Eu considerei que este Planeta
atravessa uma fase evolutiva que corresponde mais ou menos aos idos do Século
XIX. Isabele a protagonista ainda tem muitas viagens interplanetárias pela frente
e também ao passado e no futuro. Lembre-se que Isabele já vive no século XXVII
e isso não a impede de aventuras tanto em seu passado como também além do seu
tempo.
No próximo
livro, Você vai conhecer Thronos um Planeta Medieval que têm apenas duas Nações
e dois Reis que se digladiam, mas através do amor... Bem, não vou estragar a
surpresa.
Muito progresso e felicidades a você!
Capítulos de Yron:
Capítulo 1 - Ano
2.600
Capítulo 2 - O
Planeta Yron
Capítulo 3 -
Isabele chega a Yron
Capítulo 4 -
Gabriel Chega Yron
Capítulo 5 - Os
planos de Isabele
Capítulo 6 - 1
ano em Yron
Capítulo 7 - Dr.
Joshua chega a Yron acompanhado
Capítulo 8 -
Confusão no movimento popular
Capítulo 9 -
Yron recebe os “Filhos de Pory”
Capítulo 10 - As
controvérsias
Capítulo 11 -
Gabriel reencontra Naomi
Capítulo 12 -
Isabele revoluciona ao falar de inventos
Capítulo 13 - O
reencontro com os Irmãos yronianos
Capítulo 14 -
Nas Montanhas de Yron
Capítulo 15 - A
surreal Isabele
Capítulo 16 -
Missão cumprida em Yron
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