Vida! Viagens Pelos Mundos. Vol.2
Por Antonio
Bencardino
Prólogo
Ao
segurarem sua mão, Isabele passou e lhes falar telepaticamente e lhes mostrou
através do pensamento o que verdadeiramente aconteceria no caso da guerra ter
sido deflagrada. A visão do inferno estava agora em suas mentes e antes mesmo
que pudessem fazer alguma pergunta, ela desapareceu instantaneamente de suas
vistas e quinze segundos depois reapareceu com uma flor típica e única em
Turynon entregando-a a Rainha Ava. Naquele momento, Ava deixou sua arrogância
de lado e compreendendo que os feitos de Isabele estavam realmente acima da sua
compreensão agradeceu pela flor e generosamente a abraçou deixando um
comentário final.
Introdução
O Universo está repleto de vida e não
obstante, muito parecidas com a que aqui conhecemos. De certo, ainda não
possuímos essa certeza, pelo simples fato de não termos a nossa disposição
equipamentos que possam comprovar a veracidade de tal informação. Entretanto,
ao olharmos o firmamento, não podemos crer que tudo se configure apenas para
nos recriar as vistas e deslumbrarmos de forma apaixonada, tão belo espetáculo
da criação. Apesar de não termos tecnologia que venha nos elucidar sobre
tão fabuloso acontecimento podemos intuir que, dia menos dia, obteremos essas
certezas, não só em relação às buscas que fazemos, mas também a mesma busca
feita por parte de outros seres em condições similares as nossas. Este
prazo tem data certa para seu vencimento e não tardará a proximidade de tais
contatos, momento este em que nossa civilização deixará de pensar como sendo
única, integrando-se de forma iniciativa, a vastidão de mundos completamente
habitados por seres de inteligência de igual, superior e inferior a
nossa.
Podemos começar a compreender tal
afirmação, se vasculharmos desde o passado remoto, os relatos que nos são
trazidos até os dias atuais, sobre contatos de Deuses e seres de natureza
desconhecidas, muitas vezes relatadas como sendo divindades, por ocasião do
desconhecimento que nossos ancestrais possuíam.
Por outro lado, também podemos concluir
que esses seres por algum motivo, deixaram de se comunicar de forma expressiva
como faziam, por entenderem que ainda estávamos muito distantes de suas
expectativas, não compensando assim suas interferências.
Hoje, nos encontramos em patamares de
compreensão bem acima do que tínhamos outrora, mostrando com que desta forma,
suas intervenções possam ser mais coerentes e quiçá justificadas em outras
esferas.
Partindo
deste princípio, podemos até mesmo supor não estarmos aptos a tais encontros,
mas de mentes abertas e alertas a estas questões, certamente conseguiremos nos
transportar a novos mundos realizando assim o descobrimento de muitos mistérios
que cercam nossa existência.
Sinopse
De acordo com a própria evolução humana,
no Século XXVII, Isabele Constantine se propôs a uma saga no mínimo
surpreendente e inusitada.
Os homens já se comunicavam
telepaticamente e ao se entregar a estudos e pesquisas desenvolveu um
equipamento capaz de transportá-la a qualquer parte do incomensurável Universo.
Descobriu inicialmente que este mesmo
Universo está repleto de vida e não obstante, habitados por seres humanos,
pessoas como nós vivendo experiências que se diferenciam apenas no estado
evolutivo comprometidas apenas com épocas diferentes em relação há seu tempo.
A oportunidade de poder estar presente
entre estes seres, obviamente permitiu o equívoco de a considerarem como Deusa.
Relutante, ela tenta mostrar e provar que seus feitos não são divinos, mas
oriundos dos efeitos causados por esta mesma evolução em curso, o que no
futuro, também serão alcançados por eles.
As questões de
religiosidade e fé transformaram-se em dilemas obrigando a protagonista a tomar
decisões espetaculares interferindo significativamente no adiantamento desses
povos.
Capítulo
17
Entre o Céu e a
Terra
Depois volta a Terra, Isabele se mantém incógnita e remodela seu apartamento para um
pequeno laboratório, se aprofundando em pesquisas científicas e estudos
inovadores que possam lhe garantir melhor aproveitamento quando de sua estada
em outros Planetas. Ela decidiu definitivamente estar ligada ao movimento
evolutivo de civilizações que se encontram em estado similar ao vivenciado em
Yron e, portanto, dependeria de novos instrumentos e máquinas que pudessem lhe
auxiliar nesta nova missão. Durante este último ano, voltou a Yron
incognitamente por três vezes e constatou o quanto seus préstimos foram
importantes para o legado que lá deixou. Concluiu ter sido bem compreendida,
não se fazendo serem mais necessárias outras aparições o que justificaria sua
intenção em desbravar novos mundos, fato determinante para sua reclusão. Fez
oito aparições em novos Planetas, todos com breve passagem e de acordo com o
que viu apenas o quarto Planeta chamado de Thronos, há 1500 anos luz da Terra
lhe pareceu estar em conformidade com seus planos. Thronos, depois de Yron
seria o Planeta de sua nova aventura.
Capítulo
18
O Planeta
Thronos
O Planeta Thronos está situado na
nebulosa NGC7000, distante da Terra 1500 anos luz, na constelação de Cisne. É
um Planeta alaranjado e suas dimensões correspondem ao raio equatorial similar
ao de Marte, ou seja, tem aproximadamente a metade do tamanho da Terra. Thronos
é iluminado pela estrela Deneb, tão grandiosa que está classificada dentre as
vinte mais brilhantes visíveis aqui da Terra. É uma estrela gigantesca, sendo
110 vezes maior que o Sol. Por não possuir Lua, as noites de Thronos, são
iluminadas pela Poeira Cósmica da Nebulosa América do Norte, que se expande
nesta mesma Constelação. A intensidade da luz noturna permite excelente
visibilidade e um lindo visual à parte. Seres com as mesmas características
humanas são residentes neste Planeta, eles acreditam no Deus Mor e no Deus
Aton. A divisão territorial do Planeta está constituída apenas por duas
“Pátrias” denominadas Bacary e Turynon, onde a primeira, situa-se ao Norte
louvando ao Deus Mor e destaca-se em armamentos. A segunda em religião, que
louva o Deus Aton, mas não é desprovida de armas, apesar de não estar à altura
das de Bacary. Bacarynos e turynosenses travam batalhas sangrentas desde os
primórdios pela discordância na distribuição de renda, devido às terras do
Norte se constituir na supremacia do extenso predomínio de terras ricas em
jazidas de ouro e diamantes, enquanto que no Sul, a pobreza impera numa terra
aparentemente estéril e desolada em termos de riquezas naturais. Seleno, Rei de
Bacary exerce seus poderes na região há oito anos e neste período formou seu
exército a partir da distribuição de uma parcela destas riquezas aos seus
legionários, enquanto Argon exerce soberania em Turynon, se utilizando de
recursos religiosos e políticos, a fim de expandir e adentrar na
terra vizinha. Thronos é um mundo medieval e ambos os povos se
expressam em língua semelhante à portuguesa.
O Mar divide o Planeta em dois
hemisférios:
O
povo de Turynon se especializou na construção naval, enquanto o de Bacary tem
suas fronteiras reforçadas e espera de possíveis ataques a sua região. Em
outros tempos, Bacary fora invadida por Turynon, mas foram expulsos daquelas
terras, pelos comandantes de outrora deixando as civilizações seguintes em
alerta a essas possíveis invasões futuras. Seleno tinha plena consciência de
que um novo ataque era eminente, pelo fato de manter em terras estrangeiras,
espiões infiltrados junto aquela Nação
e novos confrontos não tardariam a acontecer.
Capítulo
19
A escolha de
Isabele
Isabele fez várias investidas em Thronos
com o objetivo de estar preparada antes de se estabelecer por determinado
período naquele Planeta. Estudou a era medieval vivenciada na Terra, hoje
considerada idos de um tempo remoto e absorveu tudo que podia aprendendo e
resgatando personagens daquela ocasião. Sentindo-se preparada e devidamente
produzida ela fazia os últimos ajustes em “Magno”, seu inseparável micro
computador de bolso, para lhe auxiliar nesta nova missão. Assim, concentra-se
em Thronos e prontamente desaparece do seu apartamento deixando para trás seu Planeta de origem indo
diretamente as cercanias de Turynon. Idealizou um lugar ermo próximo ao povoado
que centralizava a maior concentração de turynosenses, por onde julgou ser
melhor começar sua investida. Lá chegando, deparou-se com uma floresta repleta
de árvores que se distinguiam daquelas conhecidas na Terra. Eram árvores
avermelhadas, de frutos e flores distintos, de cores e sabores surreais. Usou o
GPS de “Magno” que lhe indicou exatamente a localização do povoado e buscou
esta direção. Isabele tinha ciência de que nesta época a mulher não tinha
nenhuma expressão e não raro era submetida e subjugada aos desejos masculinos,
motivo que a levou a se vestir e a usar truques de maquiagem facial para tornar-se
desfigurada e feia aos parâmetros de beleza, a fim de não ser desejada
sexualmente pelos homens daquele tempo.
Infiltrada junto aos camponeses, pode
perceber o quanto aquela sociedade era desprovida de recursos básicos. Moravam
em cabanas, mulheres e crianças trabalhavam no campo recolhendo algo parecido
com o trigo, enquanto os homens ficavam na esbórnia, celebrando e contando
vantagens uns aos outros, cercados de farto vinho e prostitutas a seu bel
prazer. Outros ensaiavam lutas ou manipulavam suas espadas, prontos para
defender suas terras ou aos interesses de Argon, seu Rei.
Se fosse só isto seria bom demais,
pessoas morriam as pencas: Homens em batalhas ou por ferimentos mal tratados.
As mulheres que eram obrigadas a usar o famigerado “cinto de castidade”, que
possuía apenas os dois orifícios próprios as suas necessidades, não permitia
asseio adequado, onde fezes e urina contribuíam com doenças irreversíveis
levando as infelizes à morte, sem contar com maus tratos e doenças infecciosas.
Por fim, as crianças, que quando vingavam de um parto completamente inadequado,
normalmente viravam órfãos de suas mães e eram abandonadas a seu destino. Os
meninos que conseguissem chegar à adolescência, quando de muita sorte, eram
recrutados por cavaleiros conseguindo assim tornarem-se homens (futuros
cavaleiros), completando este círculo vicioso de horrores, por extenso período
de tempo.
Obviamente, Isabele estava imune a todas
as doenças desta época e sua intenção era pelo menos colaborar de forma que
tais sofrimentos fossem abrandados com sua intervenção. Após constatar essa
triste realidade, decidiu conhecer de que maneira o outro povo vivia e tomada
por um breve impulso certificou-se não estar sendo observada e partiu para as
terras do Norte. Da mesma forma como em Turynon, surgiu em Bacary em um lugar
ermo e pacato que a primeira vista lhe pareceu ser um milharal. Isabele agora
estava nas extensas terras de Seleno. Mais uma vez pediu ajuda a “Magno”, que
como uma bússola, apontava para um monte, cerca de dois quilômetros de
onde se encontrava. Desapareceu e apareceu mais próxima do lugar indicado
pelo aparelho, mas ainda dentro da jurisdição daquele milharal, evitando assim
se expor ao intenso Sol que estava a pino. Ao aproximar-se do monte, viu um
castelo e no seu entorno muitos camponeses trabalhando sob aquele intenso
calor. À medida que adentrava na comunidade percebeu que todos a olhavam, como
se quisessem saber quem era aquela estranha. Ouviu o trotar e dois cavaleiros
que a cercaram: - Quem és tu e o que fazes aqui?
- Sou de outra Província e procuro
trabalho.
- O que sabes fazer?
- Sei ler e escrever. - Aprendi com
mestres da escrita em minha juventude.
- Venha conosco, me dê a sua mão e suba
no lombo do cavalo.
Isabele lhe deu a mão e quando se deu
conta, já estava sentada no animal com as pernas para o lado. Riu consigo mesma
ao deduzir que tinha sido mais rápido que a viajem com o chip.
Os cavaleiros subiram o monte e
adentraram no castelo levando Isabele a presença de seu Rei.
- Meu Rei, esta mulher diz saber ler e
escrever, por isso a trouxemos até vossa presença.
- Sabes ler e escrever mulher?
- Sim Senhor. Exclamou Isabele.
- E como te chamas?
- Isabele.
- Tens um belo nome para uma mulher tão
acabada.
- A vida não tem me sido fácil Senhor.
Seleno pegou um pergaminho e entregou-o
a Isabele dizendo: Prove-me que sabes ler e estarás empregada aqui no castelo
para ensinar meus filhos. Agora leia! - Não espere! - Os dois retirem-se! -
Leia!
Tão logo os cavaleiros saíram, Isabele
começou a leitura do pequeno trecho que dizia:
- “Meu Rei, o ataque dos turynosenses já
está planejado. Eles embarcam em três dias”.
- Não comentes com ninguém o que acabou
de ler. Escreves com a mesma destreza com que leste?
- Sim meu Senhor! - Aprendi na província
de Alboin com mestres da escrita, quando ainda era jovem.
- Aqui será tua morada e terás um
aposento só para ti e livre trânsito no castelo. Compartilharás da nossa comida
e nada lhe faltará, entretanto, não me decepcione ou conhecerás minha outra face.
Seleno assoviou estridentemente e dois
jovens imediatamente se fizeram presentes, eram Argeu e Silas, seus filhos que
aparentavam idade de 12 e 14 anos respectivamente.
- Esta é Isabele, ela vos ensinará a ler
e a escrever, não meçam esforços neste aprendizado. Agora, mostrem-na o castelo
e deixe-a escolher um aposento. Amanhã pela manhã, já quero ver os dois
empenhados nos seus ensinamentos. Vão!
- Sim meu pai! - Vamos Isabele.
- Obrigado Senhor.
Isabele ficou no primeiro aposento que
lhe fora mostrado dizendo ali estar ótimo e de acordo com sua vontade. Silas, o
mais velho, lhe mostrou um banheiro próximo ao seu quarto e logo depois fez
questão de apresentar alguns serviçais do castelo, cada um com atribuições
próprias e específicas ao trabalho de limpeza, cozinha e também aqueles ligados
diretamente aos serviços dos soldados que moravam em suas dependências, com o
objetivo próprio de proteção ao mesmo.
Quando a noite caiu, Isabele participou
do primeiro banquete naquele Planeta. Foi servida uma carne de sabor adocicado,
que em muito se assemelhava ao carneiro, batatas assadas e uma espécie de
verdura com sabor parecido ao da couve. A mesa, apenas o Rei, seus filhos e
Isabele. Apesar de rudimentares, os talheres cumpriam suas funções adequadamente
e tão logo, Isabele os usou, o Rei se pronuncia:
- Sabes usar os talheres com as mesmas
destrezas que lês e escreves, nota-se uma mulher com habilidades e princípios
diferentes dos habituais.
- Sim, meu Senhor. Apesar dos reveses
por que já passei, também tive a oportunidade de aprender como me comportar
junto à realeza, pois que as leituras que estudei, ensinavam por teorias estes
procedimentos. O jantar transcorreu em silêncio e tão logo terminaram a
refeição, todos se recolheram aos seus aposentos.
Da janela do seu quarto, Isabele
observava a noite. O céu, muito estrelado se confundia com a extensa poeira
cósmica, que rebrilhava ao infinito mostrando a ondulação do imenso “milharal”
que sacolejava como ondas trazidas pelo vento de Thronos. Era realmente um
visual magnífico e singular visto do castelo.
Ao amanhecer, se preparou e iniciou
aquilo que agora seria sua rotina pelo menos durante o tempo necessário não só
ao aprendizado dos meninos, como também aos planos que havia idealizado. Não
raro, Seleno participava das aulas e estava fascinado principalmente com os
ensinamentos das aulas de matemática tornando-se o aluno que mais perguntava
sobre aqueles fundamentos.
Aos poucos, Isabele ganhava
confiança e seus méritos reconhecidos pelo Rei, mas Seleno se mostrava irritado
por ter que interromper seu aprendizado, para cuidar dos detalhes da invasão
dos turynosenses.
A travessia do Mar de Thronos em
conformidade com aquelas naus era de pouco mais de trinta dias e já se haviam
passados a metade desse tempo, este era um motivo mais do que suficiente para
as preocupações do Rei, que doravante passa a verificar pessoalmente as
estratégias esboçadas pelos mais competentes guerreiros de seu exército.
Naquela noite durante o jantar, após
Seleno se vangloriar do seu exército dizendo que seus inimigos não teriam a
mínima chance e que certamente seriam massacrados, Isabele se arrisca a uma
pergunta:
- Meu Senhor, esta guerra não pode ser
evitada? - Afinal, muitos bacarynos também
irão perecer?
- O que sabes sobre guerras? -
Perderemos pessoas do povo e alguns soldados, mas eles perderão muito mais e
nossas terras serão preservadas.
- Perdoe-me Senhor, não é minha intenção
questionar ou duvidar de suas sábias palavras, nem tão pouco interferir ou me
opor a sua disciplina, mas já se indagou se o exército de Argon não vem em
número maior de soldados e que certamente o ataque agora iminente vem sendo
planejado há muito tempo, isso não poderia colocar em risco todo o território
bacaryno?
- Serão sumariamente massacrados, não
tenho dúvidas disto.
Percebendo
que suas palavras em nada mudariam as concepções de Seleno, Isabele termina seu
jantar e pede licença para se retirar aos seus aposentos. Ela estava
inconformada de como a brutalidade se sobrepunha ao discernimento e não vendo
mais alternativa resolve agir por conta própria.
Capítulo
20
A primeira
intervenção no Planeta Thronos
Era o décimo sexto dia da viagem de
Argon pelos mares de Thronos e uma esquadra de aproximadamente cem navios
cruzava o oceano com a determinação própria de um povo sacrificado e cansado
disposto a mudar o rumo da história, entretanto, jamais poderiam imaginar os
fatos que estavam por vir.
Disfarçada de guerreiro, Isabele
infiltra-se no navio de Argon e já estando com tudo previamente elaborado ela
aguarda o momento certo para por em prática uma aparição espetacular.
O Mar estava calmo e o silêncio era
quebrado apenas pelo movimento das águas e por intenso burburinho daqueles
homens que contavam casos enquanto enchiam a cara de vinho e trocavam desaforos
como forma de rolar o tempo. Era uma noite bem limpa e tudo parecia estar de
acordo com os planos elaborados.
De um lugar privilegiado tomou “Magno”
em suas mãos e o apontou a sua frente atribuindo-lhe vários comandos:
Repentinamente aquela calmaria foi
rompida. Primeiro com fortes relâmpagos seguidos de estrondosos trovões, depois
por uma luz branca que se expandia e diminuía motivo pelo qual fizesse com que
todos os navios fossem parando até o silenciar absoluto daqueles homens que se
entreolhavam estupefatos diante a tais acontecimentos. Por fim a luz se elevou
e expandiu até transformar-se em uma imagem humana gigantesca, que agora
pairava sobre as águas apesar de medir incríveis 20 metros de altura.
- Voltem as suas terras, de onde nunca
deveriam ter saído.
Argon pensou que aquele ser colossal era
o Deus Aton.
- Senhor, nossas terras são desoladas e
nosso povo está morrendo, enquanto os bacarynos são prósperos e nada lhes
falta.
- Em suas terras, somente as mulheres
trabalham, não tendo forças para cultivar, enquanto vocês, só pensam em tomar o
que é de direito dos outros. Pois eu vos digo, suas terras não são desoladas e
a riqueza que tens é maior do que podem imaginar.
- Não temos ouro, nem diamantes, como
podemos crer que nossa riqueza é maior?
- Cultivem a terra e nunca tereis fome,
enquanto outros não poderão comer do ouro e do diamante. Agora façam o que vos
ordeno, voltem as suas terras ou conhecerão minha ira. Subitamente, aquela
imagem desapareceu como num passe de mágica. Atônitos os comandantes aguardavam
o pronunciamento de Argon:
- Homens de Turynon, é o desejo de Aton
que não entremos em combate com bacarynos. Então, assim o faremos. Vamos
voltar!
Isabele ficou ali por cerca de mais uma
hora até que todos os navios retomassem o curso para o Sul e não tendo mais o
que fazer voltou ao castelo de Seleno.
Inconformados, Argon e sua esquadra
voltaram a Bacary enquanto os rumores do que havia acontecido em alto mar era
comentado por todos até chegar aos ouvidos de um espião de Seleno, que sem
perda de tempo, lhe enviou um mensageiro explicando desta forma o motivo pelo
qual o ataque fora interrompido.
Seleno acreditou ser a interferência de
Mor, seu Deus junto ao exército de Argon, que o fez retroceder e em sua
louvação expede um pergaminho dirigido a todos bacarynos consagrando aquele dia
como sendo feriado oficial.
Chamou seus filhos, os homens do alto
comando e também a Isabele para participar da
pequena reunião. Sua intenção era obter a opinião pessoal de cada um deles
a respeito da suposta aparição do Deus de Argon. Com todos os presentes, assim
inicia a confabulação:
- Como todos sabem o que aconteceu em
alto mar com a esquadra de Argon, independente de ser falso ou verdadeiro,
evitou a perda de muitos homens, mas eu os convoquei com a intenção de saber a
opinião pessoal a respeito dessa suposta aparição. O que me dizes Silas? - Meu
Pai! Acho que o Deus deles não queria essa batalha.
- E você pequeno Argeu?
- Ele era muito grande e ficou com
raiva.
- Herades o que achas?
- Meu Senhor! Não acredito em tal
aparição, inclusive acho que os turynosenses ficaram com medo e desistiram de
nos atacar.
- E você nobre Percival? - Creio em Mor,
não em Aton. Assim como Herades, avalizo suas palavras.
- E tu Rogel?
- Baboseiras, tudo baboseiras, Meu
Senhor!
- Isabele?
- Senhor! - Não acredito ser o Deus Aton
quem apareceu a Argon e seus homens, mas sim uma divindade conciliadora, com o
propósito de não permitir o derramamento de sangue entre as duas Nações.
- E porque achas ser uma divindade e não
o Deus Aton?
- Porque os Deuses, por mais que
supliquemos não podem nos dar ouvidos. A resposta de Isabele estava diretamente
ligada aos pensamentos de Seleno, pois que apesar das intensas súplicas, teve a
morte de sua amada mulher, Lucila em seus braços sem nada poder fazer. Naquele
instante Seleno pediu que todos se retirassem menos Isabele, que ficou ali a
espera de novas indagações por parte do Rei.
- Eu supliquei a Mor, com todas as
minhas forças e não obtive nenhuma resposta quando Lucila me deixou, por isso,
suas palavras foram as de maior relevância para aquilo que penso.
- Senhor! Se me permites a ousadia, Vós
não a perdestes, mas a tivestes e isso vale por mil súplicas.
- És sábia mulher e eu gosto disto. -
Diga-me, o que pensas sobre os Deuses?
- Os Deuses estão muito acima de nossa
parca compreensão. Eles não interferem, beneficiam ou nos castigam, apenas
regem aos mundos que por Eles mesmos foram criados.
-
Mas como explicas a suposta divindade que apareceu aos Turynosenses?
- Divindades são entidades justas que
exercem o labor de manter em equilíbrio os povos que coexistem num mesmo
lugar.
- Então acreditas que podemos viver em
comunhão com outros povos?
-
Desde que o respeito seja bilateral e colaborativo. Seleno colocou a
mão no queixo e ficou divagando sobre aquelas palavras. Olhando para o
nada, então pediu que Isabele se retirasse.
Capítulo
21
Um tempo de
paz
Argon estava convencido de que tal
aparição ocorrida em alto mar era o Deus Aton e agora pregava nova conduta por
parte do seu povo tendo em mente as palavras proferidas por Ele.
- Povo de Turynon. Aton nos falou em
alto marque nossas terras não são desoladas e que não comeremos ouro nem
diamantes. Entendo que Ele quis dizer que devemos cultivar nossas terras e
trabalhar para que não nos falte alimentos
prosperando assim por nossos méritos. Homens de Turynon, suas batalhas
doravante deve ser no campo, no plantio e na colheita junto a suas mulheres e
filhos. Deveis deixar suas espadas em casa e só usá-las se necessário for
defendendo vossa honra e a de suas famílias. Quando Ele nos ordenou para que
voltássemos, nós não cometemos ato
covarde e hoje entendo que por esta razão, nenhum homem sucumbiu nos campos de batalhas.
Agora os vejo com seus filhos nos braços junto as suas mulheres. Estamos
intactos e firmes em nossos propósitos, cientes e obedientes ao Deus Aton.
Nossos inimigos não nos incomodam e desta forma vivemos em paz. Eles não podem
comer o ouro ou o diamante e cedo ou tarde, eles precisarão dos nossos
alimentos. Nesse tempo, nos pagarão com seus metais preciosos. A prosperidade
chegará ao povo de Turynon.
Os guerreiros de Argon, agora atiraram
suas espadas ao chão proferindo o nome de Argos. Tementes aos presságios
constatados pela maioria e que também estavam nos navios de guerra, eles então
abraçaram a nova causa.
Após a breve reunião, voltaram aos
afazeres habituais, onde as mulheres retornaram as suas casas e os homens as
tavernas se entregando aos vícios e a ebriedade que já era costumeira. Mas
naquela noite em especial as conversas foram conduzidas por um pensamento em
comum, aquela que expressava o mais profundo sentimento do árduo trabalho que a
partir de então, deveria ser executado não só pelas mulheres como também pelos
membros masculinos daquela sociedade. De certa forma e por serem tementes a
Aton, aqueles homens haviam baixado suas guardas, porém no mais profundo
íntimo, o espírito guerreiro se sobrepunha as suas vontades, motivo pelo qual e
principalmente após intensa bebedeira, muitos esbravejaram e reclamaram ao seu
Deus, principalmente por estarem cientes que aquela vida fácil estava por se
encerrar. Outros tantos, de comportamento mais sóbrio planejavam a compra de
mais terras e a expansão de seus pequenos lotes territoriais. Alguns deles, se
aproveitando dos que estavam mais alcoolizados fecharam negócios naquela mesma
noite. As palavras de ordem em Turynon eram “plantio e expansão
territorial”.
Do vasto campo, agora se viam os imensos
lotes de terras que prosperavam com as plantações de trigo e vários outros
cereais. Guerreiros denominaram-se Senhores e obviamente não fugiam aos olhos
dos espiões de Seleno, que o mantinham sempre bem informado e como se
encaminhavam as transações daquela região. Argos arregimentou parte dos
guerreiros que passaram a receber treinamento básico de estiva, dedicando boa
parte do seu tempo na transformação dos navios de guerra para fins de
transporte mercantil iniciando desta forma a base para alguns portos em sua
extensa Pátria.
Aclamado nos portos por onde atracava
Argos não deixava de relatar a seu povo os acontecimentos sucedidos em alto mar
e aquela história então, se configurava uma lenda viva, que impulsionava
Turynon a outros patamares sem precedentes e que dignificavam suas proezas e massageavam
seu ego. Ele tinha plena convicção de que não tardaria o momento em que as
relações comerciais com Seleno em Bacary, se fariam inevitavelmente necessárias
e considerava suas viagens internas parte essencial do treinamento aos seus
homens.
Em Bacary, Seleno relaxava e seu tempo
era dividido em suas atribuições de Rei e ao aprendizado da matemática
ministrado por Isabele. Ele gostou tanto que ordenou não ser incomodado no
período da tarde, quando então estaria totalmente a disposição de sua mestra para
este fim.
O tempo se arrastava e o relacionamento
entre ambos se tornava cada vez mais forte. Várias foram às vezes que durante
as aulas, assuntos diversos eram tratados como se Isabele fosse uma espécie de
consultora, razão pela qual Seleno não dava passo, sem antes obter a opinião
pessoal da “professora”.
Seleno
era um homem alto que beirava os quarenta anos, forte e musculoso, com algumas
cicatrizes que não escondiam as batalhas travadas em sua vida, mas que as
carregava com orgulho mostrando o lado sombrio dos caminhos que havia
percorrido e que hoje dignificavam o posto em que se encontrava. Viúvo de
Lucila há dois anos, adquiriu em Isabele a confiança que outrora havia sido
ocupada por sua amada esposa. Este sentimento mudaria o rumo da história.
Capítulo 22
Seleno se
declara a Isabele
Silas e Argeu passaram mais uma manhã em
seus aprendizados e tudo transcorria normalmente no castelo. Isabele se
preparava para o almoço e também reunia elementos para o período da tarde,
quando seria a vez do Rei como acontecia diariamente. Ao entardecer, os dois
adentraram o grande salão e as portas foram fechadas.
- Senhor! Compreendestes os cálculos de
porcentagem?
- Sim, Isabele. Mas hoje não quero
estudar, eu quero conversar com você. Como bem sabes, sinto-me sozinho e tu,
tens sido muito importante para mim. O carinho com que nos trata e a confiança
que me transmites, levaram-me a conclusão de que preciso de outra chance, outra
mulher e tu, Isabele é minha escolhida, o que me dizes?
- Meu Senhor! Sinto-me honrada, mas
tenho consciência de que sou uma mulher feia e acabada e por este motivo
mereces alguém que esteja a sua altura, tanto em dignidade como também de
melhor formosura.
- Tu és digna Isabele e a formosura a
que te referes, no entanto, são encantos que não aprecio em outras
mulheres.
As palavras proferidas por Seleno
tocaram o coração da jovem Isabele, que desde os tempos de Gabriel não ouvia
expressões tão profundas e de grande pureza, mas também sabia que tal
relacionamento poderia por em risco seus propósitos naquele Planeta. Assim, não
vendo melhor alternativa, resolveu lhe dizer toda verdade:
- Posso te chamar de Seleno?
- Prossiga.
- Seleno! Preciso te dizer a verdade.
Não sou quem pensas que sou.
- Como assim?
- Para mim, é extremamente delicado
abordar tal assunto. Preciso que mesmo não compreendendo entendas e acredite no
que tenho para te revelar, está preparado?
- Estou intrigado e quero saber.
- Não sou deste mundo!
- Ah! Não me faças rir. Ha ha... Então
de onde viestes, do além?
- Não te assustes, vou ao campo e já
volto. Põe a mão no ouvido esquerdo e desaparece diante aos olhos do Rei. Ao
retornar, alguns segundos depois traz em suas mãos um ramo de trigo e o oferece
a Seleno.
- Como? - Tu és uma Deusa? - Uma
bruxa?
- De onde venho eu tenho poderes que não
podes intuir, mas não sou Deusa e muito menos bruxa.
- Mas como podes
desaparecer?
- Posso fazer muito mais que isso. Achas
mesmo que foi o Deus Aton que apareceu aos navios de Argos em alto mar?
- Foste tu!
- Se não fosse minha intervenção muito
sangue teria sido derramado e muitos inocentes estariam mortos.
- Mas Argos, diz que Aton apareceu em
forma de gigante e havia intensa luz seguida de trovões e relâmpagos.
- De que outra forma poderia lhe
convencer a retornar para Turynon?
- Não compreendo!
- Por isto, lhe pedi que mesmo não
compreendendo procurasse entender e acreditar em minhas palavras.
-Tu és a filha do Deus Mor?
- Não sou filha de Mor nem de Aton como
já te falei, muito menos Deusa.
- O que pretendes, queres nos
enlouquecer?
- Não Seleno! - Minha missão é vos
adiantar diminuindo perdas de vidas em batalhas inúteis com fins pueris e
brutais, que serão contadas no futuro de Thronos como lendas inexpressivas e
descabidas.
- O que mais podes fazer?
- O que for necessário ao vosso
adiantamento na senda evolutiva do Thronos.
Posso te adiantar que apesar de toda a
riqueza de Bacary, Argos como bem tu sabes vem progredindo sobremaneira e não
tardará o momento de bater as portas deste castelo, te oferecendo alimentos
produzidos pelo povo de Turynon.
- Quanto a isto, estou ciente. Mas ainda
não respondeste minha pergunta inicial, gosto de você, independente do que
sejas ou de onde veio o que me dizes?
- É a mais pura verdade o que te
digo:
Estou encantada com seu pedido e
confesso sentir profunda admiração por você. Até aqui, me sinto muito bem
recebida e tenho grande afeição aos seus filhos, mas... Antes que pudesse
terminar a frase, Seleno toma-lhe de assalto, lhe abraça e a beija com imensa
ternura e amor, até que Isabele se rende entregando-se apaixonadamente ao Rei.
Tira seu disfarce e mais uma vez o surpreende ao mostrar sua verdadeira
identidade com um corpo esculturalmente bem definido, jovem e bem torneado.
Ambos vão à loucura e após o êxtase, Seleno esboça uma pequena frase:
- Por Mor, quem é você?
- Sou Isabele e assim me disfarcei, para
evitar estupros e grosserias em Thronos.
- Fizestes bem! - E eu me perdi pelos
encantos de uma mulher decadente e ganhei um presente dos Deuses, esta linda mulher
que agora tenho em meus braços.
- Seleno, agora eu preciso me recompor e
voltar a ser a “velha” Isabele de sempre.
- Não é preciso, quero você sempre
assim.
- Então terei que dar explicações a
todos neste castelo, por ventura acha mesmo que isto vai dar certo? - Acreditas
que as outras pessoas entenderão que sou um ser de outro mundo?
- Tens razão, vamos pensar e com calma
resolveremos este dilema.
- “Sim Meu Senhor!”.
Mais uma vez ela pede a Seleno que não
se assuste e diz que voltará em alguns instantes depois de se recompor
devidamente e simplesmente desaparece dali, indo diretamente a seus aposentos.
Quando retornou apareceu com um pouco menos de maquiagem e pede a Seleno que
caminhem pelos jardins do castelo. Ele aceitou a proposta e saíram a passeio
pelos jardins, onde se iniciou nova conversa. Isabele então lhe passou todas as
informações necessárias e condizentes ao grau de entendimento daquele homem e
assim que a noite caiu, ela apontou para as estrelas e lhe mostrou de onde vem.
Falou sobre a Terra e a situação temporal entre os dois mundos. Depois, esboçou
um resumo da era medieval já vivenciada pelos terráqueos e o quanto ainda
precisará os thronianos evoluir em seu mundo para que atinjam o discernimento
que lhes é cabido. Diante as explicações recebidas, Seleno percebeu como é
desprovido de informações que estão muito acima do seu entendimento e neste
momento, não se sente Rei, mas um simples mortal subjugado as vantagens daquela
surpreendente mulher.
- Sou Rei de Bacary, porém um menino
apaixonado por uma “Deusa”. Teus conhecimentos me relegam ao estado primitivo
de homem e não posso crer que será minha Rainha. Encontro-me num dilema sem
solução.
- Sim não posso ser Rainha neste mundo,
mas como já te falei em muito posso contribuir com ensinamentos que certamente
modificarão os rumos da história. Ademais, onde está escrito ou qual a lei que
determina que todo Rei deva possuir uma Rainha? - Os momentos que hoje tivemos,
também foram importantes para mim, “Meu Rei”.
Após
este longo passeio, o casal sentou-se num tronco e contemplaram as estrelas
enquanto namoraram como dois adolescentes apaixonados. Por este motivo perderam
a hora do jantar, porém, isto não foi suficiente para perder o bom humor e
continuar por ali até tarde da noite.
Capítulo
23
Os planos para
Bacary
Com intuito de estreitar as relações com
Argon, Isabele sugere a Seleno que faça um convite ao Rei de Turynon para
conhecer o castelo e suas cercanias, onde o foco principal seriam laços
comerciais entre as duas Pátrias. Seleno admite ser uma boa ideia e envia um
mensageiro com um pergaminho redigido por Isabele. O convite se estende a
Rainha Ava e a pequena comitiva com serviçais e auxiliares do Rei.
À medida que o tempo passava, Isabele
diminuía a intensidade de rugas incrustadas em sua face e depois de quarenta
dias finalmente Seleno percebeu mudanças em sua fascinante “amiga” e logo pela
manhã se manifestou elogiando:
- Isabele é impressão minha ou estais
rejuvenescendo?
- Meu Senhor! Os bons tratos aqui no
castelo estão contribuindo para minha saúde e também tenho segredos caseiros de
beleza.
- É mesmo Pai, Isabele está mais bonita.
Completou Silas.
- Tenho saudades da mamãe. Exclamou
Argeu.
Compadecida com o menino, Isabele acalma
seu coração dizendo que sua mãe sempre estará com ele em seus sonhos, até o dia
em que ele irá encontrar-se com ela em um mundo mais bonito e lá poderão matar
as saudades de todo o tempo que estiveram separados. Enternecido, Seleno sacode
a cabeça afirmativamente e agradece por suas palavras, depois já em tom de Rei
comunica a seus filhos que já é hora de começar os estudos.
Os dias voaram e um mensageiro chegou ao
castelo de Seleno informando que o navio de Argos já estava no porto de Bacary.
Todos os preparativos estavam em fim arranjados para aquela recepção e o Rei
pede que todos se arrumem para receber seus convidados.
Ao chegarem ao castelo, Argon e Ava
cumprimentaram o anfitrião e seus filhos e se dizem admirados com a beleza
daquela arquitetura e da vista que podia ser apreciada do alto daquele monte.
Seleno os convida a adentrarem e todos vão direto ao grande salão, onde sentam
e iniciam um diálogo começado por Seleno:
- Argos, obrigado por aceitar meu
convite e vir até nossas terras conhecer nossa gente.
- Caro Seleno, devo lhe dizer que apesar
de todos os percalços e os enfrentamentos entre nossa gente, estou honrado em
poder estar aqui e traçar novos laços de amizade e porque não os comerciais,
assim deixando no passado as desavenças selando a cordialidade e a fraternidade
entre nossos povos.
- Guerras nunca mais! - Vamos celebrar
os novos tempos.
Após a celebração e o tilintar das
taças, Seleno bateu palmas por duas vezes e
vários serviçais trouxeram as iguarias de Bacary para o grande salão
e, se dirigindo a um deles pediu que chamasse Isabele.
Ao ser apresentada como mestra da
escrita no castelo, Isabele presta elogios a Rainha Ava, que retribui
carinhosamente, mas em tom de superioridade diz que possui conhecimentos e que
em seu reino, todos são letrados. Neste momento, Seleno se interpõe dizendo
estar aprendendo matemática avançada enaltecendo os conhecimentos de sua
mestra. Os Turynosenses se entreolham e Argos quebra aquela conversa pedindo
que lhe seja mostrada as dependências do castelo. Prontamente, Seleno levantou-se
e pede que o acompanhem inclusive Isabele. Então, mostrou-lhes com orgulho, inclusive os
aposentos em que eles ficariam e parando numa varanda que tinha como vista o
vasto milharal retornou a falar de Isabele:
- Argos como bem sabe sou viúvo e desde
que conheci a mestra da escrita e com ela aprendi coisas que jamais pensei
aprender, ela se faz parte integrante da minha família e por isso sempre estará
presente em nossas reuniões.
- Pensas em se casar novamente
Seleno.
- Ainda não pensei sobre isto, mas quem
sabe?
- Ainda está jovem Seleno e pretendentes
não devem faltar, acrescentou Ava.
- Obrigado Ava, mas aguardarei o momento
e a mulher certa.
Ficaram na varanda por quase meia hora e
depois foram para o jardim a espera da noite que vinha acompanhada de vento
sorridente e que despretensiosamente desarrumava os cabelos dos novos
amigos.
Exaustos da cansativa viagem, os
convidados pediram licença para se recolher a seus aposentos e Argos faz um
último comentário dizendo não ver a hora de desfrutar de uma verdadeira
cama.
Tão logo o casal se afasta, Seleno e
Isabele trocam carinhos e o Rei voltou a falar sobre casamento:
- Te comportas como Rainha e eu te
desejo como tal, o que me dizes?
- Ainda não, Seleno. Temos assuntos mais
importantes para tratar neste momento. Argos certamente vem preparado a lhe
fazer propostas comerciais, você têm condições de atender suas propostas e
manter equilibrado o relacionamento entre os dois Reinos?
- Certamente Isabele! - Pagaremos com
valores justos e sempre acima dos pedidos pelo trabalho realizado ao povo de
Turynon. Nós viveremos novos tempos e isso graças a você minha pequena
“Deusa”.
- Era o que eu precisava ouvir. Agora
estou mais tranquila.
Com a chegada dos ilustres convidados, a
rotina no castelo também havia mudado. Não era mais diariamente que Isabele
ministrava suas aulas e sempre estava presente nas reuniões ou nos passeios a
cavalo pelo reino de Seleno, que sempre se mostrava gentil e cordial aos novos
amigos. Os dias e as noites transcorriam repletos de novidades aos reis que
normalmente trocavam prosas e contavam casos e experiências vividas em suas
jornadas.
Vários pergaminhos foram assinados por
ambos formalizando desta forma uma espécie de contratos entre as partes, onde a
redatora e conciliadora dos negócios era Isabele.
Muito
satisfeito, Argos se diz contente por estar no castelo de Seleno, mas comunica
que precisa voltar a Turynon e que encerrará sua visita em três dias.
Capítulo
24
Segredos
revelados
Um dia antes da partida dos turynosenses,
os amigos se reúnem no jardim do castelo no final da tarde e ali iniciam uma
conversa esperando pela derradeira noite daquela magnífica viagem. Porém, não
podiam antever que assuntos e fatos relevantes, com segredos e circunstâncias
inéditas se dariam por acontecer.
Seleno se pronuncia:
- Argos, fale-me você sobre aparição do
Deus Aton em alto mar.
- Era uma noite de calmaria,...
E conta exatamente o que aconteceu,
deixando ao final do relato uma pergunta sobre o Deus Mor: O Deus Mor já lhe
apareceu em alguma situação e, assim fazendo com que mudasse seus planos ou o
rumo de algum projeto?
- Não, meu caro amigo, Mor nunca atendeu
minhas súplicas ou modificou minha vida.
- Acredite no Deus Aton, amigo. Eu o vi
com meus próprios olhos e Ele falou comigo.
- Isabele, explique a Argos e a Ava o
que realmente aconteceu, conte-lhes a verdade.
- A verdade? - A verdade consiste no que
vi e que todo meu exército presenciou. O que esta mulher pode saber a respeito
de Aton?
- O que vou lhes falar e provar são
fatos ainda incompreensíveis em Thronos, portanto, peço que mesmo não
compreendendo, não se assustem ou interpretem de forma religiosa, nem tão pouco
considerem magia, bruxaria ou atos divinatórios. A questão principal é o estado
evolutivo do Planeta onde o equilíbrio entre as duas Nações se faz
essencialmente necessário.
Sou um ser de outra parte deste
incomensurável Universo e vim para cá, com a clara intenção de vos ajudar nesta
senda. Isabele levanta-se e procura um lugar adequado para exibir a reprise do
que aconteceu em alto mar. Calados e acompanhando seus movimentos, os três
aguardavam de forma apreensiva os desdobramentos de suas atitudes. Foi para
trás de uma árvore e sem que ninguém percebesse posicionou e programou “Magno”
entre os galhos, direcionando o mesmo ao muro do castelo. Voltou e pediu que se
levantassem e aguardassem por mais alguns segundos. Tão logo estavam apostos,
as imagens foram transmitidas e, estupefatos, inclusive Seleno, presenciam a
visão do acontecimento que havia mudado o rumo desta história. Ainda assim, ao
término da apresentação, Argos logicamente rebate e conclui:
- Vistes Seleno. Aton se fez presente
novamente para lhe mostrar que é o verdadeiro Deus de Thronos e nos mostrar sua
Face se utilizando das suas sábias Palavras, nos unindo definitivamente e
tornando possível a estabilidade entre nossas Nações.
- Caro Argos, ainda não compreendeu.
Isto foi obra de Isabele!
- Não Seleno, é obra de Aton e...
Antes que terminasse sua frase, “Magno”
reproduziu outra curta metragem, onde crianças brincavam livremente em jardins
floridos na Terra, depois imagens com um casal apaixonado se beijando e por
último, cenas de uma batalha medieval muito sangrenta. Enquanto estas imagens
eram transmitidas, Isabele tirou o disfarce e volta a se manifestar deixando
que Argos e Ava tirassem novas conclusões.
- Quem és tu mulher?
- A mesma Isabele de pouco minutos
atrás.
- Não, aquela mulher era velha e tu se
mostras jovem. Estou muito confuso!
- Explique-lhe Isabele, assim comandou
Seleno.
- Acalmem-se. - Eu produzi a aparição de
Aton e poderia ter produzido a imagem de Mor ou de qualquer outro Deus, mas
preferi lhes mostrar outras realidades para que entendessem que tudo é possível
se souberem interpretar os fatos não de forma religiosa, mas como causas
possíveis. Os deuses não estão a nossa disposição, nem se mostram ou atendem
nossas súplicas. Eles nos deram a vida e isso é tudo. Não devemos consagrar os
episódios e acontecimentos como vontades divinas ou intervenções e manipulações
do nosso livre arbítrio. A guerra entre Bacary e Turynon era eminente, não
havia outra forma de evitá-la se não da forma como intervi utilizando-me dos
artifícios que disponho.
- Mas eu falei aos quatro cantos de
Turynon, sobre esta aparição e agora me sinto um Rei mentiroso.
- Não és mentiroso exclamou Seleno. -
Sois Rei e ainda assim está confuso, tu dissestes o que presenciastes. Agora
imagine como se sentiriam seus súditos se soubessem desta verdade, que deve
permanecer inviolada e restrita apenas a nós quatro.
- Não posso crer que uma simples mulher
vinda não se sabe de onde possa ter o poder dos Deuses, ainda acho que isso é
feitiço, sugestionou Ava.
- Isto não é feitiço Ava, mas ciência.
Ato ainda muito distante de vossa pobre compreensão.
- Prove-me que não és feiticeira.
- O simples fato de ter evitado uma
guerra onde o derramamento de sangue não só de soldados como também de
inocentes do povo é motivo mais que suficiente para não ser vista como
feiticeira, mas se ainda assim precisas de provas, então segure a minha mão.
Vocês dois também.
Ao segurarem sua mão, Isabele passou e
lhes falar telepaticamente e lhes mostrou através do pensamento o que
verdadeiramente aconteceria no caso da guerra ter sido deflagrada. A visão do
inferno estava agora em suas mentes e antes mesmo que pudessem fazer alguma
pergunta, ela desapareceu instantaneamente de suas vistas e quinze segundos
depois reapareceu com uma flor típica e única em Turynon, entregando-a a Rainha
Ava. Naquele momento, Ava deixou sua arrogância de lado e compreendendo que os
feitos de Isabele estavam realmente acima da sua compreensão agradeceu pela
flor e generosamente a abraçou deixando um comentário final:
- Seleno, ainda não encontrastes uma
Rainha a altura de Bacary? - Isabele é jovem, bonita e além de Rainha, também
pode ser considerada uma Deusa, o que me dizes?
- Eu a pedi em casamento, mesmo antes de
saber que era tão bonita e jovem, mesmo sem saber que tinha poderes acima da
minha compreensão, mas ela não pode e não deve aceitar, sua missão está além de
Thronos, além das estrelas.
- Obrigado Seleno! - E tu Argos deves
manter a fé que tens em Aton, pois isto levará tua Nação a patamares não só de
riqueza material, como de crescimento em moralidade, levando aos turynosenses
esperança de dias melhores e mais abundantes.
Perplexos, Argos e Ava se despedem e
voltam ao castelo a fim de tratar dos últimos detalhes para o regresso a
Turynon. Seleno e Isabele preferiram ficar nos jardins contemplando o esplendor
daquela noite. Os dois trocaram carícias, se beijaram apaixonadamente e
culminam fazendo amor assistidos pela intensa poeira cósmica e o frescor da
brisa que pairava naquele momento. Deitados lado a lado observando o mar de
estrelas, Isabele se pronuncia primeiro:
- Adoro fazer amor com você
Seleno!
- Eu adoro estar contigo Isabele.
- Esta é nossa última noite juntos.
Minha missão em Thronos terminou.
- Não, por favor, não me deixe!
- Tu sabes que não posso, ademais, nunca
esquecerei os momentos que contigo compartilhei.
- Compreendo, mas o vazio já se apossou
do meu coração. Sentirei sua falta, mas aprendi que não estou te perdendo e
posso me considerar um homem de muita sorte, por tê-la havido em meus braços.
Eles se abraçaram e assim permaneceram até serem vencidos pelo sono.
Tão
logo Seleno sente o calor dos primeiros raios de Deneb em sua face ele
desperta, mas sozinho e tateando ao redor, entende que Isabele havia partido.
Como homem e Rei, levanta-se e olha suas terras sabendo que será difícil
esquecer aquela mulher, porém sente profundo orgulho de ter vivido a maior
experiência de sua vida.
Fim
Esta
foi à segunda história de Isabele e muitas aventuras no Espaço / Tempo ainda
estão por vir.
No próximo livro Você vai conhecer Zywamner, um Planeta similar a Terra, porém com nuances significativas como Flow, a surpreendente Lua Gigante do Sistema.
No próximo livro Você vai conhecer Zywamner, um Planeta similar a Terra, porém com nuances significativas como Flow, a surpreendente Lua Gigante do Sistema.
O estado evolutivo de Zywamner
corresponde ao que aqui presenciamos no final do Século XX, porém a internet
agora dava os seus primeiros passos e nossa protagonista aproveita para dar um
empurrãozinho interferindo sobremaneira no desenvolvimento daquele Lugar.
Antonio
Bencardino
Capítulos de
Thronos
Capítulo
17 - Entre o Céu e a Terra
Capítulo
18 - O Planeta Thronos
Capítulo
19 - A escolha de Isabele
Capítulo
20 - A primeira intervenção no Planeta Thronos
Capítulo
21 - Um tempo de paz
Capítulo
22 - Seleno se declara a Isabele
Capítulo
23 - Os planos para Bacary
Capítulo 24 - Segredos
revelados
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