segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Viagens pelos mundos ( parte1 ) O planeta Yron


Viagens Pelos Mundos - Yron
Por Antonio Bencardino

Prólogo
Yron estava em alvoroço com a promessa da aparição no descampado e grande era a movimentação de pessoas transitando e montando acampamento. A notícia de suas investidas tornara-se o assunto mais comentado e debatido em todos os tempos daquele Planeta. Muitos vinham de lugares longínquos e até largaram seus afazeres e o trabalho com a intenção de presenciar não só as aparições como também as palestras. Havia também a presença daqueles que ainda não haviam participado das reuniões, que eram incrédulos e estavam em bom número reunidos a fim de testemunhar a veracidade dos boatos que escutavam. Comerciantes transferiram suas barracas do Movimento Popular para o descampado e para não perderem seus lugares no dia seguinte, mantiveram-se por lá virando a noite se aproveitando da situação para lucrar com o evento. À medida que a hora avançava, a expectativa aumentava e um mar de yronianos se faziam presentes contando um número de aproximadamente 700 mil, que com grande alarde aguardavam pelo anoitecer a espera da suposta deusa. A quarta aparição...
Introdução
O Universo está repleto de vida e não obstante, muito parecidas com a que aqui conhecemos. De certo, ainda não possuímos essa certeza, pelo simples fato de não termos a nossa disposição equipamentos que possam comprovar a veracidade de tal informação. Entretanto, ao olharmos o firmamento, não podemos crer que tudo se configure apenas para nos recriar as vistas e deslumbrarmos de forma apaixonada, tão belo espetáculo da criação. Apesar de não termos tecnologia que venha nos elucidar sobre tão fabuloso acontecimento podemos intuir que, dia menos dia, obteremos essas certezas, não só em relação às buscas que fazemos, mas também a mesma busca feita por parte de outros seres em condições similares as nossas. Este prazo tem data certa para seu vencimento e não tardará a proximidade de tais contatos, momento este em que nossa civilização deixará de pensar como sendo única, integrando-se de forma iniciativa, a vastidão de mundos completamente habitados por seres de inteligência de igual, superior e inferior a nossa. 
Podemos começar a compreender tal afirmação, se vasculharmos desde o passado remoto, os relatos que nos são trazidos até os dias atuais, sobre contatos de Deuses e seres de natureza desconhecidas, muitas vezes relatadas como sendo divindades, por ocasião do desconhecimento que nossos ancestrais possuíam. 
Por outro lado, também podemos concluir que esses seres por algum motivo, deixaram de se comunicar de forma expressiva como faziam, por entenderem que ainda estávamos muito distantes de suas expectativas, não compensando assim suas interferências. 
Hoje, nos encontramos em patamares de compreensão bem acima do que tínhamos outrora, mostrando com que desta forma, suas intervenções possam ser mais coerentes e quiçá justificadas em outras esferas. 
Partindo deste princípio, podemos até mesmo supor não estarmos aptos a tais encontros, mas de mentes abertas e alertas a estas questões, certamente conseguiremos nos transportar a novos mundos realizando assim o descobrimento de muitos mistérios que cercam nossa existência. 
Sinopse
De acordo com a própria evolução humana, no Século XXVII, Isabele Constantine se propôs a uma saga no mínimo surpreendente e inusitada.
Os homens já se comunicavam telepaticamente e ao se entregar a estudos e pesquisas desenvolveu um equipamento capaz de transportá-la a qualquer parte do incomensurável Universo.
Descobriu inicialmente que este mesmo Universo está repleto de vida e não obstante, habitados por seres humanos, pessoas como nós vivendo experiências que se diferenciam apenas no estado evolutivo comprometidas apenas com épocas diferentes em relação há seu tempo.
A oportunidade de poder estar presente entre estes seres, obviamente permitiu o equívoco de a considerarem como Deusa. Relutante, ela tenta mostrar e provar que seus feitos não são divinos, mas oriundos dos efeitos causados por esta mesma evolução em curso, o que no futuro, também serão alcançados por eles.
As questões de religiosidade e fé transformaram-se em dilemas obrigando a protagonista a tomar decisões espetaculares interferindo significativamente no adiantamento desses povos.
Yron está situado na constelação de Meyjan, na galáxia elíptica M49, NGC 4472, a cerca de 260 anos luz de distância da Terra tem dois Sóis e duas Luas. A correlação temporal corresponde ao período entre 1600 e 1900 em relação a Terra. Tem nuvens cor de rosa e montanhas gigantescas com mares de água potável e é regido pelo Deus Pory.
Capítulo 1 
Ano 2.600 
O dia amanheceu quente e a temperatura já marcava 39º na Cidade do Rio de Janeiro. 
Como era de costume, Isabele Constantine acabara de levantar-se de sua cama e já pensava nos afazeres a cerca do trabalho que vinha realizando. Em dois tempos, tomou um rápido café e já estava prontamente elegante para começar mais um dia de pesquisas na Cia Sudeste Luz do Brasil, Empresa onde era responsável pela expansão das diretrizes não só do tempo, como também das viagens intergalácticas utilizando-se a velocidade da luz. 
Aos 30 anos de idade, Isabele tinha longos cabelos castanhos claros, olhos negros penetrantes e sorriso largo, com silhueta bem torneada e pele morena, que mostravam um conjunto atraente unido a sua jovialidade e altivez. De temperamento calmo e clara reflexão, trazia consigo um espírito romântico que transmitia paz e cordialidade aqueles que lhe conheciam. 
Já no trabalho, comandava uma equipe de recém-formados, que colaboravam com sua pesquisa, onde há meses tentavam descobrir um elemento cerebral que pudesse contribuir para aumentar o deslocamento da luz para a velocidade do pensamento. 
Desde os anos 2513, o ser humano já havia conseguido a comunicação telepática uns com os outros, possibilitando assim, grande avanço na história evolutiva do homem, fator determinante para as pesquisas em que Isabele vinha se aprofundando. 
Seu surpreendente histórico escolar contribuiu para um vasto “currículo”, onde a supremacia de seus conhecimentos estaria bem acima da média dos meios conhecidos. Sua capacidade de entendimento e reflexão dos fatos lhe concedeu méritos nas academias por onde transitou conquistando dessa forma o posto em que agora se encontrava. A tese emblemática esboçada por Isabele em seu mestrado consistia num determinante chip implantado em uma região específica do cérebro humano, que ao ser acionado poderia levar qualquer indivíduo a qualquer parte do incomensurável Universo, através da velocidade desse mesmo pensamento. Assim, acreditando nessa possível realidade, Isabele colocaria em prática seus conhecimentos, agora estruturalmente financiado pela Empresa onde era funcionária.
A CSLB era uma Empresa reconhecida mundialmente, principalmente pela tecnologia empregada nos mais variados tipos de atribuições relacionados ao desenvolvimento expansivo da mente humana. Todavia, muito questionada pelos meios utilizados para o emprego de suas atribuições, tinha em seu comando o ardiloso Dr. Joshua Marjo Lopes, homem de muito poder, que apesar dos seus 78 anos e devido aos grandes avanços da medicina possuía a aparência e o porte daqueles que ainda estavam na casa dos 40 anos. Sua espessa sobrancelha negra marcava a expressão de um rosto anguloso e delineado, que não demonstrava sinais de envelhecimento ou fraqueza. 
À medida que a pesquisa de Isabele avançava, teve então a oportunidade de conhecer melhor um de seus colaboradores, o atraente, sensível e impulsivo Gabriel Honde Segoe: Jovem, 28 anos, surfista, porte atlético e definido, cabelos e olhos castanhos, que se harmonizava com a voz rouca e suave, mostrando um homem feliz e capacitado. 
Logo, essa amizade se tornaria paixão e juntos alternavam amor e trabalho onde o bem querer era mútuo e a dinâmica de suas pesquisas avançava e progredia em ritmo acelerado de encontro ao que se propuseram. 
Certa noite juntos saíram para comemorar uma descoberta incrível, que elevaria a chance em mais de 90% de conseguir o inédito feito da viajem através da velocidade do pensamento. Brindaram, divertiram-se e chegando ao apartamento de Isabele, Gabriel sugeriu que o chip fosse testado naquela mesma noite por um dos dois para que pudessem comprovar a autenticidade daquela realidade, mesmo não estando 100% pronto. A princípio, Isabele retrucou por temer que algo pudesse dar errado, mas logo aceitou uma vez que as explanações de Gabriel eram contundentes e encorajadoras oferecendo-se para ser a cobaia do implante do referido chip. O implante era simples e não requeria sacrifícios ou cirurgia, o que bastava apenas ser encaixado no ouvido, como um aparelho auricular. O chip produziria sons de baixa frequência que transportariam seu usuário para onde seu pensamento o levasse bastando apenas concentrar-se. Decisão tomada, decisão feita. 
Assim, Isabele agachou-se e posicionou o aparelho no ouvido esquerdo, cerrou os olhos e... Desapareceu como num passe de mágica.
 Gabriel estupefato, ao mesmo tempo em que não acreditava no que seus olhos presenciaram, sentia-se orgulhoso por fazer parte de tão inovadora pesquisa, mas também se perguntava por onde andaria Isabele, para onde se tele transportou? – Pulou de alegria, gritou e chamou por Isabele, não tendo resposta nem sua reaparição, Gabriel esbravejou e chorou, mas isso não a trouxe de volta. Sentou-se no sofá e mudo, olhava os quatro cantos da sala sem que nada diferente acontecesse. Por último e num esforço derradeiro tentou a telepatia e mais uma vez o resultado foi em vão. Duas horas se passaram e agora quatro e Gabriel esparramou-se no sofá sendo vencido pelo cansaço e o sono após um dia fatídico e espetacular. 
Ao amanhecer, Gabriel acordou sobressaltado ao dar-se conta do que tinha acontecido na noite anterior, intrigado se perguntava: O que teria acontecido a Isabele, onde estaria, porque não se comunicava?
Abatido por pensamentos que agora já fervilhavam em sua alma, se perdeu relembrando os momentos de carinho e amor que juntos passaram. Tomou uma ducha gelada, se aprontou e partiu para o trabalho. 
Lá chegando, dirigiu-se a sala de Joshua, explanando o que havia acontecido. Joshua lhe ouviu atentamente até o fim da última palavra e após um profundo silêncio indagou: 
- O que vocês pretendiam tomando essa decisão por conta própria? Como se arriscaram sem o objeto da pesquisa estar totalmente pronto? Isto vai totalmente contra as regras da Empresa e nenhuma justificativa poderá ser levada em consideração junto ao Conselho. 
Cabisbaixo, Gabriel tentou se desculpar dizendo estar preocupado com a integridade de Isabele, mas foi interrompido por Joshua que disparou relembrando todas as normas de segurança da Empresa dizendo por fim que “agora não adiantava mais chorar pelo leite derramado”. Pediu silêncio e entrou em sintonia telepática com os membros do Conselho. Longos minutos se passaram e por fim, Joshua acenou negativamente a cabeça e replicou: 
- Você já falou sobre isto com mais alguém? 
- Não, ninguém sabe. 
- Não comente com ninguém o que fizeram. Isto poderá acarretar vários problemas nos trazendo grandes prejuízos financeiros. Se perguntarem e logicamente vão perguntar sobre Isabele, limite-se a dizer apenas que saiu em férias assim determinada pelo Conselho. 
Gabriel não perguntou nada, apenas acatou as determinações e saiu cabisbaixo dirigindo-se a sua sala. Alguns dias se passaram e vez por outra, alguém perguntava sobre Isabele, Gabriel limitava-se a responder que estava bem e que logo estaria de volta. Mas em seu âmago, profunda tristeza com um misto de saudade era visível em seu semblante. 
Duas semanas se passaram e toda a noite Gabriel dormia no apartamento de Isabele na expectativa de seu retorno, mas por mais que tentasse, um silêncio ensurdecedor era a única resposta que obtinha até se deixar vencer pelo cansaço e dormir profundamente. Essa rotina vinha lhe esmagando o peito e decidido, ao chegar a seu trabalho reportou-se novamente a sala de Joshua. 
- Bom dia Dr.Joshua! Você tem alguns minutos? 
- Sim, claro eu estava mesmo precisando falar com você. 
- Estou muito preocupado com Isabele, além de sentir muito sua falta. 
- O Conselho autorizou sua ida ao encontro de Isabele, mesmo sem o chip estar regularmente pronto, entretanto você assinará um termo de responsabilidade isentando a CLSB de quaisquer problemas que possam advir da sua decisão. Então, o que me diz? 
- Eu assino! 
- Você está ciente que também pode não voltar? 
- Sim, estou. Mas o que importa é rever Isabele esteja onde estiver. 
A papelada já estava pronta e Gabriel assinou, agradeceu e saiu indo diretamente a sala de pesquisa. Tomou um dos vários chips em sua mão, colocou no bolso e sem falar com mais ninguém adentrou em sua sala trancando a porta. Por alguns momentos, ficou perdido imaginando o que poderia lhe acontecer, mas sem titubear colocou o chip no ouvido cerrou os olhos e... Desapareceu. 
Capítulo 2 
O Planeta Yron 
O Planeta Yron se encontra na constelação de Meyjan, na galáxia elíptica M49, NGC 4472, a cerca de 260 anos luz de distância da Terra. Yron é similar ao nosso Planeta e suas dimensões correspondem ao dobro do nosso. Yron é iluminado por dois Sois e duas Luas, seu dia tem aproximadamente 32h. Também é habitado por seres humanos que estão em estado evolutivo correspondentes ao que aqui vivemos nos idos dos anos 1700. Com apenas 6h noturnas, esse período é utilizado para o descanso restando as demais às suas atribuições de estudo, trabalho e laser. A diferença mais acentuada entre nós e eles é que os povos vivem sem divisões territoriais e a língua empregada é universal. 
Desde os primórdios e a partir de um pequeno nicho de indivíduos foi formada a grande legião de yronianos, que hoje se aproxima dos 10 milhões de habitantes. A partir dos desbravamentos pelos ímpetos dos seus guerreiros e a implantação de novos nichos, este povo vive centralizado numa pequena fração do seu extenso espaço territorial, onde tem sua cultura e a crença no Deus chamado por eles de Pory. Para os yronianos, Pory é o Criador Universal, Onisciente e Regente, estando acima de tudo e de todos. As lendas sobre Pory remontam a séculos, sendo a mais intrigante aquela que conta seu espetacular aparecimento de dentro de uma gigantesca “serpente voadora”, que surgiu das nuvens rosadas de Yron. A principal mensagem de Pory é a fraternidade entre seus filhos e a maior parte dos yronianos é subserviente e crente a essa regra. 
O espetáculo proporcionado pelas Luas de Yron é singular e lhes mostram não só um belo visual, mas harmonia e equilíbrio, junto à constituição do Planeta. 
Yron possui montanhas que fazem o Everest parecer um simples monte. 
Os mares são limpos e cristalinos, repletos de vida submarina com águas de composição idênticas aos dos nossos rios e, portanto, totalmente potável, própria para consumo. 
Os animais são esplendidos e também similares aos nossos, porém de maior estatura com pele, pelos e plumagem bem diferentes. Um gato parece um tigre de pele azulada com olhos amarelados e são tratados como animais de estimação. No céu de Yron, transitam aves multicoloridas de várias espécies, que colaboram com essa harmonia, tendo em seus limites nuvens cor de rosa, transpassadas pelos raios solares ou lunares. 
A maior fonte de riqueza de Yron vem do comércio de troca. Muito popular e abrangente, o artesanato se faz presente e admirado, sendo amplamente reconhecido e dependendo da sua utilidade, muito valioso e procurado pelos cidadãos. 
Em termos de tecnologia e informação, podemos dizer que Yron, ainda está aquém, mas algumas pesquisas são feitas objetivando esse progresso. 
Capítulo 3
Isabele chega a Yron 
Em seus pensamentos, Isabele não sabia exatamente para onde se tele transportaria. Idealizou apenas um Planeta habitado e semelhante ao nosso e, Yron a acolheu. Tão logo chegou, percebeu que estava desnorteada em meio a centenas de pessoas que gritavam e gesticulavam umas com as outras, numa espécie de feira, onde tudo podia se encontrar. Também, logo soube que ali não havia comunicação telepática, muito menos algum tipo de frequência com os seres da Terra e por esta razão não pode se comunicar com Gabriel. Isabele tinha ciência que deixaria Gabriel preocupado, mas ficou fascinada com aquela nova realidade e decidiu ficar, pelo menos por algum tempo, vivenciando novas circunstâncias. 
Caminhando por entre a multidão, olhava, ouvia e tentava algum modo de se comunicar, mas não compreendia o que falavam, até que num tremendo esforço, ouviu em seus pensamentos uma voz masculina que pedia ajuda e parecia estar bem próxima. Afastando-se da multidão e concentrada perguntou: 
Onde você está? - Qual o seu nome? - Você está na feira? 
- Me chamo Alex, estou a duas quadras ao Sul do Movimento Popular, em casa. Como você me ouve e fala nos meus pensamentos? 
- Aqui, ainda não sei como isto é possível, mas fico feliz em poder me comunicar contigo, onde é sua casa? 
- Continue andando em frente, pelas suas vestes, já consigo te ver. Estou a 100 metros te acenando. Isabele acelerou os passos e chegou ao encontro daquele que seria o primeiro contato alienígena de sua vida. 
Alex, como todos em Yron, não possui sobrenome. Era um sujeito simples que aparentava ter de 30 a 35 anos. Cabelos e olhos castanhos, barba negra, cerrada e curta, que escondiam um rosto redondo em cima de um corpo aparentemente fora de forma. De certas limitações e aparência comum, apesar disso, ele possuía algumas habilidades e peculiaridades, acima da média do pessoal daquele tempo. De certo, não compreendia muitas coisas e por mais que se esforçasse não obtinha respostas em suas súplicas no Deus em que acreditava. Essa concentração fora a chave para a sintonia obtida com Isabele. 
Tão logo Alex balbuciou uma frase, Isabele percebeu que não entendia aquele dialeto, mas compreendia o significado do que expressava e telepaticamente lhe respondia, conseguindo desta forma manter o diálogo em nível de compreensão bastante satisfatório. 
Alex pensou que Isabele fosse uma deusa e lhe questionou a esse respeito, uma vez que os dons dela eram extremamente superiores aos seus, mas logo foi contestado, ouvindo atentamente as explanações de sua interlocutora. 
Isabele lhe disse toda a verdade e com muita simplicidade falou sobre a Terra e como era a vida em seu Planeta. Ao terminar, Alex retrucou dizendo que de qualquer forma, para ele, Isabele era verdadeiramente uma deusa e que jamais seu povo poderia saber de sua estada naquele território, pois correria o sério risco de ser tomada como prisioneira, para fins de pesquisa e observação comportamental, podendo assim comprometer sua integridade física e intelectual. 
Ao dar-se conta do perigo que corria, Isabele pensou em voltar, mas confiando em Alex, elaborou um plano para ficar mais algum tempo em Yron, sem que pudesse ser descoberta conseguindo assim desbravar o novo mundo dando em troca a ajuda que estivesse ao seu alcance para Alex. Era um plano simples, onde Isabele se passaria por muda durante o período de sua adaptação a fim de evitar seu reconhecimento perante as pessoas que cruzassem seu caminho. De comum acordo com Alex, que achou a ideia muito boa firmaram uma espécie de pacto mental, que deveria ser cumprido à risca e determinação. O único problema seria explicar para a irmã de Alex, que estava prestes a chegar do trabalho, de que forma e porque Isabele estaria ali. Então, elaboraram vários planos recheados de mentiras, sendo todos rejeitados por ambos. Não restando mais alternativas decidiram lhe contar a verdade. 
Perto das 22 h daquele lugar, Velma irmã de Alex chegou a sua casa e deparou-se com aquela estranha sentada na poltrona da sala, pronunciou algumas palavras entrou num cômodo e em menos de 2 minutos voltou e sentou-se junto a seu irmão. 
Alex foi o primeiro a falar e a depois ela retrucou, assim aquele dialeto parecia interminável e repleto de lacunas, uma vez que Isabele só compreendia o que Alex pensava. Mesmo assim, a seu ver parecia que Velma estava entendendo o que estava acontecendo e vez por outra, as duas trocavam olhares. Quando finalmente o diálogo chegou ao fim, Velma se levantou e Alex pediu que Isabele se levantasse também. Ambas trocaram um olhar mais intenso e Velma a abraçou pedindo a seu irmão que lhe falasse que havia compreendido tudo e que poderia contar com ela, sendo aquele abraço parte do pacto que fora firmado com seu querido irmão. 
Velma era uma mulher madura prestes há completar 50 anos. Apesar de ter os olhos e cabelos muito negros, havia uma mecha branca que circundava a testa numa espécie de franja natural que lhe caía muito bem ajudando a realçar um olhar firme e penetrante, que transmitia sinceridade e amabilidade. Seus pais morreram num acidente e por ser mais velha dedicou parte da sua vida a seu irmão e a outra em seu trabalho como professora da língua yroniana. Devido à tenra idade de Alex, quando do acidente envolvendo seus pais, Velma decidiu não se separar dele vivendo dessa forma como tutora e mãe aconselhando-o e lhe suprindo com muita ternura e dedicação tornando o elo entre os dois, uma relação bastante franca e essencial para os caminhos que juntos trilharam. 
Alex se tornou um artesão habilidoso e conceituado em sua região conseguindo desta forma trocar seus objetos com facilidade contribuindo para subsistência de ambos. 
Dois dias se passaram e atentamente Isabele ouvia e tentava praticar aquele dialeto. De posse de algumas roupas que Velma lhe emprestara passou boa parte desse tempo caminhando por entre a multidão buscando entender e decifrar a língua que expressavam. Alex, sempre se fazia presente por onde quer que Isabele fosse e muito contribuía para seu aprendizado. Assim como combinado, quando alguém lhe dirigia a palavra, Alex respondia que ela possuía deficiência temporária na fala e prosseguiam em frente, não causando nenhum tipo de desconfiança a respeito de quem realmente se tratava. 
Já no terceiro dia, Isabele pronunciou sua primeira frase completa daquele vasto dialeto: 
- Bom dia! O que temos para o café da manhã? 
Velma arregalou os olhos e mostrou-se surpresa, não pela frase, mas pela exatidão da pronúncia e a naturalidade como se expressou. A partir daí começaram a trocar palavras e expressões cada vez mais intensas e congruentes. Quando algum termo não era compreendido, Isabele obtinha a ajuda telepática de Alex e assim, rapidamente ganhava conhecimento fazendo daquele aprendizado uma ótima oportunidade para se conhecerem mais a fundo, proporcionando momentos de intensa troca de informações e boas gargalhadas pelos erros cometidos. Surpreendentemente, em poucos dias Isabele já dominava o idioma yroniano e no décimo dia resolveu por em prática tudo que havia aprendido indo até o Movimento Popular, obviamente ainda acompanhada por Alex e Velma, a fim de testar seus conhecimentos. Levaram alguns objetos e Isabele fez suas primeiras compras utilizando-se do verbo avalizada por seus amigos. Quando voltaram para casa, Isabele externou um profundo agradecimento pela ajuda que tivera e em troca disse-lhes que tinha um presente para lhes dar. Sentaram-se próximos uns dos outros e Isabele colocou as mãos sobre as suas cabeças pedindo-lhes que fechassem os olhos e se concentrassem naquela cena, naquele momento e deixassem o pensamento fluir. Aos poucos, as palavras de Isabele (em yroniano) foram se dissipando até o momento em que Alex e Velma puderam ouvir em seus pensamentos o que Isabele lhes transmitia telepaticamente. A partir de então e sob seu comando, Isabele lhes presenteou com o dom da telepatia. Extasiados, ambos ficaram muito felizes e se abraçaram ficando sem palavras que pudessem mensurar tamanha gratidão. 
Algum tempo depois em novo diálogo, Alex pergunta a Isabele se na Terra, Porí é o Deus dos povos:
- Não, na Terra Deus é chamado de Deus e por sermos um Planeta dividido em vários territórios, línguas e culturas diferentes umas das outras, as crenças foram muito diversificadas durante longo período de tempo. O homem da Terra passou por vários processos religiosos e não obstante, até guerras foram travadas no intuito de se estabelecer quem era o verdadeiro Deus. Em toda a nossa história tivemos vários Deuses, personagens singularmente providos de muita sapiência e dons sobrenaturais, mais o de maior destaque foi Jesus. Este, sem desprezar outros de nomes significativos produziu muitas mudanças religiosas e a partir do seu nascimento fora criado o calendário que seguimos até os dias atuais. 
- Então esse Jesus é o Deus da Terra? 
- Não, Ele é o Filho de Deus, o único que viveu entre nós, sendo crucificado e morto por questões político-religiosas contraditórias as castas sacerdotais do seu tempo. Segundo os Livros Sagrados, Jesus possuía o dom de curar e fazer milagres, ressuscitar os mortos e como prescreveu, também ressuscitou após o terceiro dia do seu sepultamento, sendo este o maior feito dentre os homens da Terra. 
- Estou confuso, se era Filho de Deus, porque permitiu que o matassem e porque Deus não interviu? 
- Esta era sua missão e, seu sacrifício o maior legado religioso de todos os tempos. 
- Os povos da Terra ainda seguem seus ensinamentos ou tem algum tipo de contato com Ele? 
- Sim e não. Nossa condição de moralidade, muito se deve a este legado, mas por outro lado, em função da própria evolução e desenvolvimento tecnológicos, os homens da Terra, hoje compreendem a Deus de uma forma menos religiosa e muito mais abrangente, uma vez não necessitarmos de curas miraculosas em razão da erradicação de todas as moléstias que nos afligiam no passado. 
- Velma retrucou: Vocês não morrem? 
- Claro que morremos! Temos o esgotamento dos órgãos, mas que são perfeitamente repostos e nos dão condições de sobrevida, até quando julgarmos não ser mais precisa. Nossa evolução nos permitiu compreender que após um longo período de vida, a morte se faz necessária por encerrar um ciclo e obviamente começar outro. 
- Vocês não temem a morte? 
- Não como vocês, pois que adquirimos através dos tempos total compreensão do seu significado. Alex e Velma estavam fascinados pelas respostas de Isabele, que além de transmitir muita sabedoria, externava simplicidade e franqueza em suas palavras. Por esse motivo, Alex voltou a repetir: “Ela é uma deusa”, em muito poderia nos adiantar, mas se sua verdadeira identidade for revelada, não creio que será compreendida e bem interpretada assim como nós a interpretamos. Isabele agradece pela compreensão dos irmãos e se diz cansada, precisando repousar, Velma a acompanha até seu quarto e antes que Isabele pudesse dar boa noite, ela lhe faz um pedido: Por favor, Isabele fique conosco e não nos abandone repentinamente, pois precisamos de Você. Isabele acenou com a cabeça afirmativamente e recolheu-se. 
Capítulo 4 
Gabriel Chega Yron 
Era madrugada em Yron e Gabriel atônito apareceu nas ruas desertas da feira, no mesmo lugar onde Isabele havia aparecido. Ele viu algumas luzes de lamparinas acesas e perambulou por alguns minutos por aquelas ruelas até chegar a um descampado. Olhou para o céu e viu a magnitude e a beleza das Luas de Yron, uma ao norte e outra mais ao sul, que reluziam ao esplendor das imensas montanhas aparentes ao longe. De pronto e maravilhado, falava consigo mesmo: Que lugar incrível, Isabele soube escolher, mas onde estará e como farei para encontrá-la? Sentou-se numa pedra e tentou comunicar-se telepaticamente com ela: “Isabele, Isabele... onde você está?”.
- Isabele acordou sobressaltada e nos pensamentos de Gabriel soou aquela voz linda respondendo: Estou aqui meu amor, eu estava dormindo, mas em 10 minutos vou ao seu encontro. 
Enquanto Isabele se aprontava, puderam trocar várias informações, inclusive as coordenadas de onde se encontrariam e saiu bem de mansinho para não acordar os irmãos. O dia já estava clareando e uma intensa movimentação de pessoas se ocupava em montar suas barracas para o começo de mais uma jornada de trabalho. No rastro de suas comunicações, logo se avistaram e correram um em direção ao outro, culminando num encontro de muitos abraços e beijos, até Gabriel proferir as primeiras palavras. 
- Que saudades meu amor, fiquei tão feliz e ao mesmo tempo, tão preocupado, mas deu tudo certo e o que importa é que agora estamos juntos novamente. 
- Sim amor! Também senti sua falta e sabia que ficaria preocupado, mas não consegui voltar sem antes experimentar essa nova e incrível realidade, ademais, sabia que apesar de você ter que dar mil explicações a Joshua poderia me encontrar facilmente. 
- Não tão facilmente, acho que perdemos nossos empregos, pois para vir atrás de você, precisei assinar vários termos de isenção e responsabilidade, mas não estou nem um pouco preocupado com isso. Quero saber de você e claro tudo o que vivenciou nesses quinze dias. 
- Bom, aqui é Yron, um Planeta que fica... Assim, fiz meu primeiro contato com Alex, irmão de... 
Ao se aproximarem da casa dos irmãos, Isabele fez contato telepático com eles informando a chegada de Gabriel e rapidamente lhes passou algumas informações e perguntou se haveria algum tipo de problema se o levasse para conhecê-los. Não tendo nada em desacordo eles adentraram na casa e Isabele falando em yroniano lhe apresentou e pediu concentração para saber se poderiam se comunicar telepaticamente. No primeiro instante não conseguiram e sentados na sala já tomando o café da manhã, Gabriel se sentiu como um peixe fora d’água sem entender uma única palavra daquela conversa. O mais interessante era verificar que essa conversa se dava da forma mais incomum já realizada, onde um perguntava em yroniano e Isabele respondia da mesma forma para os irmãos e explicava em português (brasileiro) para Gabriel, fato este, que deixava os irmãos também se sentirem como Gabriel estava se sentindo. 
O fato de Alex e Velma terem que sair para trabalhar, também foi à deixa para que os pombinhos ficassem a sós e pudessem matar as saudades, acontecendo ali o primeiro ato sexual fora das jurisdições terráqueas. Após longo tempo de amor e carícias, já em estado exaustivo e em comum acordo, decidiram passear e explorar um pouco de Yron. 
A frente de Gabriel nos conhecimentos daquele Planeta, Isabele sugeriu que viajassem até as montanhas usando o chip de transporte, assim, poderiam vislumbrar lá de cima as formações daqui de baixo. Gabriel topou, mas com algumas ressalvas. 
- Vamos decidir para onde iremos. 
- Certo! 
- No caso de qualquer circunstância adversa, retornamos imediatamente para cá sem pestanejar. 
- O que você teme Gabriel? 
- O frio, a mata, animais selvagens, sei lá. Nós somos os intrusos. 
- Concordo, por esta razão, só partiremos depois do aval de Alex e Velma. 
Assim, aquela aventura foi adiada e passaram o resto do dia caminhando pelos arredores do Movimento Popular, observando principalmente, tudo o que lhes parecia diferente ou novo. Os Sois já estavam bem baixos, quando aquele tom de rosa das nuvens começou a ser invadido pela vermelhidão da noite que se aproximava, tornando o final do dia num glamoroso anoitecer, acompanhado das duas Luas que surgiam por detrás das montanhas. Isabele já havia presenciado tal espetáculo, mas não se dera conta do quão era fantástico e incrível. Sendo envolvida pelos braços do seu amor e tomada pela paixão entregou-se a um longo beijo. 
Os dias se passavam e entre novos aprendizados e vários questionamentos, tanto os terráqueos quanto os yronianos discutiam de forma plena e basicamente sobre as diferenças estabelecidas em ambos os Planetas. Os irmãos abordavam sobre religião, Isabele sobre os avanços tecnológicos enquanto Gabriel se aprofundava na comunicação. Gabriel já havia se familiarizado com aquele dialeto e vez por outra arriscava algumas palavras, até que em meio a uma dessas conversas pronunciou corretamente sua primeira frase em yroniano: 
- Podemos tentar conversar mais uma vez telepaticamente? 
Todos se concentraram e Gabriel pode ouvir em seus pensamentos com bastante clareza as vozes dos outros. Velma saiu na frente e respondeu sua pergunta propondo um brinde, seguido por Alex que abriu a porta de um armário e pegou uma bebida e por último Isabele, que se levantou e o abraçou parabenizando-o. 
- A propósito, indagou Gabriel: Alguém já escalou as montanhas? 
- Os que tentaram, nunca voltaram, respondeu Alex. Acreditamos que lá seja a morada de Porí, que não quer ser incomodado. - Com todo respeito à Porí, eu e Isabele estamos pensando em ir lá.
- Deuses não se incomodam com outros Deuses, mas de qualquer forma vocês devem tomar algumas precauções. 
- Não somos Deuses, só estamos há alguns degraus acima na escala da evolução. 
- Mas o que realmente significa esta evolução? 
- Sim, completou Velma, como conseguiram? 
Gabriel olhou para Isabele como se estivesse pedindo consentimento para falar e obtendo um sinal afirmativo, replicou: De acordo com nossa própria história, passamos por diversas fases até atingir o grau em que hoje nos encontramos. O fato de estarmos aqui, também é um novo marco e certamente entraremos para história, como desbravadores de novos Planetas, neste caso, Yron. Velma se interpõe, e pergunta: 
- Em relação a este estado evolutivo, onde nos situamos e como vocês dividem essas fases? 
- Isabele toma a palavra, e lhe diz: Entre os séculos XVI e XIX e nós estamos no século XXVII. Nossas “fases” são classificadas de “Eras”: geológicas e astrológicas. A primeira diz respeito ao tempo e a formação do Planeta, já a segunda relacionada com os astros e suas transições. 
- Mas o que realmente nos separa e ainda nos confundem? 
- O tempo e o conhecimento. 
Yron se adiantou religiosamente, porém ainda não se permite tecnologicamente em desbravar o futuro. 
- No que consiste basicamente esta tecnologia? 
- Luz! 
- Mas já temos lamparinas. 
- Me refiro a “energia, informação e expansão”. 
Os irmãos não compreenderam o que Isabele tentou lhes mostrar e ficaram momentaneamente no vácuo daquelas expressões. Assim, aquela conversa se deu por hora terminada e Gabriel e Isabele saíram para assistir a mais um final do dia daquele exuberante Planeta. 
Ao saírem em direção ao descampado, Gabriel foi o primeiro a se pronunciar: 
- Eles ainda não estão preparados para estas informações. 
- Sinto que devemos lhes auxiliar, mas não sei bem como começar, você tem alguma ideia Gabriel? - Não podemos nos expor e o mais sensato seria lhes transmitir as informações necessárias, para o começo dessa revolução. 
 - O que você acha de implantarmos uma moeda e logo a seguir a eletricidade? 
 - Acho que é por aí, Isabele. Depois virão os jornais e os transportes. 
- Então aqui será nossa nova morada? 
- Talvez, eu não sei, mas se não tomarmos essas providências, a estagnação de Yron é iminente. 
- Vamos elaborar um plano para Yron, mas agora só quero curtir esse momento, depois pensaremos nisto. 
- Concordo e é por isso e por outras coisas que te amo tanto. 
Capítulo 5 
Os planos de Isabele
1) “A moeda”. No dia seguinte, terráqueos e yronianos voltaram a se reunir como de costume para o café da manha. Em meio a já tradicional confabulação, Isabele propôs um plano, mas não sem antes ter a irrestrita colaboração dos irmãos e a garantia de que eles poderiam continuar contando com o total sigilo por parte dos mesmos. De que todos os méritos advindos de suas contribuições para aquele Planeta deveriam ser levados em conta de estudos e ideias advindos dos próprios irmãos, assim isentando-se de qualquer mérito que pudesse colocar em risco, tanto sua estada quanto a de Gabriel em Yron. 
Curiosa em saber do que se tratava, Velma tomou a palavra respondendo que havia feito um pacto e que tanto para ela como para seu irmão, jamais os colocariam em riscos, podendo realmente confiar em suas palavras, pois já lhes consideravam como membros de sua própria família. Por fim, exclamou: Fala logo mulher! Que plano é esse? 
Isabele tirou do bolso um papel e lhes mostrou um desenho: 
- O que é isto, pergunta Alex. 
- Gabriel se antecipa: Este é o primeiro protótipo da nova moeda de Yron. 
 - Como assim? 
- Ao invés de trocar mercadoria por mercadoria, o povo de Yron passará a trocar mercadorias por moedas. Assim, cada moeda terá seu valor absoluto e valerá quantas forem necessárias para a troca de um bem qualquer.
Isabele: - Outro dia vi você trocar uma calça por um quadro que você havia pintado. Tanto você, quanto o dono da calça, julgaram os produtos ter o mesmo valor e a troca foi feita, mas se, por exemplo, você julgasse sua pintura valer o dobro da calça, vocês não teriam feito nenhum acordo. Assim, tendo cada produto determinado valor, muito mais negócios serão realizados, uma vez que neste caso ele lhe daria a calça e mais uma moeda como troco equilibrando melhor esta negociação. Assim, cada produto terá seu preço e valerá quantas moedas for preciso para ser adquirido. 
- Entendi, mas como produziremos essas moedas? 
- Cunharemos as moedas a princípio no metal aqui chamado de “bluma” equivalente a “prata” em nosso Planeta e muito abundante em Yron. Teremos um trabalho árduo pela frente, precisaremos extrair a bluma, tratá-la e por último cunhar. 
Precisaremos de espaço físico e poderíamos chama-lo de Casa Da Moeda. Também precisaremos de trabalhadores, que poderão se beneficiar recebendo uma parcela da produção de acordo com a função designada. O que vocês acham? 
- Eu estou achando ótimo, respondeu Alex completando que possui um galpão e conhece várias pessoas que poderiam contribuir e se empenhar na nova empreitada. 
Velma por sua vez, pergunta se é desta forma que os humanos da Terra fazem suas trocas e Gabriel lhe responde dizendo que foi desta forma no início, mas com o passar do tempo houve muitas modificações que não caberia lhe ser explicado por agora. 
- Sim, entendo e analisando o desenho agora em suas mãos pronunciou uma espécie de reza em seu dialeto em louvor a Pory. 
Após alguns dias de trabalho na restauração, o Galpão ficou pronto para receber os interessados e logo foram recrutados dezenas de yronianos, alocados conforme suas habilidades em diversos setores para o exercício e desempenho de suas funções. Era um processo lento e rudimentar, mas aos poucos adquiriu forma e logo a novidade se espalhou num boca a boca sem precedentes, onde a moeda começaria a circular, sendo desta forma considerada a princípio como objeto de desejo e posteriormente como valor de troca, atingindo assim o objetivo dos terráqueos em sua primeira intervenção. 
Nota-se dizer que com o advento da moeda em Yron, a expansão do comércio teve um crescimento fabuloso e muitos estavam enriquecendo por conta de tal proeza, inclusive Alex e Velma que agora se tornaram donos de várias terras e membros do alto escalão daquela sociedade. 
Enquanto o tempo passava, Isabele se diz surpresa com o afinco e a lealdade daquele povo. Ali não havia mesquinharia, inveja ou dolo, muito pelo contrário, conhecera pessoas de ótima índole, felizes e não raro sensíveis e havidas por conhecimento. Os encontros com yronianos passaram a ser mais frequentes e a cada conversa os terráqueos viam a necessidade de produzir mais informações e cultura a serem levadas adiante. Assim, em nova reunião somente com os irmãos, eles propõe um segundo plano. 
2) “O Jornal”. Ricos, os irmãos agora moravam numa bela casa próxima ao litoral com vista para o mar. A riqueza não mudou seus antigos hábitos e sempre juntos continuavam se reunindo pela manhã, onde vários temas eram abordados, com clara intenção de Isabele em lhes ajudar no desenvolvimento de suas vidas e consequentemente, também ao Planeta. Os yronianos já produziam os papiros e por serem exímios artesãos, Isabele e Gabriel lhes falam sobre a técnica da xilogravura, que iria exatamente ao encontro de uma necessidade primordial na expansão e divulgação da informação. O processo de xilogravura consiste basicamente em entalhar na madeira informações escritas ou desenhadas, que posteriormente servirão de matriz para várias réplicas, esboçou Gabriel. 
Alex: - Explique melhor, Gabriel. 
- Usaremos tinta na matriz, onde só as informações de relevo do entalhe serão gravadas no papiro, podendo desta forma se fazer várias copias da mesma imagem. 
- Genial, exclamou Alex. 
- Contrataremos os melhores artesões e assim como na Casa Da Moeda, teremos um novo alvo que será amplamente difundido em Yron. 
- A Ideia é criar um jornal informativo, acrescentou Isabele. 
- Velma em tom bastante entusiasmado fala: Livros, Livros! 
- Que bom que gostaram mãos a obra. 
Sem perda de tempo, Isabele esboçou as diretrizes do projeto determinando atribuições específicas à Velma e Alex que prontamente ficam apostos no cumprimento de suas tarefas. Ela e Gabriel, inicialmente iriam redigir os textos e desenhos a serem xilogravados passando pela revisão de Velma e postos em produção por Alex. Assim, em comum acordo esboçam o nome do jornal, que se chamaria por fim de “A Informação”. Alex não teve dificuldades para encontrar e comprar um novo galpão, nem tão pouco para recrutar e arregimentar novos comandados para as atribuições do jornal. Os artesões contratados para o entalhe das matrizes eram mestres e poucas dificuldades teriam em entalhar de forma retroversa os textos e desenhos nas tábuas. O primeiro exemplar seria um rolo e o tema escolhido por Isabele se referia a saúde e asseio, onde “lavar as mãos” foi foco da matéria. Esta edição teve 3.000 exemplares e foi distribuído na região gratuitamente. (Jornal “A Informação”, primeiro exemplar). 
Isabele e Gabriel tinham muitas coisas em mente, pois sabiam que em muito poderiam auxiliar aquele povo em seu progresso, mas não deviam ser precipitados, para que tudo pudesse transcorrer de forma natural não levantando nenhuma suspeita de seus atos. Por centenas de vezes sentiram-se incomodados diante a problemas causados por falta de tecnologia e mesmo sabendo que havia condições de implantar projetos mais ousados, resignavam-se para não extrapolar os limites de compreensão daquelas pessoas. Com esse pensamento em mente decidiram utilizar o jornal passando informações que levassem conhecimento e estratégias de crescimento, para que o próprio povo idealizasse e mutuamente progredissem em sua caminhada de evolução. A partir da quarta publicação o jornal já tinha cinco rolos com matérias que ensinavam, instruíam e agregavam conceitos de avanço dando dicas de “como se faz”, coisas simples que iriam desde ferramentas ao mais intricado sistema de águas e esgoto. Os leitores se deliciavam com as publicações sendo os mais espertos e abastados os que colocavam as ideias em prática. Em pouco tempo já se via no Movimento Popular produtos inéditos. Novos galpões eram erguidos, dando surgimento a fábricas e até mesmo de um jornal concorrente que apresentava notícias e dizia sobre o tempo. 
3) “O Teatro”. Tudo transcorria de acordo em Yron, mas faltava diversão. Isabele propôs então, a criação de um teatro. 
- Teatro, o que é teatro? - Questiona Alex. 
- É uma casa onde pessoas apresentam uma peça, encenam histórias que podem ser engraçadas, comoventes, românticas e de vários outros gêneros. Atores e atrizes ensaiam o texto e depois é exibido para o público. 
- Mas quem serão os atores e atrizes, indaga Velma. 
- Fiquem certos, todos somos atores e atrizes num grande palco chamado de vida e candidatos não faltarão. Precisaremos de outro galpão, candidatos e uma estrutura que possa receber o público, onde sintam que estão bem acomodados. No começo produziremos peças que façam o público dar boas gargalhadas, para tanto, será preciso que você Alex, nos traga pessoas que realmente possam fazer os outros rirem. A esse tipo de espetáculo chamaremos de “comédia”, mesmo nome empregado na Terra. Depois virá o drama, o romance e assim por diante, cada qual há seu tempo em conformidade com os atores e atrizes que dispusermos. Autores serão bem vindos e seus trabalhos serão analisados. Chamaremos esta casa de Teatro Dois Irmãos em homenagem a vocês. 
Os irmãos se sentiram lisonjeados e agradeceram. 
Empenhado, Alex foi ao encontro de alguns amigos e tão logo expõe a novidade, quatro deles aceitaram a proposta e indicaram duas moças para integrar o grupo. Alguns testes foram feitos e os seis passaram. Eram jovens de riso largo e solto, vindo exatamente ao encontro das expectativas de Isabele. Enquanto Alex procurava por um novo galpão, os outros se reuniam e assistiam aos ensaios do grupo, que já causavam risos aquela pequena plateia. Agora já familiarizados com o texto, aguardavam pela chegada de Alex, que havia saído para fechar negócio com os donos de uma casa bem conhecida na região, por ser grande e bem localizada permitindo assim que mais uma etapa fosse cumprida. Ao retornar, Alex interrompeu o ensaio e chacoalhando as chaves em uma das mãos diz: “Temos um Teatro”. Ainda esta semana estará tudo pronto para a grande estreia. 
Assim como prometera, próximo ao fim de semana estava tudo pronto e arranjado, onde a primeira apresentação aconteceria em dois dias e gratuitamente para uma plateia de 200 convidados. No dia da estreia, todos estavam apreensivos e ao mesmo tempo confiantes na boa apresentação da peça, afinal era a primeira vez que yronianos subiriam ao palco. Sentados na primeira fila, os irmãos e o casal aguardavam as cortinas se abrirem e volta e meia contorciam o pescoço observando a chegada do público, que lotou a casa. As cortinas se abriram, aplausos e assovios ecoaram na plateia, depois um rápido silêncio e logo na primeira frase uma gigantesca gargalhada e assim transcorreu até o final. O sucesso da peça fora absoluto e outras tantas também o seriam, dignificando e enaltecendo o trabalho daqueles irmãos. 
Capítulo 6 
Um ano em Yron 
Um ano em Yron, tem 122 dias e parecia ter sido ontem, mas realmente um ano se passou desde que Isabele e Gabriel ali chegaram, nesse período, muitas mudanças aconteceram e todos prosperaram. Agora ambos dominavam completamente os costumes e estavam aptos a passar facilmente por cidadãos de Yron. Velma sugeriu um brinde pela passagem de um ano da estada do casal e também em agradecimento a tudo que fizeram não só por eles, mas para seu povo, que agora desfrutava de mais alegria, bonança e informações. Após o brinde, Isabele se diz insatisfeita por entender que o número de mortes por doenças simples é muito acentuado entre as pessoas de Yron e que não pode intervir nestas questões, uma vez que certamente teria problemas e tudo que vinha fazendo iria por água abaixo. 
- Espere um momento, você pode curar? - Questiona Velma! 
- Enternecida, Isabele olha nos seus olhos e lhe diz: Posso, mas não devo. Em nosso Planeta, estamos livres de doenças a mais de três séculos e como isso se deveu a tecnologia avançada, dependeríamos de equipamentos que não dispomos aqui em Yron, porém doenças simples e pequenos males, estas certamente as extinguiríamos. 
- E porque não o fazem? 
- Isto envolveria questões religiosas e comprometeria a fé que possuem em Pory. 
 - Alex: Mas por quê? 
- Muitas coisas ainda estão acima das suas compreensões. Não podemos sair por aí curando as pessoas de seus males, estes atos seriam considerados milagres e nós, Deuses sem o sermos. Como ficaria Pory? 
Um silêncio profundo tomou conta da conversa. 
Pensativos, os irmãos trocavam olhares sem saber o que mais falar.
- Quando lhe conheci Alex, em seus pensamentos você pedia ajuda a Pory, sua fé era tão grande naquele momento que entrou em sintonia com minha concentração considerando-me uma deusa causando-lhe confusão. Imagine pessoas sendo curadas. Ademais, precisamos passar por estágios evolutivos, ter nossos próprios méritos. Sempre me questiono se o pouco que fiz, não irá interferir negativamente de alguma forma ao estado evolutivo natural aqui do seu Planeta. 
- De maneira nenhuma, você só nos ajudou e muito lhe devemos. 
Gabriel que até então só ouvia, explanou outra hipótese: 
- Imagine que fizéssemos uma centena de curas, logo essa proeza se espalharia aos quatro cantos de Yron. 
- Estaria na primeira página do jornal no dia seguinte, replicou Alex. 
- Multidões viriam ao nosso encontro. Alguns diriam que éramos filhos de Pory, que descemos das montanhas para lhes ajudar. Digamos que depois de várias curas, precisássemos ir embora. A lenda do Planeta certamente mudaria de Pory para filhos de Pory. 
- Velma: Você acha que Pory é uma lenda? 
- Você já esteve com Ele? 
- Não, mas nossos antepassados garantem que sim. 
- Dificilmente desvendaremos estes mistérios, mais quem lhe garante que Pory não era um ser que assim como nós, veio de outro Planeta, talvez até mais evoluído que a Terra e que ao chegar foi considerado como Deus, naquele tempo? - Sim, devemos questionar: há muitas coisas entre o céu e Yron, que estão além de nossa vã filosofia. 
Velma abaixou a cabeça, refletiu sobre aquelas palavras e disse-lhe: 
 - Você pode estar certo, mais isto vai completamente contra tudo que me ensinaram e tudo em que sempre acreditei. E a minha fé? – Você acha que podemos viver distantes da crença em Pory, nosso Deus?
Percebendo que as palavras de Gabriel estariam acima da compreensão de Velma, Isabele se interpõe: - Não é nossa intenção lhes confundir e por este motivo estamos relutantes em vos auxiliar em causas mais significativas, como a cura de certas doenças. Melhor deixar tudo como está e o curso da história ser o responsável pelo natural crescimento. 
Por hora, não havia mais o que se falar e dessa forma se recolheram sem pronunciar nenhuma palavra. 
Tão logo entraram em seu quarto, Isabele comentou com Gabriel que se diz arrependida de ter levantado tais questionamentos, pois sentiu que havia tocado num ponto extremamente delicado, que de algum modo magoou seus amigos. 
- Eles precisam refletir! 
- E nós não devemos nos meter. Acho que é chegada a hora de partirmos. 
- Se assim o fizermos, nossa proposta teria sido em vão. Além de não termos nenhuma garantia de que possam falar sobre quem éramos e serem mal interpretados pelos outros. Não, não podemos partir Isabele. Não agora. 
No dia seguinte, em suas reuniões matutinas, agiram como se aquela conversa da noite anterior não tivesse acontecido. Fraternais e bem dispostos, os irmãos se apressavam para mais uma jornada. Velma a princípio passaria no jornal e depois na casa da moeda, enquanto Alex resolveu tirar a manhã de folga deixando para passar no teatro lá pelo fim da tarde. Tão logo Velma se despediu, Alex convidou seus amigos para um banho de mar e desfrutar um pouco das águas cristalinas de Yron. O casal aceitou o convite e logo se colocaram em marcha dirigindo-se ao destino. Ao chegarem à praia, sentaram-se na areia e ficaram por algum tempo contemplando aquele belo horizonte, mas não tardou e todos correram para água, cada um mergulhando a sua maneira, se iniciando uma pequena batalha onde as armas eram água e areia até ficarem exaustos e voltarem para a beirada. Alguns minutos se passaram entre contemplação e pensamentos, até que Alex pergunta: 
- O que eu posso saber? 
- Até onde vai sua vontade e o que espera de nós? 
Alex sabia que estava pisando em terreno acidentado, mas diferentemente de sua irmã, possuía a mente mais aberta e sem pestanejar respondeu a Isabele: 
- Anseio por conhecimento e como tive a sorte de conhecê-los, espero muito de vocês. 
Isabele pegou um pequeno pedaço de madeira que estava ao seu lado e começou a escrever na areia: Paciência, Critério e Compreensão. 
- O primeiro passo é a paciência. Entender que nada se dá repentinamente ou a revelia. Em tudo existe um plano, uma correspondência. Não nos foi dada a sapiência integral, apenas a interação para fazer parte daquilo que vivemos de acordo com o estágio em que nos encontramos. Estes estágios são muito diversos e obviamente não cabem em uma única existência, portanto o retorno à vida em seu Planeta de origem acontece sucessivamente de acordo com o aprendizado adquirido e as experiências acumuladas. Para não haver interferência e confusão entre uma existência e outra, a cada vida interpretamos como se fosse a primeira e tudo se dá como novo até que todos os estágios se completem. Ao fim deste primeiro ciclo, estamos aptos a frequentar o segundo, agora chamado de nível Dois, mas vivido em outro Planeta de similaridade ao primeiro com nuances diferentes, próprias aos seres daqueles estágios para melhor procedimento as suas novas incumbências. Isabele fez uma pequena pausa propositadamente esperando por perguntas de Alex, que percebendo esta brecha indagou: 
- Quantas vidas são necessárias para cada estágio e quantos estágios para terminar um ciclo? 
- Quantas forem necessárias para cada estágio, assim como para o fechamento de cada ciclo. 
- Então, voltarei para Yron, vivendo várias vidas diferentes aqui neste primeiro ciclo? 
- Sim, voltará para a Yron por diversas vezes, entretanto, eu não lhe disse que aqui é o primeiro ciclo! 
- Então, este é o segundo? - Em que ciclo vocês estão? 
- Sim, este é o segundo, mas já passou por período em que recebeu seres do primeiro. Assim como estamos no terceiro, porém já recebemos seres do segundo e pregressamente do primeiro. 
- E como vocês sabem exatamente esta divisão de “níveis”, ou seja, como sabem que são do terceiro, eu do segundo e quem eram os do primeiro? 
- Descobrimos que somos do terceiro, quando chegamos a Yron e lhes encontramos vivendo fases que nossos ancestrais já viveram na Terra, assim como temos ciência de como viviam os ancestrais de nossos ancestrais. Portanto, seus ancestrais eram os primeiros. Concluímos então, que isto se dá em vários Planetas similares aos nossos e que são relativamente próprios aos nossos ciclos evolutivos, não nos cabendo ciência momentânea dos ciclos imediatamente superiores. 
O segundo é o critério, que sem estudo e disciplina não pode ser alcançado. De acordo com o acúmulo dessas vivencias, a cada vida refinamos e administramos melhor nossos critérios. Percebemos que os estudos nos conduzem a disciplina e que desta forma atingimos mais rapidamente nossos objetivos tanto pessoais como coletivos. À medida que os homens avançam, os critérios são alocados não só moralmente, como cientificamente e se coadunam com as respostas procuradas, mas dependem da comunhão e integração dessa coletividade. Isto se dá muito lentamente por acontecer exatamente no segundo ciclo, estágio em que Yron se encontra agora. Um estágio basicamente religioso, onde tudo se concentra numa vontade superior, que por falta de conhecimentos, se consagra divino e maravilhoso, fazendo com que as pessoas entreguem o sequenciar de suas vidas aos desígnios de divindades, muitas vezes criadas por elas mesmas. 
- Quer dizer que nós mesmos somos criadores de Deuses imaginários? 
- O desconhecimento da nossa própria natureza muitas vezes nos leva a crer que somos fruto de uma criação mágica, porém tudo se deve a um plano elaborado muito além da compreensão e capacidade que nos foi dada, que talvez só consigamos entender quando estivermos em níveis bem acima do que agora nos encontramos. 
Por fim a compreensão, que só acontece precedida das duas primeiras. Ao compreendermos pelo menos uma parte da magnitude do tempo e espaço, começamos a intuir de forma mais abrangente a relação de nossas existências nesse espaço temporal. Orgulho, egoísmo e sentimentos como preguiça e desânimo, medos e receios deixam de nos acompanhar, nos tornando mais ativos e capazes, onde a entrega e aceitação desta compreensão, passam a ser integrantes de nossas existências. 
- Como podemos compreender a magnitude do espaço temporal? 
- Algumas gerações aqui em Yron ainda passarão, para que esta compreensão se dê como forma iniciativa no Planeta e outras tantas para que estudos complementares atinjam alguns objetivos, mas a compreensão total deve pertencer apenas aos níveis próximos dos mais elevados. Faça a si mesmo perguntas que sugiram medidas e distâncias então, podereis verificar o quão distantes estais de respostas conclusivas. Em tudo há seu próprio tempo. 
Com fome, resolveram voltar para casa e fazer um lanche. No caminho de volta, Alex agradeceu a Isabele pelas explicações e rindo, lhe pediu “paciência” para com ele e sua total ignorância diante a conversa que tiveram. 
Capítulo 7 
Dr. Joshua chega a Yron acompanhado 
Muitas coisas aconteceram na Terra desde a partida de Isabele e Gabriel. A pesquisa sobre o chip de transporte à velocidade do pensamento culminou em êxito, após o ingresso de novos participantes na pesquisa iniciada por Isabele. A frente do projeto, Joshua identificou a promissora jovem Naomi Nadine Shannon, como substituta e sucessora de Isabele. 
Naomi tinha um porte esguio, era alta, loira e extremamente inteligente, entretanto, não deixava escapar um ar arrogante que denotava superioridade diante aos colegas de trabalho. Ao concluir o trabalho começado por Isabele, Naomi ganhou notoriedade internacional e elevado prestígio junto a CSLB, motivo pelo qual adquiriu voz ativa junto ao Conselho Deliberativo da empresa. 
Diante tal prestígio, Joshua passou a bajular e de certa forma se encantar com os dotes de Naomi, convidando-a para jantar e propondo encontros, cada vez mais frequentes até que numa ocasião propícia, num encontro da cúpula da sociedade brasileira, ela aceitou o convite. As intenções de Naomi não eram amorosas, mas usou este artifício, como parte de um plano para convencer Joshua a irem ao encontro do casal, mesmo não sabendo onde estavam. Ela tinha em sua mente, que para ter viajado há determinado lugar sem regresso, eles teriam encontrado algum tipo de paraíso e por lá decidiram ficar. O fato de não ter sido a mentora do projeto, também lhe incomodava, pois o nome de Isabele Constantine sempre era mencionado nas honrarias do projeto. Os encontros se tornaram mais frequentes e aos poucos Joshua mostrava o quanto era interessado pelo poder e luxúria, fatores que serviriam a Noemi como argumentos para lhe convencer a partirem. 
Certa noite, em seu apartamento, após se entregarem a momentos prazerosos Naomi investe em seu plano e arrisca um palpite que certamente aguçaria a curiosidade de Joshua e entre afagos e beijos deixa escapar: 
- Você não tem curiosidade em saber onde Isabele e Gabriel estão? 
- Não! 
- Mesmo sabendo que possam estar ricos e vivendo outra realidade, melhor que a nossa? 
- Nunca pensei nesta possibilidade, acredito que não puderam voltar em virtude do chip não estar 100% completo, talvez estejam mortos. 
- Negativo, com 90% das propriedades concluídas, nada lhes impediria. 
- Então, eles poderiam ter voltado e não o fizeram... Algo realmente extraordinário deve ter acontecido. 
- Só temos uma maneira de saber, querido! - E se não julgarmos interessante, voltamos. 
Esta abordagem soou como uma caixa registradora e seus olhos brilharam após levantar uma das sobrancelhas. Disposto a investigar pessoalmente e com a ajuda da amante, Joshua se antecipa e diz que precisam partir imediatamente. Assim, Naomi pega dois chips em sua bolsa, os dois se olham, se concentram para onde o casal estaria e... Desaparecem. 
Ao chegarem a Yron, a primeira coisa que avistaram foi um enorme galpão com uma inscrição indecifrável pendurada no alto da entrada como uma tabuleta, parecendo ser um letreiro com o nome de uma Empresa. Era hora do almoço e logo, intensa movimentação de trabalhadores que saía aos borbotões acontecia misturada com a confusão daquele estranho linguajar. Confusos e descrentes se afastaram e começaram uma comunicação telepática entre si, questionando o que presenciaram. Olharam ao redor e não viram nada além de casebres espremidos numa ruela, que ao longe, para o norte mostrava grande concentração de pessoas e para o sul, o que parecia ser o final da civilização.
Que calor infernal, resmungou Joshua e ao olhar para o céu segurou a mão de Naomi, que vendo sua cabeça erguida fez o mesmo. São dois Sois e as nuvens cor de rosa, que lugar é este e o que teria prendido meus funcionários por aqui, indagou Joshua. Usando a palavra, Naomi responde que ali não podia ser um paraíso e que talvez tivessem tido problemas com o chip impedindo-os de voltar. 
- Nunca saberemos se não estivermos com eles, se não tivermos as respostas de suas próprias bocas. - Porque não se comunica telepaticamente com ela? 
- Acha que ainda não pensei nisto? - Ainda não o fiz, porque primeiro quero saber onde estou pisando, saber se realmente vale a pena investir neste lugar. Vamos para o norte tentar nos comunicar com essa gente. 
Assim o fizeram e ao chegar ao movimento popular, dirigiram-se a primeira barraca e Joshua se expressa: Do you speak english? - Usted habla español? - Parlez-vous français?
 - Yrensid irrich ev apaplow! - Myrtaw frik nees ystrom inast gremum. 
- Não vai dar certo Joshua, melhor irmos embora. 
Concordando com Naomi, viraram as costas ao seu interlocutor e usando o chip, desapareceram como num passe de mágica reaparecendo no descampado, sozinhos e cercados apenas pelas imensas montanhas de Yron, lugar bem conhecido e frequentado por Isabele e Gabriel. Desanimado, Joshua sugere a Naomi irem embora, dizendo-se insatisfeito e que esta aventura em nada estava lhe agradando. Naomi concorda, mas quando estavam perto de fazer a concentração para voltar foram surpreendidos por Gabriel e Isabele, que foram até o descampado passear depois do almoço como já era de costume. 
- Joshua! O que o que você faz por aqui? 
- Isabele, Gabriel, que surpresa! 
- Esta é Naomi... Minha noiva. 
- Veio a nossa procura, porque não se comunicou telepaticamente, quando chegaram? 
- A cerca de meia hora e estamos um pouco confusos. 
 - É um prazer lhe conhecer Isabele, principalmente por ser sua substituta na CLSB e concluir a programação do chip.
 - Acreditamos ser esta aventura um marco da nossa história e com isto progredir e auxiliar aqueles em condições de inferioridade a nossa como Yron, este Planeta. 
Isabele esboçou as características de Yron, como vivem, fala das questões religiosas e do Deus Pory, enquanto Gabriel, desconcertado e sob o intenso olhar interessado de Naomi resume o que fizeram e o quanto ainda pretendem acrescentar. Dizem-se saudosos da Terra e da falta que sentem das tecnologias, mas que decidiram ficar até concluírem seus objetivos. 
Desinteressados por constatarem realidades adversas a seus verdadeiros propósitos, Joshua e Naomi atribuíram sua vinda como uma tentativa de resgate e salvamento do casal, mas diante as explanações obtidas declinaram em suas intenções. 
- Precisamos voltar para Terra e agora que sabemos que estão bem, nada mais temos a fazer aqui, concluiu Joshua. 
Naomi retirou dois novos chips de sua bolsa e pondo-os nas mãos de Isabele, se diz agradecida por suas iniciativas e lhe dá um abraço. 
Por fim, Joshua e Naomi se concentraram e desapareceram daquele lugar, tendo como testemunhas os olhos arregalados de Isabele e Gabriel. 
Capítulo 8 
Confusão no movimento popular 
No caminho de volta ao passarem pelo Movimento Popular, Isabele e Gabriel perceberam que algo diferente estava acontecendo: Um homem conhecido como Sammy, exaltado espalhava aos quatro cantos ter visto os filhos de Pory, que se comunicou com ele e teriam desaparecido diante seus olhos. A notícia se espalhou rapidamente na feira, principalmente pela credibilidade e conceito daquele sujeito. Ao tomarem ciência do fato, o casal imediatamente associou aquela aparição a seus conterrâneos, como não estavam preparados para tal situação, não interferiram nem nada puderam fazer e retornaram a Casa da Moeda, onde a notícia já havia chegado. Também cientes dos fatos, os irmãos a princípio atribuíram ao casal a responsabilidade por aquele acontecimento e de pronto, Velma sai na frente: 
- Porque fizeram isto? 
- Não fomos nós! 
- Então, Pory realmente enviou seus Filhos, qual seria a mensagem? 
- Também não foi Pory e nenhuma outra divindade, nem tão pouco houve alguma mensagem, por favor, Velma tente compreender que não participamos de nenhuma vontade divina e nem somos questionados ou indagados, merecedores ou julgados, simplesmente vivemos e apreciamos cumprindo papéis morais estabelecidos pela própria sociedade em que nos encontramos. Seria muito fácil pedir e ter, clamar e ser ouvido, suplicar e ser atendido, mas isso não acontece exatamente por ir contra as leis imutáveis da natureza. 
- Então, como você explica tal aparição? 
- Recebemos a visita de membros da empresa onde trabalhávamos que vieram a nossa procura, apenas com a intenção de nos resgatar pensando que estivéssemos em apuros por não termos retornado. Satisfeita? 
- E aparecem e desaparecem assim, sem se preocupar com as consequências e a confusão que podem causar nas cabeças das pessoas, como fica? 
- Não deveria ser assim, mas nem todos agem ou tem sensibilidade para discernir entre o certo e o errado, o que pode ou o que deve ser feito e por isso te peço desculpas pelo mal entendido. 
- Não me deve desculpas, mas ao nosso povo uma explicação Isabele. 
- Como poço dar explicações a cerca de coisas acima das suas compreensões? 
- Fale a verdade e eles entenderão! 
- Você está certa disto, e Pory onde entre na história? 
- Eu não sei, mas você saberá como resolver. 
Velma colocou Isabele em cheque, que não vendo melhor alternativa disparou:
Somente os Deuses têm o poder de modificar ou adiantar o estado evolutivo de uma civilização, pois bem se nos consideram como Deuses, então que assim seja e a sorte do seu Planeta está lançada. Você sabe que podemos simplesmente ir embora e deixarmos tudo para trás, se disserem sobre nós, acreditarão que estão loucos, pois nada poderão provar. 
- É verdade Velma, interpôs Alex. 
- Ainda assim, prefiro a verdade, a ver as pessoas julgarem-se loucas. 
Naquela tarde Isabele e Gabriel pela primeira vez desaparecem na frente dos irmãos, que estupefatos entreolharam-se sem nada entender. 
- Depois de alguns minutos, Alex pergunta: Será que foram embora? 
- Eu não sei Alex, mas acredito que isso não acaba aqui, respondeu Velma. Independente do que façam, nunca falarei sobre eles e espero que você também não meu irmão. 
Capítulo 9 
Yron recebe os “Filhos de Pory” 
Alguns dias se passaram desde que Isabele e Gabriel desapareceram. Eles voltaram a Terra e buscaram alguns instrumentos, entre eles um pequeno equipamento conhecido como “Magno” no século XXVII e considerado o computador dos computadores, capaz de realizar as façanhas mais incríveis já imaginadas pelo homem. Ao chegarem a Yron perceberam que a notícia sobre o aparecimento dos Filhos de Pory havia se alastrado de forma descabida e confusa, gerando pânico e principalmente incompreensão, motivo pelo qual lhes fez agir mais brevemente. Após providenciarem um disfarce, alugaram uma pequena casa que usariam como base para seus propósitos. Aguardaram a chegada da noite e implantaram em pontos estratégicos diversos dispositivos ligados remotamente que lhes auxiliariam durante aquela empreitada. Tais dispositivos eram chamados de feijão, por sua aparência e similaridade com este grão. Retornaram a base e fizeram os testes necessários, com maior relevância para som e imagem. Usaram trajes brancos e totalmente desconhecidos por aqueles habitantes. Assim, tudo estava certo e pronto para os acontecimentos que haviam planejado. 
E assim foi realizada a primeira aparição: Por intermédio de “Magno” usaram a holografia de seus próprios corpos vestindo os trajes próprios e por volta das 18h daquele dia fizeram sua primeira aparição entre os yronianos no movimento popular. Aturdidos e confusos instantaneamente aquelas pessoas foram tomadas de pânico e medo ao verem aquela materialização espetacular. Eles mantiveram-se calados por alguns minutos e vendo que o burburinho se abrandava, Gabriel falou em yroniano de forma que os presentes pudessem ouvir com bastante nitidez: 
Não tenham medo, estamos aqui para lhes ajudar e Isabele completa: 
Trazemos boas novas e esperança para Yron.
Som e imagem eram perfeitos e ao escutarem a mensagem, se aquietaram num silêncio profundo a espera do que os supostos filhos de Pory tinham para dizer. 
Assim, Gabriel começou o discurso:
-Há alguns dias, outros mensageiros estiveram em Yron e fizeram o primeiro contato com vocês, com a intenção de prepará-los para nossa chegada. Pois bem aqui estamos e vamos lhes explicar da melhor forma, as dúvidas que desde sempre lhes perseguem. Neste momento e, sabedores dos últimos acontecimentos, Velma e Alex chegaram ao movimento popular trazendo um misto de saudade e curiosidade sobre o que o casal tinha a dizer. 
Isabele assume o comando e começa com uma pergunta: 
- Vocês já imaginaram se Yron tivesse apenas um Sol e uma Lua? E se as nuvens fossem brancas como o algodão? Sabemos que não conseguem imaginar e por isso eu lhes peço que nos ouçam com muita atenção, pois viemos lhes mostrar a verdade, uma verdade que conhecemos. 
- Vocês são os Filhos de Pory? – Indagou um cidadão no meio dos ali presentes. 
- Não, não somos Filhos de Pory. Somos todos filhos do Grandioso Ser, inclusive Pory. Enquanto todos prestavam atenção nas palavras de Isabele, Gabriel projeta a imagem do esquema planetário do sistema solar. - De onde viemos, o céu é azul e temos apenas um Sol e uma Lua, como vocês podem ver se olharem para cima. A seguir, imagens da Terra à noite e de dia, mostrando o Sol e a Lua. Como já era de se esperar, aquele intenso burburinho voltou a frequentar o ambiente e em silêncio o casal permaneceu até que findasse aquele frenesi. A verdade que lhes trago, está muito acima das suas compreensões, mas já vivemos em circunstâncias parecidas com a que hoje vocês vivem aqui em Yron e por esse motivo somos considerados Deuses,... Mas não somos. 
Neste ínterim, um cidadão tenta tocar em Gabriel, que ao perceber a investida, ele desapareceu instantaneamente fazendo com que a multidão voltasse a sentir medo e logo a seguir sua voz foi ouvida por todos sem seu corpo estar presente:
-“Para o bem estar de todos, pedimos que não nos toquem”.
Então, Isabele prosseguiu: 
- Não estamos aqui para tomar o lugar de Pory de vossos corações, mas acrescentar sabedoria e vos auxiliar na senda do processo evolutivo de Yron. Yron não é o centro do Universo, também não é melhor nem pior que mundos similares a este.
Enquanto Isabele dava sua resumida “aula” de astronomia, diversos hologramas eram exibidos de forma sistemática e simples mostrando aquelas pessoas outra realidade jamais imaginada. 
Os yronianos mostravam-se bem receptíveis as informações e aos poucos o medo e o temor abria espaço ao deslumbramento, que lhes preenchiam de coragem para perguntas pertinentes aquele assunto. Alex e Velma, agora faziam parte daquele grupo de “alunos”, mas no fundo sabiam da importância que tiveram para que tais acontecimentos viessem à tona e tudo o que mais queriam era o retorno de seus amigos ao seio do seu convívio. 
Prosseguindo, Isabele explica que Yron não é o único Planeta habitado na vastidão do Universo:
- O Universo é repleto de vida e muitos Planetas similares a Yron se escondem na escuridão do desconhecimento. A jornada para obtenção do conhecimento é longa e não raro muito sofrida, mas quando conseguido se apressa e se avoluma mostrando novos horizontes, novas certezas e infinitas possibilidades.
Em meio a breve pausa de seu pronunciamento, um ancião pergunta: 
- De que conhecimento está falando? 
- Refiro-me ao aprendizado, a sabedoria e a compreensão. Entender que por maior que seja a crença numa divindade, nada se consegue sem esforço próprio e uma vida apenas não basta para se atingir um nível significativo na obtenção destes quesitos. Os avanços são morosos e muitas vezes dados como intangíveis, mas com paciência e perseverança conseguidos. A perfeição é nossa meta e devemos lutar por ela, mas não sem antes compreender que temos nossas limitações e por isso aceitá-las, mas usando a sabedoria, retocando-as para que trabalhem em nosso favor. 
- Como nossas limitações podem ser vencidas por esta suposta sabedoria? 
- Usando ferramentas, não se pode pregar uma taboa sem um martelo! - A necessidade contribui para com o avanço. 
- Mas Pory nos presenteou com Yron e aqui temos fartura, o que ganharemos adquirindo sabedoria? –
- Precisam avançar, pois teus filhos morrem precocemente e a evolução do Planeta seriamente comprometida. 
- Rogamos a Pory e entregamos em suas mãos o destino de nossos filhos. Quando somos atendidos agradecemos pelos milagres e quando não, nos consolamos com a partida, pois sabemos que nossos filhos estarão sob a proteção de Pory. 
- Aceitam, mas sofrem por que nada podem fazer. Podemos lhes auxiliar ensinando-os a erradicar algumas moléstias, mas para tanto, precisaremos que compreendam que não somos Deuses, mas seres dispostos em vos ajudar e que assim como vocês, apesar de mais evoluídos, também temos nossas limitações. 
- Diga-nos mais sobre esta evolução, como adquiriram poderes? 
- Esta era a pergunta que mais esperávamos e se tiverem paciência muito poderemos esclarecer. Devem estar cientes de que não é colocando todas as suas expectativas em Pory, que conseguirão alcançar algum tipo de supremacia, pois que o livre arbítrio vos foi concedido com a clara intenção de discernimento para atingirem e galgarem de postos mais avançados na senda a que me refiro. Pory é o Deus regente de Yron, assim como outros Planetas possuem Deuses regentes em estado evolutivo equitativo a Pory. Entendam, Pory é o Deus de Yron, mas não é o Deus de onde viemos, mas isto não lhe tira os méritos que tem, portanto é o Deus regente, governador deste Planeta. 
O Grandioso Ser está para os Deuses, assim como os Deuses estão para nós. Não temos como medir, avaliar ou compreender, nem tão pouco inserir palavras que possam expressar a magnitude do Grandioso Ser, a sua obra e muito menos seus desígnios, mas sabemos que com esforço, estudo e dedicação, mais próximos dos Deuses, nossos criadores estaremos. 
Isabele é interrompida por uma pergunta feita por Velma: 
- Então, você afirma que devemos crer em vários Deuses, não seria Pory o Grandioso Ser? 
- Não devem acreditar em vários Deuses, apenas em Pory, teu Deus, mas não é Pory o Grandioso Ser, Este não tem como ser mensurado. Todos os Deuses estão qualificados e comprometidos com os desígnios do Grandioso Ser, o verdadeiro mentor e criador do Universo, magnânimo para os Deuses, assim como Pory e todos os outros Deuses regentes de cada Planeta habitado, também o é para cada um de nós. 
Neste momento, Gabriel expõe através da holografia, a imagem dos Planetas Yron, Terra e também dos Sois que iluminam os respectivos Planetas, lado a lado, com seus tamanhos e medidas de acordo com o raio equatorial dos mesmos, mostrando que o primeiro tem o dobro do tamanho do segundo e que em relação aos Astros os Planetas quase desaparecem. Posteriormente, pede aos presentes que façam uma rápida avaliação e que mensurem suas próprias dimensões em relação às dimensões dos Planetas e dos Astros. Todos ficam estarrecidos e de certa forma decepcionados, com o ínfimo e módico tamanho a que foram reduzidos.
Isabele volta a se pronunciar:
O que acabaram de presenciar é apenas um pálido reflexo do que temos no Universo, existem Astros de tamanhos incomensuráveis, que nos submetem ao estado de infinitas frações de um pequeno grão de areia. Esta realidade nos dá uma pequena prova da extraordinária magnitude do Grandioso Ser, que tem sob seu comando os Deuses que lhes prestam serviços, a fim de atender as demandas para o qual foram designados. 
A noite já estava alta e diversas perguntas e questionamentos dos assuntos ali abordados, foram suspensos com a promessa de um breve retorno pelo casal, para dar sequência ao árduo trabalho pelo qual se comprometeram. Assim a primeira sessão é dada por encerrada, com o desaparecimento de Isabele que teve a imagem de seu corpo a princípio muito reluzente e posteriormente o esmaecimento até sumir. 
Capítulo 10 
As controvérsias
Mais um dia acontecia no Planeta Yron, mas agora aquele povo havia muito a discutir e avaliar, afinal não era todos os dias que recebiam a visita de seres com a supremacia dos terráqueos. Apesar de enfatizarem que não eram Deuses, os yronianos assim os consideravam, principalmente pelo espetáculo presenciado na noite anterior, inclusive Alex e Velma, que agora distribuíam o jornal “A Informação”, tendo estampado na primeira página os seguintes dizeres: “Eles não são Filhos, mas enviados de Pory”. 
Muitos yronianos dirigiram-se ao Movimento Popular na expectativa da aparição do casal logo pela manha, motivo pelo qual, estava extremamente congestionado, vários deles até montaram acampamento aguardando nova aparição, mas não aconteceu. 
Infiltrados na multidão, lá estavam os terráqueos usando os disfarces, que lhes tornavam totalmente irreconhecíveis. Ambos pareciam mais velhos e seus cabelos estavam grisalhos, além de estarem mais gordos com suas vestes maltrapilhas que denotavam a simplicidade e humildade própria do povo yroniano. Obviamente o assunto no Movimento Popular não poderia ser outro senão o que tivera sido abordado pelo casal. Alguns entenderam a mensagem, enquanto outros mantiveram a velha opinião formada, onde o debate sobre o tema trazia consigo controvérsias quando religião e fé vinham à tona naquele intenso repertório. Isabele e Gabriel, puderam assim recolher informações de extremo valor, obtidas pelos pronunciamentos dos próprios yronianos a respeito do que compreenderam, interpretaram e que agora serviam de opiniões as controvérsias destacadas durante os debates que participavam, sem mesmo terem investido em nenhum momento, algum tipo de troca de informações. Ficaram surpresos em ouvir um ancião dizer que os terráqueos eram enviados de Pory e que toda aquela encenação era uma prova para testar suas crenças naquele Deus e que obviamente se tivessem sua fé abalada, poderiam sofrer vários castigos. Outro, afirmou que recebeu a visita do Deus Pory em seus sonhos, pedindo para que não caísse na tentação em acreditar nas palavras e ilusões dos malfeitores. A melhor avaliação ouvida partiu de uma senhora que dizia ter compreendido a mensagem, simplesmente afirmando nunca ter testemunhado algum tipo de milagre, não só em sua vida como na de seus entes queridos. Assim, recheados de argumentos e opiniões, o casal retorna a “casa base” e se preparam para a segunda investida. 
A segunda aparição ocorreu com base no que testemunharam. Os terráqueos ofereceram aos yronianos um espetáculo não menos surpreendente que na sua primeira aparição ao anoitecer daquele mesmo dia:
Por intermédio de “Magno”, se produziu uma sinfonia em som quadra estéreo nunca dantes ouvida por aquele povo. Com riquíssima melodia, tão apurada em seus mínimos detalhes, que lhes soava como sons celestiais. Ao final da canção, a aparição do casal foi realizada com feixes de luzes iridescentes em meio à névoa artificial lançada propositadamente, que ao se dissipar vagarosamente mostravam a silhueta dos terráqueos. Foi como se tivesse sido a primeira vez, porquanto, causou arrepios e convulsões entre os yronianos. Tão logo o silêncio foi restabelecido e os ânimos acalmados, a voz de Isabele foi ouvida aos quatro cantos por se ter utilizado o mesmo instrumento que produziu a melodia: 
- Meu nome é Isabele. 
- E o meu, Gabriel. 
- Somos terráqueos e vivemos no século XXVII. 
- Uma diferença de aproximadamente 867 anos a frente deste tempo. 
- Podem avaliar esta diferença de tempo numa pequena escala da evolução? 
- Sabemos que não e por isso, voltamos a enfatizar que não somos Deuses e nem tão pouco enviados por Pory ou qualquer outro Deus. 
Estamos aqui para vos auxiliar, sem nada pedir em troca, por nossa livre e espontânea vontade. Não pedimos que abdiquem de Pory e compartilhem nosso Deus, lhes mostramos apenas uma nova forma de pensar e agir, onde os maiores beneficiados serão seus filhos, os filhos de Yron. Se não o quiserem, estamos prontos para partir e não mais retornaremos a Yron. O que vocês querem? 
- Fiquem, queremos que fiquem! 
- Fiquem! 
- Fiquem! 
A resposta não poderia ser outra e Isabele prossegue: 
- O que tens presenciado e a admiração a que chamam de “espetáculo”, quando de nossas aparições, em nosso Planeta é difundido como “tecnologia” e não representa praticamente nada daquilo podemos fazer. Para vocês, tudo é interpretado como divino, um equívoco justificado pelo desconhecimento e incompreensão dos fatos. Há cerca de 900 anos, também estávamos em patamares parelhos ao que hoje vivenciam em Yron, onde tudo era divino e não raros interpretados e justificados por fontes religiosas. Nossos horizontes não ultrapassavam aos pálidos reflexos de uma constituição humana centralizada no poder divino, onde a sorte dos acontecimentos era atribuída aos Deuses. De uma forma ou de outra, a evolução é constante e não cabe em si. Alguns gênios se entrelaçaram em períodos distintos unindo religiosidade e ciência, determinantes ao nosso crescimento. Estes gênios não eram divindades ou seres sobrenaturais, mas estudiosos que em muito contribuíram, para que chegássemos aos patamares onde hoje nos encontramos. É um processo vagaroso e requer persistência e dedicação. Atos conclusivos, não acontecem da noite para o dia, por isso os filhos e os filhos dos filhos de Yron serão os beneficiados. A partir do momento que compreenderem que o Seu Criador já fez a sua parte tendo lhes criado e que seus desígnios são imutáveis, não interferindo, beneficiando ou castigando a quem querem que seja deixando o livre arbítrio direcionar as suas caminhadas na senda a que foram incumbidos. 
Diferentemente da noite anterior, a plateia ouvia em silêncio as palavras de Isabele, sem questionar ou interrompe-la com perguntas, parecendo assimilar aquelas palavras, como se ouvissem música, hipnotizados por ela. 
E mais uma vez, Isabele prossegue: 
Na Terra, nossos estágios evolutivos foram divididos por Eras Astrológicas, sendo levados em consideração os períodos que atravessamos de acordo com a posição dos astros celestes. Neste momento, Gabriel expõe a grande roda astrológica com os signos do Zodíaco e Isabele fala sobre a Era de Peixes. Esta é uma Era fundamental para Yron, assim como foi para nosso Planeta por várias gerações. Hoje, Yron vive essa mesma Era que se compreende num estágio evolutivo relacionado ao aprimoramento religioso, ao conceito de moralidade e fé atribuído a um Deus, neste caso a Pory, vosso Deus. Durante este período, os povos vivem alienados e presos a condições divinas e religiosas, por assim entender que o inexplicável é sobrenatural. Desta forma, os povos atribuem toda a sorte dos acontecimentos a uma vontade superior, sejam elas boas ou ruins, porém, também está condicionada a fé, que nutre o intercâmbio entre divindades e os homens. Mesmo sem provas ou embasamento científico, milagres acontecem e pedidos são atendidos fazendo-se crer reais e estimulando a fé interior de cada um, com a convicção de proteção e merecimento. Por outro lado, o amor e a compaixão, também são difundidos e esta é uma razão nobre entre os povos, onde o respeito mútuo e a moral culminam com o entendimento, que é a base inicial para o desenvolvimento da tecnologia. 
Uma seta deslocou-se da Era de Peixes e passa para a de Aquário. 
Aquário, é a Era da tecnologia, Era vivida atualmente em nosso Planeta, a Terra. A mudança da Era de Peixes para a de Aquário, não aconteceu de um momento para outro, como visto na passagem da seta, na verdade o período de uma Era é de aproximadamente 2600 anos terrestre, o equivalente a 766 anos de Yron. A transição, também é morosa e precisamos de mais 400 anos para perceber a verdadeira mudança. Nesta escala, Yron precisará de aproximadamente 255 anos. 
Somente constatamos que havíamos saído da Era de Peixes para Aquário quando realmente conquistamos avanços tecnológicos significativos que nos conduziram a descobertas que nos possibilitaram desvendar os mistérios considerados como divinatórios por várias gerações. Não podemos mudar estes ciclos, porque obedecem a uma lei natural, mas vos adiantar para que as gerações futuras tenham melhor compreensão minimizando pelo menos o período de transição, que certamente é eminente. 
Depois do silêncio, uma pergunta: 
- Como podemos acreditar que não seja uma Deusa, uma enviada de Pory? 
- Estou tão distante dos Deuses, que assim como todos vocês, não posso nem ao menos intuir ou decifrar seus mistérios. Mas posso garantir que os nossos Deuses não interferem de forma alguma em nossas vontades. A prova disto é que se Pory não está interferindo em nossas aparições, das duas uma: Ou está satisfeito com o que temos realizado ou verdadeiramente não pode ir contra suas próprias leis. 
Nós somos os juízes dos nossos atos e atitudes, portanto nos cabe apenas o discernimento das nossas ações. 
Por hoje e só povo de Yron. Retornem as suas casas e reflitam, estaremos ausentes por alguns dias, mas em breve voltaremos a nos comunicar e simplesmente desaparecem. 
A sós com Gabriel, Isabele expôs novos argumentos que a primeira vista lhe pareciam convincentes, pois seus pensamentos transbordavam em novas ideias, mas Gabriel se diz cansado postergando a conversa para outro momento. Tomou uma ducha gelada e foi repousar. Sozinha e pensativa, Isabele fez o mesmo encerrando assim, mais um dia efetivo em Yron. Quando o dia amanheceu, Gabriel levantou-se primeiro. Preparou um café e serviu a sua companheira uma deliciosa refeição matutina na cama. Já dispostos e revigorados, iniciaram uma conversa que resultaria em briga do casal, aparentemente por motivos fúteis: 
- Porque só você fala Isabele. 
- Como assim, precisei começar e concluir meu raciocínio. A hora passou rapidamente e dei a palestra como encerrada. 
- Mas eu nem abri a boca, apenas me apresentei, mais nada. 
- Se você precisa de méritos para se sentir melhor, tudo bem, faça a próxima palestra, vá em frente. 
- A questão não é precisar de méritos, mas me sentir participativo. 
- Você está participando, só que ontem, comecei e não tive como parar. 
- Mas poderia ter me dado uma brecha. 
- Mas não dei e não tenho como mudar isto. 
- Seja mais humilde e pelo menos me peça desculpas. 
- Me desculpar de que Gabriel? - Não acho que lhe devo desculpas, mas se for melhorar seu humor, tudo bem, desculpe-me! 
Chateado, Gabriel bateu a porta e foi para a varanda sentar-se no murinho da sacada e escondido em seu disfarce assistia as pessoas que caminhavam para o trabalho. O dia não começou bem. Ficou ali por aproximadamente uma hora e até viu e foi cumprimentado por Alex e Velma, que não desconfiaram de nada e sentiu saudades de um ombro amigo com quem pudesse dividir a amargura que sentia naquele momento. Sentindo-se deslocado, escreveu um bilhete avisando que voltaria para a Terra por algum tempo, afixou na porta de entrada e desapareceu. 
Ao ler o bilhete, Isabele sentiu-se só e desprotegida, mas não deu o braço a torcer e mergulhou nos ensinamentos de “Magno”, fazendo pesquisas para o preparo das novas reuniões que estavam por vir.  
Capítulo 11
Gabriel reencontra Naomi 
Gabriel voltou a Terra e foi direto para o seu apartamento no Rio de Janeiro, abriu a janela e deu de cara com a praia de Copacabana. Ficou por alguns momentos vislumbrando o visual, até que se voltou para o interior do apartamento e percebeu o quanto aquele lugar estava sujo e abandonado. Faz rápida comunicação telepática e contratou uma equipe especializada em conservação e limpeza. Enquanto aguardava a chegada dos profissionais, ele tirou o seu disfarce e colocou seu traje de surfista e pegando a sua prancha foi para a portaria do prédio. Deixou dinheiro e instruções ao porteiro, que fez um rápido comentário sobre sua ausência e Gabriel lhe respondeu que estava fora do País a negócios. Virou as costas e foi direto para praia. Entrou no mar, pulou sobre a prancha e com vigorosas braçadas atingiu o ponto desejado. Sentou na prancha e pacientemente aguardou por sua onda, enquanto respirou fundo e se deliciou com o Sol, o balanço das águas e o vento. Saudoso e extasiado com aquele momento, não quis pensar em Isabele e nem se preocupar com o povo de Yron, apenas aproveitar as sensações daqueles instantes. Ficou naquela posição por aproximadamente 30 minutos até que sua esperada onda chegou e de pronto sem titubear não a deixou escapar. Seu coração batia forte e como uma flecha projetada num imenso tubo, flutuou naquele vão até o final do percurso. Foi à onda perfeita e para não estragar tal sensação, preferiu não pegar outras. Enterrou a prancha na areia e ficou por longo tempo observando as pessoas em seu entorno. 
Considerando os dois mundos, disse a si mesmo: Aqui é meu lugar. Vai ser difícil sem Isabele, mais aqui é meu lugar. 
Ao retornar a seu apartamento, sentiu o cheiro típico de limpeza e notou a grande diferença entre o antes e o depois. Tomou um banho, se aprontou e saiu para fazer uma refeição. No restaurante, pediu um suculento bife com fritas, matando a saudade da típica comida que há muito não comia. De sobremesa, sorvete de pistache com cobertura de chocolate. Ao terminar a refeição que admitiu ser um pequeno banquete, pagou a conta e saiu caminhando pelas ruas de Copacabana. Atravessou por uma passarela e chegou ao outro lado numa pequena praça, onde pode sentar e contemplar de um lado os colossais prédios e do outro o mar iluminado pelas luzes artificiais e a Lua cheia, que já estava alta e escondia as estrelas. Seu pensamento agora estava com Isabele e tomado por um leve impulso levou a mão ao chip, mas foi interrompido por uma voz conhecida: 
- Gabriel? 
- Naomi, que surpresa. 
- Eu moro aqui em frente e todos os dias quando chego do trabalho venho caminhar para manter a forma, e Você? 
- Também moro aqui perto. 
- Vocês desistiram de Yron? - Isabele também está aqui? 
- Vai ser difícil desistir de Yron, eu vim sozinho. Como vai Joshua e as coisas na CSLB? 
- Tivemos um desentendimento e sai da Companhia, mas já estou trabalhando em outra empresa no mesmo ramo. Que bom te reencontrar Gabriel, todos os dias venho aqui fazer alongamentos, então, já sabes onde me encontrar. Agora preciso ir. 
- Certo, foi um prazer te rever também, até mais. 
- Até. 
Naomi se distanciou cerca de dez metros e começou sua série de alongamentos, enquanto Gabriel observava suas curvas, admirando seu belo corpo enquanto se lembra dos olhares que trocaram no descampado em Yron. Passados alguns minutos, ele se levantou e acenando para ela partiu. 
Ao chegar a seu apartamento foi deitar-se na cama e confuso entre dois mundos e agora duas mulheres, se deixou vencer pelo sono dormindo profundamente. 
A madrugada chegou trazendo uma surpresa inesperada, Isabele em carne e osso aparece no apartamento e a julgar pela conservação do recinto, entende que Gabriel não estava disposto a retornar a Yron tão cedo. Decidida, adentrou no quarto e o acordou com uma pergunta: 
 - Você não pretende voltar? 
Gabriel pensou estar sonhando e ainda sonolento respondeu: 
- Eu não sei! 
- Nós fizemos um acordo e por motivo fútil, me deixa sem dar explicações? 
- Estou confuso Isabele, sinto falta da Terra, da minha vida aqui. Por outro lado, eu te amo, mas preciso refletir para dar o passo certo. 
- Mas eu pensei que esse passo já havia sido dado, por isso não tive dúvidas em me estabelecer em Yron. Você é muito importante e o projeto é nosso e não só meu. 
- Eu sei, mas ao retornar, percebi o quanto sou dependente daqui, da minha vida na Terra. 
- Então, fique no conforto da sua vida medíocre e não me procure mais, eu vou acabar o que comecei. Adeus. 
Decepcionada, Isabele se agacha, põe as mãos nos ouvidos cerra os olhos e desaparece sem deixar vestígios e oportunidade para contra argumentos. 
- Isabele, espere! 
- Isabele. 
Neste instante, Gabriel se dá conta que seu romance havia chegado ao fim, então, sentou-se na cama e pôs as mãos no rosto chorando o lamento do seu coração. Dois dias se passaram e Gabriel chegou à conclusão que precisava recomeçar: Esquecer Isabele e sua jornada no Planeta Yron, para isto, deveria voltar às antigas rotinas, rever amigos, praticar o surf e conseguir novo trabalho. 
Naquele mesmo dia começou pelo surf e reencontrou velhos amigos. A noite dirigiu-se a praça com a intenção de encontrar Naomi e lhe pedir emprego pois, sabia que estava bem conceituada no mercado de trabalho, além de não negar-se a atração que havia sentido. Quando chegou, ela já estava lá. Aguardou até que terminasse seus alongamentos, se aproximou e apenas disse: 
- Oi! 
Ao lhe ver, Naomi abriu um largo sorriso, trocaram dois beijos e respondeu: 
- Oi, estou suada e você tão cheiroso. 
- Vim conversar contigo. Tem um tempo livre? 
- Claro! – Só preciso de uma ducha. Que tal no meu apartamento, assim podemos pedir algo e jantarmos juntos. 
- Topo! 
- Então vamos. 
- Estou curiosa, você não vai voltar para Yron? 
- Não, eu e Isabele terminamos. 
- Sinto muito. 
Naomi na verdade, estava muito interessada em Gabriel, tanto que havia feito várias pesquisas, procurando se informar e se inteirar a respeito de sua vida. Obteve algumas informações, através dos antigos colegas da CSLB e no fundo sabia que aquela noite estava apenas começando. 
Capítulo 12 
Isabele revoluciona ao falar de inventos 
Machucada, Isabele voltou para Yron e conhecendo-se, tinha plena convicção que poderia dar continuidade a seu projeto mesmo que sozinha, por saber que sua determinação sempre fora a mola propulsora que alavancava suas vontades. Estava muito chateada, pois o homem em quem confiou para juntos fazerem história havia desistido, mas que não seria este o motivo que a faria desistir também. “Magno” agora seu braço direito receberia novas programações e mesmo sem poder contar com ajuda humana desempenharia funções que antes eram ministradas por Gabriel. Desde que voltou, ela trabalhou incansavelmente na preparação da terceira aparição aos yronianos. Segundo seus estudos e cálculos, aquele povo estaria apto a receber informações sobre uma possível revolução industrial, fator que contribuiria na expansão mais apropriada ao momento de sua história.
A terceira aparição aconteceu  no terceiro dia por volta das 18h, quando surgiu da mesma maneira que na segunda aparição modificando apenas a música de fundo, que foi ouvida e ovacionada na comunidade. Diferentemente das duas primeiras aparições, Isabele desta vez não tocou em assuntos religiosos e se pronunciou falando sobre expansão e inventos que facilitaria a experimentação e estudos que pudessem culminar na aplicação do desenvolvimento de novas técnicas de diferentes máquinas e equipamentos, úteis a realização de significativas transformações em várias áreas. 
Classificando as áreas de Agricultura, Astronomia, Eletricidade, Física, Indústria, Medicina, Minas, Navegação, Química e Transportes, como sendo as de maior relevância e primordial para seu desenvolvimento, ela deu exemplos de inventos passíveis de serem realizados, tais como: 
- Máquina de semear e máquina a vapor para Agricultura. 
- Luneta astronômica e telescópio de espelhos para Astronomia. 
- Para-raios e eletricidade por meio de fio isolado para Eletricidade. 
- Pêndulo para Física. 
- Máquina de fiar automática. 
- Fundição de Ferro. 
- Tear a vapor para Indústria. 
- Vacinas para Medicina 
- Máquinas a vapor para Minas. 
- Barômetro de mercúrio para Navegação. 
- Análise do ar e da água para Química. 
- Bicicleta para Transporte. 
Enquanto Isabele explicava detalhadamente os possíveis inventos, muitos foram aqueles que fizeram anotações e perguntas específicas. Certamente de alguns, bons seriam os frutos colhidos. Despediu-se dando por encerrada aquela reunião convencida de que havia atingido mais um objetivo e desapareceu instantaneamente sem deixar vestígios. 
Vale ressaltar que tais aparições estabeleceram um marco no Planeta Yron e a cada uma delas, maior contingente de yronianos participavam dos eventos fazendo com que o Movimento Popular passasse a ser chamado de “Terra das aparições”. Não obstante, devido à expressiva frequência de yronianos vindos de todas as partes, aquele lugar tornar-se-ia inviável às reuniões obrigando Isabele a providenciar meios que pudessem atender tal demanda. 
No dia seguinte já com seu habitual disfarce, foi até o descampado com a intenção de averiguar as condições do lugar, para que ali pudesse se tornar o novo lugar das aparições. Após terminar as análises e medições concluiu ser perfeitamente acessível a um público de aproximadamente Um milhão de pessoas. Voltou para “casa base” e contou os “feijões dispositivos remotos” de que dispunha. Contou 1.900, número que atenderia aproximadamente um grupo de 526 pessoas para cada dispositivo. Colocou-os numa sacola e usando o chip desapareceu indo diretamente ao ponto mais alto do descampado. Lá chegando, atestou ser uma pedra inacessível para os que tentassem escalá-la, por ser muito íngreme e estar cercada por densa vegetação. Era o ponto ideal para suas próximas aparições. Desapareceu e apareceu no solo, observou que a pedra, tinha aproximadamente dez metros de altura e começou a distribuir estrategicamente os feijões em pontos furtivos, como pedras e pequenos arbustos por toda região, que mesmo se utilizando do chip despendeu praticamente do dia inteiro no árduo trabalho. Exausta, ela voltou para “casa base” e tomou uma ducha, ao terminar fez uma rápida refeição e deixou os testes para o dia seguinte indo para a cama repousar. Apesar do cansaço, seus pensamentos agora estavam com Gabriel, mas sabia que não poderia mais contar com ele e que tal sentimento teria de ser excluído se quisesse obter êxito. 
Ao despertar, se virou e olhou para o travesseiro a seu lado e antes que os pensamentos tomassem conta da sua nova realidade pulou da cama, agora pensando em tudo que precisava fazer. Depois de um frugal café, iniciou os testes junto a “Magno” indo e voltando ao descampado, se certificando de que tudo estava de acordo. Por volta das 13 h, foi ao Movimento Popular e asseverou o que já havia previsto: Um número sem fim de pessoas que se estabeleciam a espera de uma nova epifania. Mais uma vez se infiltra entre alguns grupos e tem a satisfação de ouvir discussões a respeito dos inventos e os assuntos abordados na noite anterior. Ficou surpresa ao notar que em nenhuma conversa o nome de Pory tenha sido mencionado, fato este que lhe serviu de embasamento para a próxima aparição. Comprou o jornal “A Informação” e outra perplexidade: Os papiros agora eram amarrados e o jornal circulava em folhas e não mais enrolados como de início. Contou doze páginas, onde todo conteúdo se baseava no detalhamento dos inventos que havia explanado. Orgulhosa dos irmãos fez comunicação telepática com ambos elogiando-os pelos serviços prestados. Obviamente, Alex e Velma agradeceram e perguntaram quando o casal voltaria a reencontrá-los, mas Isabele limitou-se respondendo somente que voltaria assim que concluísse alguns objetivos e saiu da sintonia. 
Retornou a “casa base” e preparou sua última palestra no Movimento Popular para aquele mesmo dia, como de costume sempre ao anoitecer. 
As 18 h mais uma bela melodia estava sendo entoada, o que revelava o presságio de outra aparição. Após o costumeiro alvoroço seguido de profundo silêncio, Isabele se materializou desta vez como ondas sonoras projetadas por feixes de laser que circundavam seu corpo em tons de verde e azul ultra claro causando espanto e admiração aos presentes. Isabele hoje trajava uma túnica branca com detalhes florais dourados que reluziam quando atingidos pelos feixes projetados. 
- Povo de Yron! - Para aqueles que ainda não me conhecem, me chamo Isabele e devo informar que meu companheiro foi designado para outro projeto. Desta forma, restou para mim à incumbência em lhes transmitir esta reunião doravante sozinha. 
Estou muito feliz em ter constatado que entenderam e aprovaram tudo que foi abordado na noite anterior. Destaco o jornal “A Informação”, que detalhou os pormenores das invenções que certamente vos elevarão a outros patamares. 
- Como sabes que aprovamos e também o que foi escrito no jornal? - É por não compreender estes poderes que te endeusamos. 
- Esta é uma prova de que não sou deusa, pois estou entre vocês. 
- Fale-nos de seus poderes. 
- Já lhes falei de onde vim, quem sou e qual meu objetivo em Yron, de certo aqueles que não estiveram presentes nas outras palestras precisam ouvi-las da minha própria boca, mas sei que muitos compreenderam e podem transmitir a mensagem, de outra forma estas reuniões seriam cansativas e redundantes. Faço aparições espetaculares, por assim entender que estes objetivos serão alcançados mais rapidamente. Se me apresentasse de maneira comum, hoje a maioria não estaria aqui presente. Aproveito para lhes informar, que devido ao crescente número do contingente de participantes, minhas aparições passarão a acontecer no descampado, vos dando assim melhor visibilidade e também acomodação, portanto, a partir da próxima aparição em diante dirijam-se para lá. Centenas de perguntas foram feitas e pacientemente, Isabele as respondia uma a uma esclarecendo dúvidas, dirimindo equívocos, conquistando e fazendo com que compreendessem os verdadeiros motivos de sua estada em Yron. Até que uma pergunta lhe chamou a atenção: 
- Se não és uma deusa, como podemos crer que nos conduza ao caminho certo? 
- Não posso intervir sobre o certo ou errado, mas lhes conduzir por caminhos já trilhados, vivenciados e conclusivos adiantando-os por experiência e, encurtando desta forma a trilha que devam seguir. 
- E se não estiverem de acordo com os desígnios de Pory? 
- Caberá a vocês o recurso do livre arbítrio. Suas escrituras relatam acontecimentos em tempos remotos idos de um povo não mais presente nos dias atuais, portanto passíveis de transcrições obliteradas ou alteradas. Isabele aos poucos tentava mostrar aquela gente simples, que acreditar em tudo que lhes fora passado sem questionamentos, daria margem à atribuição de hipóteses além da compreensão que tinham e dessa forma prossegue:
- Como irão explicar minhas aparições a seus filhos? - Dependendo da forma como estejam interpretando, eles poderão entender equivocadamente o que hoje presenciam. Pensem mais adiante, nos filhos dos filhos e assim por mais mil anos, de que forma essa história será contada? Pensem e reflitam! Estarei ausente por dois dias, vos aguardo no descampado e subitamente desaparece. 
Capítulo 13 
O reencontro com os Irmãos yronianos 
Terminada a palestra, Isabele fez comunicação telepática com Alex e perguntou se estaria muito tarde para uma visita. Cordial como sempre, Alex respondeu que nunca é tarde para receber a visita de uma deusa, e muito feliz pede que se apresse para estarem juntos novamente. Em poucos minutos Isabele se aprontou e mais uma vez usa o chip para não ser vista nas ruas. Ao aparecer literalmente na sala de estar da casa dos irmãos foi recebida com muita alegria e assim iniciam um longo diálogo. 
- Isabele que saudades, me dê um abraço, assim pediu Velma. 
- Eu também senti saudades de vocês. 
- Alex como vai esta força? 
- Tudo certo, mas devo admitir que depois da sua partida e as últimas aparições lá no mercado, estou um tanto quanto confuso. 
- Como eu posso estar causando confusão? (sorrindo ironicamente). 
- Nem eu e mais ninguém, conseguimos imaginar como fazes para aparecer e desaparecer, assim do nada! 
- Por favor, Isabele me explica isso. 
- Caro Alex, querida Velma, muitas coisas estão em questão: A princípio o povo de Yron, pensaria ser mágica ou bruxaria e meus objetivos não seriam alcançados. Por outro lado, se lhes revelasse meus segredos, sem desmerecer ou duvidar das suas capacidades, ainda não possuem este nível de compreensão. Entretanto, posso adiantar que tudo se deve a tecnologia, por isto tenho me empenhado em lhes passar valiosas informações. 
- Se entendi pelo que tenho presenciado, no futuro poderemos fazer o que você faz? 
- Exatamente. O futuro do povo de Yron é tão promissor, quanto foi para nossos antepassados na Terra. 
- Que pena ser um futuro tão longínquo! - Não viverei o bastante para ver e também realizar tais proezas. 
- Nunca se sabe meu amigo, nunca se sabe! 
- Velma, o que está achando da forma com que tenho conduzido às palestras? - Estão de acordo ao esclarecimento das aparições, que causaram nossas divergências? 
- Sem dúvidas Isabele, por isso acredito que está fazendo o melhor e não só eu, mas todos os yronianos só têm a te agradecer. 
- Depois de algumas ponderações creio que este imbróglio trouxe resultados positivos, pois me sinto livre para agir e auxiliar de forma mais célere e persuasiva. Na verdade, nunca pensei estar no ponto em que nos encontramos. Quando vim à Yron, minha vontade era apenas constatar aquilo que eu já sabia, ou seja, provar a existência de mundos correlatos em estados evolutivos diferentes. 
Velma pergunta se Isabele está com fome e obtendo resposta afirmativa sai da sala e vai preparar alguns petiscos, enquanto Alex providencia uma bebida, chama sua irmã e propõe um brinde: 
Ao seu retorno Isabele! 
- Obrigado amigos 
- Veio para ficar estou certo? 
- Não Alex, não posso mais ficar aqui, isto também poria o projeto em risco. 
- Compreendo. - E Gabriel quando volta? 
- Não sei se voltará meu amigo. 
- Ele foi afastado do projeto? 
- Houve um pequeno desentendimento e ele se afastou voltando à Terra. 
- Não posso acreditar que Gabriel desistiu de você, como pode? - Me desculpe Isabele, mas estou em choque. Você está bem? 
- Sim, estou! - Em meu Planeta, laços amorosos são de curta duração, ademais, estou mais preocupada com o projeto do que com minhas relações afetivas. 
- Entendo. - Não posso nem intuir no quanto tem se empenhado, mas sei que você não está medindo esforços e te admiro muito por isso. 
- Obrigado, Alex. 
- A propósito, com relação às próximas aparições, você disse que aparecerá no descampado, calculo que milhares de pessoas estarão presentes, como pretende falar a essa multidão? 
- Espere e verás Alex, aguarde por uma surpresa. 
Velma voltou à sala trazendo os petiscos e Alex lhe colocou a par do que perdeu enquanto cozinhava, da mesma forma que Alex, Velma também ficou chocada, mas preferiu não entrar em detalhes resumindo a conversa num tradicional “sinto muito”. 
- Ouvi você falar a palavra surpresa Isabele, então, pode apresentar mais surpresas do que já têm mostrado? 
Assim como para Alex, ela tornou a dizer: 
- Espere e verás! 
Os irmãos cercaram-na de perguntas e uma a uma Isabele se desvencilhava não dando a mínima chance que pudesse intervir em seus planos. 
Percebendo que não conseguiriam extrair informações privilegiadas acabaram por desistir e mudaram o rumo da prosa. 
- Preciso que me façam um favor amigos. 
- Claro, sabe que pode contar conosco. 
- Preciso que repitam a edição do jornal com os detalhes sobre os inventos e reduzam o preço para metade do custo de venda, para que o maior número possível de pessoas tenha acesso a estas informações. 
- Mas se reduzirmos o custo de venda pela metade teremos prejuízo replicou Velma. 
- Não terão prejuízos, pois que venderão mais de 200 mil exemplares, onde o lucro estará embutido na quantidade, multiplicando em muitas vezes os seus ganhos. 
- Trabalharemos arduamente, mas assim o faremos completou Alex. 
Isabele se levantou e disse que adorou estar com os irmãos assim, abraçou-os calorosamente, despediu-se e desapareceu. 
No dia seguinte, Alex se empenhou em recrutar um pelotão de artesões e novos funcionários para que pudessem dar conta ao pedido de Isabele. Assim, aquela edição especial estaria pronta para o dia da próxima aparição de sua amiga. Com tudo acertado e um plano elaborado, ele colocou o trabalho em prática a fim de conseguir atingir tal objetivo. 
Capítulo 14 
Nas Montanhas de Yron 
Por sua vez, Isabele decidiu ir ao cume da montanha mais alta de Yron com a intenção de provar a si mesma, de que apesar de ser gigantesca, não poderia ser impérvia ou inexplorada. Considerando a altitude, se vestiu adequadamente, utilizando-se de outros equipamentos que trouxera quando do seu retorna a Terra. Era um dia muito quente, olhou para o cume e fixou seu pensamento partindo a seguir. Lá chegando, constatou não sentir frio, onde a temperatura estava bastante amena e olhou em seu redor. Não viu nada que pudesse interferir na sua estada naquela imensa montanha, então, dirigiu-se ao topo e teve a visão dos deuses: Pode vislumbrar as planícies do Planeta, com os dois Sois refletindo intensa luz, arrazoados por extensas sombras de outras montanhas menores, que mostravam ao fundo um céu rosa acinzentado, num complexo quadro, onde se dispunha de uma visão geral daquela paisagem. Retirou “Magno” do bolso e começou a filmar: primeiro este incrível visual e depois os arredores, por fim a vegetação daquele mundo. Guardou seu amigo inseparável e instintivamente começou a caminhar. Apesar da quietude e monotonia da montanha, vez por outra, deparava-se com fatos estranhos e belos relativos aquela natureza, não só pela temperatura agradável, mas também com a vegetação que era rasteira como a grama e possuía coloração que escapava de um verde muito claro tendendo ao branco quase incolor, que se estendia por vários trechos. Todavia, dos pequenos arbustos brotavam flores de tom violeta e rosa, que exalavam um cheiro próximo ao da alfazema. 
Usando a mobilidade através do chip, Isabele fez vários percursos de um ponto a outro onde julgasse próprio de se estar, quando numa dessas investidas deparou-se com imenso animal que se alimentava daquele misterioso arbusto. Escondida em outro arbusto, entre pedras e outras plantas distintas, lentamente voltou a retirar “Magno” do bolso, para filmar e solicitar uma análise minuciosa daquela criatura. Os resultados mostraram um organismo heterotrófico e diante as suas proporções, Isabele não pensava em ser sobremesa naquele cardápio e por precaução desapareceu dali. Continuando sua peregrinação, por várias vezes esteve em situação de encontros repentinos com animais nunca dantes vistos e por esse motivo voltou ao cume e deu uma última olhadela nas planícies retornando em segurança a “casa base”. 
Isabele permaneceu por aproximadamente três horas na montanha, afora os encontros com animais dantescos e o belo visual, agora registrado em seu equipamento, não julgou necessário despender tempo em um lugar que não acrescentaria algo de maior relevância em seus planos e objetivos.
Capítulo 15 
A surreal Isabele 
Yron estava em alvoroço com a promessa da aparição no descampado e grande era a movimentação de pessoas transitando e montando acampamento. A notícia de suas investidas tornara-se o assunto mais comentado e debatido em todos os tempos daquele Planeta. Muitos vinham de lugares longínquos e até largaram seus afazeres e o trabalho com a intenção de presenciar não só as aparições como também as palestras. Havia também a presença daqueles que ainda não haviam participado das reuniões, que eram incrédulos e estavam em bom número reunidos a fim de testemunhar a veracidade dos boatos que escutavam. Comerciantes transferiram suas barracas do Movimento Popular para o descampado e para não perderem seus lugares no dia seguinte, mantiveram-se por lá virando a noite se aproveitando da situação para lucrar com o evento. À medida que a hora avançava, a expectativa aumentava e um mar de yronianos se faziam presentes, contando um número de aproximadamente 700 mil, que com grande alarde aguardavam pelo anoitecer a espera da suposta deusa. 
A quarta aparição se fez pontualmente às 18h, quando Isabele se fez presente de forma surpreendente e ao mesmo tempo aterradora: Primeiro, a pedra se iluminou num tom de azul neon, em seguida a densa vegetação no entorno ficou verde fluorescente, depois uma fumaça no pico que enevoava toda a pedra tornando o lugar um palco perfeito e apropriado para sua aparição.
Assovios e gritos ecoavam por todo descampado até que a batida de um bordão de contrabaixo abriu espaço para entrada triunfal de um solo de guitarra, que veio acompanhado de sua aparição holográfica, mas para surpresa geral daquele povo, agora Isabele tinha cinco metros de altura, ou seja, ela é verdadeiramente um gigante. Estarrecidos e inertes os yronianos silenciaram e Isabele se pronunciou: 
Acalmai-vos! O que presenciaram não é magia, nem tão pouco divino. Apresentei-me nesta forma para que possam me ver e ouvir com nitidez, pois de outra maneira, principalmente os mais afastados teriam dificuldades em constatar a realidade que vos apresento. Notem! Neste momento, ela reduziu suas dimensões ao tamanho normal, ficou assim por quase 30 segundos e voltou ao tamanho descomunal. 
Surpresos e atônitos, os yronianos se questionavam como poderia se utilizar de tais poderes sem dispor de magia ou ser uma deusa. 
Isto é tecnologia! Palavra ainda desconhecida em Yron, mas que no futuro será amplamente difundida e utilizada. 
Durante as duas horas seguintes a sua aparição, Isabele faz um resumo de tudo o que falou nas duas primeiras reuniões. Mais calmos e receptivos aquele povo agora insistia para que falasse sobre Pory e não tendo como fugir de alguns questionamentos, Isabele projeta o filme que fez nas montanhas e prossegue com suas dissertações: 
- Eu estive nas montanhas de Yron, gostaria de ter me encontrado com Pory e lhes trazer algumas mensagens, mas tudo que encontrei foi um lugar de rara beleza e repleto de animais desconhecidos. Confesso que fiquei deslumbrada com a visão que pude assistir lá de cima e um tanto quanto receosa com os animais, mas nada, além disto, portanto reafirmo o que vos tenho dito: Pory não mora nas montanhas de Yron. O Deus Pory, só pode vos ouvir em suas preces e creiam-me, se não lutarem ou não se empenharem, vocês sempre estarão distantes da compreensão e consequentemente da evolução em curso. 
O sentimento de fé foi implantado com o objetivo de proteção, o que faz o homem atravessar as experiências da vida com mais confiança e altivez. A fé é o único sentimento que nos mantém em sintonia com os deuses e isto nos faz crer que todas as circunstâncias estão previamente ligadas a seus propósitos. Este é um sentimento singular  e portanto, podemos nos adiantar significativamente se usarmos a inteligência que nos foi concedida em nosso favor. Isto é o que tento vos mostrar. 
O que hoje lhes apresento, são manifestações pueris de onde venho, todavia atribuem como sendo atos divinatórios, mas não devem interpretar desta forma, uma vez que amanhã ao realizarem tais proezas, vocês mesmos é que serão considerados como deuses. 
Por fim, Isabele falou dos inventos apresentando um filme que mostra todas as possibilidades apresentadas em sua última aparição, com destaque para agricultura, indústria e medicina. Ao fim do filme, toda luminosidade se esvaiu lentamente, enquanto suas dimensões também foram reduzindo até ficar em seu tamanho real. Sem se despedir ou acrescentar mais comentários desapareceu instantaneamente e logo a seguir a pedra tornou-se incandescente e uma luz intensa emitiu claridade suficiente para iluminar todo descampado contribuindo assim para a retirada dos yronianos daquele lugar sem enfrentar a escuridão, que mesmo com os luares, não eram suficientes a boa locomoção. 
Várias pessoas permaneceram ali esperando por seu retorno, uma, duas horas e como ela não reapareceu tomaram cada qual o seu rumo voltando as suas casas. Outros, entretanto permaneceram até o dia raiar, momento este em que a luminosidade automaticamente também foi desligada. 
Contentes estavam principalmente os comerciantes que lucraram como nunca com a quantidade de pessoas que gastaram milhares de moedas durante aquele grandioso evento. O jornal “A informação” vendeu todas as 500 mil cópias que foram impressas, fazendo com que os irmãos rodassem nova tiragem para atender a demanda. 
Durante alguns dias, milhares de pessoas se concentraram no descampado esperando por outra aparição, mas nada acontecia e aos poucos tal movimento foi rareando até se dissipar.
Capítulo 16 
Missão cumprida em Yron 
Yron não era mais o mesmo Planeta depois de conhecer Isabele. Um ano se passou depois da sua última aparição e o assunto entre os yronianos agora eram debatidos de forma diferente, a palavra “tecnologia” se fazia presente por todos os lugares e em toda parte se ouviam rumores de novas invenções, novos talentos. De Isabele, nem os irmãos sabem do seu paradeiro, entretanto, não deixaram de tentar a comunicação telepática com intuito de terem uma resposta positiva. Alex absorveu tudo que podia a respeito das invenções e tornou-se conhecido com as invenções do papel e do telescópio. O Jornal ia de vento em popa, o Teatro em plena expansão e a Casa da Moeda, sob o controle de Velma, agora trabalhava secretamente no desenvolvimento do cunho de moedas de ouro, chamado em Yron de “Prush”. Um jovem conhecido como Tordelin, filho de Sammy, aquele comerciante do Mercado Popular estudou e trabalhou duro para se tornar o mestre da borracha e vem fazendo grandes avanços com o beneficiamento dos materiais emborrachados. Seu projeto atual é o envolvimento da mesma em torno das rodas. Jader, rico agricultor descobre a combustão a vapor e todos os esforços estão canalizados na obtenção de máquinas que possam contribuir e aumentar a produtividade no campo. Na medicina, estudos e projetos avançam na descoberta de vacinas para se conseguir a cura de algumas doenças, porém, nesta área ainda não são significativos. 
Os Yronianos não deixaram de adorar ao Deus Pory, mas passaram a compreender a vida de maneira menos exultada e subserviente colocando em prática o que aprenderam em prol do próprio povo, tendo como objetivo principal o estado evolutivo iniciado em Yron pela terráquea, seguido agora por centenas de milhares dos seus cidadãos. 
Fim.
Obrigado leitor (a) amigo (a) por viajar junto comigo para mundos fictícios e entrar em plena imaginação de possibilidades infinitas de outras realidades.
Eu me chamo Antonio Bencardino e também sou conhecido como Toni ou Toninho. Agora que me apresentei a você gostaria de te dizer que levei quatro anos escrevendo toda a história, portanto, ela não acaba em Yron. Eu considerei que este Planeta atravessa uma fase evolutiva que corresponde mais ou menos aos idos do Século XIX. Isabele a protagonista ainda tem muitas viagens interplanetárias pela frente e também ao passado e no futuro. Lembre-se que Isabele já vive no século XXVII e isso não a impede de aventuras tanto em seu passado como também além do seu tempo.
No próximo livro, Você vai conhecer Thronos um Planeta Medieval que têm apenas duas Nações e dois Reis que se digladiam, mas através do amor... Bem, não vou estragar a surpresa.
Muito progresso e felicidades a você!
Capítulos de Yron:   

Capítulo 1 - Ano 2.600 
Capítulo 2 - O Planeta Yron 
Capítulo 3 - Isabele chega a Yron 
Capítulo 4 - Gabriel Chega Yron 
Capítulo 5 - Os planos de Isabele 
Capítulo 6 - 1 ano em Yron 
Capítulo 7 - Dr. Joshua chega a Yron acompanhado 
Capítulo 8 - Confusão no movimento popular 
Capítulo 9 - Yron recebe os “Filhos de Pory” 
Capítulo 10 - As controvérsias 
Capítulo 11 - Gabriel reencontra Naomi 
Capítulo 12 - Isabele revoluciona ao falar de inventos 
Capítulo 13 - O reencontro com os Irmãos yronianos 
Capítulo 14 - Nas Montanhas de Yron 
Capítulo 15 - A surreal Isabele 
Capítulo 16 - Missão cumprida em Yron 


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