Viagens
pelos Mundos - Segoy I
Por Antonio
Bencardino
Prólogo
- Se você sabe quem somos nós, então irá
morrer...
E mesmo antes de terminar a frase, ela
usa dos poderes adquiridos em Segoy I e desapareceu levando junto seus amigos
para fora da sala. Trancou os malfeitores naquela cobertura, que mesmo não
compreendendo a situação atiravam em vão em todas as direções. Ela não se deu
conta, mas um tiro a atingiu na perna e segundos depois uma dor lancinante
seguida de ardência agora lhe assaltavam o membro inferior direito fazendo com
que perdesse os sentidos.
Os bandidos foram cercados por
seguranças e policiais que se faziam presentes e, após intensa troca de tiros,
dois foram mortos e os outros três presos e levados à zona distrital de Urva,
onde certamente cumprirão as duríssimas penas regidas por aquela
sociedade.
Ao
despertar, Isabele estava num hospital e ainda convalescendo levou a mão ao
ouvido e percebeu que o chip não estava em seu poder.
Introdução
O Universo está repleto de vida e não
obstante, muito parecidas com a que aqui conhecemos. De certo, ainda não
possuímos essa certeza, pelo simples fato de não termos a nossa disposição
equipamentos que possam comprovar a veracidade de tal informação. Entretanto,
ao olharmos o firmamento, não podemos crer que tudo se configure apenas para
nos recriar as vistas e deslumbrarmos de forma apaixonada, tão belo espetáculo
da criação. Apesar de não termos tecnologia que venha nos elucidar sobre
tão fabuloso acontecimento podemos intuir que, dia menos dia, obteremos essas
certezas, não só em relação às buscas que fazemos, mas também a mesma busca
feita por parte de outros seres em condições similares as nossas. Este
prazo tem data certa para seu vencimento e não tardará a proximidade de tais
contatos, momento este em que nossa civilização deixará de pensar como sendo
única, integrando-se de forma iniciativa, a vastidão de mundos completamente
habitados por seres de inteligência de igual, superior e inferior a
nossa.
Podemos começar a compreender tal
afirmação, se vasculharmos desde o passado remoto, os relatos que nos são
trazidos até os dias atuais, sobre contatos de Deuses e seres de natureza
desconhecidas, muitas vezes relatadas como sendo divindades, por ocasião do
desconhecimento que nossos ancestrais possuíam.
Por outro lado, também podemos concluir
que esses seres por algum motivo, deixaram de se comunicar de forma expressiva
como faziam, por entenderem que ainda estávamos muito distantes de suas
expectativas, não compensando assim suas interferências.
Hoje, nos encontramos em patamares de
compreensão bem acima do que tínhamos outrora, mostrando com que desta forma,
suas intervenções possam ser mais coerentes e quiçá justificadas em outras
esferas.
Partindo
deste princípio, podemos até mesmo supor não estarmos aptos a tais encontros,
mas de mentes abertas e alertas a estas questões, certamente conseguiremos nos
transportar a novos mundos realizando assim o descobrimento de muitos mistérios
que cercam nossa existência.
Sinopse
De acordo com a própria evolução humana,
no Século XXVII, Isabele Constantine se propôs a uma saga no mínimo
surpreendente e inusitada.
Os homens já se comunicavam
telepaticamente e ao se entregar a estudos e pesquisas desenvolveu um
equipamento capaz de transportá-la a qualquer parte do incomensurável Universo.
Descobriu inicialmente que este mesmo
Universo está repleto de vida e não obstante, habitados por seres humanos,
pessoas como nós vivendo experiências que se diferenciam apenas no estado
evolutivo comprometidas apenas com épocas diferentes em relação há seu tempo.
A oportunidade de poder estar presente
entre estes seres, obviamente permitiu o equívoco de a considerarem como Deusa.
Relutante, ela tenta mostrar e provar que seus feitos não são divinos, mas
oriundos dos efeitos causados por esta mesma evolução em curso, o que no
futuro, também serão alcançados por eles.
As questões de religiosidade e fé transformaram-se em
dilemas obrigando a protagonista a tomar decisões espetaculares interferindo
significativamente no adiantamento desses povos.
Capítulo 1
“O olho da mente”
Ao chegar do Planeta Zywamner Isabele
vai diretamente a seu apartamento, sua base central, onde são feitos os estudos
laboratoriais e também o lugar secreto onde mantém seus equipamentos de última
geração para obtenção e suporte às suas viagens. Zywamner foi o terceiro
Planeta visitado e agora, depois de três semanas afastada de sua verdadeira
casa resolve estar sozinha para pesquisar e por em prática novas facetas, mas
não sem antes desfrutar de uma merecida ducha revigorante. Ela despendeu muita
energia de sua mente ao transmitir aos habitantes daquele Planeta, todo o
conhecimento que lhes eram cabidos contribuindo de forma significativa para o
incremento da redução de mortes causadas pelo famigerado câncer e também a
revelação para o avanço sistemático da comunicação em rede dando o impulso
inicial a tais desenvolvimentos.
Após a ducha e uma breve reflexão dos
últimos acontecimentos, ela recorreu a “Magno” e se deixou levar pela mesma
melodia que havia encantado os yronianos, quando da sua segunda aparição
naquele incrível Planeta. Esparramou-se na cama e a melodia junto a tais
pensamentos fizeram-na imaginar como estariam seus amigos, Alex e Velma, depois
de sua passagem por lá. Por um instante, sentiu saudades e quando este
sentimento a aprisionou, logo se desvencilhou e reflexos da imagem de Seleno,
agora perambulavam em sua mente brilhante. Isabele tinha consciência que havia
feito um bom trabalho durante o período de suas incursões, mas uma dúvida
pairava, por não saber se deveria voltar ou continuar explorando novas
situações. Naquele momento e agora já relaxada foi vencida pelo sono e sem
relutar entregou-se confortavelmente afagando o travesseiro e sendo acariciada
pela brisa natural que sutilmente invadia seu quarto.
Ao despertar observou poeira nos móveis
e por não querer estranhos em seu apartamento decidiu fazer uma faxina por
conta própria. Abriu todas as janelas para que o ambiente pudesse ser renovado
e passou grande parte do seu dia presa aquela atribuição. Ao terminar deu-se
por satisfeita e só então, resolveu se aprontar para sair e jantar.
A princípio pensou em algum restaurante
ali mesmo em Copacabana, mas sua vontade era saborear frutos do mar e preferiu
usar dos poderes de seu chip, para fazer uma pequena viagem à Cabo Frio, indo
diretamente aos arredores de um pequeno estabelecimento muito conhecido na
região pelos pratos que serviam.
O frio do inverno neste período do ano,
não contribuía para o movimento da Cidade que literalmente estava vazia e por
este motivo, Isabele é uma das poucas pessoas que estavam no restaurante.
- O que vai comer senhorita?
- Talharim com frutos do mar e, por
favor, traga água mineral.
Enquanto aguardava seu pedido, um senhor
se aproxima e lhe dá as boas vindas ao estabelecimento:
- Seja bem vinda à Casa de Fernando
senhorita, muito prazer meu nome é Armando Frejim, dono do restaurante.
- Isabele Constantine.
- Você é daqui de Cabo Frio?
- Não, sou do Rio e estou de
passagem.
- Posso lhe fazer companhia enquanto
aguarda seu pedido?
- Claro! Sente-se, por favor.
- A Casa de Fernando tem 613 anos, foi
fundada em 1988. Sou descendente de Fernando Frejim e desde então, minha
família a mantém de geração em geração até os dias atuais.
- Incrível e ao mesmo tempo excepcional.
É muito gratificante saber que me sento num lugar onde milhares de outras
pessoas já sentaram e ter a certeza que desfrutarei de um excelente jantar,
pois atravessando tantas gerações, não posso sequer imaginar outra
hipótese.
- Este é nosso orgulho e também nossa
tradição.
- O senhor sempre trabalhou aqui ou tem
outra atividade?
- Eu sempre trabalhei aqui, mas divido
meu tempo com os estudos.
- Me desculpe por perguntar Sr. Armando,
mas qual é a sua idade?
- Completei 93 anos em maio. Nasci em
2508, cinco anos antes da comunicação telepática, que alias é por ela a quem me
dedico a mais de 60 anos.
Neste momento o garçom interrompeu a
conversa para servir a comida e de pronto, Armando Frejim levantou-se e antes
mesmo de dizer qualquer coisa, Isabele se interpõe:
- Por favor, Sr. Armando acompanhe-me no
jantar. Acredito que temos muito ainda por falar.
- Não quero incomodá-la, faça a
refeição. Vou averiguar algumas coisas e depois conversamos, está bem
assim?
- Então está certo, estou ansiosa para
experimentar essa delícia.
- Bom apetite. A refeição viera servida
acondicionada numa tigela de barro, com um pequeno fogareiro aceso, que
mantinha a temperatura não só do talharim, como também dos frutos do mar no
calor ideal para ser degustado. Estava realmente uma delícia e este era um dos
segredos da longevidade daquela Casa. Tão logo terminou, Armando voltou e assim
puderam continuar conversando.
- Gostou?
- Muito. Voltarei outras vezes. -
Certamente.
- E você Isabele o que faz?
- Sou Engenheira de computação e
trabalho diretamente com a comunicação telepática. O que o senhor conseguiu através
dos seus estudos nestes sessenta anos?
- Muito mais do que eu mesmo podia
esperar. Não costumo abordar os clientes que frequentam este estabelecimento,
mas você é diferente e especial, a pessoa certa para saber do meu
aprendizado.
- Mas porque sou diferente, porque o
senhor pensa assim?
- Porque eu sei dos seus segredos, sei
das suas viagens, dos seus amores e das suas descobertas.
- Sim. O senhor leu algumas matérias
sobre mim?
- Não. Nunca li nada a seu respeito. -
Eu consigo ler e interpretar os pensamentos, mesmo sem estabelecer algum tipo
de comunicação. Da mesma forma como você já conseguiu com alguns seres em
estado evolutivo inferior a este que vivemos.
- Um momento Sr. Armando, está querendo
dizer que...
- Não. Não sou viajante de outro mundo,
como você está pensando. Simplesmente, aprendi e desenvolvi minha mente para
extrair da mente de outras pessoas antecipadamente toda a diversidade de suas
vidas sem estabelecer qualquer tipo de comunicação telepática. Sim, eu sei.
Você quer provas, assim como aqueles que foram incrédulos das suas palavras em
outros Planetas. Pois bem, quer que eu lhe fale sobre Seleno em Thronos, o rei
medieval? - Prefere que eu fale dos irmãos em Yron ou do seu ex-namorado
Gabriel?
- Estou pasma Sr. Armando. Perplexa e ao
mesmo tempo feliz em poder dividir e compartilhar desta conversa.
- Nunca falei com ninguém sobre isso,
você é a primeira e certamente será a única, portanto e de antemão sei que
posso confiar e te transmitir tais ensinamentos. Eles serão bem compreendidos e
repassados a frente de maneira não só segura como benfazeja.
- Obrigada Sr. Armando.
- De acordo com o que extrai da
sua mente posso lhe assegurar que suas intenções são as melhores possíveis,
porém as incursões ainda não lhe permitem confirmar os verdadeiros resultados.
Já pensou em viajar não só utilizando a velocidade do pensamento, mas também a
variação do tempo. Passado, presente e futuro?
- Meu equipamento não me permite tal
façanha.
- Porque não está totalmente acabado,
mas aqueles que recebeu de Naomi, sim. Nos 10% faltantes foram inseridas todas
as programações que podem te levar a qualquer lugar e a qualquer tempo.
Obviamente e felizmente, nem ela nem ninguém tem consciência do poder desta
realização, agora só você e eu. Ademais, o chip é apenas o receptor e servo dos
seus comandos. Tua mente faz o resto.
- Devo apenas me concentrar?
- Não, pois se assim o fosse ela ou
outra pessoa, já estariam se beneficiando e usufruindo de tais poderes.
- De que maneira então devo agir? - Calma.
- Primeiro terá que extrair da minha mente toda consciência e o aprendizado
para depois inserir no chip um código criptografado de segurança para que
outros não consigam ter acesso evitando assim o uso mal intencionado.
- Devo usar os métodos convencionais
para penetrar em sua mente?
- Não. Desta forma só consegue extrair
os pensamentos momentâneos. A consciência e o aprendizado só podem ser
extraídos olhando para o “olho da mente” e cada ser tem o “olho da mente”
escondido num lugar secreto do seu corpo que primeiro deve ser descoberto e
depois acessado. O seu, por exemplo, está na garganta, bem próximo ao seu
queixo e é através dele que encontrarás os olhos dos outros.
Isabele colocou a mão na garganta e
tateou o queixo na tentativa de sentir e localizar o tal “olho da mente”, mas
nada diferente sentiu e logo se pronunciou:
- Mas como poderei enxergar através
deste olho?
- Concentração e vontade. Dei-te a dica
de onde ele está agora você terá que acessá-lo, só assim poderá descobrir o meu
e ter acesso a estas informações, não existe outra maneira.
- Posso pelo menos segurar suas mãos e
tentar?
- Pode, mas não vai conseguir. Saberá
onde encontrar o meu olho, mas não terá acesso. Experimente! Como previsto, ela
descobriu que o “olho da mente” de Armando estava situado na nuca, mas por mais
que se esforçasse não obteve sucesso. Largou as mãos do seu mais novo amigo e
concluiu:
- É muito difícil!
- Mas não impossível, então
enxergue com seu “olho da mente” e não com o pensamento. Vamos, concentre-se.
Ela cerrou seus olhos e se concentrou em
seu “olho da mente”:
Primeiro veio à escuridão e a seguir uma
intensa claridade tridimensional que a fazia enxergar além do plano físico
transformando aquele momento num ato considerado sublime. Aos poucos, tudo em
seu entorno foi tomando forma e a imagem de Armando agora nítida e contornada
por uma irradiação amarela se fazia presente mostrando em sua nuca um olho
aberto e receptivo onde finalmente pode ver e acessar as memórias mais
profundas do ancião. Assim, uma espécie de download se processou e Isabele
adquiriu todas as informações que inacreditavelmente jamais pode imaginar.
Todas as recordações, sentimentos, consciência e aprendizado, agora estavam
presentes em sua mente, armazenados e devidamente compartilhados entre um e
outro. Abriu os olhos, voltando a enxergar com seus olhos naturais e uma
lágrima de felicidade escorreu por sua face.
- Incrível Senhor Armando, jamais
poderia esperar ser presenteada com tão sublime acontecimento.
- Esperei por esta ocasião por mais de
vinte anos e agora poderei morrer para esta vida com a certeza de ter cumprido
minha missão. Tudo o que você precisar para por em prática e o que nesta noite
conversamos, agora está em sua mente. Sei que utilizará do meu aprendizado com
responsabilidade e não me decepcionarei por ter lhe ensinado. Agora vá para sua
casa, você precisa descansar. Não se preocupe com a conta, pois é cortesia da
Casa.
Ela
o abraçou carinhosamente, agradeceu e saiu.
Capítulo 2
Um emaranhado de
vidas
Isabele realmente estava cansada,
afinal, a limpeza em seu apartamento e a noite repleta de novas emoções com a
inserção espetacular de uma vida inteira em seu cérebro, não podia ser
diferente. Simplesmente deitou-se e dormiu. Depois das seis horas habituais de
sono, revigorada e bem disposta só tem em mente por em prática os conhecimentos
de Armando, utilizando-se de um dos chips, que fora presenteada por Naomi
quando ainda estava em Yron. Ligou “Magno” e inseriu várias configurações.
Certificou-se de estar tudo de acordo fazendo os testes de rotina, restando
apenas criptografar escolhendo uma senha que julgasse ser
invulnerável.
Usou a Bíblia e recorreu aos nomes
históricos e personagens presentes daquele Livro, preferindo o nome de
“Barrabás”, aquele escolhido pelo povo e que fora anistiado da pena de morte
pelo indulto da Páscoa, levando Jesus a crucificação.
Modificou o nome usando a tecla “/” no
lugar do prefixo “barra” e assim ficou /bas
adicionando o ano de seu nascimento, 2568
de trás para frente mais a tecla “alt” com o número 105, inserido o símbolo “i” duas vezes, iniciais do seu nome e
sua origem italiana concluindo a senha: /bas8652ii.
Para verificar o “olho da mente” nas
pessoas, naquela mesma manhã dirigiu-se a uma praça onde várias crianças
brincavam sob os olhares atentos de mães e babás com o intuito de observar e
encontrar nas pessoas os “olhos da mente” escondidos e não sabidos por elas
mesmas. Sentou-se no canto de um banco e dali e sem que ninguém pudesse notar,
esquadrinhava pelos corpos como num sistema de raios X um olhar disfarçado de
simples contemplação. O mais difícil, no entanto, foi se concentrar sem cerrar
seus olhos, para enxergar apenas com o seu “olho da mente”. Depois de algumas
tentativas a praça se iluminou e finalmente pode ver através do mesmo, aqueles
“olhos esbugalhados” em diferentes lugares dos corpos que estavam agora sendo
analisados. Encontrava olhos escondidos em pés, mãos, dedos, barrigas, peitos,
cotovelos e até nos próprios olhos. O mais fascinante foi perceber a receptividade,
pois quando os olhos se encontravam, de pronto era estabelecido uma espécie de
liga que se unia, tentando transmitir o que fosse necessário.
A título de curiosidade deixou seu olho
se unir ao de uma garotinha e logo ficou sabendo que se chamava Flora e que
tinha apenas cinco aninhos, seu maior desejo era brincar no balanço e quando a
babá a levou até ele pode sentir uma felicidade indescritível pelo prazer
daquele momento.
Era
verdadeiramente uma experiência fascinante poder sentir os desejos e prazeres,
alegrias e tristezas, reações e condutas de outras pessoas. Não bastasse,
também poderia saber quando se encontrava diante de verdades e mentiras, enfim,
todo o conjunto segregado na mente humana.
Capítulo 3
A primeira
viagem no tempo
Isabele manteve-se concentrada, levantou
e começou a caminhar de volta para casa enxergando tudo e a todos através do
seu “olho da mente”. Não pode deixar de perceber que parecia flutuar enquanto
andava, a rua parecia um túnel e o tempo passava mais devagar. As cores ficaram
mais realçadas e os sons amplificados, ela podia ver o ouvir de forma bem mais
abrangente que o habitual e por este motivo, passou a observar coisas
rotineiras que nunca se predispôs a observar. Era como se antecipasse os
acontecimentos. Quando se aproximou do seu prédio, desfez a concentração
voltando a ver com suas vistas e observou naquele instante que a caminhada
durou apenas dez minutos, mesmo tempo que gastou para ir até a praça, no
entanto parecia ter andado por muito mais tempo.
Em seu apartamento, fez
um sanduíche e continuou suas pesquisas. O fato de agora poder viajar
no tempo fez com que pudesse ao menos tentar por em prática uma vontade
que há muito apenas imaginava:
Será que realmente poderia colecionar
memórias? - Poderia estar com ilustres do passado e resgatar ou desvendar
mistérios?
Abriu seu guarda roupas e escolheu as
vestes mais adequadas para viajar a um tempo remoto, mais jamais esquecido pela
humanidade. Pronta e determinada concentrou-se em seu “olho da mente” e estabeleceu
a visão, depois ao ano de 1516 próximo a Paris, pôs as mãos nos ouvidos e
partiu.
Sua missão agora era encontrar Leonardo
da Vinci. Isabele falava o idioma francês fluentemente e este não seria um
obstáculo em sua comunicação com o povo daquela região. Idealizou um lugar ermo
para não causar nenhum tipo de surpresa e assim que chegou pode visualizar o
Castelo de Aboise. Partiu naquela direção e ao aproximar-se do Castelo
perguntou a um homem do povo onde ficava o Solar de Clos Lucé. O homem lhe passou
as informações que precisava, ela agradeceu e se pôs em marcha até chegar ao
local indicado.
O encontro com o Senhor Da Vinci
Isabele chegou às portas do château
entusiasmada e ao mesmo tempo nervosa, afinal, este seria o primeiro contato
com um ser do passado e também por tratar-se de um ilustre nada mais nada menos
conhecido como Leonardo da Vinci.
Bateu palmas a frente da entrada e
aguardou por alguns momentos até que um rapaz veio atendê-la. Enquanto
aguardava sua aproximação observou que seu “olho da mente” estava escondido em
seu antebraço direito e pode saber de imediato que se tratava de Francesco
Melzi, amigo e aprendiz de Leonardo que o acompanhava desde tenra idade, hoje
com 26 anos de idade:
- No que posso lhe ajudar?
- Eu gostaria de encomendar um trabalho
ao Senhor Da Vinci.
- E quem é você?
- Sou Isabele Constantine, entusiasta
dos seus trabalhos.
- O Mestre não costuma fazer trabalhos
para desconhecidos.
- O Senhor Giovanni Bellini de Veneza
faria o trabalho, mas sua morte no mês passado interrompeu meu pedido e por
este motivo estou aqui.
- Por favor, entre.
- Obrigada.
Ao adentrar no château, Melzi lhe
pediu que aguardasse ali mesmo naquele salão, enquanto iria chamar seu mentor.
Aqueles quatro ou cinco minutos pareceram à eternidade. Ainda ansiosa, não
sabia se observava os detalhes do salão ou mantinha-se concentrada com a
eminente presença de Da Vinci. Ouviu passos que rangiam o assoalho e um arrepio
eriçou os pelos dos braços. Respirou fundo e ali estava Leonardo di Ser Piero
da Vinci em carne e osso. A primeira coisa que observou foi o “olho da mente”
que se localizava em sua testa, desviou o olhar para que a comunicação não se
estabelecesse e fez uma rápida leitura de sua compleição física:
Da Vinci era alto e tinha os olhos
castanhos, cabelos e barba esbranquiçados pelo tempo que mesmo assim não
diminuíam sua altivez e beleza natural.
Isabele sorriu como costumeiramente e
falou:
- Bom dia Senhor Da Vinci! - Me chamo
Isabele Constantine, muito prazer em conhecê-lo.
- Bom dia Madame Isabele, no que posso
lhe ajudar?
- Vou completar 32 anos no próximo mês e
gostaria imensamente de retratar meu rosto. Estive com o Senhor Giovanni
Bellini em Veneza e até havia pagado pelo serviço antecipadamente, mas o seu
falecimento, impediu que o serviço fosse prestado.
- Éramos bons amigos, sentirei sua
falta. - Mas diga-me, porque quer retratar tua face?
- Quero estampar minha felicidade neste
momento maravilhoso da minha vida.
- Estou trabalhando exclusivamente para
o Rei Francisco I e sinceramente não sei até que ponto isto poderá interferir
na minha rotina.
- Por favor, Senhor Da Vinci não recuse
meu pedido.
Isabele sabia que Da Vinci era um homem
de princípios e adorava as artes, dificilmente recusava trabalho. Apesar dos
seus sessenta e quatro anos era comum agir com tolerância e se preocupar com os
sentimentos das pessoas.
- Está bem, vou trabalhar para você, mas
por apenas dois dias. Depois volto aos meus afazeres.
- Muito agradecida e quando
começaremos?
- Ainda hoje depois do almoço aqui mesmo
no château. Entretanto gostaria que almoçasse conosco, pois gosto de conhecer
as pessoas que retrato.
- É um convite irrecusável e estou ao
seu inteiro dispor.
- Melzi, por favor, deixe-nos a
sós.
- Por favor, senhorita sente-se e fique
a vontade. Sabe por que aceitei seu pedido?
- Não!
- Porque acho muito difícil encontrar
pessoas, principalmente mulheres felizes neste tempo. - Eu me considero uma
pessoa muito feliz senhor Da Vinci. Sou jovem, livre e disponho de excelente
saúde, além de não ter problemas financeiros.
- Você é da monarquia?
- Não, mas tenho dons ainda ignorados
por muitos. Dons que me permitem estar aqui neste momento conversando com um
dos, senão o maior gênio da humanidade.
- Fala como se já me conhecesse e porque
me credita tal genialidade?
- Suas obras e todo o seu legado entrará
para história e será reconhecido mundialmente.
- Que embasamento tem para afirmar tal
questão?
Ela o olhou fixamente e simplesmente
respondeu:
- Sou do futuro!
Ele não se surpreendeu com a resposta.
Levantou e calado andou em círculos e quando parou fez outra pergunta:
- De que ano no futuro?
- 2601.
- Temos muito que conversar. Sempre fui
fascinado pelo futuro e tenho vários projetos que um dia desejo ser
realizado.
- Mas o Senhor sabe que eles se
realizarão. Por favor, Senhor Da Vinci eu posso extrair a verdade da sua mente,
mas não o farei sem o seu consentimento, então, conte-me com suas palavras suas
experiências nestes 64 anos de vida.
- Você pode ler meus pensamentos?
- Não só ler, como armazená-los em minha
memória.
- Diga-me algo que somente eu sei, então
terei certeza de poder confiar meus segredos.
- O Senhor também viajou ao futuro para
ano de 1975.
- Não estou surpreso com seus dons, pois
há muito espero por este momento:
O diálogo com seres de outras
realidades, outras capacidades, mas isto é realmente fascinante. Enfim alguém
com quem eu possa dividir e partilhar conhecimentos.
Era o ano de 1476 e eu havia completado
24 anos. Fui acusado injustamente de sodomia, sem provas fui absolvido, mas
envergonhado fiquei recluso no ateliê em Florença, quando numa tarde de domingo
dois homens bateram a porta. Eu não os conhecia, mas como fui chamado pelo nome
eu os atendi. Os dois eram mais altos que eu e se apresentaram como Elieser e
Lucca. Disseram que tinham assuntos a tratar de suma importância sobre o futuro
da humanidade, que estavam diretamente ligados a mim, então eu os convidei a
entrar. Sem rodeios foram diretamente ao assunto:
- Somos seres de outro mundo, especificamente
do Planeta Segoy I, estamos estudando você a Dez anos do seu tempo e agora
verificamos que está pronto para receber informações que em muito contribuirá
para o estado evolutivo aqui da Terra.
- Mas o que querem dizer com isto e como
posso crer na veracidade do que estão falando?
- Não se assuste Leonardo provaremos o
que estamos falando.
De súbito Lucca pôs a mão na minha testa
e tive a oportunidade de obter uma sensação indescritível e quando dei por mim
estava numa cidade movimentada e bem diferente de Florença. Aliás, tudo era bem
diferente da minha realidade: Desde a iluminação ao contingente, os transportes
e as vestes, assim como máquinas velozes e barulhentas, além de telas gigantes
com pessoas em seu interior em movimento. Perguntei onde estávamos e Elieser
disse-me que em Roma no ano de 1975. Perplexo, senti medo, mas logo fui
acalmado pelos segoyanos, que me mostraram telepaticamente não só os benefícios
do conhecimento sobre o futuro, como o resultado de algumas mudanças. Instantes
depois eu estava de volta à velha Florença. Daqueles homens, nunca mais tive
outros contatos ou notícias. Foi um breve momento, porém inesquecível até os
dias atuais.
- Quanto tempo durou esta viagem?
- Acho que uns cinco minutos, não mais
que isso.
- E nesse breve instante o Senhor
conseguiu captar informações suficientes que puderam contribuir ao longo da
história com a evolução humana. Várias anotações e desenhos, um acervo
verdadeiramente fantástico.
- Esbocei tudo aquilo que tive a
oportunidade de observar e aprender.
“Nunca o homem inventará nada mais
simples e nem mais belo que uma manifestação da natureza, dada à causa, a
natureza produz o efeito no modo mais breve em que pode ser produzido”.
Leonardo Da Vinci.
- E quanto à escrita reversa?
- Quem acreditaria nessa história? - Não
vi outra maneira senão usar de alguns subterfúgios que pudessem encobrir certas
verdades. Além do mais, ao regressar do futuro com a transmissão telepática que
recebi dos segoyanos, também deixaram implantados alguns dons que antes eu não
possuía, como a escrita reversa e a capacidade não só de perceber certas
intenções das pessoas, como também identificar na natureza certas composições e
as propriedades de elementos, que até hoje utilizo em minhas pinturas.
- Isso explica a diferença encontrada
nas tintas usadas na tela “Anunciação”, elaborada em parceria com Lorenzo di
Credi a qual o Senhor pintou apenas o “Anjo”. A composição da tinta utilizada
foi objeto de estudos por longo período de tempo.
- Senhor Da Vinci, o Senhor me permite
captar suas memórias?
- Isso vai doer?
- Nenhum um pouco.
- Então não há problemas! - Vá em
frente.
Isabele deixou que seu “olho da mente”
fizesse a comunicação com o “olho da mente” de Da Vinci e imediatamente aquela
transmissão foi processada.
Tão logo acabou a transmissão o almoço
foi anunciado e aquela conversa fora interrompida momentaneamente e já que
Melzi também estava presente, o assunto ficou restrito a fatos corriqueiros.
Terminado o almoço Melzi pediu licença e saiu deixando-os sozinhos novamente e
assim concluírem mais alguns assuntos:
- Senhor Da Vinci, por motivos óbvios a
pintura não se faz necessária, até mesmo porque, isto poderia interferir
diretamente em resultados futuros, assim como qualquer outra atitude que
modifique o que está consumado.
- Compreendo. - Direi a Melzi que você
queria um trabalho muito rico em detalhes e que eu não conseguiria atendê-la em
tão curto prazo.
- Obrigada Senhor Da Vinci, muito
obrigada mesmo. - Jamais me esquecerei deste nosso encontro, para mim um
privilégio único.
- Adeus Isabele.
- Adeus Senhor Da Vinci.
-
Ela o olhou fixamente e enternecida acenou com a mão direita e
desapareceu.
Capítulo 4
O Planeta Segoy
I
Isabele estava extasiada em ter
conseguido extrair a memória de Leonardo da Vinci, na verdade mais que isso,
pois além de acessar momentos presenciais, as aspirações, os desejos e as
manifestações internas, agora também era detentora dos seus conhecimentos.
Entretanto, a manifestação mais presente naquela memória era a curiosidade
sobre os dois seres que o levaram ao futuro, permitindo que pudesse expor ao
mundo, um aglomerado de informações. Elieser e Lucca estavam marcados de forma
significativa em seus pensamentos. Por este motivo, um forte sentimento de
averiguação a respeito daqueles seres tomou conta do seu Ser.
Ela acabara de chegar a seu apartamento
e entre alguns afazeres, se deixou levar pelo sono dormindo no sofá. Depois de
uma noite bem dormida, despertou e começou a trabalhar sua mente, para mais uma
incursão a um Planeta que lhe era totalmente desconhecido. Pelo que ficou
registrado na conversa com Da Vinci, ela sabia que estaria diante de uma
situação bem diferente das que já havia conhecido, pois se tratava de uma
civilização a frente de seu próprio tempo e, portanto estava um tanto quanto
receosa em partir, pois não tinha a mínima ideia do que lhe aconteceria.
O Planeta Segoy I encontra-se na Galáxia
UDFJ-39546284, no centro do Aglomerado Fornax, descoberta nos idos dos anos
2011. Naquela ocasião foi constatado ser ela a Galáxia mais antiga do Universo,
com cerca de 480 milhões de anos desde o Big-Bang, o que significa dizer que
sua luz levou cerca de aproximadamente 13,2 bilhões de anos para chegar a
Terra. Segoy I é um Planeta bem parecido com a nossa Terra, assim como seus
habitantes e as formas de vida lá existentes. A diferença fundamental entre nós
e eles é o estado evolutivo em que se encontram: Cinco mil anos à frente, sendo
assim, estão vivendo ao que corresponde ao Século XXXII do tempo de Isabele,
diferença muito aquém, do que poderia supor, o que a faria sentir-se da mesma
forma como ela própria fora julgada pelos seres dos Planetas inferiores, por
onde transitou.
Apesar das circunstâncias e das
inimagináveis situações que poderiam advir de sua estada naquele Planeta, por
um instante lhe veio à mente um reflexo daquela civilização: Eram seres humanos
e independentemente do estado evolutivo em que se encontravam, em sua
concepção, não causariam problemas de ordem incompatível com os fundamentos no
qual se embasava. Verificou todos os equipamentos e conferiu a “Magno” as
programações alternativas de resgate emergencial e não tendo mais nenhuma
dúvida partiu.
A surpreendente recepção em Segoy I
aconteceu numa terça-feira de Sol escaldante e como sempre, ela chegou a um
local ermo com a intenção de averiguar o território onde se encontrava.
Sozinha, ela tomou Magno em suas mãos e fez as averiguações pertinentes ao
local. Constatou que várias manifestações telepáticas se faziam presentes em
seu pensamento e surpreendentemente, mesmo contra sua própria vontade em
estabelecer algum tipo de comunicação
ouviu uma voz masculina lhe dizendo: terráquea Isabele permaneça neste
lugar estou indo a seu encontro. Em alguns segundos, observou a materialização
de um Ser bem ao seu lado.
- Chamo-me Ghet e patrulho todo o
Condado de Sirvor.
Sempre recebemos a visita de intrusos,
porém de características diferentes da sua, seres com capacidades semelhantes
as nossas e nunca de degraus inferiores.
- Por que razão veio aqui? - Anseio por
conhecimento e sei que Segoy I ajudou no desenvolvimento da Terra. Ghet sabia
exatamente do que ela estava falando: O que aconteceu no passado, com quem,
como e de que maneira Elieser e Lucca conduziram Da Vinci para o futuro e principalmente,
com que propósito. Ao mesmo tempo fez a leitura das viagens de Isabele e
constatou que seus princípios estavam em comum acordo com as diretrizes
elaboradas por Dorin, Mestre daquele mundo.
- Não se assuste, vou leva-la diante a
Dorin, nosso Mestre, Ele saberá como proceder. Isabele permaneceu quieta e o
segoyano a tocou com as pontas dos dedos em sua testa e subitamente pode sentir
a sensação de estar no olho de um furacão e seu corpo como se numa queda em
meio ao vácuo do rodamoinho. Durou menos de cinco segundos e agora se
encontrava numa sala toda metalizada e diante a um ser de extrema beleza
corpórea, tão alto quanto Ghet.
- Deixe-nos a sós Ghet.
- Certo Dorin! Estarei nas planícies de
Sirvor. (Deu as costas e desapareceu).
Ele a olhou por alguns segundos e de
pronto, assim como Ghet, traçou seu perfil e personalidade indo diretamente ao
ponto comunicando-se telepaticamente com a intrusa.
- Seus princípios são a base iniciativa
do que hoje somos. Chegará o tempo que todos descobrirão o êxtase em poder
auxiliar civilizações inteiras, assim como fez por onde passou. Todavia, este é
apenas o começo, ainda necessitas de aprimoramentos auxiliares e tua
curiosidade te trouxe até aqui, mas não sabe qual o desfecho.
- Eu posso saber?
- Não, pois o que nos surpreende é o que
nos motiva.
- Posso ficar e aprender?
- O suficiente para o que lhe cabe.
Poderá assistir e presenciar como e de que forma vivemos, mas não conseguirá ir
além dos limites do seu campo visual, mesmo utilizando o “olho da mente”, não
resgatará nenhuma memória dos segoyanos.
- O que poderei fazer?
- Apenas observar. - Entretanto te darei
um presente, pois sei que no momento certo irá precisar. Dar-te-ei o dom do
teletransporte aqui empregado, mas só o usará quando realmente for preciso e
você saberá. Ele colocou o dedo indicador em sua própria testa e o ambiente foi
invadido por uma luz intensa, que se expandiu de tal forma impedindo que
Isabele pudesse enxergar além dos seus limites. Ao restabelecer sua visão
natural, ela compreendeu que estava em outro lugar e sozinha averiguou e
contemplou o que via. Não demorou muito para entender que naquele Planeta não
havia transportes e como toda comunicação era telepática, tudo acontecia de
forma absolutamente silenciosa. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o fato
de não ver e nem ouvir animais ou aves, prédios ou construções apenas o
sacolejar da flora acometida pela brisa fresca que ia e vinha com as ondas do
Mar.
À natureza ali era exuberante e viva,
parecendo ser tratada por exímios jardineiros e não tardou para que
presenciasse a aparição de indivíduos encapuzados em vários pontos diferentes
que desapareciam em questão de segundos.
- São Monges espirituais que se
alimentam de nutrientes da própria natureza.
- Ghet? - Que lugar incrível! - Que
tipos de nutrientes?
- Intercâmbios fluídicos através das
manifestações irradiadas por pensamentos que se unem por raios e ondas da mesma
sintonia.
- E que sintonia é essa?
- O amor.
- Onde residem e no que trabalham?
- Os homens de todos os Mundos os
conhecem como “Consciência” ou “Anjos da Guarda”, em seu Planeta de “Espíritos
de Luz”. Eles estão diretamente ligados à proteção, ao desenvolvimento, a moral
e ao nível cultural de cada Ser. São incansáveis controladores e perpetuam o incessante
estado evolutivo de acordo com suas missões. Vem aqui, tão somente para se
fortalecer continuando aos propósitos a que foram incumbidos.
- Todo o planeta é assim?
- Aqui é o Portal da Humanidade. O
centro da “Criação”. O Início, o fim e o meio.
- E Dorin, o que representa neste
Mundo?
- Dorin é o Mestre e representa a
vontade do Deus Xéspio, o Governador regente de Segoy I. - Então...
- Sim! - É isso mesmo. Temos vários
Deuses compromissados com os desígnios do “Grandioso Ser”, como assim o denominou.
- São realmente os Deuses nossos
criadores?
- Somos parte de Suas Criações e
participamos de atalhos por Eles elaborados, tendo como constituição a própria
vida e a impregnação do amor, fator essencialmente sublime e colaborativo de
acordo com seus desígnios.
Isabele compreendeu que não teria como
ir além de onde estava e que todo seu conhecimento estaria restrito as esferas
inferiores. Por último e apenas por curiosidade fez mais uma pergunta a
Ghet:
- Posso conhecer minha consciência ou
“Anjo da Guarda”?
- Não, mais me creia: “Ele está sempre a
seu lado”, inclusive agora, aproveitando o momento para se nutrir.
- Obrigado Ghet, estas valiosas
informações estarão guardadas e certamente em muito contribuirão a minha
progressão.
Olhou
mais uma vez para o horizonte e pôs a mão no chip, se concentrou e desapareceu.
Capítulo 5
Os adeptos as
suas estratégias
De volta a Terra e após refletir sobre
suas viagens, ela agora também era detentora de verdades nunca dantes
esclarecidas e se propôs a fazer incursões mais incisivas e cada vez mais
aprimorada pelos conhecimentos adquiridos. Mas aqui na Terra, a questão mais
forte era o de alicerçar os seus conhecimentos e transmitir para as pessoas de
que maneira realmente agiam os Deuses para firmar e colaborar com o crescimento
individual de cada um. Para isto, deveria provar definitivamente, tais
incursões, espalhando Terra afora a verossímil realidade constatada. Apesar de
ter reconhecimento amplamente divulgado em palestras e simpósios, as incursões
a outros Planetas foram sumariamente censuradas em virtude da desconfiança
pelos Órgãos Controladores da reputação decadente da CSLB, a Empresa onde
iniciou suas pesquisas. Certamente, sozinha levaria muito tempo e por esta
razão decidiu formar uma equipe de colaboradores que seriam os futuros adeptos
presenciais do legado que vinha construindo.
Criou um Blog e passou a postar
diariamente assuntos pertinentes a vida em outros mundos, em pouco tempo,
estava se relacionando com pessoas afinadas as suas teorias e não tardou para
conhecer aqueles que trabalhariam em seu projeto. Entretanto seria de suma
importância que os colaboradores fossem escolhidos a dedo e para isso lançou as
seguintes perguntas:
- Você acredita que irá falar com seres
de outros mundos?
-Por quê?
E
também prometeu uma viagem a outro País para as cinco melhores respostas.
Mais de quinhentas pessoas se
inscreveram e restringiu a trinta aquelas que passaram no primeiro teste.
Depois marcou uma reunião, que serviria
de funil para selecionar pessoalmente aquelas que finalmente seriam
selecionadas para o projeto. Pagou o translado, todas as despesas dos
concorrentes e alugou um salão onde marcou a reunião para quinta-feira próxima
obedecendo ao horário habitual das 18h. Dos trinta convocados, apenas 25
compareceram e assim deu inicio a sessão. Logicamente, Isabele usaria do “olho
da mente” para que pudesse obter informações privilegiadas reduzindo assim os
riscos de contratar pessoas fora dos padrões não só do projeto, como também
inadequadas.
Após averiguar todos os requisitos
escolheu os cinco que fariam parte de sua equipe, dispensando os demais. Assim,
estes foram os escolhidos:
Cláudio Raiso Farid, 38 anos, professor
de física quântica, moreno de olhos e cabelos castanhos claro, 1,78m.
Ana Durec Goes, 27 anos, psicóloga,
ruiva de olhos amendoados, 1,72 m.
Mirla Dautre, 30 anos, nutricionista,
negra, olhos esverdeados, cabelo comprido 1,73 m. Gastão Donnés, 25 anos,
administrador, negro, olhos preto e barbudo, 1,73 m.
Simone Apin Suez, 43 anos, morena, olhos
e cabelos castanhos, 1,70 m.
Os seis ficaram ali por cerca de mais 1
h e por volta das 20 h, Isabele anunciou que o jantar seria por sua conta, num
conhecido restaurante de Copacabana.
Faminto, Gastão é o primeiro a se
manifestar:
- Então vamos, meu estômago já está pelo
avesso.
Entre risos e brincadeiras, o sexteto
vai direto ao restaurante e cada qual faz o seu pedido de acordo com sua
vontade. Satisfeitos, indagaram quando seria a viagem prometida. Isabele
olhou-os um a um e respondeu fazendo outra pergunta:
- Estão aqui realmente por uma viagem? -
Posso lhes pagar esta viagem e poderão partir amanhã mesmo se assim o
desejarem, mas tenho planos de viagens muito além do que possam imaginar.
Preciso de colaboradores para o meu projeto e vocês possuem todos os requisitos
para viver uma odisseia e não uma simples viagem a passeio. O que me
dizem?
- Com tudo pago? - Questionou
Mirla.
- O meu projeto vai além da esfera
financeira, mas de qualquer forma, fiquem sabendo que dinheiro nunca será
problema, afinal sei que todos estão aqui não por este motivo.
- Diga-me Isabele, qual é o seu projeto
e o que quis dizer quando falou em odisseia?
- Me refiro a viagens intergalácticas
Cláudio. Viagens a outros Mundos, outras civilizações.
- Participaremos de alguma missão
viajando a velocidade da luz?
- Não Gastão, pois que neste caso,
dificilmente conseguiria adeptos, simplesmente por serem viagens ainda sem
volta.
- Mas então o que será? Retrucou
Ana.
- Tome. Ponha este chip em seu ouvido.
Pense no Cristo Redentor e veja o que acontece. Depois pense aqui neste
restaurante. Não demore mais que 1 minuto. Vamos, pense!
Ana desapareceu imediatamente e os
outros se entreolharam e ficaram quietos e antes mesmo que alguém perguntasse
por algo, ela estava de volta.
- Extraordinário fantástico.
- Você foi mesmo ao Cristo
Redentor?
- Sim Mirla eu fui e voltei como num
passe de mágica. - Tome o seu chip Isabele.
- Será que alguém além de nós me viu
sumir e voltar?
- Fique tranquila Ana, ninguém percebeu
nada, porém sua preocupação denota grande responsabilidade e esta é uma
característica pela qual eu vos escolhi. Sei que todos estão surpresos e querem
experimentar o chip, mas aqui não é possível com segurança. Estão
cansados?
- Não! - Assim todos responderam.
- Então, vamos ao meu apartamento e lá
poderemos conversar com mais tranquilidade. Isabele pagou a conta do
restaurante e disse-lhes que morava bem próximo e que também nunca havia levado
ninguém ao seu apartamento deixando claro que tinha convicção em confiar em
seus novos colaboradores. Todos agradeceram pelo voto de confiança e enquanto
caminhavam entre uma Rua e outras trocavam informações a fim de se conhecerem
um pouco melhor.
- Sentem-se e, por favor, sintam-se a
vontade. - Vou lhes falar do meu projeto e sinceramente espero que abracem essa
causa. Entretanto, ninguém está sendo obrigado e, portanto sintam-se
encorajados em recusar caso não concordem.
Há dois anos viajei para o Planeta Yron,
minha primeira viagem,... Nesta época o Planeta vivia o que aqui nossos
antepassados viveram nos idos dos anos correspondentes ao século XVIII ao
século XX... Lá, me estabeleci por cerca de um ano e tive o prazer de... Quando
julguei ter preparado aqueles habitantes para o futuro, encerrei as atividades,...
Assim foi também em Thronos, um Planeta medieval com Reis e Rainhas disputando
por terras e infiltrada... Por fim o Planeta Zywamner que vive o começo da
Era de Aquários, onde pude...
Notem que o Universo está repleto de vida e o
que é mais importante: Vivendo similaridades ao nosso e que cada um deles
acredita num Deus diferente, portanto, cada Planeta é governado por um Deus de
nomes e características diferentes uns dos outros, de acordo com o grau de
evolução a que estão subordinados. Meu objetivo é mostrar a estas civilizações
que, primeiro: Não estamos sozinhos no Universo. Segundo: Auxiliar no que for
preciso e conveniente aos seus adiantamentos. Terceiro: Provar que não somos
deuses e que Eles, estão atendendo aos desígnios do “Grandioso Ser”.
Sei que dos cinco, apenas três estarão
ao meu lado e sei também quais aqueles que não aceitarão minha proposta, mas
fiz questão de reunir os cinco, para que fique bem claro que assim como a
viagem a velocidade da luz não tem retorno, a viagem através do pensamento é
viciosa e da mesma forma nos remete a uma constante odisseia.
- Como pode saber quem não aceitará tua
proposta?
- Tu mesma Mirla e Simone são as
desistentes, mas a viagem a outro País que prometi continua valendo.
Digam-me suas contas bancárias que farei
a transferência. Sem ressentimentos.
- Eu realmente preciso recusar sua
proposta.
- Sim eu sei que está apaixonada e
lutando muito por este amor, assim como Simone que pretende cuidar do seu filho
de 10 anos, aliás, pagarei pela passagem dele também, para que juntos possam
desfrutar de uma grande aventura.
- Obrigada Isabele. Não sei como você
sabe, mas muito obrigada.
- Quanto a vocês, apenas posso dizer
preparem-se, porque estão prestes a viver as maiores experiências já vividas
pelos seres humanos.
- Quando nos reencontramos?
- Amanhã Ana, pela manhã e vocês também
rapazes.
- Certo! Pode contar conosco.
- A propósito, posso ir para casa usando
chip?
- Não sem antes fazer um treinamento
Cláudio, mas oportunidades não faltarão.
- Foi só uma brincadeira. Até amanhã
Isabele.
- Até... A todos.
No dia seguinte logo pela manhã os novos
colaboradores foram recepcionados com mesa farta, servido por ótima entrega da
região. Serviram-se a vontade e em meio ao café, entre brincadeiras e descontrações,
Ana, Cláudio e Gastão, bombardearam Isabele com perguntas pertinentes as
missões e mesmo sem saber para onde iriam e as possíveis situações que poderiam
advir de suas viagens já confiavam plenamente na anfitriã e mentora que
mantinha total controle da reunião. Como as perguntas eram infindáveis, ela
então resolveu encurtar a conversa e lhes falou do poder extra que possuía no
caso o “olho da mente”.
- Tenho como lhes mostrar o que vivi e
presenciei nos mundos por onde andei. Tal poder, não posso lhes revelar como e
de que forma o consegui, mas espero que aproveitem, pois vou transmitir a cada
um de vocês um pouco das minhas memórias, então a partir da transmissão saberão
antecipadamente o que de fato aconteceu. Assim, concentrou-se e a visão tornou-se
imediatamente presente. Para Gastão, o primeiro a se conectar, seu “olho da
mente” encontrava-se no tórax e passou as informações sobre Yron. A Ana, cujo
“olho da mente” encontrava-se no ombro direito, as informações de Thronos e por
fim, a Cláudio as de Zywamner, que escondia seu “olho da mente” no pé esquerdo.
Tão logo as transmissões foram passadas, Gastão sai na frente:
- Fantástico, que experiência
maravilhosa. - Devo supor que pelo fato de apenas ter me transmitido o que
aconteceu em Yron, minha missão será pertinente a este Planeta, estou
certo?
- Sim Gastão. Quero que se prepare, pois
você voltará a Yron.
- Então, vou a Thronos? - Questionou
Ana.
- Não agora Ana. Por enquanto, ficará
comigo. E você Cláudio terá a missão de dar continuidade de onde parei em
Zywamner.
- Estou aqui para o que der e vier
Isabele. Conte comigo.
- Suponho que todos possuem “Magno” em
seus bolsos, certo?
- Sim, todos têm.
- Ótimo.
Faremos alguns ajustes cruciais. Ajustes
estes que permitirá nos comunicarmos, inclusive independente da distância de
onde estivermos. Assim, poderemos não só opinar em tomadas de decisões, como
também auxiliar no caso de algum revés. Mais alguma pergunta? - Sim Isabele,
porque só eu não viajarei?
- Porque só tenho dois chips à disposição
e você me ajudará na construção do terceiro, que será seu.
- Entendi.
- Vamos trabalhar? - Me
acompanhem.
Ela os levou a uma antessala que media
aproximadamente oito metros quadrados repleta de equipamentos e computadores de
última geração, cada qual de serventia própria e específica a várias
atribuições. Ali passaram o resto do dia fazendo as configurações necessárias
ao correto ajuste de “Magno” e entre os variados assuntos, idas e vindas da
mesa que fora servida pela manhã, eles aproveitavam a descontração ouvindo
músicas, porém, sempre atenciosos com seus trabalhos e assim deram por encerrar
aquele dia.
Isabele estava satisfeita com seus
colaboradores, mas perfeccionista como era, não poderia dar por encerrado seu
dia, sem antes testar o que fora realizado. Colocou a mão no ouvido e partiu
para Yron indo diretamente ao descampado. Ficou maravilhada por rever as Luas
do Planeta das nuvens cor de rosa, mas sem perda de tempo tomou Magno em suas
mãos e entrou em contato com Gastão.
- Gastão, você me ouve?
- Sim, estou te ouvindo bem!
- Estou testando “Magno” aqui de Yron. -
Pelo que vejo, não há ruídos ou interferências. Sente algum atraso?
- Não. A comunicação está
perfeita.
- Não desligue, vou chamar Ana e Cláudio
e depois tentaremos vídeo conferência.
- Estarei em linha.
- Cláudio, você me ouve?
- Perfeitamente.
- Por favor, não desligue e aguarde
enquanto chamo por Ana. - Ok!
- Ana, você me ouve?
- Sim Isabele.
- Estou conectada a Gastão e a Cláudio
também. - Todos me ouvem?
- Nitidamente.
- Como disse a Gastão, estou em Yron e
precisava constatar estar tudo certo. Por favor, senhores acionem suas câmeras
para testar em vídeo.
- Acionado! - Estou te vendo
Isabele.
- Eu também.
- Idem.
- Tudo certo pessoal. Deixarei vocês
descansarem!
- Isabele mostre-nos as Luas.
- Demais. - Vejam as nuvens rosa e
aquelas montanhas gigantescas.
- Certo pessoal. - Vocês terão a
oportunidade de presenciar não só Yron, mas outros mundos de belezas
singulares. Boa noite a todos. - Câmbio e desligo.
- Boa noite Isabele.
Tão logo desligou “Magno” e antes de ser
tomada pelo impulso de estar com os irmãos yronianos, ela se concentrou e
voltou para a Terra com a intenção de preparar algumas informações a seus
colaboradores. Sentou-se a frente do computador central e inseriu várias
anotações certificando-se não ter se esquecido de nada. Logo pela manhã,
aprontou-se e estava apta a começar mais um dia. Esperou pacientemente pela
turma, que antes das 9h se fez presente.
- Hoje, eu quero abordar um tema com
vocês que considero de suma importância dentre as missões que estão por vir. É
muito comum nos encontrarmos em situações, onde somos considerados “deuses”,
isto acontece simplesmente por estarmos em patamares de evolução degraus acima
dos povos que visitaremos. Entretanto e apesar de saber que não é necessário
lhes pedir para não se comportarem como tal, eu enfatizo que além de não ser
prudente, esta é a única regra que jamais deverá ser descumprida, pois não o
somos. Eles vos considerarão como tal e vocês terão de provar que não são. Por
esta razão fiz questão de transmitir minhas memórias a cada um de vocês, como
forma de saberem como interagir diante a essas questões. Os povos que
conhecerão, por mais esclarecidos que considerem, ainda vivem arraigados ao
espetacular, ao inacreditável, ao sobrenatural e enfim, aos seus sistemas de
crenças. Portanto, não percam de vista estes ensinamentos e criem condições em
que a lógica e razão se sobreponha a tais questionamentos. Certamente seus
patamares ainda estão aquém dos nossos e todo ato por vocês proferidos serão
analisados e interpretados como divinatórios, então estejam atentos e
preparados para discordar sem agredir ao intelecto de seus interlocutores.
Tenham sempre em mente que nossa supremacia, não passa de um mero reflexo se
comparadas à supremacia dos povos que estão a nossa frente. Pensem por este
prisma e nossas missões alcançarão o êxito que venho propondo. Alguma
dúvida?
- De posse das memórias do que aconteceu
em Yron, eu compreendi perfeitamente o que você quis dizer. (Gastão).
- O mesmo em Thronos. (Ana).
- E assim em Zywamner. (Cláudio)
Sei que estão ansiosos por colocar em
prática nossas missões, além de entusiasmados em colocar o chip e fazer viagens
a outros mundos, entretanto e apesar de confiar plenamente em cada um de vocês
eu lhes peço: Não me decepcionem, pois saberei exatamente o que fizeram longe
dos meus olhos. Aqui estão os chips vão e deem continuidade ao que comecei.
Gastão apresente-se a Velma e Alex e diga-lhes o que agora será preciso fazer.
E quanto a você Cláudio bata a porta de Jean e Marcele e certifique-se como vai
o desenvolvimento do Planeta.
- Como devo me concentrar?
- Sem esforço nenhum Gastão. Use somente
à vontade e pense no lugar e nas pessoas a quem deverá se dirigir. Em segundos
estará lá diante daqueles que pensou. Simples assim.
Gastão fez exatamente o que foi
recomendado e instantaneamente desapareceu.
Cláudio perguntou se também deveria
partir, mas Isabele pediu que aguardasse pelo menos um dia até obter notícias
de Gastão. Também pediu para que ele tirasse o dia de folga e dirigiu a palavra
para Ana, que apenas observava e mantinha-se calada esperando pelas diretrizes
de sua mentora.
- Vamos Ana. - Ainda hoje quero aprontar
o seu chip. Sua missão em Thronos requer maiores esclarecimentos.
- Certo Isabele! Estou pronta para
seguir suas recomendações.
Assim,
Isabele e Ana passaram o dia conversando sobre Thronos, enquanto aprontavam o
chip. Na verdade a feitura do mesmo era tão somente um pretexto para que Isabele
explicasse a Ana o que realmente desejava que fosse feito naquele
Planeta.
Capítulo 6
Desordem em
Yron
Ao chegar a Yron, Gastão dirige-se a
Casa da Moeda passando pelo Mercado Popular, como era de se esperar ali também
era um lugar de intensa movimentação onde através de gritos e sinais a
comunicação das vendas era feita. Vale ressaltar que com a aquisição das
memórias de Isabele, ele tinha plena consciência e entendimento não só da
língua como os sentimentos yronianos. Plantou-se junto à entrada do
estabelecimento e ficou ali por alguns minutos. Em seu âmago pairava a dúvida
de como iria se apresentar aos irmãos. Encheu-se de coragem e finalmente e por
sorte foi abordado por um funcionário da Casa:
- No que posso lhe ajudar?
- Meu nome é Gastão e preciso falar com
Alex e Velma.
- Posso saber qual o assunto, para então
poder anunciá-lo?
- Por favor, diga-lhes apenas que vim de
muito longe e tenho notícias de uma pessoa muito querida.
- Espere um momento.
O funcionário transmitiu exatamente o que
fora recomendado deixando os irmãos surpresos e ao mesmo tempo curiosos em
saber de quem se tratava.
- Por favor, traga-o aqui.
- Sim Sra. Velma.
Ao adentrar na sala, ele foi
praticamente dissecado tal a forma como fora observado por Velma e Alex, que
realmente nunca tinham visto um homem com aquela estatura, além de ser negro, o
que era uma característica pouco comum em Yron. Cordial, Alex sai à
frente:
- Por favor, sente-se...
- Gastão!
- Então Gastão, o que lhe traz
aqui.
- Vou direto ao assunto. Alguém pode nos
ouvir?
- Não. Pode falar.
- Sou terráqueo e vim a mando de
Isabele.
- Se é realmente amigo de Isabele
prove-nos.
Então, ele desapareceu da frente dos
irmãos e em segundos reapareceu sentado em outra cadeira.
- Isso é suficiente?
- Claro Gastão. Amigo de Isabele, também
é nosso amigo. Diga-nos como vai Isabele?
- Bem, muito bem. Arquitetando missões
de exploração e ajuda a outros Planetas.
- Isabele contribuiu em muito,
principalmente para nossas vidas, entretanto, Yron depois de sua estada
tornou-se um Planeta dividido onde nossa crença no Deus Pory não é mais a mesma
de outrora. Muitos são aqueles que desprovidos desta crença buscam o suicídio
como forma de atenuar seus reveses, interpelou Velma.
- Creio não ter sido bem interpretada,
pois esta não era sua intenção.
- Nós temos essa consciência, mas a
maioria dos yronianos não. Portanto Gastão, por favor, melhor seria deixar as
coisas como estão, pois muitos de amor passaram a sentir ódio do que ela aqui
implantou.
- Mas e os seus feitos e os avanços
conquistados?
- Nada se compara a falta de uma crença,
num Deus que sempre esteve presente na alma das pessoas e que sumariamente e de
forma brutal tenha sido arrancado de uma hora para outra, como uma árvore
puxada deixando a mostra suas raízes.
- Estou surpreso e confuso. Pensei não
encontrar problemas, mas vejo que em Yron as coisas descambaram para o lado
contrário a iniciativa de Isabele. Você disse que a maioria dos yronianos
passou a sentir ódio do que ela implantou, não seria talvez um pré-julgamento
pessoal?
- Pode ser, mas antes não tínhamos
notícias de suicídios.
- Também não tinham acesso as
informações, a não ser pelo boca a boca. O Jornal deve ter um papel não só de
informação, como também de esclarecimento ponderando e conciliatório. - Posso ver as publicações?
- Você veio fiscalizar o que estamos
fazendo?
- Não, mas preciso saber o porquê das
coisas não estarem indo bem aqui em Yron, afinal somos responsáveis de tão
significativas mudanças nos Planetas que interagimos.
- Alex acompanhe-o até o Jornal.
- Obrigado Velma.
Ao chegarem ao Jornal, Gastão reuniu uma
série de publicações e usou “Magno” como escâner para os textos redigidos.
Despediu-se de Alex e foi diretamente a casa-base, a mesma que Isabele havia
alugado deixando o aluguel pago por dois anos, quando lá esteve. A chave estava
escondida entre as plantas de um vaso velho e o único quebrado dentre os cinco
que ali se encontravam no pequeno jardim. Fez uma rápida limpeza no local e
sentou-se a mesa iniciando sua pesquisa. Constatou que as notícias eram
tendenciosas privilegiando o Jornal sem ponderar os atos consequentes as
publicações. Notícias relatavam a volta da “deusa Isabele” prometendo um
emaranhado de mentiras, fato este que obviamente além de confundir os yronianos
e ter venda expressiva, não esclarecia nem tão pouco compactuava com os
ensinamentos deixados por Isabele.
Gastão percebeu o quão mesquinho é o
comportamento humano, não se importando em que dimensão esteja ou em que tipo
de sociedade se faça inserido. De uma forma ou de outra, os irmãos vinham
usando o nome de Isabele em benefício próprio, não medindo esforços na obtenção
de lucros pelas informações que eram difundidas através do Jornal.
Entrou em contato com Isabele por vídeo
conferência e a notificou dos últimos acontecimentos em Yron falando de suas
conclusões, com transmissão direta das páginas escaneadas para sua visualização
perguntando por fim como deveria proceder.
Isabele por sua vez, ao tomar
conhecimento do que estava acontecendo em Yron mudou de planos e pediu que
Gastão a aguardasse. Depois transmitiu a
Cláudio e a Ana por intermédio dos “olhos da mente”, cada qual há seu tempo,
suas memórias em Yron. Pediu que se aprontassem para irem expressamente aquele
Planeta e, em poucos minutos os quatro estavam reunidos na casa base e prontos
para intervir naquela atroz situação. Ela pediu que seus colaboradores
averiguassem as condições dos equipamentos deixados quando de sua última
aparição no descampado providenciando o que fosse preciso para uma nova e
definitiva aparição com o intuito de consertar o estrago.
- Vamos nos preparar para que em dois
dias possamos nos apresentar aos yronianos esclarecendo definitivamente as
questões relevantes que se fazem iminentes. Antes, porém, quero estar com Velma
e Alex a fim de resolver tão complicada situação. Posso contar com vocês?
- Sabemos exatamente como proceder, não
se preocupe.
Enquanto os três partiram ao descampado,
Isabele já sabia que os irmãos naquela hora estavam em casa e também partiu sem
dar aviso prévio.
Ao chegar à porta da casa dos irmãos
chamou-os pelos nomes, mas um homem veio até o portão e perguntou:
- A quem devo anunciar?
- Diga-lhes que a “deusa Isabele” está
aqui em carne e osso.
Tão logo deu as costas, ela desapareceu
e apareceu sentada na sala de estar aguardando ser atendida. Assim que o homem
a viu, além de surpreso a questionou como entrou sem ser vista. Ela apenas
respondeu que ficaria ali esperando.
- Isabele, que surpresa!
- Não acredito em surpresas Velma, mas
sim em decepções. Alex! Não consigo acreditar que também faça parte deste
teatro.
- Do que você está falando?
- Vocês sabem do que estou falando, as
mentiras por vocês relatadas no Jornal, enaltecendo a deusa que nunca fui e que
está prestes a voltar, com a clara intenção de tomar o lugar do Deus
Pory.
- Não era isso que queríamos, mas
percebemos que este assunto nos trazia mais vendas e levamos a frente estas
ideias.
- Vejo que deu certo. Aqueles amigos que
conheci eram pessoas simples e comedidas, sem características de riqueza e
luxúria, mas a julgar pelas aparências, muito mudaram.
- Não é bem assim, somos os mesmos de
antes e muito temos a lhe agradecer.
- Não vim aqui em busca de gratidão, nem
tão pouco adquirir méritos ou privilégios, mas esclarecer definitivamente ao
povo yroniano, questões que foram deturpadas em tão pouco espaço de tempo. - Você
Velma foi à chave para as minhas aparições espetaculares em Yron forçando-me a
tomar atitudes que estavam acima do grau de compreensão dos yronianos. Então,
compadecida eu me desdobrei em elaborar um plano que não comprometesse a
integridade moral deste povo, para agora constatar que tudo foi por água abaixo
me obrigando a tomar outras providências para reverter o absurdo por vocês
perpetrado.
- Me desculpe Isabele, não sabíamos que
chegaria ao ponto que chegou.
- Mas continuam com mentiras no dia a
dia do Jornal, não medindo consequências do poder que tem em mãos. Eu preciso
ir. Tenho muito trabalho para realizar, mas quero que saibam que externo
repulsa e indignação pelo que fizeram. Eu preciso ir!
Ainda era o começo da noite em Yron e a
música ouvida aos quatro cantos era o presságio de uma aparição no Mercado
Popular surpreendendo principalmente aquelas pessoas, que na maioria já haviam
presenciado suas aparições anteriormente:
- Povo de Yron. Em dois dias estarei
presente no descampado há esta mesma hora, quando lhes darei explicações
pertinentes as suas vidas. Preciso que o maior número de pessoas compareça,
portanto, espalhem a notícia, pois o que tenho a dizer, em muito contribuirá
para a continuidade de suas valorosas vidas. Conto com todos vocês. Contem
comigo.
Ao desaparecer uma névoa tomou conta do
Mercado e um feixe de luz amarela deixou escrito em yroniano os seguintes
dizeres: “Em dois dias no descampado”.
No dia seguinte, Isabele foi
pessoalmente junto com seus colaboradores ao descampado e fizeram os últimos
retoques daquela operação. Tudo pronto e acertado, restando apenas explanar aos
seus colaboradores os detalhes de como ela queria que fosse a apresentação.
Reuniram-se na casa base e entre lanches e muita conversa, finalmente estava
tudo preparado. Chegado o grande dia, disfarçados estiveram no Movimento
Popular por várias vezes constatando que não se falava em outro assunto se não
a aparição marcada para aquela data. Entusiasmados, o movimento de pessoas e
comerciantes era intenso e pelo que observaram a estimativa de público poderia
superar o número de 500 mil pessoas. A partir das 17 h músicas eram tocadas
pelos poderosos equipamentos lá instalados pressagiando a esperada aparição e
às 18h em ponto, com o descampado totalmente tomado pelos yronianos, em cima da
mesma pedra e da mesma forma como em sua última aparição, “os gigantes”
ressurgem em meio a fumaça causando delírio e comoção dos surpreendidos
habitantes daquele Planeta:
- Povo de Yron.
Eu lhes apresento Gastão, Cláudio e Ana
que assim como eu Isabele, estamos aqui presentes para transmitir informações
que venham elucidar de uma vez por todas nossos propósitos e porque os “Deuses”
não se manifestam como nós, mas que devem ser imprescindíveis em nossas
existências.
Gastão:
- “Pory é o Deus supremo de Yron”, a
quem a fé nele não deve ser olvidada e sim transmitida de geração em geração,
para que esta crença se fortaleça e perdure pelo tempo que for
necessário.
Ana: - Nós não somos “deuses”,
somos humanos como vocês e nossos poderes serão tão somente aquilo que as
gerações no futuro de Yron, também os terão, quem sabe até em condições acima
das nossas.
Cláudio: - Somos terráqueos e nossas
estaturas são compatíveis com as suas e em nada somos diferentes, apenas
estamos a alguns degraus na escala evolucionária acima de vocês.
Isabele: - Quando estive aqui pela
primeira vez deixei tudo isto bem claro, mas vejo que em tão pouco tempo,
correntes privilegiadas com o poder da informação deturparam meus ensinamentos,
que não são de forma alguma conclusivos ou manifestações do próprio Deus Pory,
mas parâmetros para o adiantamento ao estado evolutivo do povo yroniano. Interferi
sim, vos dando um “Jornal, um Teatro e a Moeda”, mas notem nada proveniente de
caráter religioso ou divinatório.
Quem escreve um Jornal, manuseia uma
moeda ou representa uma peça, são seres humanos, tão distantes dos Deuses como
eu e vocês. Eles nos concederam o privilégio de viver e, portanto devemos ser
gratos mostrando que podemos crescer e admirar suas obras e realizações
compreendendo que só isto, já é um milagre e nada mais.
O que hoje presenciam será mostrado da
mesma forma em futuro próximo e no tempo certo a outros seres, pois a evolução
não cabe em si e o tempo não para. Não podemos lhes mostrar de que forma
procedemos isto só confundiria e atrasaria ainda mais o estado evolutivo em que
hoje se encontram, entretanto afirmo depender de avanços tecnológicos que
acontecerá de forma natural, assim como aconteceu em nosso Planeta, a
Terra.
Gastão: - O bem maior é e sempre será a
vida e por ela não devemos medir esforços.
Cláudio: - Não caiam nas garras dos
homens que usam a informação em benefício próprio, enriquecendo ilicitamente à
custa dos benevolentes, aqueles de corações puros e sinceros.
Ana: - Creiam, estamos entre
vocês.
Subitamente os quatro desapareceram e
mais uma vez a grande multidão fica ali por horas a fio, talvez esperando por uma
nova manifestação, que logicamente não aconteceu e aos poucos começou e se
dissipar do descampado, mas agora certos de um novo e claro despertar com a
convicção de não mais serem enganados por promessas oriundas do próprio
homem.
Os quatro voltaram a casa base e lá
Isabele externou sua indignação ao comportamento dos irmãos falando a seus
novos amigos que não esperava atos de comportamentos sórdidos por parte
daqueles que um dia ela os considerou como pessoas queridas. Disse também que
todos se saíram bem neste primeiro teste fazendo colocações certeiras e
adequadas ao que fora combinado. Assim e agora com a consciência um pouco mais
leve, ela recomendou que todos se aprontassem para retornar a Terra deixando
para traz o Planeta Yron ao sabor de sua sorte.
A
reputação dos irmãos rapidamente caiu de prestígio e tanto o Jornal, o Teatro
quanto a Casa da Moeda, de lucros, passaram a produzir prejuízos e logo estava
a bancarrota ao mesmo tempo em que outras instituições consagraram-se no
mercado local forçando assim a falência prematura dos mesmos.
Capítulo 7
Um diálogo entre
verdadeiros amigos
De volta ao apartamento em Copacabana os
quatro se reúnem na sala de estar e muito chateada com o comportamento dos
irmãos em Yron, Isabele chegou à conclusão que nunca entenderá as pessoas e
cabisbaixa olhou para seus novos amigos e colaboradores deixando no ar a
insatisfação pelo ocorrido. Cláudio, o primeiro a perceber esboçou algumas
palavras:
- Não fique assim Isabele, afinal, mesmo
você tendo-os considerados amigos por longo tempo, eles continuam sendo pessoas
de mundos inferiores a Terra.
- Acha mesmo que são diferentes de
nós ou de outros em outras realidades? - Humanos são humanos, mas em qualquer
situação ou estado evolutivo, o poder sempre lhes sobem a cabeça. Não posso
mudar isto nas pessoas, mas agora tenho como antever as progressões das
circunstâncias e este é meu trunfo. Sei em quem posso confiar e até onde devo
ir. Quando estive em Yron, ainda não possuía estes conhecimentos, mas agora sei
exatamente como e de que maneira proceder, o que me dá enorme dianteira, junto
aqueles que me são próximos, como vocês.
- Confia em nós Isabele? - Como sabes se
adiante não te trairemos?
- Nossos laços de amizade são mais
fortes que imagina Gastão. Tenho suas essências em minha memória e estou certa
que entre nós não haverá traições.
- Como pode ter nossas essências em sua
memória, o que sabe a nosso respeito?
- Diante a grande importância que dou a
este projeto, não posso me cercar de pessoas onde não tenha o mínimo
conhecimento de suas mais profundas raízes. Como a confiança é o elemento vital
a esta realização, quando lhes passei minhas memórias vividas em Yron, extraí a
de vocês, podendo assim me certificar e chegar ao ponto em que agora nos
encontramos.
- E você pretende nos passar todas as
suas memórias? - Não é justo que possas saber tudo a nosso respeito e nós
apenas certos fragmentos por você vivenciado, assim questionou Ana.
- Vocês terão boa parte das minhas
memórias, entretanto em doses significativas e de acordo com a relevância do
momento, assim como lhes transmiti tudo a respeito do Planeta Yron. Ainda
assim, somente esta clara memória já lhes mostra não só a minha essência como
também meu perfil moral. Então, saibam que eu não vos escolhi a revelia e como
prova de gratidão e reconhecimento, lhes transmitirei a revelação sobre a verdade
e a mentira, assim poderão saber e averiguar suas dúvidas não só em
relação a mim como a de qualquer outra pessoa.
Pediu que fechassem os olhos, se
concentrou no “olho da mente” e em seguida fez comunicação através do mesmo com
seus companheiros. Em poucos segundos, os três adquiriram e imediatamente
compreenderam que Isabele falava a verdade eximindo assim qualquer dúvida que
ainda pudesse interferir naquela amizade.
Agradecidos e encorajados mudaram o rumo
da conversa questionando sua mentora sobre as diretrizes dos seus
projetos.
Cláudio se antecipa e pergunta quando
poderia partir para Zywamner, Ana a Thronos e Gastão, um tanto quanto
deslocado, por considerar a missão de Yron terminada, se mantém em
silêncio.
- Acho que você Cláudio deve descansar e
tão logo esteja recobrado desta última viagem pode partir novamente pondo em
prática o que já havíamos combinado. Quanto a Gastão e a Ana, ainda
precisaremos conversar.
- Certo Isabele. Vou para casa e logo
pela manhã darei continuidade aos trabalhos. Estou de saída! - Vocês vão
ficar?
- Sim ficaremos mais um pouco com
Isabele para determinar o que faremos.
- Até mais.
- Até mais Cláudio e boa sorte!
Tão logo ele se retirou, os outros deram
inicio a um diálogo onde a pauta do assunto era restrita ao próximo passo, no
caso, o Planeta Thronos. Isabele disse que antes de passar as memórias daquele
lugar e os acontecimentos sucedidos, ela começaria a falar sobre a paixão
vivida com o Rei Seleno.
- Eu tive um caso com um Rei medieval
extraterrestre e por conta desta paixão e já tendo sido resolvido o maior
problema entre as duas únicas Nações daquele Planeta, por bem, não acho que
devo dar continuidade a este amor.
Passei longo período usando um disfarce
de anciã, com pele enrugada e ensinei a seus filhos a ler e escrever. A Seleno,
o Rei que era apaixonado pela matemática o básico. Ele considerava tal ensino como avançado e foi durante
estes encontros que acabamos nos apaixonando.
- Você o amou verdadeiramente?
- Sim eu o amei intensamente e ele
também me amou. Apesar de ser uma pessoa completamente diferente dos nossos
padrões, Seleno foi o homem que por intermédio dos seus olhos irradiava a
clareza de um ser sincero e romântico, que se apaixonou perdidamente não pela
minha aparência física, mas pelo que realmente sou, inclusive me pedindo em
casamento convidando-me a ser sua Rainha.
- E quando ele descobriu quem realmente
era você o que disse?
- Disse que se apaixonou por uma mulher
velha e acabada e que agora tinha em seus braços uma jovem e bela “deusa”. Não
é preciso dizer o quanto foi difícil deixar Thronos depois que me envolvi com
Seleno. Em nossa última noite juntos acabamos por adormecer na grama do jardim do
castelo. De certa forma e mesmo sendo implorada a não deixá-lo, algum tempo
depois despertei e ali fiquei a contemplar aquele homem, um menino Rei, que
apesar de sua majestade, ainda assim, possuía em seu âmago um coração terno e
justo, que não deixava escapar a ignorância própria aos homens do seu tempo.
Naquele momento, por algumas vezes tentei e não consegui a concentração para
voltar a Terra e depois de algumas tentativas, finalmente consegui retornar
deixando para traz momentos inesquecíveis em minha memória.
- Você pretende retornar?
- Não. Deixarei por conta de vocês a
missão da continuidade em Thronos. Ana em Bacary e Gastão em Turynon, eu me
juntarei a Cláudio em Zywamner.
Agora
vou lhes passar minhas memórias e intenções vividas em Tronos. Cerrou os olhos
e permitiu que tais memórias fossem transmitidas através do “olho da mente” a
seus colaboradores. Assim como para Cláudio, pediu que descansassem e tão logo
estivessem revigorados partissem ao seu destino.
Capítulo 8
De volta a
Zywamner
Pela manhã bem cedinho, Isabele entra em
sintonia telepática com Cláudio e avisa que também partirá a Zywamner. De certa
forma, Cláudio se sentiu aliviado e prontamente dirigiu-se ao apartamento de
Isabele. Lá chegando, indagou os motivos que a levaram a tomar tal decisão. Ela
respondeu que sua atitude se deveu aos acontecimentos em Yron e por isso achou
melhor partirem em duplas. Desta forma poderiam compartilhar de maneira mais
próxima os acontecimentos daquele Planeta. Após a rápida explicação tomaram suas
posições, se concentraram e partiram. Em questão de segundos, se encontravam a
porta de Jean e Marcele os zyamnerianos que a acolheram quando de sua primeira
estada naquele Planeta.
Cláudio comentou sobre o vendaval que
Isabele enfrentou e logo a visão de Jean se fez clara em seus
pensamentos.
Bateram palmas e Marcele olha pela
portinhola da varanda, ao ver Isabele, chamou por Jean e juntos foram até o
portão receber sua amiga.
- Isabele, mas que surpresa agradável! -
Vamos entrem.
Abraçaram-se demoradamente e Isabele
apresentou Cláudio.
- É o seu namorado?
- Não, Cláudio é um amigo e está
participando das minhas missões.
- Que saudades minha filha, pensamos não
te ver mais. Estou muito feliz que esteja de volta. Sintam-se em casa!
- Marcele, os novos móveis e a decoração
ficaram ótimos. Gostei daquela tela com imagens do Universo.
- A ideia deste quadro foi de Jean em
homenagem a você minha filha.
- Merci Jean! - E Javier como
vai?
- Você o conhece meu rapaz?
- Não pessoalmente, mas Isabele me passou
todas as suas informações e o que aqui se desenrolou.
- Certo.
Javier tornou-se sócio majoritário na
Tetramicro e agora usufrui de muita riqueza e poder não só aqui em Urva, como
em quase todo o Planeta. Ele também ficará muito feliz em te rever Isabele.
- Certamente nos encontraremos. -
Fale-me de vocês, como estão?
- Estamos muito felizes minha filha e
voltamos a viajar pelo mundo em segunda lua de mel, de carro novo e tudo isso
graças a você.
- Vou fazer um café se adiantou
Marcele.
- E Clair, está totalmente curada?
- Sim e agora vive como adolescente
longe de problemas. Não larga do pé do Dr. Michel e participa de um grupo
criado pelo mesmo, com a intenção de ajudar aqueles que enfrentam esta terrível
doença.
- Estão batendo a porta.
- Ah! Sim, deve ser o Ministro Edgar que
colabora na igreja que Marcele frequenta. Uma vez por mês ele passa aqui e traz
a imagem de Sião, depois faz um sermão e vai embora.
- Marcele, o Ministro chegou. - Por
favor, entre Sr. Edgar.
- Que Sião esteja presente, bom dia a
todos, Edgar Proez, muito prazer.
- Estes são nossos amigos Isabele e
Cláudio.
- Tudo bem, como vai?
- Também vão participar do sermão?
Jean não sabia o que dizer e preferiu
deixar a escolha de seus amigos se participariam ou não.
- Fazemos questão Sr. Edgar, desde que
possamos opinar e debater sobre o assunto em pauta.
- Claro, assim o sermão será mais
dinâmico. - Onde está Marcele?
- Fazendo um cafezinho, aí está!
- Sr. Edgar, que Sião esteja presente! -
Chegou bem a hora do café.
Obrigado! - Hoje eu vou lhes falar sobre
uma passagem das escrituras, quando o Sr. Deus Sião desceu a Zywamner e fez
várias curas milagrosas no início dos tempos:
Naquele tempo, Sião desceu dos céus com
o propósito de curar os filhos doentes. Muitas eram as doenças do nosso povo,
mas a que mais atacava a população era a tuberculose. Milhares de pessoas foram
banidas da sociedade sendo obrigadas a passar o resto de seus dias em
isolamento largados a sua sorte em lugares onde os saudáveis não podiam transitar.
Atrás dos montes áridos do lado leste de Urva, ali teria sido o lugar escolhido
pelos mandatários à miserável reclusão. Compadecido e triste eis que surge do
alto dos montes o Deus Sião e ao estender suas mãos Ele ordenou para que todos
fossem curados e assim aconteceu. Pouco a pouco, os doentes se sentiram melhor
e voltaram ao convívio dos seus parentes e amigos. “Escrituras de Sião”.
Como podemos observar neste trecho Sião
cura os homens, independente de suas crenças ou fé. Ele apenas estendeu suas mãos
e curou seus filhos dando nova oportunidade de vida aquelas pessoas.
- De acordo com meus estudos, Zywamner
nesta época possuía menos de dois milhões de habitantes e como a doença era
transmitida de pessoa a pessoa a cura também era quase impossível, principalmente
em lugares aglomerados e pouca higiene. Sendo assim, somente um Deus para
reverter tal situação.
- Este Deus é Sião meus amigos. Nosso
Deus.
- Por outro lado e devido ao pequeno
contingente humano à época, se providências não tivessem sido tomadas, a
dizimação humana seria completa. Por este prisma, também podemos considerar que
a interferência superior se fez necessária e contundente, uma vez que
independeu de fé ou crença no próprio Deus Sião.
- Este é mais um motivo para
contemplação, pois sem esta interferência, nenhum de nós estaria aqui neste
momento comentando sobre suas obras.
- Certamente Sr. Edgar, entretanto
reparou que em nenhum momento em toda a Escritura é mencionado algum dado
científico, todos os fatos são espetaculares ou divinos relegando os seres
humanos ao confisco religioso?
- Mas o simples fato de nos curar e
permitir nossa progressão já são motivos suficientes e deve ser considerado ato
divino, pois está acima das nossas compreensões. Portanto, devemos aceitar e
nos resignarmos diante a tais incompreensões.
- Não estou duvidando dos poderes de
Sião, mas me questiono quanto à forma como somos conduzidos. Tudo o que não
compreendemos tratamos de forma divinatória, onde os embasamentos em fatos
científicos nos são sumariamente subtraídos nos deixando ao sabor de
especulações. A isto me refiro.
- E de que outra forma poderia
pensar ou agir?
- Não podemos duvidar dos poderes do
Deus Sião e sim nos questionarmos se eventos de tal natureza foi produzido pelo
próprio Deus Sião ou por um Ser com capacidade acima da compreensão daquelas
pobres pessoas naquela época.
- Então, você contesta as
Escrituras?
- As Escrituras não caíram do céu de
paraquedas, homens as escreveram e, portanto, suscetíveis à interpretação dos
fatos. Desde os tempos antigos o ser humano sempre acatou as informações que
lhes foram ensinadas aceitando os mistérios da vida como coisas sobrenaturais
ou advindas dos Deuses, porém sempre de maneira religiosa e nunca como atos
provenientes de um planejamento, que seja também acima da nossa compreensão,
mas oriundos de ciência e em conformidade com esses mesmos planos.
Edgar sentiu-se contrariado com as
palavras de Isabele e preferiu encerrar o sermão, antes que aquelas minhocas
pudessem corroer o seu cérebro e ao se despedir deixou as palavras habituais:
“que Sião esteja presente”.
- Acho que o Ministro não gostou das
suas colocações Isabele, interpelou Cláudio.
- Me desculpe Marcele e também você
Jean, mas não consigo interpretar todo e qualquer acontecimento como sendo atos
divinatórios. Acredito que nem o Deus Sião encara desta forma.
- Tem razão minha filha eu te
compreendo, Marcele talvez não, pois vive rezando pelos cantos e tudo atribui a
sua religião. Ela já me confidenciou acreditar que você seja uma enviada
Dele.
- Não Marcele! Eu não sou nenhuma
enviada.
- Jean, você me prometeu não falar sobre
o que te confidenciei e agora falas com a própria Isabele sobre isso. Seu
linguarudo!
- Me desculpe paixão, mas não me
contive, porém, acha mesmo que Isabele não sabe o que você pensa a seu próprio
respeito?
- Sim eu sei, mas podíamos pelo menos
fingir.
Jean foi o primeiro e depois todos
caíram numa boa e descompromissada gargalhada.
Algum tempo depois e agora já
estabelecidos com tudo arranjado na casa do casal Fleury, os terráqueos se
ausentaram “viajando” para uma praia erma aos redores de Urva com a intenção de
observar o entardecer à espera da marcante presença da lua do Planeta. Quando a
noite chegou acompanhada da magnitude e beleza de Flow, Cláudio ficou extasiado
e só acreditou no que estava presenciando, porque seus olhos puderam comprovar
a consciência transmitida pelas memórias de Isabele. O brilho, a intensidade e
a beleza eram indescritíveis, então, trocaram poesias e mais familiarizados, num
breve instante um beijo aconteceu. Foi um beijo travesso, despretensioso, mas
sucumbiu ao desejo e a forte emoção daquele momento. Afastaram seus lábios
entreolhando-se e como se houvesse um consentimento mútuo, se beijaram
novamente, primeiro de mansinho e depois loucamente como dois amantes
apaixonados. Por alguns minutos se tocaram e se acariciaram sem nada dizer,
seus corpos pareciam desfrutar daquela linguagem como se fossem conhecidos
parceiros de longa data. Depois de um tempo e mais contidos, Cláudio tenta se
expressar:
- Olha Isabele, não sei explicar, mas
foi como se já te conhecesse há muito tempo!
- Não tente explicar Cláudio, também
tive a mesma sensação. Acho que não precisamos nos cobrar nada e simplesmente
deixar os acontecimentos decidirem por nossos sentimentos.
Ele
a olhou fixamente e tomou-a em seus braços tornando a beijá-la mansamente,
agora transmitindo telepaticamente os desejos mais profundos culminando aquela
relação amorosa em total êxtase tendo como testemunha e cúmplice, apenas o
intenso brilho e esplendor de Flow.
Capítulo 9
O encontro dos
terráqueos com os Reis medievais
O dia amanheceu acompanhado de chuva
fina e muito frio em Bacary, terra natal de Seleno, o Rei medieval. No milharal
da encosta no monte do castelo, a movimentação e o trabalho árduo não se
detinha e era acompanhado pelos cavaleiros de reinado, que rondavam as
cercanias cumprindo as determinações do seu Rei. Ao longe se avistava a
silhueta do casal que acabara de chegar pondo-se em marcha na direção do Castelo.
Ana e Gastão, não sabiam exatamente o que o futuro lhes reservava, mas tinham a
consciência do passado vivido por Isabele e logo se julgavam preparados aos
desafios do porvir.
Dois cavaleiros interromperam sua marcha
indo diretamente ao encontro dos intrusos. Argeu, o centurião os
interpela:
- Quem são vocês e o que fazem nas
terras do Rei?
- Somos Gastão e Ana da província de
Alboin e temos uma mensagem da professora Isabele para o rei.
- Subam no lombo dos cavalos, lhes
levaremos a presença de Seleno.
Argeu e Percival estenderam suas mãos e
ajudaram os supostos mensageiros a montar em seus magníficos animais. Então,
subiram o monte sendo observados pelos agricultores, que se perguntavam quem
seriam aqueles estranhos. Ao adentrarem no castelo, os guardas os levaram a
presença do Rei que assim os recebe com expressão de curiosidade.
- Meu senhor. - Somos Gastão e Ana e
temos notícias de Isabele.
Ao ouvir o nome de Isabele, Seleno pediu
que os centuriões que se retirassem e os deixassem as sós.
- Também sois terráqueos, que notícias
me trazem?
- Somos colaboradores de suas missões e
estamos aqui em caráter de observação, para averiguar e saber o que podemos
fazer para dar sequência ao trabalho por ela começado.
- Vocês estão disfarçados?
- Somente Ana, pelos mesmos motivos que
levaram Isabele a se disfarçar.
- Sinto sua falta e meus dias são
vazios. Porque ela mesma não veio para dar esta continuidade.
- Cremos que Isabele não quis voltar por
recear encontrá-lo casado com outra mulher ou talvez seus sentimentos tenham
sido tão fortes a ponto de não querer deixar subentendido sua verdadeira
missão. (Ana).
- Devo acreditar em vocês?
- Argos e Ava chegam de Turynon amanhã e
somente Você e Eles além de Isabele é claro são os detentores da verdade sobre
o que aconteceu em alto mar, quando a guerra era eminente.
- Conhecem o Rei Argos?
- Temos ciência de tudo o que aconteceu
aqui em Thronos, mas não o conhecemos pessoalmente.
- De que forma Isabele provou a rainha
Ava seus poderes?
- Entregando-lhe uma flor, única em
Turynon. Mas não sem antes dizer que não era bruxa ou fazia feitiços subjugando
a sua empáfia.
- Isso já basta! - Providenciarei para
que se acomodem aqui no castelo pelo tempo que for necessário. Direi que são
mercadores de diamantes na província de Alboin, aqui presentes a
negócios.
- Obrigado Seleno! - Temos muito a
contribuir.
- A que te referes?
- Ao beneficiamento das pedras
preciosas, como diamantes e rubis.
- Como podemos beneficiar os elementos
naturais aqui extraídos?
- Usando inicialmente o processo
rudimentar de polimentos das pedras transformando-as em adornos reluzentes,
objetos de desejo pessoal e não apenas como talismãs ou produtos de
trocas.
Primeiro vamos introduzir o polimento
das facetas naturais denominando este estilo de lapidação tal qual foi chamado
em nosso Planeta de “mesa e rosa”, depois passaremos informações sobre o
desgaste das partes pontudas tornando a gema em objeto de desejo por seu
intenso brilho e beleza.
- Ainda não consigo imaginar como uma pedra
bruta pode tornar-se reluzente. Neste momento Gastão retira de uma sacola
amarrada em sua cintura à época chamada de “bolso”, um falso diamante lapidado
na Terra e o mostra a Seleno que de olhos esbugalhados contempla a pequena gema
e se manifesta repetidamente usando uma única expressão: Magnífico!
- Este é falso Seleno. Se fosse
verdadeiro, seu valor seria inestimável. Serve apenas de protótipo e ilustração
para o que pode ser feito.
- Entendo, mas não deixa de ser uma
pedra magnífica e o devolve.
Ana que apenas observava e via de que
maneira Gastão conduzia aquela conversa se interpõe manifestando alguns
princípios que deveriam ser levados em consideração para a obtenção de
resultados satisfatórios:
- Os diversos cortes na parte superior
são chamados de “facetas”, que fazem parte da coroa. Logo abaixo e circundando
toda a gema encontramos a “cintura”. Na parte inferior temos as “facetas do
pavilhão” e finalmente a ponta, também chamada de pinhão.
Como poderei empregar trabalhos na
obtenção de resultados parecidos?
- Parecidos sim, mas muito distantes da
proximidade da gema que te mostrei. Aqui em Thronos, como bem disse Gastão, só
conseguirão resultados rudimentares, mas isso não é motivo para declinar e é o
começo de uma nova concepção.
O diamante é o mais duro material de
ocorrência natural que se conhece, portanto, não risca e seu brilho é eterno.
Do próprio diamante será extraída a matéria prima para obter o material
necessário ao polimento dos mesmos, que também é a dica para o corte que só poderá
ser empregado e difundido em futuro ainda distante.
Apesar do interesse sobre este assunto, Seleno
estava também intrigado com o sotaque do casal, mas não se ateve e mudou a
conversa voltando a indagar sobre Isabele:
- Como ela está, se casou, teve
filhos?
- Não. Nada mudou e Isabele continua em
missões a outros Planetas. Agora está em outro mundo e creio que sua
estada naquele lugar será demorada.
- Ela falou sobre mim?
- Disse-me que realmente se apaixonou
por Você, mas preferiu se afastar em virtude de estar comprometida com outras
realizações.
Incumbiu-nos de algumas tarefas aqui em
Thronos, pelas quais nos empenharemos da melhor forma apoiados a sua
colaboração.
- Como ficastes sabendo da chegada de
Argos as minhas terras?
- Assim como Isabele temos nossos
truques.
O reencontro dos Reis
Era o final da tarde no dia seguinte à
chegada dos terráqueos e o centurião anunciou a chegada da comitiva de Argos em
Bacary. Trinta dias haviam se passado em alto mar desde a saída do Rei
acompanhado de sua bela Rainha Ava e, ao chegarem ao castelo o préstito é
recebido em festa no reinado. Este era o segundo encontro e os laços entre as
duas Nações permanecia sólido motivados que foram pelos acontecimentos quando
se encontravam a beira de uma guerra, providencialmente declinada pela
intervenção de Isabele.
- Amigos sejam bem vindos de volta a
Bacary e é com imensa satisfação que ofereço as dependências do Castelo à sua
estada.
- Caro Seleno. - Nós é que nos sentimos
honrados com esta calorosa recepção e de certo além de firmarmos nossa amizade,
bons negócios também teremos a tratar.
- Como vão os miúdos estão bem?
- Fortes e sadios. - Silas o mais velho
agora pesquisa as estrelas e Argeu por sua tenra idade só pensa em
brincadeiras.
- E da terráquea, tens notícias?
- Vocês podem não acreditar, mas vou
lhes apresentar outros dois, que chegaram ontem a mando de Isabele designados a
novas missões aqui em Thronos. - Vamos entrem e estejam à vontade.
Ao adentrarem no “grande salão” o
banquete já estava servido. A mesa a alta cúpula da monarquia Bacaryna além de
Gastão e Ana que observavam os costumes e tradições, não deixavam escapar a
simpatia estampada em seus rostos. Depois do banquete, como de costume, Seleno
leva seus hóspedes à varanda principal e com seu assovio característico, de
pronto recebeu uma serviçal a qual lhe incumbiu à tarefa de chamar os
terráqueos. Tão logo os terráqueos se mostraram e após as devidas
apresentações, turbilhões de perguntas foram dirigidos aos mesmos. Uma a uma,
as respostas eram respondidas com parcimônia e claro, dentro da esfera de
compreensão dos mesmos. Ava por sua incredulidade conduzia o diálogo de forma a
que pudessem comprovar a veracidade dos fatos através de seus dons, mas em
nenhum momento houve necessidade do emprego de seus dotes na conversação, até
que num determinado momento Ana perde a paciência e desaparece sem deixar
vestígios.
- Não precisamos demonstrar do que somos
capazes, mas quanto às provas não se há argumentos, entretanto, estas
demonstrações devem permanecer restritas entre nós e vocês, pois não queremos
nossas identidades deflagradas. Isto causaria sérios danos as nossas
missões.
Assim
como Isabele, quando voltou Ana trouxe consigo um bracelete que a Rainha
esquecera em seus aposentos em Turynon e que a motivou a muitas reclamações
durante toda a viagem. Ao ver a joia, de pronto pediu desculpas, mas com leve
toque de sarcasmo no canto dos lábios tomou o bracelete colocando-o em seu
pulso.
Capítulo 10
Enquanto isso,
em Zywamner...
Há 6.000 anos luz dali em Zywamner,
Isabele e Cláudio se preparavam para uma visita a Javier Russeole, agora sócio
majoritário da Tetramicro. Com o advento da Internet naquele Planeta, ali
chamado de Zywamnet, a configuração da rede mundial de computadores estava praticamente
concluída. Javier conseguiu suplantar a extensa rede tornando-se o homem mais
poderoso e conhecido daquele mundo. Isabele pode notar as diferenças entre o
antes e o depois a partir da vista do imenso arranha céu no centro de Urva
mostrando a grandiosidade da Empresa.
O esquema de segurança, no entanto,
agora era muito mais rígido e exigia a identidade dos visitantes. Por este
motivo, Isabele havia solicitado a Jean para que informasse a Javier da sua
presença e de seu companheiro.
Javier autorizou a entrada do casal sem
que suas identidades fossem apresentadas. Há 440 metros do solo e acima dos 103
andares ficava a cobertura onde diariamente Javier se encontrava e deliberava o
comando da Tetramicro. Aquele espaço tinha aproximadamente uns 300 m², um
heliporto e um salão com os equipamentos de última geração, sem deixar de
mencionar o requinte e a exuberante vista de toda a cidade.
Três ou quatro minutos depois Javier
recebe os terráqueos.
- Isabele, que prazer em te rever e quem
é este rapaz?
- Claudio Raiso Farid, muito prazer Sr.
Javier.
- Uma bebida, um café ou água?
- Água! - Estou surpresa e ao mesmo
tempo feliz em ver seu crescimento e também o poderio da Tetramicro. Você fez
um belo trabalho!
- Obrigado menina, mas se não fosse por
você, talvez nada tivéssemos feito. A secretária traz os copos com água, põe
sobre a mesa e se retira.
- Mas a que devo sua prazerosa
visita?
- Vim visitar meus amigos e claro, saber
como vão às coisas aqui em Zywamner.
- Aqui estamos bem, a expansão da empresa
depois do advento da Zywamnet não para de crescer. Hoje temos a tecnologia
das fibras óticas e a banda larga de alta velocidade...
Neste momento a conversa foi
interrompida por homens encapuzados e fortemente armados que invadiram o
recinto ameaçando atirar caso alguém fizesse algum movimento brusco.
- Onde está e qual é a senha do
cofre?
- Ali, atrás do quadro naquela parede,
mas eu não tenho a senha.
Um deles arrancou e quebrou o quadro.
Deu uma coronhada em Javier e apontou o fuzil para sua cabeça assim falando em
tom solene:
- Você tem dez segundos para me dizer à
senha e começou a contar...
- Por favor, eu não sei qual é a
senha.
Constatando através de seu “olho da
mente” que aqueles homens eram funcionários da Tetramicro, Isabele tenta uma cartada
arriscada e interrompe a contagem do indivíduo. Sei quem são vocês e posso
garantir que ele não tem a senha do cofre.
- Se você sabe quem somos nós então, irá
morrer...
E mesmo antes de terminar a frase, ela
usa dos poderes adquiridos em Segoy I e desapareceu levando junto seus amigos
para fora da sala. Trancou os malfeitores naquela cobertura, que mesmo não
compreendendo a situação atiravam em vão em todas as direções. Ela não se deu
conta, mas um tiro a atingiu na perna e segundos depois uma dor lancinante
seguida de ardência agora lhe assaltavam o membro inferior direito fazendo com
que perdesse os sentidos.
Os bandidos foram cercados por
seguranças e policiais que se faziam presentes e, após intensa troca de tiros,
dois foram mortos e os outros três presos e levados à zona distrital de Urva,
onde certamente cumprirão as duríssimas penas regidas por aquela
sociedade.
Ao despertar, Isabele estava num
hospital e ainda convalescendo levou a mão ao ouvido e percebeu que o chip não
estava em seu poder. Sua calça estava rasgada até a cintura e ao que tudo
indicava, o projétil havia sido retirado e o ferimento costurado deixando a
mostra quatro pontos da pequena cirurgia.
- Boa tarde, sou o Dr. Enzo Palani. -
Você teve muita sorte, por pouco a veia safena interna não foi atingida. A bala
foi extraída e em poucos dias estará recuperada.
- Obrigada Doutor! - Meus amigos estão
lá fora?
- Sim, tem algumas pessoas ansiosas por
te ver aguardando no saguão do hospital. Disseram que você se chama Isabele, mas
não encontramos documentos que comprovassem sua identidade e precisamos deles
para te registrar e fazer os trâmites de ocorrência ambulatoriais.
- Não me lembro, mas acho que os perdi
durante o assalto.
- Sem problemas. Você deve ficar
internada por pelo menos dois dias e enquanto isso, seus amigos poderão
providenciar os mesmos junto aos órgãos competentes. - Vou permitir que seus
amigos a vejam, se precisarem de alguma assistência é só tocar a
campainha.
- Merci, merci!
Cláudio, Javier, Jean e Marcele rodearam
o leito e preocupados a bombardeavam de perguntas, ela permaneceu calada e
quando silenciaram respondeu simplesmente que não ouvia muito bem, pois perdera
seu aparelho auditivo. Cláudio entendendo a preocupação com o chip põe a mão no
bolso e o entrega dizendo que viu na hora que caiu e o guardou. Ela o recoloca
no ouvido e agradece dando uma piscadela a Cláudio e se diz bem explicando a
situação a respeito de seus documentos aos amigos. Jean diz que pode
providenciar e pede para que não se preocupe com as burocracias, mas sabe que o
corpo médico não a liberará antes de uma semana ou pelo menos antes da retirada
dos pontos.
- O quê, uma semana? - Quero sair daqui
ainda hoje!
- Calma minha filha! Vai passar rápido.
Pronunciou-se Jean.
- Não amigos uma semana é uma vida. -
Deixem-me sozinha com Cláudio e, por favor, não façam perguntas, em casa
conversaremos. Agora vão!
Já conhecendo Isabele, os três se
retiraram sem questionamentos e tão logo saíram inicia-se uma conversa
telepática. Os dois acordaram em usar a “medicina quântica” empregada no Século
XXVII, onde a cicatrização do ferimento desapareceria em poucos minutos.
Cláudio trancou a porta por dentro e assim iniciaram a irradiação de cura. O
processo através das vibrações mentais e pronunciadas as palavras de ordem
começaram a surtir efeito positivo e em menos de três minutos, dessa forma ela
retira os pontos. Os dois se olharam e estalaram um beijo. Cláudio destrancou a
porta, se concentraram e desapareceram. Ao chegarem à casa dos Fleury sentaram-se
no sofá da sala de estar e trocaram algumas ideias, até que uma chave girou
pelo buraco da fechadura na porta principal.
Espantados, não só o casal, como também
Javier entreolharam-se intrigados, mas não fizeram objeções..
- Não perguntaremos nada, mas podemos
ver o ferimento?
Ela empurrou o que sobrou da sua calça
para o lado e os quatro constataram não haver mais o ferimento, apenas pequenos
sulcos onde os pontos haviam sido dados.
- Venha minha filha. Tome um banho e
troque suas roupas, assim as pupilas dilatadas de Jean, Javier e Cláudio,
talvez voltem a se comportar.
-
Mulheres!
Capítulo 11
Conversa entre
Reis e Deuses
Passado o momento de especulações e
provas, os terráqueos são indagados a esmiuçar a missão que ora estavam
incumbidos. Prontamente Gastão sugeriu o amadurecimento das relações entre as
duas Nações promovendo o beneficiamento das pedras preciosas dos bacarynos,
enquanto Ana, o aprimoramento do cultivo e moendas para os grãos dos
turynosenses. Ambos retiraram de suas sacolas pergaminhos com esquemas e
desenhos de máquinas rudimentares, mas com eficiência preteritamente
comprovada, lhes passaram os ensinamentos de outrora utilizados de forma
iniciativa na Terra. Não obstante ao que Gastão já havia conversado com Seleno,
Ana sugere à Argos o plantio de diversos outros grãos, como soja, café e cevada
a fim de expandir o comércio entre as duas Nações. Maravilhados com as novas
possibilidades, os Reis agradeceram e firmaram novos acordos atribuindo estes
feitos a vontade divina de seus Deuses.
No dia seguinte, logo pela manhã,
preparam-se para uma cavalgada pelas terras do reinado. Os cinco desceram o
monte atravessando o milharal até chegarem à beira de um esplendoroso riacho,
que ficava no lado oeste do castelo contornado por densa floresta de frondosas
árvores nativas que rebrilhavam os raios de Deneb, Sol de Thronos. Ali pararam
para descansar e beber daquela água cristalina. Sentaram-se em troncos
convenientemente cortados e preparados para este fim e, então, iniciam uma nova
prosa puxada por Gastão:
- Como pretendem contar suas histórias
as gerações futuras?
- Desde a vinda de Isabele, estou
escrevendo um livro onde aponto a mesma como sendo “filha das estrelas”, que
desceu do céu, sendo por mim considerado uma deusa, que veio a Thronos
mostrar-me o amor e ao mesmo tempo interferir na relação que temos com
Turynon.
- Eu ainda não estou escrevendo,
mas pretendo registrar não só a vinda de Isabele, como também a de vocês, como
sendo “filhos de Aton” nosso Deus, para que no futuro nosso povo saiba desta
interferência, haja vista tal obra ser requisitada por nosso Criador.
- Temos ciência e já provamos não sermos
Deuses ou filhos Deles, mas também sabemos que por falta de compreensão o homem
precisa se apoiar em forças divinas, relegando quaisquer circunstâncias a estes
Deuses. Entretanto, e de forma homeopática ficaríamos mais felizes se as razões
centrais tivessem pelo menos evidências e o cunho de nossas feitorias. Não para
nos engrandecer ou prestigiar, mas para que pudessem interpretar de forma
plausível as intervenções do próprio homem, que se faz presente e cambiada por
todo Universo.
- As pessoas nunca acreditariam em nós e
por este motivo seríamos considerados Reis mentirosos e hereges achincalhados
para todo o sempre. Por que vocês mesmos não assumem este papel e modificam a
forma como eles pensam?
- Por que o homem desde sempre precisou
desse apoio divino e somente depois de muitos estágios evolutivos poderá
compreender-se e aceitar-se como parte integrante desse “Todo”, onde seus
feitos são ilimitados. Por isso espalhamos algumas sementes. Por várias
gerações ainda passarão até a descoberta do que podem realizar, porém sem
estarem presos, alienados ou subjugados as vontades divinas. O percurso é
longo, definitivamente verossímil e contundente, mas se fazem obrigatórios os
estágios de crescimento e distinção, entre o discernimento e as dúvidas pueris
a que todos somos sumariamente eclipsados.
-Existe uma maneira de se adiantar nesta
senda?
- Desde sempre, mas o véu da ignorância
se estende além dos limitados sentidos em que estamos encerrados.
- E de que maneira podemos nos
desvencilhar deste véu?
- Com sentimentos de equilíbrio e
sintonia com as manifestações das Leis Universais. Amor profundo, determinação,
humildade e principalmente desejo e vontade.
Ava levantou-se e dirigiu-se a uma
árvore arrancando um fruto muito parecido com a maçã. Esfregou-o em sua roupa e
cravou os dentes ruidosamente, não mostrando o menor interesse naquela
conversa. Argos com olhar de reprovação observou por alguns instantes, mas
percebendo que de nada adiantaria algum ato de censura voltou a compenetrar-se
na conversa.
- Creio nestas palavras e até procuro
pensar desta maneira, mas nada diferente acontece, questionou Seleno.
- Você que pensa! - Na verdade esta é
uma sintonia invisível, mas muito poderosa e que reverbera por todo o Cosmos
produzindo efeitos que ecoam contra ou a favor aos pensamentos elaborados.
Portanto, é de suma importância se manter com sentimentos puros e sinceros,
para que o retorno esteja de acordo com as melhores manifestações. Interpelou
Ana.
- É verdade. - Lembro-me perfeitamente
quando estávamos na iminência da provável guerra entre nossas Nações, no meu
mais profundo íntimo não era o que eu queria e como num passe de mágica, pela
intervenção de Isabele a embate não aconteceu. Ditou Seleno.
-
O Universo conspira sobre nossos pensamentos, independente de serem eles bons
ou ruins, portanto, repito: Havemos de cuidar sobre e o que pensamos.
Capítulo 12
O dom da
telepatia
A noite estava escaldante em Urva e a
temperatura se aproximava dos 40º. Terráqueos e zywamnerianos comentavam sobre
o assalto e Javier não conseguia parar de pensar numa maneira mais eficaz de
proteger a Tetramicro, afinal os meliantes eram funcionários da empresa e
atitudes parecidas poderiam acontecer novamente. Usando do “olho da mente”,
Isabele resgata estes pensamentos e lhe dá coordenadas do que pode ser feito
para minimizar estas investidas. Ao ouvir aquelas palavras, Jean diz que precisa
se acostumar com a leitura telepática de sua hóspede, foi quando ela teve a
ideia de transmitir a seus amigos o dom da telepatia, assim como fizera com os
irmãos em Yron. Pediu que todos dessem as mãos e iniciou a contagem que da
mesma forma, antes mesmo de chegar ao número cinco todos ouviram o restante em
suas mentes. A partir daquele momento todos puderam comunicar-se
telepaticamente, mas a Javier foi concedido uma fração superior aos demais que
permitia ao mesmo tempo resgatar intenções e os desejos mais profundos podendo
desta forma fazer a leitura correta daqueles em quem poderia confiar. Após a
transmissão, todos se sentiram gratos e para comemorar, Jean foi buscar um
espumante fazendo um brinde especial a Isabele, pois na verdade além desta transmissão
ela teve a sorte do tiro não ter sido fatal.
Diante aos acontecimentos, Javier pediu
a ajuda de Isabele para uma reunião com todos os funcionários da empresa, com o
propósito de verificar no grande contingente, aqueles em quem poderia realmente
confiar. Como ele não possuía recursos telepáticos estendidos como o de Isabele
deixou por conta da terráquea estas avaliações. No grande salão de reuniões
estavam presentes mais de 1200 funcionários, que enquanto aguardavam o
pronunciamento, intenso burburinho de conversas desencontradas ecoava por todo
ambiente.
Ao adentrar no salão acompanhado de
Isabele foram diminuindo a conversa, como se alguém estivesse abaixando o
volume de uma TV, até que estivessem mudos e Javier começa seu
pronunciamento:
- Como todos sabem, a Tetramicro sofreu
um ataque não de pessoas estranhas, mas de funcionários e por este motivo a
partir de hoje todos serão reavaliados e recadastrados. Enquanto Javier
“discursava”, Isabele se utilizava do “olho da mente” rastreando no público pela
procura de funcionários suspeitos. Sem que pudessem ao menos suspeitar do por
que daquela mulher estar ali presente, ela colheu os dados dos treze elementos
que constatou não possuírem boa índole ou antecedentes limpos. Javier definiu
algumas diretrizes e encerrou a reunião.
Os dois partiram para a cobertura e
telepaticamente as informações dos suspeitos são transmitidas e relatadas
mostrando os motivos pelos quais Isabele escolhera apenas essas treze pessoas.
Ele enviou um e-mail ao Departamento de Pessoal, constando apenas o nome e
matrícula dos envolvidos e solicitou a demissão sumária dos mesmos sem nenhuma
justificativa.
Javier se declara a Isabele, mas não é
correspondido.
Após os acertos e correções funcionais,
Javier iniciou uma conversa no mínimo um tanto constrangedora aos ouvidos de
Isabele:
- Estou viúvo há quase três anos. Não
tenho como te esconder meus sentimentos. Como me sinto jovem, principalmente
depois de você haver me concedido este fabuloso rejuvenescimento, eu gostaria
de te pedir que fique em Zywamner e viva comigo, juntos transformaremos este
mundo. O que você acha?
- Estou lisonjeada, mas não posso e nem
devo aceitar seu convite. Não pertenço a este mundo e nossas diferenças vão
além das esferas de uma simples união. Este mundo já está transformado para o
que lhe cabe, mas ainda muito distante do verdadeiro sentido da própria
vida.
- A que sentido te refere?
- Ao amor verdadeiro, ao desprendimento
de interesses e da ganância que ainda vos assola pelos caminhos que ainda insistem
em trilhar. Longe de te menosprezar Javier, você alcançou patamares de poder e
riqueza que poucos conhecem, mas tua essência é pobre e desafortunada. Nada,
considerado na natureza humana pode ser perfeito ou imperfeito. Mas quando
souber que os acontecimentos da vida se desdobram na observação de uma lei
eterna, que são fixas na natureza, então, saberá que nossas fraquezas não
permitem alcançar esta ordem pelo conhecimento, entretanto, sua natureza será
mais firme que esta atual. Sabedor desta ordem sentir-se-á incitado a procurar
por meios que te conduzam a perfeição, a isso entendo como o verdadeiro bem,
que só quando conseguimos passar aos outros este sentido, a comunhão entre dois
seres poderá ser plena e constante.
- O amor vem com o tempo!
- Mas a essência é eterna e sem ela,
nada somos ou podemos expressar.
Considero-te um bom amigo, nada mais que
isso e prezo por esta amizade, portanto, te peço que não alimente esperança e
nem guarde rancor.
- Mas eu sempre te desejei, desde o
primeiro momento que te vi.
- Teu desejo é fortuito e fugaz.
Tornou-se um homem de negócios e nunca trabalhou em seu âmago o verdadeiro
sentimento do amor, aliás, não se ama nem a si próprio, como pode doar-se se
ainda é um escravo em teu acanhado mundo próprio? - Não Javier, tua jornada nos
caminhos do amor, ainda atravessa por ruas escuras e sombrias, te impedindo de
desfrutar do verdadeiro bem, o próprio Amor.
Embora não esperasse tua declaração,
estou deixando registrado em sua mente, alguns fundamentos teóricos relativos à
expansão do sistema integrado de rede, iniciados na época que da mesma forma
vivenciamos no meu Planeta e em circunstâncias parelhas ao que Zywamner hoje
presencia. Admito possuírem embasamento suficiente para colocá-los em
prática.
- Então vou me resignar, quem sabe um
dia eu possa mudar e você encontrará um homem de coração e peito aberto mais
próximo da tua realidade.
-... Quem sabe um dia! - Adeus
Javier.
No finzinho da tarde, Isabele vai para
as cercanias da praia e caminha pela areia macia absorta em seus pensamentos.
De todo, os últimos acontecimentos não se deram da forma como esperava: Levou
um tiro, nada havia feito em prol dos zywamnerianos e precisou de muito
traquejo para se desvencilhar de um homem que em seu conceito o considerava um
grande amigo, mas que fora tomado por um impulso impensado melindrando o que
sentia pelo mesmo.
Diante as circunstâncias fez contato com
Cláudio e solicitou que viesse até a praia ao seu encontro. Em poucos minutos,
Cláudio se apresentou acompanhado de Flow que se levantava mansamente na linha
do horizonte. Sentaram a beira do Mar e permitiram que as pequenas marolas
banhassem seus pés, enquanto silenciosamente acompanhavam o desabrochar da
surpreendente Lua. Aos poucos o contorno da noite levou consigo os últimos
guinchares das gaivotas que se recolhiam depois de mais um fim do dia,
permitindo que os terráqueos pudessem trocar ideias.
- Acredito que não temos mais nada a
fazer por aqui.
- Mas nada fizemos! - Sem querer te
questionar Isabele, por ventura aconteceu alguma coisa?
- Não, mas algo me diz para irmos
embora. - Quero estar com o Dr. Michel Appolon e depois partiremos.
- Certo! O que você determinar.
Cláudio tentou lhe fazer carinho e ela
simplesmente disse não estar disposta.
- Hoje não Cláudio! Não estou em um bom
dia. Vamos voltar.
O reencontro com o Dr. Michel
Appolon
Assim os dois se concentram e voltam à
casa dos Fleury. Ao chegarem, o jantar estava servido. Marcele preparou um
lombo assado acompanhado de batatas assadas, comida preferida de Jean, mas que
fora também apreciada pelos terráqueos. Depois do Jantar a hóspede comunica a
seus amigos a intenção de ir embora, assim que fizesse contato com o Dr.
Michel. Surpresos, mas sem cogitar os motivos, acataram sua decisão e disseram que
as portas da sua casa sempre estariam abertas ao casal.
No dia seguinte ela se apresentou no
hospital onde o Dr. Michel trabalhava e da portaria ele então foi
avisado:
- Dr. Michel, a senhorita Isabele
Constantine está aqui na portaria.
- Por favor, peça que ela suba, eu estou
no ambulatório número cinco.
- Isabele! Como vai, o que te traz
aqui?
Trocaram dois beijos no rosto e se
abraçaram afetuosamente.
- Estou bem e vim aqui te passar algumas
informações antes de partir.
- Estou ao seu inteiro dispor.
- Vou direto ao assunto.
Pediu que ele lhe estendesse suas
mãos e usando seu “olho da mente” estabeleceu ligação imediata resgatando suas
memórias podendo assim constatar todos os acontecimentos durante o tempo em que
esteve fora das jurisdições daquele Planeta. Ele estudou e trabalhou arduamente
conseguindo se tornar a maior personalidade em oncologia salvando centenas de
pessoas através dos dons que recebera de Isabele, portanto, sendo considerado o
único médico capaz de tratar o câncer através da hipnose. Viu também que Michel
havia se modificado deixando de ser um homem orgulhoso e egocêntrico, para se
tornar afável e gentil diante a seus semelhantes.
- Muito bem Michel! Vejo que muito mudou
e várias curas se deveram a partir de suas intervenções, me sinto gratificada
em saber que vem realizando um excelente trabalho, não trai sua mulher e já é
papai.
- Sempre fico surpreso com você, mas
aprendi e lhe sou muito grato por ter entrado em minha vida.
- Fiz uma varredura em sua mente e te
deixei a base da física quântica, para que estude e possa dar continuidade ao
que aqui foi iniciado, entretanto, quero te pedir que passe adiante estes
conhecimentos dividindo com outros colegas de profissão mais este aprendizado,
assim contribuindo com a disseminação desta moléstia.
- Assim o farei minha cara. Quer jantar
comigo e minha família esta noite? - Podemos ir naquele mesmo
restaurante!
- Obrigado pelo convite, mas estou de
partida.
- Estou muito feliz em te rever e espero
que possamos nos ver outras vezes. Estarei sempre aqui, conte comigo.
- Ao revoir Michel!
- Ao revoir Isabele!
Ao retornar à casa dos amigos
encontra-os jogando dominó, Abraça Jean pelas costas, lhe dá um beijo na calva
e com o peculiar sorriso de sempre olhou para Marcele e falou:
- Amigos! Estou partindo. Muito obrigado
por tudo e fiquem sempre bem.
- Espere pelo almoço ou ao menos
terminarmos o jogo.
- Sim Isabele! Espere ao menos o fim do
jogo.
- Termine o jogo Cláudio e amanhã nos
falamos. Sabem que não gosto de despedidas, prefiro agir desta forma. Contornou
a mesa, abraçou e deu dois beijos em Marcele, se afastou e olhando para Jean e
desapareceu...
- Mas o que será que deu nessa menina
gente?
- Assim como vocês, eu a conheço há
pouco tempo e nada posso dizer. Mas sei que vai ficar bem, não se
preocupem.
- Formei o carroção! - Fim de jogo para
você Cláudio! Ganhei mais uma.
- Pura sorte, mas tudo bem! - Amigos,
não interpretem mal, mas sem Isabele aqui, também devo ir. Agradeço de coração
a vocês e espero em breve nos encontrarmos novamente.
- Compreendemos Cláudio, mesmo estando
entre nós por tão pouco tempo sentiremos saudades. Cláudio abraçou seus novos
amigos e olhou-os com profunda admiração desaparecendo daquele lugar.
Assim que o casal terminou o almoço recebeu de
surpresa a visita de Javier:
- Jean, Marcele, tudo bem? - Desculpe
vir sem avisar, mas preciso falar com Isabele.
- Ela partiu a cerca de uma hora Javier
e voltou para a Terra. Ela não se despediu de você?
- Não! - Esteve no escritório ontem e
deixou-me algumas informações, depois de uma breve conversa foi embora. Mas eu
não podia imaginar que voltaria para a Terra, tão repentinamente. Ela falou os
motivos de sua partida?
- Então, não conhece Isabele! Aparece e
some sem deixar vestígios, sem dar explicações. - Nos agradeceu, não esperou
nem o namorado e partiu.
- Cláudio e Isabele estão
namorando?
- Eles nada comentaram, mas acredito que
Flow deve ter testemunhado grandes momentos. - Seus olhos rebrilhavam durante
nossas conversas, além do mais, os jovens não costumam perder as oportunidades
de amor e prazer que a eles se apresentam. Comentou Marcele.
- Então foi por isso?...
- Foi por isso o que?
- Não! Nada, não foi nada Jean.
- Javier, Javier. Eu te conheço. O que
você está nos escondendo?
- Tá bom! Eu vou falar. - Eu me declarei
a ela, pedi que ficasse aqui em Zywamner comigo.
- Como é que é?
- Agi por impulso, me aproveitei do
rejuvenescimento e lhe pedi que ficasse partilhando da minha riqueza. Como sou
estúpido, por um momento pensei que minha fortuna pudesse comprá-la ou fosse
motivo suficiente que a encantasse. Percebi em suas palavras certa decepção e
por isso vim me desculpar.
- Chegou tarde e também demorou muito em
rever teus conceitos. Por este motivo, acredito que não voltará mais por aqui.
- Onde estava com a cabeça? - Você é egoísta Javier, em nenhum momento pensou
em nós? - De certa forma, querendo ou não, também nos privou de sua
companhia.
- Agora eu sei e por isso vim me
desculpar. Ela nunca vai saber e agora só posso me desculpar com vocês e espero
que sinceramente aceitem.
- De novo só está pensando em você. Suas
desculpas Javier, não a trarão de volta e para nós, o sentimento desta perda é
muito próximo à perda de outra filha.
- Nada mudará estes sentimentos e só o
tempo nos dará uma resposta.
O que os zywamnerianos não podiam sequer
imaginar era que Isabele havia deixado um “feijão” escondido na sala fazendo a
gravação das conversas. Assim, o sentimento de perda de Jean e Marcele fora
constatado de maneira que, ao ficar sabendo, imediatamente providenciou para
amenizar os corações dos seus amigos.
Tão logo Javier foi embora, Jean ligou a
TV e ela entrou em circuito fechado fazendo desta forma a vídeo conferência com
eles.
- Amigos! Por um tempo não voltarei a
Zywamner, mas quero que saibam que minha estima e consideração por vocês e até
mesmo a Javier, em nada mudou.
- Isabele, sentimos muito pelo que
aconteceu e ficamos tristes por Javier ter estremecido nossa amizade. Ele
acabou de sair dizendo que veio se desculpar, mas nada podemos fazer para
remendar tal situação. Queremos que saiba que as circunstâncias às vezes nos
tomam de assalto e...
- Eu sei o que estão sentindo, mas não
se preocupem, realmente nada mudou entre mim e vocês.
- Então, porque foi embora repentinamente?
- Tenho outras missões e Zywamner
deve seguir seu próprio curso sem mais interferências, minha partida foi mera
coincidência, portanto, não tomem culpa pelo o que não fizeram. Como sempre
digo, o mais importante é que sejam felizes e aproveitem desta vida.
- Poderemos ao menos, vez por
outra nos comunicarmos desta forma?
- Sim, sempre que a saudade apertar eu
saberei e entrarei em contato. Fiquem na paz!
-
Ao revoir Isabele.
Capítulo 13
Colaboradores
prontos para serem livres
Por intermédio de “Magno”, Isabele fica
sabendo dos procedimentos levados a cabo por Gastão e Ana no Planeta Thronos.
Ela os enalteceu e pediu que encerrassem a missão retornando se possível ainda
hoje a Terra.
Estabeleceu comunicação telepática com
Cláudio e marcou um encontro nos arredores de Copacabana. Por Volta das três
horas da tarde, eles se encontraram e trocaram beijos. Sentam-se no banco de
uma praça e alguns pontos foram abordados.
- O que achou desta experiência?
- A viagem a outro mundo é fascinante,
mas te confesso que ficar contigo foi excepcional.
-Também gostei! - Foi romântico e muito
divertido.
- Mas?
- Não quero me prender a ninguém.
- Compreendo!
- Pedi a Gastão e Ana que encerrassem a
missão. - Amanhã pretendo nos reunir e delinear novos procedimentos.
- Pode me adiantar alguma coisa?
- Não, apenas que daremos continuidade. Nada,
além disso.
- Quer jantar comigo esta noite?
- Não vai dar Cláudio. Preciso preparar
e providenciar as bases para a reunião de amanhã. Espero-te lá em casa às nove
horas.
- Está certo. Até mais!
- Até mais!
Na manhã seguinte, os quatro se reuniram
no apartamento de Isabele, debateram sobre os Planetas visitados e os fatos
ocorridos tanto em Thronos como em Zywamner. Levando em consideração o fato de
ter levado um tiro, ela se antecipou em determinar que imprevistos pudessem
acontecer e que em quaisquer circunstâncias seus colaboradores deveriam
permanecer sempre atentos preservando impreterivelmente por suas integridades.
Na sequência expos os motivos pelos quais determinou o encerramento daquelas
missões, uma vez entender que milhares de Planetas necessitam de atribuições
preliminares da mesma forma que os três já conhecidos, onde suas interferências
surtiram os efeitos por ela desejados. Assim, se diz satisfeita pelos trabalhos
realizados e a ajuda de seus colaboradores cientificando-lhes que doravante
estariam livres para dar continuidade a tais missões compreendendo que suas
aptidões determinariam suas próprias investidas se assim o quisesse bastando se
concentrar e partir para os mundos que estivessem dispostos em auxiliar.
Concomitantemente, as novas determinações esclareceram algumas dúvidas e ela,
se diz tranquila por saber que a rotina de tais intervenções os levaria aos
mais variados mundos, mas sempre daqueles em estado evolutivo inferior a Terra.
Esboçou as características dos mundos mais elevados falando da sua experiência
vivida no Planeta Segoy I e mostrou serem contraproducentes estas
intenções.
- E você Isabele, o que pretende
fazer?
- O mesmo que vocês. Continuarei
intervindo nos mundos que julgar serem necessárias tais intervenções. - Não
quero dizer com isto que não nos veremos mais, mas estaremos livres para
tomarmos as decisões que julgarmos satisfatórias as nossas atribuições. Os seus
livres arbítrios serão os juízes de seus atos e caberá a cada um de vocês o
discernimento sobre as suas atitudes. Trabalhem sós ou em grupo, mas saibam que
suas diretrizes ou intervenções, por menor que sejam sempre e de qualquer forma
modificarão sobremaneira o estado evolutivo dos Planetas visitados. Além disso,
eu tenho outras questões particulares ainda por resolver, então, vão e tornem
suas missões em atos prazerosos, não deixando de aproveitar suas próprias
vidas.
Ela
os abraçou, um a um dizendo-lhes agora possuírem os poderes dos Deuses e apenas
isso, se constitui na maior responsabilidade já atribuída aos homens.
Fim.
Olá
caro (a) leitor (a) amigo (a).
Sim!
- Eu já o considero como amigo. Afinal estamos juntos nesta aventura há um bom
tempo e me sinto muito feliz por sua presença, paciência e dedicação.
Muito Obrigado!
Muito Obrigado!
Antonio Bencardino
Capítulos de
Segoy I:
Capítulo 1 - “O olho da mente”
Capítulo 2 - Um emaranhado de
vidas
Capítulo 3 - A primeira viagem no
tempo
Capítulo 4 - O Planeta Segoy
I
Capítulo 5 - Os adeptos as suas
estratégias
Capítulo 6 - Desordem em Yron
Capítulo 7 - Um diálogo entre
verdadeiros amigos
Capítulo 8 - De volta a
Zywamner
Capítulo 9 - O encontro dos
terráqueos com os Reis medievais
Capítulo 10 - Enquanto isso, em
Zywamner...
Capítulo 11 - Conversa entre Reis e
Deuses
Capítulo 12 - O dom da telepatia
Capítulo
13 - Colaboradores prontos para serem livres
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